“80 – DÉCADA DO
VALE TUDO
– DOC.MUSICAL”
ou
(A MESMICE QUE AGRADA.)
Mais um “DOC.MUSICAL” no pedaço. Desta vez, o foco
recaiu sobre a década de 1980, muito marcante, no Brasil e no mundo. É o
terceiro da dupla FREDERICO REDER (direção) e MARCOS NAUER (roteiro).
Os anteriores, ambos com o mesmo sucesso que já está fazendo o atual, foram “60
– Década de Arromba – Doc.Musical” e “70 – Década do Divino
Maravilhoso – Doc.Musical”, tendo como atrações principais a cantora Wanderléa
(“60”) e o grupo “As Frenéticas” – Dhu Moraes, Leiloca
Neves e Sandra Pêra - e Baby do Brasil (“70”).
Para os que ainda não sabem o que venha a ser um “DOC.MUSICAL”,
trata-se de um gênero de TEATRO musical, inédito, criado pela dupla REDER
e NAUER, sendo uma espécie de “revista de ano”, invenção
de Artur Azevedo, que tinha por objetivo registrar tudo o que de
importante acontecia no Rio de Janeiro, como as práticas sociais
e representações culturais da sociedade carioca do final do século XIX e
começo do XX. Eram registradas as transformações políticas, sociais e
culturais que marcavam o ano, prestes a terminar (Às vezes, eram
representadas logo no início do ano seguinte.), exibidas em quadros curtos, no formato de números
humorístico-musicais. As “revistas de ano” eram “um
especial lugar de memória”, quase uma “revista digital ao vivo”,
num palco. Nos DOCs, há uma superlativação, quanto ao espaço e o tempo: é
sobre o mundo inteiro e em 10 anos.
Os que que conhecem esse tipo de espetáculo não verão nada de
diferente do que viram em “60” e “70”. E não era
para ver mesmo, porque os dois projetos anteriores deram muito certo e “não
se mexe em time que está ganhando”. Ademais, não há como ser diferente
num modelo criado e patenteado pela dupla de artistas criadores. Já os que
estão entrando em contato, pela primeira vez, com um “DOC.MUSICAL”,
estou certo de que aprovarão o gênero e estarão prontos a receber o próximo, o “90”.
Será que vem no próximo ano? Tomara que sim!
Já estamos vivendo a quarta década, após 1989, mas
aqueles 10 anos de efervescência, em todos os setores, ainda estão vivos
na memória de quem, como eu, os viveu. E intensamente. Para os que nasceram
depois, tudo é novidade, entretanto, para quem estava vivo lá – eu, por
exemplo, já quase partindo para meio século de distanciamento dos anos 80
–, o espetáculo bate muito forte, resgatando tudo o que de mais importante foi
registrado à época, de bom e de ruim, fruto de um estafante e profundo trabalho
de pesquisa, um mergulho “abissal” de MARCOS NAUER, que
procurou – e conseguiu – não deixar de fora nada de mais relevante, nas artes,
na política, nos costumes, nos hábitos sociais e nas “grandes invenções” que
nos eram apresentadas à época. Mais uma vez, NAUER nos brinda com um
trabalho impecável, primoroso.
MARCOS NAUER
FREDERICO REDER, com sua direção criativa, nos oferece
um espetáculo muito dinâmico, divertido, quase como uma revista digital “datada”,
que nos transporta, numa viagem de sonhos, a um período que legou, à
humanidade, alguns inventos tecnológicos, vistos, hoje, como ultrapassados, mas
que abriram caminho para os que, atgualmente, nos sevem bastante e tornam mais simples e prática
a nossa vida. Assim como nos dois espetáculos anteriores, da “grife”
“DOC.MUSICAL”, FRED não economizou em boas soluções, simples e
descomplicadas, inteligentes, para todas as cenas, e, a meu juízo, sua maior “sacada”,
em “80”, é a utilização de alguns músicos, cantando e dançando – e muito
bem -, algo, até então, não visto em musicais; com tanta intensidade e
correção, pelo menos. Aqui, reservo um destaque para GABRIEL FABBRI, FILL
MOTTA, MARCELO BRUNO e PAULO VIEL, os quatro que, além de
mostrar seus talentos como musicistas, ainda cantam muito bem e dançam, com
bastante desembaraço. Um foco mais potente vai para o último relacionado, PAULO
VIEL. Que artista formidável! (“Formidável” é um adjetivo de
pouco emprego, porém foi usado, abundantemente, por Nelson Rodrigues,
hábito que também adquiriu DONA Fernanda Montenegro. Acho que
esse dado valoriza o atributo.).
