quinta-feira, 6 de julho de 2023

 “80 – DÉCADA DO

VALE TUDO

– DOC.MUSICAL”

ou

(A MESMICE QUE AGRADA.)






        Mais um “DOC.MUSICAL” no pedaço. Desta vez, o foco recaiu sobre a década de 1980, muito marcante, no Brasil e no mundo. É o terceiro da dupla FREDERICO REDER (direção) e MARCOS NAUER (roteiro). Os anteriores, ambos com o mesmo sucesso que já está fazendo o atual, foram “60 – Década de Arromba – Doc.Musical” e “70 – Década do Divino Maravilhoso – Doc.Musical”, tendo como atrações principais a cantora Wanderléa (“60”) e o grupo “As Frenéticas” – Dhu Moraes, Leiloca Neves e Sandra Pêra - e Baby do Brasil (“70”).



   Para os que ainda não sabem o que venha a ser um “DOC.MUSICAL”, trata-se de um gênero de TEATRO musical, inédito, criado pela dupla REDER e NAUER, sendo uma espécie de “revista de ano”, invenção de Artur Azevedo, que tinha por objetivo registrar tudo o que de importante acontecia no Rio de Janeiro, como as práticas sociais e representações culturais da sociedade carioca do final do século XIX e começo do XX. Eram registradas as transformações políticas, sociais e culturais que marcavam o ano, prestes a terminar (Às vezes, eram representadas logo no início do ano seguinte.), exibidas em quadros curtos, no formato de números humorístico-musicais. As “revistas de ano” eram “um especial lugar de memória”, quase uma “revista digital ao vivo”, num palco. Nos DOCs, há uma superlativação, quanto ao espaço e o tempo: é sobre o mundo inteiro e em 10 anos.



       Os que que conhecem esse tipo de espetáculo não verão nada de diferente do que viram em “60” e “70”. E não era para ver mesmo, porque os dois projetos anteriores deram muito certo e “não se mexe em time que está ganhando”. Ademais, não há como ser diferente num modelo criado e patenteado pela dupla de artistas criadores. Já os que estão entrando em contato, pela primeira vez, com um “DOC.MUSICAL”, estou certo de que aprovarão o gênero e estarão prontos a receber o próximo, o “90”. Será que vem no próximo ano? Tomara que sim!



        Já estamos vivendo a quarta década, após 1989, mas aqueles 10 anos de efervescência, em todos os setores, ainda estão vivos na memória de quem, como eu, os viveu. E intensamente. Para os que nasceram depois, tudo é novidade, entretanto, para quem estava vivo lá – eu, por exemplo, já quase partindo para meio século de distanciamento dos anos 80 –, o espetáculo bate muito forte, resgatando tudo o que de mais importante foi registrado à época, de bom e de ruim, fruto de um estafante e profundo trabalho de pesquisa, um mergulho “abissal” de MARCOS NAUER, que procurou – e conseguiu – não deixar de fora nada de mais relevante, nas artes, na política, nos costumes, nos hábitos sociais e nas “grandes invenções” que nos eram apresentadas à época. Mais uma vez, NAUER nos brinda com um trabalho impecável, primoroso.


MARCOS NAUER


        FREDERICO REDER, com sua direção criativa, nos oferece um espetáculo muito dinâmico, divertido, quase como uma revista digital “datada”, que nos transporta, numa viagem de sonhos, a um período que legou, à humanidade, alguns inventos tecnológicos, vistos, hoje, como ultrapassados, mas que abriram caminho para os que, atgualmente, nos sevem bastante e tornam mais simples e prática a nossa vida. Assim como nos dois espetáculos anteriores, da “grife” “DOC.MUSICAL”, FRED não economizou em boas soluções, simples e descomplicadas, inteligentes, para todas as cenas, e, a meu juízo, sua maior “sacada”, em “80”, é a utilização de alguns músicos, cantando e dançando – e muito bem -, algo, até então, não visto em musicais; com tanta intensidade e correção, pelo menos. Aqui, reservo um destaque para GABRIEL FABBRI, FILL MOTTA, MARCELO BRUNO e PAULO VIEL, os quatro que, além de mostrar seus talentos como musicistas, ainda cantam muito bem e dançam, com bastante desembaraço. Um foco mais potente vai para o último relacionado, PAULO VIEL. Que artista formidável! (“Formidável” é um adjetivo de pouco emprego, porém foi usado, abundantemente, por Nelson Rodrigues, hábito que também adquiriu DONA Fernanda Montenegro. Acho que esse dado valoriza o atributo.).


