ALTERNATIVOS
(UMA ALTERNATIVA?)
Sempre
que posso (e, para isso, muito me empenho), procuro prestigiar os espetáculos
de TEATRO chamados “alternativos”. Aqui, o adjetivo se aplica a várias situações:
horários, trabalhos experimentais, grupos amadores, montagens de formaturas de
escolas de TEATRO, locais não
projetados para servirem de teatros...
Geralmente,
por falta de tempo, não escrevo sobre eles, entretanto, como em menos de três
semanas, consegui assistir a três, que merecem algum destaque, resolvi tecer
comentários sobre eles: AS MOSCAS, PEQUENAS IMPERFEIÇÕES e IN.COM.PATÍVEIS, na ordem em que os vi.
AS MOSCAS
Dos
três, foi, de longe, o que venceu o páreo, com muitos corpos de vantagem.
O
espetáculo foi apresentado numa temporada de
23 de abril a 15 de maio, no Teatro do Jockey, às 4ªs e 5ªs feiras, às 20h. Assisti a ele no dia 15 deste mês.
Trata-se
de uma montagem dos alunos formandos do 1º semestre de 2014, da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras).
O
texto, uma tragédia, é um clássico de JEAN
PAUL SARTRE, de 1943, com boa direção e adaptação de SOTIRIS KARAMESINIS.
A peça, que
marca o início na carreira de dramaturgo do consagrado filósofo francês, conta
a trajetória de Orestes, que, após
quinze anos de exílio, retorna à sua cidade natal, em busca de seu passado. Ao chegar, encontra uma cidade atormentada por
moscas e penetrada por um arrependimento que castiga seu povo: o assassinato do
rei Agamêmnon, pai de Orestes. Ao se deparar com a lembrança do
pai assassinado, a mãe na cama do assassino, agora rei, e sua irmã
escravizada, Orestes se defronta com a angústia de sua liberdade e o
desejo de vingança, que o consome.
Numa visão existencialista do mito grego de Orestes, a peça apresenta o tema da liberdade em oposição ao fanatismo, dentro de uma encenação que relaciona os rituais gregos com os rituais religiosos contemporâneos.
Além
dos alunos formandos, o diretor contou com a participação de três ou quatro
atores convidados, todos profissionais, se não estou enganado.
Como são
muitos alunos para menor quantidade de personagens, o diretor, numa bela opção,
fez com que alguns personagens fossem interpretados por mais de um(a) ator/atriz,
como o próprio Orestes, por
exemplo. Isso deu ao trabalho um
colorido especial.
Acrescente-se
que todos os que se revezavam num mesmo papel se saíram muito bem. Aliás, todo o elenco portou-se de forma muito
satisfatória, uns, evidentemente, com maior destaque sobre outros, mas não
tenho dúvidas de que, ali, naquela representação, souberam pôr em prática os
ensinamentos que receberam na CAL. Parabéns
a eles e a seus mestres! Todos estão
prontos a encarar o chamado “teatro profissional”, porque profissionais já os
considero.
Para
terminar, devo acrescentar que, a despeito de ser uma montagem alternativa, em
vários dos sentidos mencionados no início desta resenha, houve muito cuidado e
esmero na criação e confecção dos cenários e dos figurinos, assim como todos os
demais profissionais se dedicaram com muito empenho em suas áreas de atuação,
como iluminação (Renato Machado – um luxo!),
preparação corporal, direção de movimento, treinamento físico, assistência de
direção e músicos, para citar alguns.
Mais
um detalhe: bem cuidado o programa da peça, que traz, conjugado, um outro espetáculo
feito também por outros formandos,
YERMA, que estava sendo apresentado no Espaço Sérgio Brito (Teatro da CAL), ao qual, infelizmente, não
consegui assistir.
Parabéns
à CAL!
PEQUENAS
IMPERFEIÇÕES
Este espetáculo
está sendo apresentado, ainda, até o dia
6 de junho, todas as sextas-feiras, às 21h, num local alternativo – VOZ PLENA,
um centro de aperfeiçoamento da voz cantada, que oferece cursos direcionados
aos mais diferentes alunos, desde o cantor mais experiente, que deseja
aprimorar sua técnica vocal, ao iniciante, em seus primeiros passos no mundo do
canto. Vi a sessão do dia 16 de maio.
A complicada e
equivocada sinopse do texto, que é da autoria dos atores, DIEGO BRAGA e LUCIANA
FONTENELLE, enviada pela produção do espetáculo, diz o seguinte:
Dois pacientes psiquiátricos, recém-fugidos
de uma instituição mental, se dedicam a sua mais nova obsessão: o teatro.
Banzo
e Lundu - melhores amigos e
inseparáveis – empenham-se em ensaiar o espetáculo que os consagrará. Uma vez que as grandes figuras do teatro os
conheçam, será amor à primeira vista, com fama e sucesso garantidos. Convites chovendo de toda a parte!
Onde está esse limite, em que a
peculiaridade de cada um vira “loucura”?
Eles são, na sua “arte”, tremendamente
equivocados, péssimos atores. Quando
contam passagens de suas próprias vidas é que se dá o bom teatro.
O público é participante ativo e
também refém da trama, que se serve da metalinguagem, para falar de grandes
niveladores: desejo, loucura, solidão e morte. É, também, a lembrança constante de uma outra
realidade, a do mundo exterior, que Banzo
e Lundu teimam em ignorar.