FREDERICO REDER
Aproveitando o “gancho”, já aproveito para
registrar a minha total admiração pelos 9 músicos que formam a banda do
espetáculo. Sob a regência do maestro VAGNER MAYERN, que também toca
piano, acompanham todos os números musicais GABRIEL FABBRIN (teclado e voz),
FILL MOTTA (guitarra e voz), PAULO VIEL (violino e voz), MARCELO
BRUNO (contrabaixo e voz), GUTA MENEZES (trompete e flugel), SAULO
VIGNOLI (cello), ALVARO WANKAWARI (sax e clarinete) e NAIFE
SIMÕES (bateria).
O formato é o mesmo e o esquema de figurinos,
de BRUNO PERLATTO, com 620 trajes completos, excelentes, idem,
mas a cenografia, de ROGÉRIO FALCÃO, é mais modesta, em relação
às anteriores, porém não perdeu a qualidade. O palco está mais livre e o foco vai
para os telões, de alta resolução, e os vários planos, nas laterais do palco,
para acomodar a banda. O elenco traz pouquíssimos artistas que
participaram de uma ou das duas versões anteriores (JULLIE, LEANDRO
MASSAFERI, LÉO ARAÚJO, RODRIGO SERPHAN e ROSANA CHAYIN.
Salvo engano, apenas esses.), pelo menos nos elencos que atuaram no Rio de
Janeiro, abrindo espaços para novos grandes talentos, desconhecidos do
grande público; para mim, pelo menos: (BETO MACEDO, CHELLE, DAMIANA SADILI,
ELIS ARAÚJO, FABI FIGUEIREDO, FELIPE MIRANDDA, FILL MOTTA,
GABRIEL FABBRI, GIOVANA ZOTTI, GUTA MENEZES, IVANNA
DOMENYCO – esta já uma veterana, talentosíssima -, LUAN CARVALHO, MADSON
DE PAULA, MANOEL VICTOR, MARCELO BRUNO, PAULO VIEL, PEDRO
NASSER, RAFA DIVERSE, STACY LOCATELLI e VIC ARANTES.).
E uma grande novidade, que eu adorei, envolvendo músicos e o palco, é a
grande surpresa de agora. (Não o é mais, contudo não deixem de conferir
esse agradável “spoiler”! Aliás, a surpresa já foi citada dois parágrafos acima).
Jurei, a mim mesmo, que “não escreveria um livro”,
como aconteceu com “60” e “70”, mas a quantidade
maciça de informações e os abundantes detalhes de excelência não vão me deixar
cumprir a promessa. Falarei de tudo – o máximo possível – porém apenas sobre
o que me mais encantou, ano a ano, valendo-me do roteiro que me foi enviado
pelo dramaturgo e roteirista MARCOS NAUER, pelo que
agradeço muito. Aliás, é bom salientar que, num "DOC.MUSICAL", não há dramaturgia, propriamente dita.
O
espetáculo começa com uma cena em que pessoas, na Praia de Copacabana,
aguardam a virada do ano. Aqui, pode ser ouvido o primeiro “mush up”
(Mistura de duas ou mais músicas. É a combinação instrumental de uma música com a
melodia dos vocais de outra, trazendo uma mistura harmoniosa e um novo formato
para o som.), reunindo “Um Novo Tempo” (Ivan Lins e Vitor Martins) e
“Estrada do Sol” (Tom Jobim e Dolores Duran). Já deixo logo aqui
o meu comentário elogioso a JULES VANDYSTADT, que adora esse tipo de
pesquisa, bem como eu, e a repete inúmeras vezes, durante a peça. JULES
assina a irretocável direção musical do espetáculo, com destaque para
seus arranjos vocais e musicais. Reparei que, muitas vezes, além de
mudar, completamente, o ritmo ou o andamento de várias canções, homens
interpretam algumas que foram, originalmente, gravadas por mulheres, e
vice-versa. O resultado da parte musical é magnífico, o que só se dá pelo
trabalho de JULES, de excepcionais músicos e de celestiais vozes
de um grupo de extraordinários cantores.