FREDERICO REDER



       Aproveitando o “gancho”, já aproveito para registrar a minha total admiração pelos 9 músicos que formam a banda do espetáculo. Sob a regência do maestro VAGNER MAYERN, que também toca piano, acompanham todos os números musicais GABRIEL FABBRIN (teclado e voz), FILL MOTTA (guitarra e voz), PAULO VIEL (violino e voz), MARCELO BRUNO (contrabaixo e voz), GUTA MENEZES (trompete e flugel), SAULO VIGNOLI (cello), ALVARO WANKAWARI (sax e clarinete) e NAIFE SIMÕES (bateria).



      O formato é o mesmo e o esquema de figurinos, de BRUNO PERLATTO, com 620 trajes completos, excelentes, idem, mas a cenografia, de ROGÉRIO FALCÃO, é mais modesta, em relação às anteriores, porém não perdeu a qualidade. O palco está mais livre e o foco vai para os telões, de alta resolução, e os vários planos, nas laterais do palco, para acomodar a banda. O elenco traz pouquíssimos artistas que participaram de uma ou das duas versões anteriores (JULLIE, LEANDRO MASSAFERI, LÉO ARAÚJO, RODRIGO SERPHAN e ROSANA CHAYIN. Salvo engano, apenas esses.), pelo menos nos elencos que atuaram no Rio de Janeiro, abrindo espaços para novos grandes talentos, desconhecidos do grande público; para mim, pelo menos: (BETO MACEDO, CHELLE, DAMIANA SADILI, ELIS ARAÚJO, FABI FIGUEIREDO, FELIPE MIRANDDA, FILL MOTTA, GABRIEL FABBRI, GIOVANA ZOTTI, GUTA MENEZES, IVANNA DOMENYCO – esta já uma veterana, talentosíssima -, LUAN CARVALHO, MADSON DE PAULA, MANOEL VICTOR, MARCELO BRUNO, PAULO VIEL, PEDRO NASSER, RAFA DIVERSE, STACY LOCATELLI e VIC ARANTES.). E uma grande novidade, que eu adorei, envolvendo músicos e o palco, é a grande surpresa de agora. (Não o é mais, contudo não deixem de conferir esse agradável “spoiler”! Aliás, a surpresa já foi citada dois parágrafos acima).




    Jurei, a mim mesmo, que “não escreveria um livro”, como aconteceu com “60” e “70”, mas a quantidade maciça de informações e os abundantes detalhes de excelência não vão me deixar cumprir a promessa. Falarei de tudo – o máximo possível – porém apenas sobre o que me mais encantou, ano a ano, valendo-me do roteiro que me foi enviado pelo dramaturgo e roteirista MARCOS NAUER, pelo que agradeço muito. Aliás, é bom salientar que, num "DOC.MUSICAL", não há dramaturgia, propriamente dita.



1980:

O espetáculo começa com uma cena em que pessoas, na Praia de Copacabana, aguardam a virada do ano. Aqui, pode ser ouvido o primeiro “mush up” (Mistura de duas ou mais músicas. É a combinação instrumental de uma música com a melodia dos vocais de outra, trazendo uma mistura harmoniosa e um novo formato para o som.), reunindo “Um Novo Tempo” (Ivan Lins e Vitor Martins) e “Estrada do Sol” (Tom Jobim e Dolores Duran). Já deixo logo aqui o meu comentário elogioso a JULES VANDYSTADT, que adora esse tipo de pesquisa, bem como eu, e a repete inúmeras vezes, durante a peça. JULES assina a irretocável direção musical do espetáculo, com destaque para seus arranjos vocais e musicais. Reparei que, muitas vezes, além de mudar, completamente, o ritmo ou o andamento de várias canções, homens interpretam algumas que foram, originalmente, gravadas por mulheres, e vice-versa. O resultado da parte musical é magnífico, o que só se dá pelo trabalho de JULES, de excepcionais músicos e de celestiais vozes de um grupo de extraordinários cantores.

É feita uma homenagem a Gal Costa, com destaque para a canção mais cantada no carnaval daquele ano: “Balancê” (Alberto Ribeiro e João de Barro).

Aqui, ocorre a primeira aparição da cantora SANDRA SÁ (A artista, que, em fins dos anos 1980, mudou seu nome artístico para Sandra de Sá, em razão da numerologia, voltou a querer ser identificada com aquele que a fez famosa no início da mesma década. E é como SANDRA SÁ que ela encara um desafio inédito na carreira.), a grande atração do espetáculo, a estrela maior, interpretando “Demônio Colorido”, de sua autoria, acompanhada pelo elenco. Estava começando, nesse ano, a conquista de seu espaço no universo musical.





