segunda-feira, 6 de novembro de 2023

 

“O ADMIRÁVEL SERTÃO

DE ZÉ RAMALHO”

ou

(NEM MELHOR, 

NEM PIOR;

APENAS UM MUSICAL

DIFERENTE.)

 

 

         Nem melhor nem pior; apenas um musical diferente. Com esse subtítulo, inicio esta crítica, parafraseando algum fanático salgueirense – há controvérsias sobre a origem e “paternidade” da frase – sobre a Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro: “Nem melhor, nem pior. Apenas uma Escola diferente”. Explicarei isso adiante. Penso, porém, que o advérbio de intensidade “apenas” possa sugerir que eu não tenha gostado do espetáculo, mas, se assim fosse, eu não estaria dedicando muitas horas do meu preciosíssimo tempo, para escrever sobre o musical, ainda que ele já tenha saído de cartaz (Não havia escrito antes por total falta de tempo.), visto ser essa uma condição “sine qua non” para um espetáculo merecer uma crítica escrita por mim. Gostei, sim.





         ZÉ RAMALHO e Djavan são dois artistas que, como compositores, letristas, mais especificamente, a meu juízo, precisariam "ser estudados". Eu também. Eles, por escreverem poemas belíssimos, que são musicados, e, também, letras de canções totalmente fora de qualquer possibilidade de compreensão. Não seria o caso de linguagem poética, não; é questão mesmo de “absurdos indecifráveis”. Poderia eu dar dezenas de exemplos de versos, ou letras inteiras, mas não vejo necessidade disso agora.





         E eu? Por que motivo este que vos escreve também daria um “prato cheio” para “estudos científicos”? Simplesmente pelo fato de aplaudir essas canções de letras ininteligíveis, abstrusas, inescrutáveis, e, pior ainda, cantá-las. Ontem mesmo, comprei um ingresso para um “show” do Djavan, para o dia 3 de dezembro próximo, no Rio de Janeiro, e "será o mesmo filme": cantarei todas e canções, junto com o cantor, e até chegarei às lágrimas, durante algumas. Mas por que chorar com “Açaí, guardiã. Um zum de besouro, um ímã. Branca é a tez da manhã.”? Ou com ZÉ RAMALHO, em “E pior do que planeta quando perde o girassol”? E ainda o : “Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval e isso explica porque o sexo é assunto popular”? Mas eu choro... Que fazer?! Por oportuno, já adianto que, nos próximos dias, estreará, em São Paulo, mais precisamente, no dia 11 de novembro, um musical com canções de Djavan, dirigido pela querida Regina Miranda. E com o mesmo produtor da peça aqui analisada, EDUARDO BARATA. Djavan em alta. Que bom!





 SINOPSE:

O espetáculo coloca em cena recortes da trajetória do compositor e cantor ZÉ RAMALHO, desde sua infância, até ele se tornar conhecido, nacionalmente, com o lançamento do “hit” "Admirável Gado Novo".

Quem conhece e quem não muito o artista pode observar as músicas e ser tocado por essas experiências que ele viveu. 





         Não perderei meu tempo em comparações entre “O ADMIRÁVEL SERTÃO DE ZÉ RAMALHO” e outros musicais, para chegar à conclusão de que é melhor ou pior que este ou aquele. Isso, absolutamente, não me interessa. E é aqui que entra a “paráfrase” alusiva ao Salgueiro: “Nem melhor nem pior; apenas um musical diferente”. Não podemos nos afastar da classificação de um musical biográfico, que não agrada a muita gente – a mim também, em alguns casos –, quando seu formato é "clichê". Aqui, estamos diante de um musical que presta uma justa homenagem a um grande compositor e intérprete (Não cantor, a meu ver.) brasileiro, contando a sua história de vida, porém de uma forma singular. Ainda que ZÉ RAMALHO apareça como personagem, interpretado por mais de um ator / atriz, ele só existe somente nos números musicais, nos quais a força artística do Nordeste, com qualidade em sua realização e enorme potência criativa, pulsa.