É feita uma homenagem a Gal
Costa, com destaque para a canção mais cantada no carnaval daquele ano:
“Balancê” (Alberto Ribeiro e João de Barro).
Aqui, ocorre a primeira
aparição da cantora SANDRA SÁ (A
artista, que, em fins dos anos 1980, mudou seu nome artístico para Sandra de Sá,
em razão da numerologia, voltou a querer ser identificada com aquele que a fez famosa no
início da mesma década. E é como SANDRA SÁ que ela encara um desafio
inédito na carreira.), a grande atração do
espetáculo, a estrela maior, interpretando “Demônio Colorido”, de
sua autoria, acompanhada pelo elenco. Estava começando, nesse ano, a conquista
de seu espaço no universo musical.
“MAS EU VOU LHE GUARDAR
COM A FORÇA DE UMA CAMISA
ME DESPIR DO PAVOR
LHE CHAMAR DE AMIGA
VINTE E QUATRO HORAS POR DIA
TENTANDO O MEU JUÍZO
FOI UNANIMEMENTE ELEITA
MEU DEMÔNIO
COLORIDO”
Muitos foram os filmes – estrangeiros, infelizmente – lançados nesse ano e citados na peça, assim como foi lembrado o icônico “show” de Frank Sinatra, no Maracanã, Rio de Janeiro, para um público de mais de 140.000 pessoas, além de ter sido transmitido pela TV e assistido por milhões de telespectadores, nos quais me incluo. Jamais vou me perdoar, por estar viajando, fora do Rio, o que não me permitiu comparecer ao memorável evento.
Rita Lee se faz presente, no auge de sua carreira solo, e também é aberto espaço para desenhos animados e programas infantis que marcaram o ano na TV brasileira.
Nas duas vezes em que assisti ao espetáculo, “fiquei com as mãos inchadas”, de tanto aplaudir RAFA DIVERSE, interpretando “The Winner Take It All”, a belíssima canção do repertório da banda sueca “Abba”, acompanhado por PAULO VIEL, ao violino. Queria ter os dois ao meu alcance, interpretando aquele número musical, sempre que eu desejasse. (Momento descontração.).
Já na abordagem deste
primeiro ano, começamos a aplaudir as ótimas coreografias preparadas por
VICTOR MAIA, as quais permeiam toda a obra. Conta uma novidade, vai!
(Outro momento descontração.)
1981:
Um dos
pontos altos do espetáculo, reservado para este ano, é o episódio da explosão
de uma bomba, na noite do dia 30 de abril, por dois militares, no Riocentro,
por ocasião de um “show” em homenagem ao “Dia do Trabalho”,
a ser comemorado no dia seguinte. Foi um ataque terrorista, perpetrado por setores
do Exército Brasileiro e da Polícia Militar do Rio de Janeiro, com o objetivo de incriminar grupos que se opunham à ditadura militar no Brasil e,
assim, justificar a necessidade do seu aparato de repressão e retardar a abertura política que estava em andamento. A
cena provoca grande comoção na plateia.
Tendo, como pano de fundo, o “casamento do século”, do Príncipe Charles com a Princesa
Diana, há a cena de um casamento, com a participação de um casal da
plateia, algo, propositalmente, bem “cafona”, como foi a década
de 80, como a vemos hoje, ainda que com grande carinho pelas coisas “bizarras”
acontecidas durante aqueles 10 anos.
Um número musical,
completamente diferente da gravação original, e que agrada muito – para mim,
principalmente, foi tocante – é “Palco” (Gilberto Gil),
magnificamente interpretado por JULLIE, que convida o público a acompanhá-la,
em coro, no que é, prontamente, atendida. Um lindo momento de integração palco
/ plateia.
Outra cena que mexeu muito
com o meu emocional traz LUAN CARVALHO, interpretando a canção “Memory”,
do musical “Cat’s”, que marcou muito uma estada minha em Nova
Iorque. Que voz tem esse rapaz!
Quem não é flamenguista
pode ficar incomodado com a aparição de SANDRA SÁ, com uniforme do Flamengo,
cantando o seu hino, numa cena que não podemos negar ser uma “apelação populista”,
no bom sentido, totalmente “perdoável”, por ser um gancho para
uma das poucas falas da atriz SANDRA, convocando as pessoas a engrossar
uma campanha, bem oportuna, que prega a paz nos estádios de futebol. Uma boa
causa, sem dúvida.
