sábado, 18 de novembro de 2023

 

AS ARTIMANHAS

DE MOLIÈRE”

ou

(UMA IDEIA FÉRTIL 

E BEM DESENVOLVIDA.)



         


              Qualquer um que começa a engatinhar no universo do TEATRO, desde as primeiras aulas de “História do TEATRO”, passa a conhecer o nome de Jean-Baptiste Poquelin e a aquilatar a sua importância para o TEATRO, desde quando desabrochou para este, por volta da metade do século XVII, até os nossos dias. Muita gente, porém, não consegue ligar o nome civil à pessoa, entretanto seu nome artístico, MOLIÈRE (1622 / 1673), é do conhecimento de todos. Ele foi um dramaturgo francês, além de ator e encenador, considerado um dos mestres da COMÉDIA satírica. Exerceu um papel de destaque na dramaturgia francesa, até então muito dependente da temática da mitologia grega, usando as suas obras para criticar os costumes da época, mostrando, com maestria, os defeitos e as virtudes da alma humana, mais aquelas que estas. É considerado o “Pai da COMÉDIA Francesa”. Alguns ampliam o título para o “Pai da COMÉDIA Moderna”. Escreveu cerca de 30 peças, encenadas até hoje, no mundo inteiro, dentre as quais se destacam As Preciosas Ridículas” (1659), A Escola de Mulheres” (1662), Tartufo” (1664), O Misantropo” (1665), “Dom Juan” (1665), Médico a Força” (1666), O Avarento” (1668) e O Burguês Fidalgo” (1670). Os títulos em vermelho são de quatro de suas peças “presentes” na montagem teatral aqui analisada.




“AS ARTIMANHAS DE MOLIÈRE” é um monólogo que mescla quatro peças do autor francês e marca a volta do ator LUIZ MACHADO aos palco, depois de sete anos em cartaz com um outro solo, “Nefelibato”, indiscutível sucesso de público e crítica. A peça é uma grande homenagem ao comediógrafo, bastante merecida, diga-se de passagem. Trata-se de uma trama que, bem ao estilo do mestre da COMÉDIA, aponta o dedo e desmascara os falsos sábios, a avareza dos burgueses, as mentiras dos médicos ignorantes e outros comportamentos sociais nada lisonjeiros.

 




 SINOPSE:

“AS ARTIMANHAS DE MOLIÈRE” reúne protagonistas de quatro peças do autor francês, que desmascaram os falsos sábios, a avareza dos burgueses, as mentiras dos médicos ignorantes e outros comportamentos sociais nada lisonjeiros.

Em uma espécie de “jornada do herói” às avessas, o protagonista conta, para a plateia, toda a sua história, cheia de peripécias, erros e acertos.

Após uma desilusão amorosa, ele se torna vingativo e passa a usar as mulheres, mas acaba tendo que se casar à força e é deserdado pelo pai.

Sem dinheiro, vive em pé de guerra com sua esposa, que cobra demais, e ele faz de menos.

Qual será o destino deste anti-herói?

 




Sempre afirmei que um bom espetáculo de TEATRO começa na qualidade do seu texto. É ele que, numa analogia com uma coluna vertebral, sustenta o peso de uma encenação. De alguns anos para cá, despertei para um fato que representa um estágio anterior ao texto. Falo da ideia, o enredo. Um bom texto, bem escrito, do ponto de vista técnico, sobre uma ideia “fraca” perde seu valor; uma boa ideia mal desenvolvida, em forma de texto, idem. É preciso que, diante de uma boa ideia para uma peça teatral, quem a teve apenas a desenvolva, se “tiver garrafas vazias para vender”, se for competente para isso. Não sendo um bom dramaturgo, o recomendável é que passe a sua ideia a quem tem condições de desenvolvê-la numa boa dramaturgia. Recentemente, tive um imenso desprazer de ver, numa peça em cartaz no Rio de Janeiro, uma ótima ideia “jogada na lata de lixo”, por conta da péssima qualidade do texto. Por uma questão ética, não revelo o nome da peça.



Mas qual é a justificativa para o parágrafo anterior? Havia necessidade dele? Total! É, exatamente, par valorizar o quer acontece nesta peça. A ideia é excelente e a tarefa de concretizá-la num bom texto teatral foi conferida a uma dramaturga que faz seu “début” na profissão de forma marcante, acertando a mão. Seu nome é FERNANDA CELLEGHINN, atriz, roteirista, produtora e, agora, dramaturga. Sua tarefa, nesta produção, é importantíssima. LUIZ MACHADO e MÁRCIO TRIGO são os “pais da criança”, os donos da excelente ideia de prestar um preito de gratidão a MOLIÈRE, e convidaram FERNANDA para escrever a peça, de uma forma bastante desafiadora. Os dois lhe encomendaram uma COMÉDIA que reunisse elementos de quatro das escritas pelo comediógrafo: Tartufo”, O Misantropo”, “Dom Juan” e Médico a Força”, não necessariamente nessa ordem.