PEDRO KOSOVSKI escreveu um boa dramaturgia, com simplicidade e, ao mesmo tempo, cheia de poesia e de elementos que provocam reflexões, focada em personagens e referências encontrados na obra do homenageado, como os retirantes, a seca, o vilão, os palhaços... A estrutura dramatúrgica é composta de cinco compartimentos, ou módulos, com princípio, meio e fim, cada um deles voltado para o que aconteceu de mais relevante na vida e na carreira de ZÉ RAMALHO. Assim, pela ordem, temos: 1) BREJO DA CRUZ (Seria o mesmo local cantado por Chico Buarque? Acho que sim: “A novidade / Que tem no Brejo da Cruz / É a criançada / Se alimentar de luz.”), que apresenta as origens do artista. 2) CAMPINA GRANDE, na Paraíba – No início de sua carreira, o artista era chamado de “Zé Ramalho da Paraíba”. –, a cidade onde começou o interesse de ZÉ RAMALHO pela música, quando “engatinhou e deu os primeiros passos musicais”. JOÃO PESSOA, que retrata o momento “lisérgico” da vida do músico, quando ele começou, realmente, a compor. A propósito, levei muito tempo para entender o que significa o vocábulo Avohai”, título de um dos maiores sucesso do homenageado nesta peça, até saber, depois de uma pesquisa, que se trata de um neologismo, criado pelo próprio ZÉ RAMALHO, por meio de um processo de formação de palavras chamado de composição por aglutinação, utilizando as palavras “avô” e “pai”. Seria, portanto, uma homenagem a dois de seus antepassados. “De acordo com a história divulgada na biografia do artista – “Zé Ramalho: o Poeta dos Abismos”, escrita por Henri Koliver –, essa palavra teria surgido durante uma experiência com drogas alucinógenas. 4) RIO DE JANEIRO, que apresenta a batalha por um lugar ao sol, passando pela fome a, até mesmo, a prostituição (“Baby / Dê-me seu dinheiro / Que eu quero viver / Dê-me seu relógio / Que eu quero saber / Quanto tempo falta / Para eu lhe esquecer / Quanto vale um homem / Para amar você”). 5) POPSTAR, que representa o sucesso e a consagração do autor de clássicos, como “Admirável Gado Novo”, “Garoto de Aluguel”, “Pedra do Ingá” e “Chão de Giz”, entre outros, canções cujas letras revelam momentos da vida desse grande artista, tudo carregado de bastantes simbolismos e metáforas; às vezes, “em excesso” (Momento “eufemismo”.).





Se eu tivesse que apontar o que há de melhor neste espetáculo, não pestanejaria na resposta: o elenco. Formado por quase uma dezena de atores – ADRIANA LESSA, CEIÇA MORENO, CESAR WERNECK, DUDA BARATA, MARCELLO MELO, MUATO, NIZAJ, PÁSSARO, TIAGO HERZ e GENILDA MARIA (atriz “stand-in”), sendo que alguns são músicos e atuam também dessa forma, nesta montagem, o elenco se apresenta de forma harmoniosa e correta, com alguns destaques: ADRIANA, CEIÇA, MUATO e TIAGO. Cumpre dizer que ADRANA LESSA merece um aplauso especial, pelo fato de ter sido incorporada ao grupo depois de o elenco já formado, porque houve necessidade de uma substituição para DONA LÉA GARCIA, em função da lamentável morte desta, uma missão assaz difícil e desafiadora, convenhamos. Não conhecia o trabalho de CEIÇA MORENO, que, nesta peça, é muito mais de uma exímia sanfoneira do que de atriz, a meu juízo, no entanto, em ambas as posições, aplaudo a sua atuação. MUATO é um artista visceral, com uma forte e marcante presença cênica. TIAGO HERZ, a cada trabalho novo, mais nos revela seu potencial artístico, seja atuando, seja cantando e tocando instrumentos musicais.