1982:
Bastante marcante, neste ano, é a cena em que o tecladista da
banda, GABRIEL FABBRIN, interpreta, acompanhando-se, o clássico “Aos
Nossos Pais” (Ivan Lins e Vitor Martins), numa homenagem
a Elis Regina.
Além de muitas referências ao Chacrinha e sua
atuação na TV, neste bloco, associado aos programas do referido apresentador,
há uma cena em que alguns atores interpretam grandes “hits”, hoje
considerados “bregas”, de cantores que dominavam o mercado fonográfico
da época. Destaco a interpretação de “Galopeira” (Mauricio
Cardoso Ocampo), na voz de RAFA DIVERSE, que consegue sustentar
uma nota aguda, num fôlego só, que parece interminável, motivo de grande aplauso da
plateia. Destaque para os arranjos, vocais e musicais, bem diferentes, fruto do
já citado talento de JULES VANDYSTADT.
A banda “Blitz” e o cantor e compositor Lulu
Santos se fazem presentes, aqui, com alguns de seus maiores sucessos,
interpretados, graciosamente, por vários atores / atrizes. Mais uma vez, SANDRA
SÁ “marca um belo gol”, com aquela que, talvez, seja a canção
que mais impulsionou, até agora, a sua carreira, de 43 anos: “Olhos
Coloridos” (Macau). Uma curiosidade: segundo seu compositor, a música “é fruto de uma
experiência pela qual muitos negros brasileiros ainda sofrem: o racismo. Macau
a compôs na década de 1970, após ter sido preso injustamente, pela Polícia
Militar do Rio de Janeiro, em uma exposição de escolas públicas, no Estádio
de Remo da Lagoa. A canção é considerada um símbolo do orgulho negro no Brasil”.
“OS MEUS OLHOS COLORIDOS
ME FAZEM REFLETIR
QUE EU ESTOU SEMPRE NA MINHA
E NÃO POSSO MAIS FUGIR
MEU CABELO ENROLADO
TODOS QUEREM IMITAR
ELES ESTÃO BARATINADOS
TAMBÉM
QUEREM ENROLAR
VOCÊ RI DA MINHA ROUPA
VOCÊ RI DO MEU CABELO
VOCÊ RI DA MINHA PELE
VOCÊ RI DO MEU SORRISO
A VERDADE É QUE VOCÊ
(TODO BRASILEIRO)
TEM SANGUE CRIOULO
TEM CABELO DURO
SARARÁ CRIOULO”
A
criança que existe dentro de cada um de nós é acordada, neste ano, na bela cena
que faz referência aos grupos infantis e programas da TV, para crianças, com
destaque voltado aos seriado “Síto do Pica-Pau-Amarelo” e os especiais
“Pirlimpimpim” e “Plunct, Plact, Zum”.
1983:
Uma cena bastante impactante, aqui, é a de uma sequência de
canções interpretadas, num “pot-pourri”, pelo elenco negro do espetáculo.
Vozes belíssimas e potentes, fazendo lembrar o som da “Motown”.
Se essa era a intenção do roteirista, do diretor ou do diretor musical, ou dos
três, ela foi plenamente atingida.
SANDRA SÁ, novamente, lembrando Wilson
Simonal, “regendo a massa”, num domínio total da plateia,
interpreta a cação que faz parte do título deste musical: “Vale Tudo”
(Tim Maia), com uma “ousadia”, que não seria aceita
à época; ou seria, com muitas críticas: trocou o trecho da letra que diz “SÓ NÃO VALE DANÇAR HOMEM COM
HOMEM / NEM MULHER COM MULHER” por “TAMBÉM VALE DANÇAR HOMEM COM HOMEM / E TAMBÉM MULHER COM
MULHER”.
"VALE! VALE TUDO!
