“AS ARTIMANHAS
DE MOLIÈRE”
ou
(UMA IDEIA FÉRTIL
E BEM DESENVOLVIDA.)
Qualquer
um que começa a engatinhar no universo do TEATRO, desde as primeiras aulas de “História
do TEATRO”, passa a conhecer o nome de Jean-Baptiste
Poquelin e a aquilatar a sua importância para o TEATRO,
desde quando desabrochou para este, por volta da metade do século XVII, até os
nossos dias. Muita gente, porém, não consegue ligar o nome civil à pessoa,
entretanto seu nome artístico, MOLIÈRE
(1622
/ 1673), é do conhecimento de todos. Ele foi um dramaturgo francês, além de ator e encenador, considerado um dos
mestres da COMÉDIA satírica. Exerceu um papel de
destaque na dramaturgia francesa, até então muito dependente da temática
da mitologia grega, usando as suas obras para criticar os
costumes da época, mostrando, com maestria, os defeitos e as virtudes da alma
humana, mais aquelas que estas. É considerado o “Pai da COMÉDIA Francesa”.
Alguns ampliam o título para o “Pai da COMÉDIA Moderna”. Escreveu cerca
de 30
peças, encenadas até hoje, no mundo inteiro, dentre as quais se
destacam “As Preciosas
Ridículas” (1659), “A
Escola de Mulheres” (1662), “Tartufo” (1664), “O Misantropo” (1665), “Dom Juan”
(1665), “Médico
a Força” (1666), “O
Avarento” (1668) e “O
Burguês Fidalgo” (1670). Os títulos em vermelho são de
quatro de suas peças “presentes” na montagem teatral aqui
analisada.
“AS ARTIMANHAS DE MOLIÈRE” é
um monólogo que mescla quatro peças do autor francês e marca a volta do ator LUIZ MACHADO aos palco, depois de sete
anos em cartaz com um outro solo, “Nefelibato”, indiscutível sucesso
de público e crítica. A peça é uma grande homenagem ao comediógrafo, bastante
merecida, diga-se de passagem. Trata-se de uma trama que, bem ao estilo do
mestre da COMÉDIA, aponta o dedo e
desmascara os falsos sábios, a avareza dos burgueses, as mentiras dos médicos
ignorantes e outros comportamentos sociais nada lisonjeiros.
“AS ARTIMANHAS
DE MOLIÈRE”
reúne protagonistas de quatro peças do autor francês, que desmascaram os falsos
sábios, a avareza dos burgueses, as mentiras dos médicos ignorantes e outros
comportamentos sociais nada lisonjeiros.
Em uma espécie de “jornada
do herói” às avessas, o protagonista conta, para a plateia, toda a sua
história, cheia de peripécias, erros e acertos.
Após uma desilusão amorosa,
ele se torna vingativo e passa a usar as mulheres, mas acaba tendo que se casar
à força e é deserdado pelo pai.
Sem dinheiro, vive em pé de
guerra com sua esposa, que cobra demais, e ele faz de menos.
Qual será o destino deste anti-herói?
Sempre
afirmei que um bom espetáculo de TEATRO
começa na qualidade do seu texto. É ele que, numa analogia com uma coluna vertebral,
sustenta o peso de uma encenação. De alguns anos para cá, despertei para um fato
que representa um estágio anterior ao texto. Falo da ideia, o enredo.
Um bom texto, bem escrito, do ponto de vista técnico, sobre uma ideia “fraca”
perde seu valor; uma boa ideia mal desenvolvida, em forma de texto, idem. É
preciso que, diante de uma boa ideia para uma peça teatral, quem a teve apenas
a desenvolva, se “tiver garrafas vazias para vender”, se for competente para
isso. Não sendo um bom dramaturgo, o recomendável é que passe a sua ideia a
quem tem condições de desenvolvê-la numa boa dramaturgia. Recentemente, tive um
imenso desprazer de ver, numa peça em cartaz no Rio de Janeiro, uma ótima
ideia “jogada na lata de lixo”, por conta da péssima qualidade do
texto. Por uma questão ética, não revelo o nome da peça.
Mas
qual é a justificativa para o parágrafo anterior? Havia necessidade dele?
Total! É, exatamente, par valorizar o quer acontece nesta peça. A ideia é
excelente e a tarefa de concretizá-la num bom texto teatral foi conferida a uma
dramaturga que faz seu “début” na profissão de forma marcante,
acertando a mão. Seu nome é FERNANDA CELLEGHINN, atriz,
roteirista, produtora e, agora, dramaturga. Sua tarefa, nesta
produção, é importantíssima. LUIZ
MACHADO e MÁRCIO TRIGO são os “pais
da criança”, os donos da excelente ideia de prestar um preito de
gratidão a MOLIÈRE, e convidaram FERNANDA para escrever a peça, de uma
forma bastante desafiadora. Os dois lhe encomendaram uma COMÉDIA que reunisse elementos de quatro das escritas pelo
comediógrafo: “Tartufo”, “O Misantropo”, “Dom Juan” e “Médico a Força”, não
necessariamente nessa ordem.