MAS EU VOU LHE GUARDAR

COM A FORÇA DE UMA CAMISA

ME DESPIR DO PAVOR 
LHE CHAMAR DE AMIGA

VINTE E QUATRO HORAS POR DIA

TENTANDO O MEU JUÍZO

FOI UNANIMEMENTE   ELEITA

MEU DEMÔNIO COLORIDO”


 

 


 Muitos foram os filmes – estrangeiros, infelizmente – lançados nesse ano e citados na peça, assim como foi lembrado o icônico “show” de Frank Sinatra, no Maracanã, Rio de Janeiro, para um público de mais de 140.000 pessoas, além de ter sido transmitido pela TV e assistido por milhões de telespectadores, nos quais me incluo. Jamais vou me perdoar, por estar viajando, fora do Rio, o que não me permitiu comparecer ao memorável evento.

Rita Lee se faz presente, no auge de sua carreira solo, e também é aberto espaço para desenhos animados e programas infantis que marcaram o ano na TV brasileira.

Nas duas vezes em que assisti ao espetáculo, “fiquei com as mãos inchadas”, de tanto aplaudir RAFA DIVERSE, interpretando “The Winner Take It All”, a belíssima canção do repertório da banda sueca “Abba”, acompanhado por PAULO VIEL, ao violino. Queria ter os dois ao meu alcance, interpretando aquele número musical, sempre que eu desejasse. (Momento descontração.).

Já na abordagem deste primeiro ano, começamos a aplaudir as ótimas coreografias preparadas por VICTOR MAIA, as quais permeiam toda a obra. Conta uma novidade, vai! (Outro momento descontração.)




1981:

Um dos pontos altos do espetáculo, reservado para este ano, é o episódio da explosão de uma bomba, na noite do dia 30 de abril, por dois militares, no Riocentro, por ocasião de um “show” em homenagem ao “Dia do Trabalho”, a ser comemorado no dia seguinte. Foi um ataque terrorista, perpetrado por setores do Exército Brasileiro e da Polícia Militar do Rio de Janeiro, com o objetivo de incriminar grupos que se opunham à ditadura militar no Brasil e, assim, justificar a necessidade do seu aparato de repressão e retardar a abertura política que estava em andamento. A cena provoca grande comoção na plateia.

Tendo, como pano de fundo, o “casamento do século”, do Príncipe Charles com a Princesa Diana, há a cena de um casamento, com a participação de um casal da plateia, algo, propositalmente, bem “cafona”, como foi a década de 80, como a vemos hoje, ainda que com grande carinho pelas coisas “bizarras” acontecidas durante aqueles 10 anos.

Um número musical, completamente diferente da gravação original, e que agrada muito – para mim, principalmente, foi tocante – é “Palco” (Gilberto Gil), magnificamente interpretado por JULLIE, que convida o público a acompanhá-la, em coro, no que é, prontamente, atendida. Um lindo momento de integração palco / plateia.

Outra cena que mexeu muito com o meu emocional traz LUAN CARVALHO, interpretando a canção “Memory”, do musical “Cat’s”, que marcou muito uma estada minha em Nova Iorque. Que voz tem esse rapaz!

Quem não é flamenguista pode ficar incomodado com a aparição de SANDRA SÁ, com uniforme do Flamengo, cantando o seu hino, numa cena que não podemos negar ser uma “apelação populista”, no bom sentido, totalmente “perdoável”, por ser um gancho para uma das poucas falas da atriz SANDRA, convocando as pessoas a engrossar uma campanha, bem oportuna, que prega a paz nos estádios de futebol. Uma boa causa, sem dúvida.




1982:

       Bastante marcante, neste ano, é a cena em que o tecladista da banda, GABRIEL FABBRIN, interpreta, acompanhando-se, o clássico “Aos Nossos Pais” (Ivan Lins e Vitor Martins), numa homenagem a Elis Regina.

        Além de muitas referências ao Chacrinha e sua atuação na TV, neste bloco, associado aos programas do referido apresentador, há uma cena em que alguns atores interpretam grandes “hits”, hoje considerados “bregas”, de cantores que dominavam o mercado fonográfico da época. Destaco a interpretação de “Galopeira” (Mauricio Cardoso Ocampo), na voz de RAFA DIVERSE, que consegue sustentar uma nota aguda, num fôlego só, que parece interminável, motivo de grande aplauso da plateia. Destaque para os arranjos, vocais e musicais, bem diferentes, fruto do já citado talento de JULES VANDYSTADT.

        A banda “Blitz” e o cantor e compositor Lulu Santos se fazem presentes, aqui, com alguns de seus maiores sucessos, interpretados, graciosamente, por vários atores / atrizes. Mais uma vez, SANDRA SÁ “marca um belo gol”, com aquela que, talvez, seja a canção que mais impulsionou, até agora, a sua carreira, de 43 anos: “Olhos Coloridos” (Macau). Uma curiosidade: segundo seu compositor, a música é fruto de uma experiência pela qual muitos negros brasileiros ainda sofrem: o racismo. Macau a compôs na década de 1970, após ter sido preso injustamente, pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, em uma exposição de escolas públicas, no Estádio de Remo da Lagoa. A canção é considerada um símbolo do orgulho negro no Brasil”.