VALE O QUE VIER
VALE O QUE QUISER
SÓ NÃO VALE (TAMBÉM VALE) DANÇAR HOMEM COM HOMEM
NEM (E TAMBÉM) MULHER COM MULHER
O RESTO VALE”
No espaço destinado a este ano, é feita uma importante referência à AIDS, chamada por muitos, fruto de total ignorância, à época, de “peste gay” ou “câncer gay”, que fez muitas vítimas fatais, com destaque, aqui, para personalidades que estavam em pleno auge de suas carreiras, como o cartunista Henfil, o ator Lauro Corona, o filósofo e sociólogo Michel Foucault e o ator (galã do cinema americano) Rock Hudson. Muitos outros famosos contraíram o vírus nessa década, vindo a falecer nos anos subsequentes: Cazuza (1990), o vocalista da banda “Queen” Freddie Mercury (1991), o ator Anthony Perkins (1992), o ator Carlos Augusto Strazzer (1993), o ator Caíque Ferreira (1994), o escritor Caio Fernando Abreu (1996), o compositor e vocalista da banda “Legião Urbana” Renato Russo (1996), o sociólogo e ativista Herbert de Sousa (Betinho) (1997), o ator Thales Pan Chacon (1997) e a atriz Sandra Bréa (2000).
O astro “pop” Michael Jackson é lembrado, em dois excelentes números musicais: “Thriller”
e “Billie Jean”.
Alguém se lembraria de que,
nesse ano, foi lançado o primeiro aparelho celular da História, o
Dynatac 8000X, da Motorola? Pois o “tijolão”
é lembrado também.
Não consigo conter a minha emoção toda vez que assisto a
qualquer trecho do filme “Flashdance”, ao som da canção “What
a Feeling”, na voz de Irene Cara, falecida no ano
passado. Até hoje, não descobri por que esse filme mexe tanto comigo, a ponto
de me levar, mesmo, às lágrimas. E eu não me contive, quando assisti a este “DOC.MUSICAL”.
1984:
Este
ano foi importantíssimo para os brasileiros, em função da campanha das “Diretas
Já!”, um movimento político, de cunho popular, que teve como objetivo a
retomada das eleições diretas ao cargo de presidente da República no Brasil, durante a ditadura militar. Na
peça, o ponto alto de referência a esse momento histórico, e muito comovente, é
a interpretação de “Podres Poderes” (Caetano Veloso),
feita, de forma brilhante, pelo tecladista GABRIEL FABBRI, que também
faz um emocionante discurso em nome da democracia. A plateia se emociona e vai
ao delírio.
Achei
interessantíssima, e super criativa, a solução encontrada, pelo diretor
do espetáculo, para fazer o registro de um seriado que marcou muito, na
televisão: “Chaves”, uma produção mexicana. Pode ser que eu esteja
enganado, porém é sabido, por muitos, que é difícil negociar com os que detêm
os direitos autorais da série, para qualquer utilização direta da “grife”.
Dessa forma, a cena se dá ao som da música-tema de “Chaves”, com
o telão da boca de cena um pouco levantado a, mais ou menos, um metro do chão, deixando
à mostra apenas os atores da cintura para baixo e alguns detalhes que
identificam os personagens. É bem interessante ver o público dizendo, em voz
alta: “Olha! É o(a) Fulano(a)!”, quando vê uma maleta, uma
vassoura ou uma e norme bola vermelha, por exemplo. Achei deveras interessante
e alegre a cena.
Ao som
de “Vai Passar” (Chico Buarque) e “Enredo do
Meu Samba” (Jorge Aragão e Dona Ivone Lara), esta canção interpretada
por SANDRA SÁ e elenco, é feito o registro da inauguração do Sambódromo
da Avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro.
Hoje,
uma lembrança, um anacronismo, as videolocadoras, que faziam a alegria de tanta
gente – eu e a de minha família, inclusive - são aqui lembradas. Foi um dos
momentos que mais me tocaram, porque fizeram evocar, em mim, muitas memórias
daquele ano, principalmente, numa videolocadora do Leblon, quando, sempre nos
mesmos dias e horários (para alugar as fitas de VHS e para devolvê-las.), eu me
encontrava com queridos amigos e amigas, artistas, e batíamos longos papos, sugerindo, uns aos outros, este ou aquele filme. Doces “recuerdos”!
Foi na
década de 80 que surgiram as grandes bandas de “rock”
nacional (Algumas, um pouquinho antes, mas “estouraram” nessa
época.), que fazem sucesso até hoje. Por esse motivo, aqui, elas são lembradas,
em excelentes quadros musicais: “Os Paralamas do Sucesso”, “Barão
Vermelho”, “Legião Urbana”, “Titãs”, “Blitz”,
“Kid Abelha”, “Ira”, “Engenheiros do Havaí”,
“Capital Inicial”, “RPM”, “Nenhum de Nós”,
“Biquíni Cavadão” e outras.