Que belo trabalho de pesquisa e “costura” da dramaturga! FERNANDA procurou, nas quatro peças do seu “desafio”, “ganchos” para escrever um texto – é original – uma única história, na qual estão presentes protagonistas de MOLIÈRE, como Alceste, de “O Misantropo”; Esganarello, de “O Médico à Força”; Don Juan e Tartufo, das peças, respectivamente, homônimas. Em suas peças, o comediógrafo utilizava versos decassílabos, rimando. FERNANDA não seguiu à risca essa técnica, entretanto, embora seu texto tenha sido escrito em prosa, ela faz uso de muitas “rimas internas”, nas frases. A dramaturga usa uma linguagem muito escorreita e elegante; não clássica, mas popular “elevada”. Tem o meu aval – se é que ele vale para alguma coisa – para continuar na carreira.



LUIZ MACHADO explora todas as suas possibilidades de bom ator, para dar vida ao protagonista da peça, o qual não tem nome e, pela primeira cena do espetáculo, dá a entender que é um escritor, produzindo um livro que narra a sua saga, contada à plateia, interpretando, também, os personagens que cruzaram a sua vida. Para isso, o ator diversifica em posturas corporais, timbres de voz e entonações. É excelente a sua capacidade de trabalhar múltiplas máscaras faciais, as quais traduzem, melhor que palavras, emoções e sentimentos dos personagens.



Às vésperas de completar 30 anos de profissão, a serem comemorados em 2024, LUIZ MACHADO, um dos idealizadores do espetáculo, ao lado de MÁRCIO TRIGO, não contou com nenhum tipo de patrocínio, para montar a peça, e teve de arcar com todas as despesas de produção, o que é merecedor de meus aplausos. Isso, consequentemente, implicou uma encenação bastante simples, em termos de elementos de criação, porém não descuidada. A cenografia, por exemplo, é assinada por MINA QUENTAL e se resume a uma escrivaninha e muitos livros empilhados e pendurados no teto. Uma mala de viagem, bem velha, completa os elementos cenográficos. Não precisava de mais nada mesmo.





O único figurino foi criado por CAROL LOBATO. O ator veste um traje de época com um curioso detalhe: nos pés, um par de tênis de cano longo, branco. Esse “peixe fora d’água” chama a atenção de qualquer espectador e, confesso, em mim, gerou, tão logo o vi, um certo incômodo e uma série de questionamentos, feitos a mim mesmo, na tentativa de entender aquele detalhe “esdrúxulo”. Certamente, aquele “All Star” não entrara ali por acaso. Cheguei à conclusão de que, pelo fato de MOLIÈRE, apesar de morto há três séculos e meio, continua atual. Seus textos, vistos por olhos de hoje, se apresentam como universais e atemporais. Talvez a figurinista tivesse ido por esse caminho, com aquele toque de contemporaneidade; pensei. Curioso que sou, e amigo de CAROL, consultei-a, par dirimir minha dúvida, e dela recebi a informação de que o detalhe foi inspirado na cineasta Sofia Coppola, a qual, segundo a figurinista, “para dar uma contemporaneidade aos ‘looks’ de época, ela usa o tênis”. A iluminação foi criada por FRED EÇA e não apresenta nenhum pormenor que se destaque, contudo funciona positivamente.



 




 FICHA TÉCNICA:

Idealização: Luiz Machado e Márcio Trigo

Texto: Fernanda Celleghin, a partir de peças de Molière

Direção: Márcio Trigo

Assistência de Direção: Danilo Neiva

 

Interpretação: Luiz Machado

 

Cenário: Mina Quental

Figurino: Carol Lobato

Iluminação: Fred Eça

Direção Musical: Márcio Trigo

Composições e Performance: Newton Cardoso

Direção de Movimento: Luciana Bicalho

Preparação Vocal: Mônica Karl

“Design” Gráfico: Gil Filho

Fotos: João Salamonde

Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)

Redes Sociais: Rafael Teixeira

Operação de Som: Danilo Neiva

Operação de Luz: Laís Patrocínio

Assistência de Produção: Isa Quinta

Direção de Produção: Alina Lyra

Realização: LM Produções Artísticas

 

 

 



 

 SERVIÇO:

Temporada: De 10 de novembro a 03 de dezembro de 2023.

Local: Casa de Cultura Laura Alvim / Teatro Rogério Cardoso.

Endereço: Avenida Vieira Souto, nº 176 – Ipanema, Rio de Janeiro.

Telefone: (21)2332-2016.

Dias e Horários: sexta-feira e sábado, às 19h, e domingo, às 18h.

Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia-entrada).

Venda de ingressos: Bilheteria do Teatro ou no “site” https://funarj.eleventickets.com/#!/evento/c75d76d3b22e0367cb06d8bf56bf8a9e6e9

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Lotação: 53 lugares.

Duração: 60 minutos.

Classificação Etária: 12 anos.

Gênero: COMÉDIA.



         O estilo de humor “molièriano”, preservado no ótimo texto original da peça, por FERNANDA CELLEGHIN, é refinado e não comporta, como reação da plateia, gargalhadas histriônicas. Muitas vezes, está nas entrelinhas. Às vezes, o espectador só percebe a crítica do dramaturgo algum tempo depois de ouvida. Não gargalhei, mas sorri um riso comedido de quem aplaude as críticas e concorda com elas.



Percebi alguns pequenos deslizes quanto à direção, principalmente com relação a algumas marcações. Mas isso não interfere na minha decisão de recomendar o espetáculo.

 

 

 

 


FOTOS: JOÃO SALAMONDE

 

 

GALERIA PARTICULAR:

 


Com Luiz Machado.


 

 

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