Como o repertório de ZÉ RAMALHO é extenso, assim como a lista de seus sucessos, dever ter sido uma tarefa muito árdua, para RICARDO KOSOVSKI e MARCO ANDRÉ NUNES, principalmente para o primeiro, o dramaturgo, relacionar as canções que deveriam entrar no espetáculo, o que será, sempre, motivo de cobranças: “Por que não colocou esta ou aquela música?”. “Ah!!! Faltou a música tal!”. Quero, todavia, dar o meu “pitaco”, em tom de cobrança e “repreensão”, caso o espetáculo venha a fazer nova(s) temporada(s), o que eu gostaria de que acontecesse. Não conhecia, confesso, a canção “Sinônimos”, a qual, vim a saber depois, é executada na abertura da novela “Terra e Paixão”, atualmente na grade da TV Globo. Trata-se de uma belíssima composição a qual não fazia parte da trilha sonora da peça e que, na noite em que assisti ao musical, foi adicionada, numa linda interpretação do elenco, com solo de TIAGO HERZ. A cena foi aplaudidíssima pela plateia que lotava o Teatro Prudential, onde o espetáculo estava em cartaz, mas, não sei por qual motivo nem por decisão de quem, parece que, logo no dia seguinte, ela foi retirada do “set list”. Acho essa decisão lamentável, não só porque a canção merecia estar lá, mas porque enriqueceu a peça. #voltasinonimos #prontofalei





Como os tempos estão, cada vez mais “bicudos” para os produtores de TEATRO, que vivem lutando por fomentos e patrocínios, esta montagem é bastante simples, em termos de elementos de apoio, sempre muito importantes: cenários, figurinos e iluminação. Mas isso não tira o brilho do espetáculo. MARCO ANDRÉ NUNES, o diretor, optou por um palco nu, com pouquíssimos elementos cênicos, assinados por ele e por UIRÁ, que se sucedem em cada cena, entrando e saindo do espaço cênico, manipulados pelos atores. Essa condição do palco permite que o elenco transite livremente, em cena, construindo um espetáculo bastante dinâmico, com a colaboração de CAROLINE MONLLEO, que se encarregou da direção de movimento.





O premiado figurinista WANDERLEY GOMES é o responsável por belos figurinos da peça, não tão exuberantes, como outros criados por ele, porém muito criativos e plenos de detalhes da cultura nordestina, representada, principalmente, por delicados bordados.





Não há nenhum detalhe que chame mais a atenção na iluminação, criada por DANI SANCHEZ. A “designer” de luz ajustou cores e intensidades às cenas, obedecendo ao que cada uma delas pede, e considero o resultado final como correto e bonito.





Também merecem um crédito positivo JÚNIOR BRASIL, que responde pelo desenho de som, e FERNANDO OCAZIONE, que assina o visagismo.





 FICHA TÉCNICA:

Idealização e Produção Artística: Eduardo Barata

Texto: Pedro Kosovski

Direção: Marco André Nunes

Assistente de Direção: Diego Ávila

 

Elenco (por ordem alfabética): Adriana Lessa, Ceiça Moreno, Cesar Werneck, Duda Barata, Marcello Melo, Muato, Nizaj, Pássaro, Tiago Herz e Genilda Maria (atriz “stand-in”)

 

Direção Musical: Plínio Profeta e Muato

Direção de Movimento: Caroline Monlleo

Cenografia: Marco André Nunes e Uirá

Figurinos: Wanderley Gomes

Iluminação: Dani Sanchez

Desenho de Som: Júnior Brasil

Visagismo: Fernando Ocazione

Programação Visual: Felipe Braga

Fotos: Cristina Granato

Assessoria de imprensa: Barata Comunicação e Dobbs Scarpa

Direção de Produção: Elaine Moreira

Produção Executiva: Tom Pires

Produção: Barata Produções

 

 



 

         Em resumo, aprovo o espetáculo e, mais que isso, ficaria muito feliz, se ele conseguisse novas temporadas, a fim de que um maior número de pessoas, fãs de ZÉ RAMALHO ou amantes do TEATRO MUISICAL, pudesse ter acesso a esta montagem. Um dos méritos desta peça é trazer e apresentar “O ADMIRÁVEL SERTÃO DE ZÉ RAMALHO” ao homem urbano, de uma forma simples, poética e muito “honesta”.

 

 










 






FOTOS: CRISTINA GRANATO

 

 

VAMOS AO TEATRO!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!

RESISTAMOS SEMPRE MAIS!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS, POSSAAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!

 















































































































































Nenhum comentário:

Postar um comentário