1985:
Um dos eventos artístico-musicais que mais marcaram este ano,
ou melhor, o que de mais importante aconteceu, na música e no universo do “show
business” foi, sem dúvida, a realização do primeiro “Rock in Rio”,
que, para quem não sabe (Será que existe alguém?), foi um festival de música, idealizado pelo empresário
brasileiro Roberto Medina, reconhecido como um dos maiores festivais
musicais do planeta. Foi, originalmente, organizado no Rio de Janeiro, de onde vem o nome, e se tornou um evento de repercussão em nível
mundial, uma “grife” exportada. Em 2004, teve sua
primeira edição fora do Brasil, em Lisboa, Portugal. Ao longo da sua história, o “Rock
in Rio” já teve 22 edições: 9 no Brasil, 9 em Portugal, 3 na Espanha e 1 nos Estados Unidos.
Uma das maiores atrações desse evento
foi a apresentação da banda “Queen”, que deixou sua marca entre
nós, principalmente pela atuação de seu vocalista, Freddie Mercury.
A cena em que a banda é lembrada é uma das mais aplaudidas, no espetáculo, com
o público cantando, a plenos pulmões, as suas canções executadas.
Após a primeira eleição indireta, que
marcaria o fim da maldita ditadura militar, fruto do golpe militar de
1964, eleito Tancredo Neves, um civil, o país respirou
aliviado, com a esperança de retomar sua vida, com o foco na democracia.
Infelizmente, o presidente eleito faleceu, antes de tomar posse e, em seu
lugar, assumiu seu vice, José Sarney (Ninguém merece!
Estava bom demais, para ser verdade”).
A cantora Madonna fazia
grande sucesso, no Brasil e no mundo, motivo para caber, no espetáculo, um
número musical homenageando-a. Embora tenha ouvido alguns comentários
negativos, achei bastante interessante, criativa e oportuna a ideia de mostrar
uma “representação” (Não imitação.) da cantora,
loura, feita por uma atriz negra (CHELLE), com uma voz belíssima.
Por oportuno, porque me chamou bastante
a atenção, algo que eu, até então, não havia visto, em TEATRO, registro
a atuação do violinista, PAULO VIEL, nas coreografias. Cumpre dizer que,
na minha visão, ele tem papel garantido em qualquer musical, porque, além de um
exímio musicista, dá seu recado interpretando, canta e dança muito bem.
Não tão importante, a meu juízo, mas que
ficou bem interessante, no palco, pelas coreografias de VICTOR MAIA, há
um foco voltado para o “boom” das academias de ginástica, num
número bem dinâmico, executado por quase todo o elenco, ao som das canções que
pontuavam, e pontuam, até hoje, os exercícios físicos da “galera que
malha”.
Foi
reservado, aqui, um espaço para uma homenagem à cantora Tina Turner,
recém-falecida, que viria a fazer um memorável “show", no Maracanã,
em 1988. Bela cena!
Voltando
às bandas nacionais, não, propriamente, as de “rock”, foi em 1985
que aconteceu o ápice do sucesso do grupo “Roupa Nova”, até hoje
em atividade, sempre com o mesmo sucesso e aprovação de novas gerações de fãs.
A “dissecação” do ano de 1985 marca o fim do primeiro ato do espetáculo. Talvez, ou é quase certo, a minha opinião não venha a ser bem aceita, mas eu preferia que não houvesse o intervalo de 15 minutos, o qual acaba se estendendo por muito mais tempo, assim como acho que poderia ser suprimido o número de plateia que antecede o início do segundo ato. Não me joguem pedras, por favor! É, apenas, uma opinião, que vou sustentar, até sob tortura.
1986:
Não consegui enxergar tantos detalhes que merecessem a minha
atenção, neste ano. Há muita referência à “Rainha dos Baixinhos”,
Xuxa, que o público adora (Não eu”) e um cativante
número musical com os “Ursinhos Carinhosos” (Momento “fofura”.).
Por sua importância e capacidade de influenciar os jovens,
mais uma vez, são lembradas algumas bandas de “rock” brasileiras.
1987:
Pode parecer uma redundância, mas, aqui, também há espaço
para aquelas bandas de “rock” já citadas, porque elas ocupam um
bom espaço da nossa história musical. Acho bem justa e acertada a repetição.
