segunda-feira, 19 de maio de 2014


ÀS TERÇAS

 

(MAS É PARA TODOS OS DIAS, INCLUSIVE DURANTE A COPA DO MUNDO.)

 

 

 


 

 

            Em tempos conturbados, como o que estamos vivendo, em função da revolta popular contra todos os desmandos e roubalheiras por parte dos governos (municipal, estadual e federal), principalmente relacionados à realização desta malfadada e famigerada Copa do Mundo, uma comédia sempre cai bem, para desanuviar e aliviar as tensões.

            É fato que existem dois tipos de comédia: a que tem por propósito levar o espectador ao riso, nada mais que isso, voltada para o simples divertimento, e aquela que faz rir, criticando, conduzindo o receptor da mensagem a uma reflexão sobre aquilo que o fez rir.

            Encaixa-se no segundo grupo a peça ÀS TERÇAS, que está em cartaz no Teatro dos Quatro, às 3ªs e 4ªs feiras, às 21h, até 8 de julho, em horário alternativo, mas que, certamente, após esta temporada, merece, e deverá, cumprir uma segunda, em horário dito nobre (Para mim, todo horário é nobre para o TEATRO, pela nobreza que este traz em si.).

            O espetáculo foi escrito por MARCÉLLI OLIVEIRA (não me lembro de outro texto escrito por ela ou a memória está falha), tem a direção de ALEXANDRE CONTINI e conta, no elenco, com GOTTSHA, STELA MARIA RODRYGUES, MARCÉLLI OLIVEIRA e CARINA SACCHELLI.



 


Stela, Carina, Gottsha e Marcélli.

 

 

            A sinopse distribuída pela produção do espetáculo é muito econômica, a despeito de ser uma sinopse.  Diz apenas: “A peça de Marcélli Oliveira mostra a história de quatro mulheres diante de questões contemporâneas, como amores, profissões, medos e compulsões.”. 

Sinceramente, não sei se esse resumo me estimularia a sair de casa e ir ao teatro.  Aconselho-os a mudar essa sinopse e dizer um pouco mais, já que a peça não é só isso; é mais; muito, muito, muito mais.

            O texto é ótimo e desafia aqueles que dizem que não se pode brincar com a morte.  Quem foi que disse isso?  Seja lá quem tenha sido, precisaria conhecer o excelente texto de MARCÉLLI, tão bem escrito e interpretado, de forma irretocável, pelo quarteto de atrizes.

            Para que os que me dão a honra e o prazer de sua leitura se sintam motivados a conferir o que estou dizendo, acho bem válido  transcrever, do programa da peça, o pequeno “currículo” de cada uma das quatro personagens, que se conheceram na sala de espera do consultório de um terapeuta, ao qual as quatro recorriam, em busca da resolução de seus problemas, e que, nos intervalos entre a sessão de uma e outra, trocavam comentários acerca do que era conversado com o terapeuta (Coisa mais louca!!!).  A partir daí, decidiram que uma seria a terapeuta da outra e passaram a se encontrar, todas às terças-feiras, dia da consulta das quatro, num parque de diversões de décima categoria, abandonado, no centro do Rio de Janeiro.  Esse detalhe geográfico é que me intrigou um pouco: parque de diversões “abandonado” no centro do Rio de Janeiro?  Como assim?  Mas que bobagem!!!  É ficção.



 


As quatro loucas.  LOUCAS?!

 

 

            Vamos, então, conhecê-las:

            BERENICE (CARINA SACCHELLI) – É uma cronista famosa, conhecida apenas por seu pseudônimo, BÊ ESTEVES.  Linda, rica e elegante, é o sonho de toda mulher.  (Aqui, eu acrescento: guarda um grande segredo, que, é óbvio, não revelarei.)

            VELMA (MARCÉLLI OLIVEIRA) – Perdeu um grande amor aos dezoito anos de idade.  Seu namorado sofreu um acidente de moto e morreu na hora.  Desde então, ela se tornou uma viciada em “homens problemas”.  Homem casado, homem violento, homem cafajeste, homem vagabundo, homem mentiroso...  Quanto mais problemas o homem tem, mais VELMA se entrega e mais o quer, não conseguindo nunca desenvolver uma relação sadia e madura.