Que belo trabalho
de pesquisa e “costura” da dramaturga! FERNANDA
procurou, nas quatro peças do seu “desafio”, “ganchos” para escrever
um texto – é original – uma única história, na qual estão presentes protagonistas
de MOLIÈRE, como Alceste,
de “O
Misantropo”; Esganarello, de “O Médico à Força”; Don
Juan e Tartufo, das peças, respectivamente, homônimas. Em suas peças,
o comediógrafo utilizava versos decassílabos, rimando. FERNANDA não seguiu à risca essa técnica, entretanto, embora
seu texto tenha sido escrito em prosa, ela faz uso de muitas “rimas
internas”, nas frases. A dramaturga usa uma linguagem muito escorreita e elegante;
não clássica, mas popular “elevada”. Tem o meu aval – se é que
ele vale para alguma coisa – para continuar na carreira.
LUIZ MACHADO explora
todas as suas possibilidades de bom ator, para dar vida ao protagonista da
peça, o qual não tem nome e, pela primeira cena do espetáculo, dá a entender
que é um escritor, produzindo um livro que narra a sua saga, contada à
plateia, interpretando, também, os personagens que cruzaram a sua vida. Para
isso, o ator diversifica em posturas corporais, timbres de voz e entonações. É
excelente a sua capacidade de trabalhar múltiplas máscaras faciais, as quais
traduzem, melhor que palavras, emoções e sentimentos dos personagens.
Às
vésperas de completar 30 anos de profissão, a serem comemorados em 2024,
LUIZ MACHADO, um dos idealizadores
do espetáculo, ao lado de MÁRCIO TRIGO,
não contou com nenhum tipo de patrocínio, para montar a peça, e teve de arcar
com todas as despesas de produção, o que é merecedor de meus
aplausos. Isso, consequentemente, implicou uma encenação bastante simples, em
termos de elementos de criação, porém não descuidada. A cenografia, por exemplo, é
assinada por MINA QUENTAL e se
resume a uma escrivaninha e muitos livros empilhados e pendurados no teto. Uma
mala de viagem, bem velha, completa os elementos cenográficos. Não precisava de mais nada mesmo.
O único figurino foi criado por CAROL LOBATO. O ator veste um traje de época com um curioso detalhe: nos pés, um par de tênis de cano longo, branco. Esse “peixe fora d’água” chama a atenção de qualquer espectador e, confesso, em mim, gerou, tão logo o vi, um certo incômodo e uma série de questionamentos, feitos a mim mesmo, na tentativa de entender aquele detalhe “esdrúxulo”. Certamente, aquele “All Star” não entrara ali por acaso. Cheguei à conclusão de que, pelo fato de MOLIÈRE, apesar de morto há três séculos e meio, continua atual. Seus textos, vistos por olhos de hoje, se apresentam como universais e atemporais. Talvez a figurinista tivesse ido por esse caminho, com aquele toque de contemporaneidade; pensei. Curioso que sou, e amigo de CAROL, consultei-a, par dirimir minha dúvida, e dela recebi a informação de que o detalhe foi inspirado na cineasta Sofia Coppola, a qual, segundo a figurinista, “para dar uma contemporaneidade aos ‘looks’ de época, ela usa o tênis”. A iluminação foi criada por FRED EÇA e não apresenta nenhum pormenor que se destaque, contudo funciona positivamente.
Idealização:
Luiz Machado e Márcio Trigo
Texto:
Fernanda Celleghin, a partir de peças de Molière
Direção:
Márcio Trigo
Assistência de
Direção: Danilo Neiva
Interpretação:
Luiz Machado
Cenário: Mina
Quental
Figurino:
Carol Lobato
Iluminação:
Fred Eça
Direção
Musical: Márcio Trigo
Composições e
Performance: Newton Cardoso
Direção de Movimento:
Luciana Bicalho
Preparação
Vocal: Mônica Karl
“Design”
Gráfico: Gil Filho
Fotos: João
Salamonde
Assessoria de
Imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)
Redes Sociais:
Rafael Teixeira
Operação de
Som: Danilo Neiva
Operação de
Luz: Laís Patrocínio
Assistência de
Produção: Isa Quinta
Direção de
Produção: Alina Lyra
Realização: LM Produções Artísticas
Temporada: De
10 de novembro a 03 de dezembro de 2023.
Local: Casa de
Cultura Laura Alvim / Teatro Rogério Cardoso.
Endereço:
Avenida Vieira Souto, nº 176 – Ipanema, Rio de Janeiro.
Telefone: (21)2332-2016.
Dias e Horários:
sexta-feira e sábado, às 19h, e domingo, às 18h.
Valor dos
Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia-entrada).
Venda de
ingressos: Bilheteria do Teatro ou no “site”
https://funarj.eleventickets.com/#!/evento/c75d76d3b22e0367cb06d8bf56bf8a9e6e9
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Lotação: 53
lugares.
Duração: 60
minutos.
Classificação
Etária: 12 anos.
Gênero: COMÉDIA.
O estilo
de humor “molièriano”, preservado no ótimo texto original da peça, por FERNANDA CELLEGHIN, é refinado e não
comporta, como reação da plateia, gargalhadas histriônicas. Muitas vezes, está
nas entrelinhas. Às vezes, o espectador só percebe a crítica do dramaturgo algum tempo depois de ouvida. Não gargalhei, mas sorri um riso comedido de quem aplaude as
críticas e concorda com elas.
Percebi alguns pequenos
deslizes quanto à direção, principalmente com relação a algumas marcações. Mas
isso não interfere na minha decisão de recomendar o espetáculo.
FOTOS: JOÃO SALAMONDE
GALERIA PARTICULAR:
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A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
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