Acredito que o ponto alto deste ano, no espetáculo, é
reservado a SANDA SÁ, num número musical, em seu camarim, quando uma fã,
interpretada pela magnífica IVANNA DOMENYCO, lhe pede um autógrafo num LP
(vinil), o qual alcançou uma venda considerável. Mérito para o dueto
entre SANDRA e IVANNA.
Os que viveram aquela época hão de se lembrar do “verão
da lata”, relacionado a um fato bizarro: latas, contendo, cada uma, 1,5
kg de maconha, chegaram às praias do Rio de Janeiro, depois de
terem sido jogadas ao mar, para evitar um flagrante, por tripulantes de um
navio australiano.
Um dos
números musicais mais marcantes deste ano é o da cantriz ROSANA CHAYIN,
interpretando a canção “O Amor e o Poder” (Versão de Claudio Rabello, para a canção “The Power of Love”, de C. De Rouge e J. Rush / M. S), gravação
da cantora Rosana, tema da personagem Jocasta, na
novela “Mandala”, da TV Globo. O público não só canta
junto com a cantriz, como também a aplaude bastante, ao final do número.
1988:
Um ano
muito importante para a história contemporânea do Brasil, por
conta da outorga da Constituição que rege o país até hoje. Esse
fato histórico, abrindo as portas para “um novo Brasil”, mereceu
a atenção do roteirista deste “DOC.MUSICAL”.
Dois
outros fatos marcantes deste ano foram a criação do SUS, um dos maiores e
mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, e a criação,
pela UNAIDS, um órgão ligado à ONU, do “Dia Nacional
de Combate à AIDS”, que serviu como “gatilho” para mais
uma bela homenagem ao cantor e compositor Cazuza, soropositivo,
que veio a falecer em 1990.
Praticamente, não há um
fechamento deste ano, para dar acesso ao próximo. Um belo número, bastante
comovente, no qual são exibidas imagens de Cazuza, falando sobre
sua comadre, SANDRA SÁ (O cantor batizou o filho da artista, Luiz
Jorge Frederico de Sá.), seguido de uma linda interpretação de SANDRA,
de forma impecável e tomada de intensa emoção, para a belíssima canção “Codinome
Beija-Flor” (Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias),
marcam a passagem de um ano a outro. SANDRA SÁ age como se estivesse
cantando diretamente para Cazuza, o qual aparece num telão, à
frente do palco, os dois colocados, estrategicamente, como se um olhasse, fixamente,
nos olhos do outro. Não dá mesmo para conter as lágrimas.
Não
posso deixar de mencionar um momento apoteótico deste ano, que é um belo
congraçamento, entre palco e plateia, todos cantando “O Que É, O Que É?
(Gonzaguinha).
“VIVER E NÃO TER A VERGONHA DE SER FELI
CANTAR A BELEZA DE SER UM ETERNO APRENDIZ
EU SEI QUE A VIDA DEVIA SER BEM MELHOR, E SERÁ
MAS ISSO NÃO
IMPEDE QUE EU REPITA:
É BONITA, É BONITA, E É BONITA”
1989:
E a “nave do tempo” se prepara para voltar ao
solo. Está chegando ao fim essa linda viagem de sonho, fechando-se mais uma
década. FREDERICO REDER e MARCOS NAUER encerram o espetáculo com
chave de ouro, de forma que todos se emocionem e deixem o Theatro Claro
Rio com vontade de rever o musical e de divulgá-lo, entre seus pares,
porque é assim mesmo que a gente fica, quando “80...” começa a se
tornar mais uma imensa e indelével recordação. Foram cerca de 3 horas de
beleza e magia.
Emendando com o final do ano anterior, há, como já disse, a
justíssima e merecida homenagem a Cazuza, que morreu, vítima da AIDS,
em 7 de julho de 1990. O elenco interpreta alguns de seus mais marcantes
sucessos, no que é acompanhado por um coro de cerca de 600 pessoas, que
sempre superlotam o Theatro.
Ainda sobrou espaço para lembrar a queda do muro de Berlim,
que marcou o fim da “Guerra
Fria”, a reunificação das duas Alemanhas, o término dos
regimes socialistas e o início da globalização (Simbolicamente, representa a
vitória do capitalismo sobre o socialismo.) e o acesso à internet, que
nem precisa de qualquer comentário, considerando-se o que isso representou de
avanço e facilidades na vida de todos os habitantes do planeta.