Dois atores, enclausurados em um
apartamento de Copacabana, ensaiam para a estreia de seu maior espetáculo. O que acontece em Copacabana fica em
Copacabana.
A dramaturgia fica
bastante a desejar. É muito confusa e
desconexa, seguindo o estado mental dos personagens (?). Os nomes destes, a não ser que a ignorância
tenha enublado o meu cérebro, pareceram-me tão esdrúxulos: Lundu e Banzo.
O que há de
muito bom nessa montagem é o trabalho da dupla de atores, tanto no aspecto da
representação quanto do trabalho de corpo.
Ambos me pareceram bons profissionais, que eu gostaria muito de ver,
atuando em outro espetáculo, com um texto à altura de suas competências.
Pode parecer, à
primeira vista, que haja exagero no desempenho dos atores, mas, com o desenrolar
da peça, observa-se que é de propósito, já que os dois personagens são atores
medíocres, que se acham muito bons no que fazem.
DIOGO BRAGA é cria da UNI-RIO e
professor de Artes Cênicas da Secretaria Municipal de Educação e do Teatro-Escola
Rosane Gofman.
LUCIANA FONTENELLE é atriz, cantora e
dramaturga. Graduada em Comunicação Social
– PP – ECO UFRJ e em
Artes Cênicas – Interpretação - pela UNI-RIO. Pós-graduada em Teatro Musicado ,
também pela UNI-RIO.
O espetáculo,
que já teve uma outra temporada em novembro/dezembro de 2013, tem supervisão de
LETÍCIA GUIMARÃES. Se não estou equivocado, prometeram uma nova
temporada em outro local. É só esperar.
IN.COM.PATÍVEIS
O
primeiro aspecto que me chamou a atenção para este espetáculo foi a
originalidade do título. Acho que
consegue vender bem o produto. Foram
apenas quatro apresentações e assisti à última, ontem, dia 24 de maio.
Não
sou chegado a espetáculos interativos, mas, neste, a interação com a plateia não
é direta, ou seja, os atores não vão ao público ou carregam alguém da poltrona para
o palco, criando, muitas vezes, situações embaraçosas e constrangedoras. Nesta peça, a participação das pessoas se dá
por meio de uma votação, utilizando seus celulares, "tabletes" e afins, com o
objetivo de direcionar o rumo do espetáculo, dizer que tipo de ação ou reação
gostaria de ver encenada, após algum fato anterior em cena.
Ao
contrário das súplicas que são feitas, nos teatros, para que os mal-educados
desliguem seus aparelhos sonoros, a fim de que não incomodem os atores e os espectadores
vizinhos, em IN.COM.PATÍVEIS,
pede-se que as pessoas se conectem na rede “wifi”, seguindo-se várias orientações,
escritas no programa da peça e também projetadas num telão do cenário, com o
objetivo de “ajudar a contar a história”, que, embora tenha sido selecionado como finalista do Prêmio Seleção Brasil em Cena 2013, do Centro Cultural Banco do Brasil, é muito simples, "água-com-açúcar, despretensiosa. Serve mais para que seja posta em prática a interessante ideia da encenação.
Uma observação: ninguém é obrigado a participar. Eu, por exemplo, desliguei o meu celular.
Gostei
da ideia, gostei da experiência, gostei, de uma forma geral, do que vi.
Os
atores, BRISA RODRIGUES, BRUNA SCAVUZZI, BRUNO PETRONÍLIO e LUCAS
LACERDA, alternam bons momentos de interpretação com outros bem amadores,
salvando-se, os quatro, no final da contagem dos prós e dos contras.
A ficha técnica é longa, quase todos os nomes ligados à parte técnica. A encenação e o texto são de VIDA OLIVEIRA.
Numa
produção que utiliza a parafernália da tecnologia, era de se esperar que
surgissem algumas pequenas falhas técnicas, que não chegaram a comprometer o
espetáculo.
Os
figurinos e os cenários são interessantes, ainda que bem simples. Quanto a estes, são práticos e originais.
Dois músicos e uma espécie de “narrador” completam os profissionais em cena.
Foi
divertido. Valeu a pena ter ido, mesmo
tendo saído de lá com muitas dores nas costas, uma vez que a acomodação é muito
desconfortável: ou os espectadores se sentam no chão, sobre pequenas almofadas,
ou alguns dão a “sorte” de conseguir um pufe, sem qualquer tipo de apoio.
Para quem foi
chamado, ostensivamente e num tom entre a ironia e o sarcasmo, de “idoso” (critério
de preferência para os que deverão se sentar nos “confortáveis” pufes, segundo
um funcionário do espaço onde é apresentada a peça), acredito ter sido menor o
prejuízo para o corpo, principalmente para a minha coluna vertebral, que se
sustenta por conta de nove pinos e quatro placas. (Também sei ser irônico, viu, rapazinho, o qual, um dia, espero que chegue a ser idoso também.)
Ao
final da peça, um dos atores anunciou uma futura temporada, em agosto, no
Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea). Aguardem-na.
(FOTOS: PRODUÇÃO / DIVULGAÇÃO E SITES DAS
PEÇAS E PÁGINAS DAS PEÇAS E DOS ATORES NO FACEBOOK.)
É sendo alternativo que se aprende! (?)
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