            LAURA (GOTTSHA) – Uma divertida professora de inglês, casada com um homem dez anos mais jovem.  É mãe de dois filhos, que herdou do seu primeiro casamento, junto com uma enorme partilha de bens.  Com medo de perder seu jovem marido, levanta, todos os dias, mais cedo, para se maquiar, se arrumar e estar impecável, para ele não a ver de cara limpa, já que não suportaria uma nova separação.

            JANDRA (STELA MARIA RODRYGUES) – é a mais problemática das quatro.  Coleciona tudo em sua casa, é cheia de manias: tem mania de fazer simpatias, de comprar em excesso, de doenças; não entra em túneis, não anda de ônibus, de avião e não sai de casa em dias 13.  Vive sozinha com seu gato, já que não tem familiares nem amigos.



 


Amigas para sempre.


 

 

            Que tal?  Podem imaginar o que deve sair, de engraçado e de profundo, durante os encontros semanais entre essas quatro figuras?

            Fiz, anteriormente, uma alusão à questão da morte, presente nesta deliciosa comédia, e ao tratamento que o texto dá a ela, entretanto, não vou me aprofundar nessa problemática, para não roubar ao meu leitor o prazer de uma boa surpresa.

            Além do ótimo texto e de uma direção que não merece críticas negativas, outro grande destaque deste espetáculo é, sem dúvida, a atuação das quatro atrizes.
 

GOTTSHA é uma veterana, que tem seu nome sempre ligado aos musicais, gênero no qual ela vem brilhando, há muitos anos, por ser boa atriz e dona de uma voz ímpar.  Agora, apresenta-se apenas como atriz e desempenha, com perfeição, sua personagem.
 

            STELA, outra veterana e excelente atriz, destaca-se neste espetáculo, muito por conta da sua personagem, mas, principalmente, pelo seu talento.  No dia da estreia, arrancou aplausos da plateia, em cena aberta, por três vezes.  Fico muito feliz com isso.  É o reconhecimento do público, no ato; as pessoas não se conformam em esperar o final do espetáculo, para que seja expresso o seu agradecimento por aquele momento de arte e prazer que o artista lhe está proporcionando.  Obrigado, STELA; eu também aplaudi.  Foi a primeira vez em que a vi em cena, depois de sua brilhante atuação num drama – excelente espetáculo, por sinal – O Tempo e os Conways.  Uma guinada de 360°, em termos de interpretação, ambas de altíssimo nível.


            Quanto às outras duas atrizes, CARINA e MARCÉLLI, louvo a coragem das duas, em dividir o palco com duas grandes atrizes e, o mais importante, o fato de não ficarem devendo nada, em termos de interpretação, às colegas de cena.  Ambas são excelentes e se nivelam ao talento das outras duas companheiras, nesta peça.  Soube, após a encenação, que as duas estavam muito apreensivas, antes de a cortina se abrir.  Pelo nervosismo natural de uma estreia e, também, pela grande responsabilidade de contracenar com GOTTSHA e STELA.  Pois fiquem sabendo, minhas caras, que vocês fizeram, e farão melhor a cada sessão, um ótimo trabalho, comentários que também ouvi das pessoas com as quais conversei e, ainda, da boca de desconhecidos, à porta do teatro.



 


Será que cada uma deu alta à outra?!

 

 

            Parabéns ao elenco!

           Não se pode deixar de mencionar a boa assistência de direção e direção musical, do talentoso ator DIOGO CAMARGOS (Big Jato – Não viu?  Espera voltar ao cartaz.); a iluminação, de DANIELA SANCHEZ; os figurinos, de SOL AZULAY e o cenário, de LORENA LIMA.

            Fica aí a dica: haverá jogos dessa maldita Copa do Mundo, às 3ªs e 4ªs feiras.  Eu os trocaria, sem piscar, por uma ida ao Teatro dos Quatro.  Faça isso também!  O Brasil agradece.

 

 

 


Eu, Gottsha e Jules Vandystadt (outro talento).

 

 


Eu e Stela Maria Rodrygues.

 

 

 

 

 

(FOTOS: DIVULGAÇÃO/PRODUÇÃO e de REGINA CAVALCANTI)

 

 

           

 

 

Um comentário:

  1. Gilberto, parabéns por suas críticas sempre detalhadas. Confesso que não tive interesse na peça, exatamente por não saber do que se tratava. É muito chato sair de casa para ir ao teatro sem ter noção do que se trata. A sinopse, as vezes, atrapalha mais do que ajuda.

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