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FICHA TÉCNICA:
Roteiro e Pesquisa: Marcos Nauer
Direção Geral: Frederico Reder
Assistência de Direção / Direção Residente: Giu Mallen
Direção Musical: Jules Vandystadt
Direção de Movimento e Coreografia: Victor Maia
Assistência de Movimentos e Coreografias: Clara da Costa
Cenografia: Rogério Falcão e Reinaldo Reis
Cenografia Digital: MazeFX e Marcos Nauer
Direção de Arte: Bárbara Lana
Figurinos: Bruno Perlato
Desenho de Luz: Sérgio Martins
Desenho de Som: Thiago Chaves
Visagismo: Alisson Rodrigues
Perucaria: André Góes
Elenco
(por ordem alfabética): BETO MACEDO, CHELLE, DAMIANA SADILI, ELIS ARAÚJO, FABI
FIGUEIREDO, FELIPE MIRANDDA, FILL MOTTA, GABRIEL FABBRI, GIOVANA ZOTTI, GUTA
MENEZES, IVANNA DOMENYCO, JULLIE, LEANDRO MASSAFERI, LÉO ARAÚJO, LUAN CARVALHO,
MADSON DE PAULA, MANOEL VICTOR, MARCELO BRUNO, PAULO VIEL, PEDRO NASSER, RAFA
DIVERSE, RODRIGO SERPHAN, ROSANA CHAYIN, SANDRA SÁ, STACY LOCATELLI e VIC ARANTES
Banda
(por ordem alfabética): ALVARO WANKAWARI (sax, clarinete e flauta), FILL MOTTA (guitarra
e voz),
GABRIEL FABBRI (piano 2 e voz), GUTA MENEZES (trompete, flugel e gaita), MARCELO
BRUNO (contrabaixo e voz), NAIFE SIMÕES (bateria, bongô e pandeiro), PAULO
VIEL (violino e voz), SAULO VIGNOLI (cello) e VAGNER MAYERN (regência
e piano 1)
Direção de Produção: Juliana Reder
Direção de Comunicação / “Marketing”: Luís Fernando Rodrigues
Produção Executiva: Luana Simões
SERVIÇO:
Temporada: De 02 de junho a 16 de julho de 2023.
Local: Theatro Claro Rio.
Endereço: Rua Siqueira Campos, nº 143 (Shopping Cidade Copacabana) –
2º piso – Copacabana - Rio de Janeiro.
Dias e Horários: 6ª feira, às 20h; sábado, às 16h e 21h; domingo,
às 15h e 19h; 2ª feira, às 17h30min.
Classificação
Etária: 12 anos.
Duração:
3 horas.
Gênero:
DOC.MUSICAL
OBSERVAÇÃO: Após o encerramento da temporada carioca, o espetáculo estreará no Theatro Claro São Paulo, para uma nova temporada, de 22 de julho a 03 de setembro de 2023.
“80 – DÉCADA DO VALE TUDO – DOC.MUSICAL” é um
espetáculo muito dinâmico, capaz de tirar o nosso fôlego, antes de cada cena,
com muitas projeções antecedendo cada referência ao vivo, no palco, que merece
ser visto por todos. Uma montagem em forma de superprodução, com quase 10
toneladas de cenário, mais de 600 figurinos e 120 perucas e 30
artistas, entre músicos, atores e bailarinos, incumbidos de mostrar
momentos icônicos da década de 80, sem contar o batalhão de pessoas nos bastidores.
SANDRA SÁ, confesso, sem o menor pudor, me surpreendeu
sobremaneira, com seu carisma e poder de se comunicar com uma plateia. Um
detalhe que não pode deixar de vir a lume é o fato de que este é o primeiro
espetáculo de TEATRO com intérprete de libras e audiodescrição em todas as
sessões.
Acho que um único substantivo bastaria, para definir o
espetáculo: uma CATARSE. Melhor ficaria com o acréscimo de um adjetivo: COLETIVA. UMA CATARSE COLETIVA!!!
Se eu recomendo o espetáculo? Alguma dúvida? É claro que sim?!
FOTOS: CARLOS GOMES
(E IMAGENS CAPTADAS NAS REDES SOCIAIS DO ELENCO.)
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI,
SEMPRE!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR
NO TEATRO BRASILEIRO!
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