 “OS MEUS OLHOS COLORIDOS

ME FAZEM REFLETIR

QUE EU ESTOU SEMPRE NA MINHA

E NÃO POSSO MAIS FUGIR

MEU CABELO ENROLADO

TODOS QUEREM IMITAR

ELES ESTÃO BARATINADOS

TAMBÉM QUEREM ENROLAR

VOCÊ RI DA MINHA ROUPA

VOCÊ RI DO MEU CABELO

VOCÊ RI DA MINHA PELE

VOCÊ RI DO MEU SORRISO

A VERDADE É QUE VOCÊ

(TODO BRASILEIRO)

TEM SANGUE CRIOULO

TEM CABELO DURO

SARARÁ CRIOULO” 

 


        A criança que existe dentro de cada um de nós é acordada, neste ano, na bela cena que faz referência aos grupos infantis e programas da TV, para crianças, com destaque voltado aos seriado “Síto do Pica-Pau-Amarelo” e os especiais “Pirlimpimpim” e “Plunct, Plact, Zum”.



1983:

        Uma cena bastante impactante, aqui, é a de uma sequência de canções interpretadas, num “pot-pourri”, pelo elenco negro do espetáculo. Vozes belíssimas e potentes, fazendo lembrar o som da “Motown”. Se essa era a intenção do roteirista, do diretor ou do diretor musical, ou dos três, ela foi plenamente atingida.

      SANDRA SÁ, novamente, lembrando Wilson Simonal, “regendo a massa”, num domínio total da plateia, interpreta a cação que faz parte do título deste musical: “Vale Tudo” (Tim Maia), com uma “ousadia”, que não seria aceita à época; ou seria, com muitas críticas: trocou o trecho da letra que diz “SÓ NÃO VALE DANÇAR HOMEM COM HOMEM / NEM MULHER COM MULHER” por “TAMBÉM VALE DANÇAR HOMEM COM HOMEM / E TAMBÉM MULHER COM MULHER”.




 "VALE! VALE TUDO!

VALE O QUE VIER

VALE O QUE QUISER

SÓ NÃO VALE (TAMBÉM VALE) DANÇAR HOMEM COM HOMEM 

NEM (E TAMBÉM) MULHER COM MULHER

O RESTO VALE”

        


      No espaço destinado a este ano, é feita uma importante referência à AIDS, chamada por muitos, fruto de total ignorância, à época, de “peste gay” ou “câncer gay”, que fez muitas vítimas fatais, com destaque, aqui, para personalidades que estavam em pleno auge de suas carreiras, como o cartunista Henfil, o ator Lauro Corona, o filósofo e sociólogo Michel Foucault e o ator (galã do cinema americano) Rock Hudson. Muitos outros famosos contraíram o vírus nessa década, vindo a falecer nos anos subsequentes: Cazuza (1990), o vocalista da banda “Queen” Freddie Mercury (1991), o ator Anthony Perkins (1992), o ator Carlos Augusto Strazzer (1993), o ator Caíque Ferreira (1994), o escritor Caio Fernando Abreu (1996), o compositor e vocalista da banda “Legião Urbana” Renato Russo (1996), o sociólogo e ativista Herbert de Sousa (Betinho) (1997), o ator Thales Pan Chacon (1997) e a atriz Sandra Bréa (2000).

        O astro “pop” Michael Jackson é lembrado, em dois excelentes números musicais: “Thriller” e “Billie Jean”.

     Alguém se lembraria de que, nesse ano, foi lançado o primeiro aparelho celular da História, o Dynatac 8000X, da Motorola? Pois o “tijolão” é lembrado também.

   Não consigo conter a minha emoção toda vez que assisto a qualquer trecho do filme “Flashdance”, ao som da canção “What a Feeling”, na voz de Irene Cara, falecida no ano passado. Até hoje, não descobri por que esse filme mexe tanto comigo, a ponto de me levar, mesmo, às lágrimas. E eu não me contive, quando assisti a este “DOC.MUSICAL”.




1984:

Este ano foi importantíssimo para os brasileiros, em função da campanha das “Diretas Já!”, um movimento político, de cunho popular, que teve como objetivo a retomada das eleições diretas ao cargo de presidente da República no Brasildurante a ditadura militar. Na peça, o ponto alto de referência a esse momento histórico, e muito comovente, é a interpretação de “Podres Poderes” (Caetano Veloso), feita, de forma brilhante, pelo tecladista GABRIEL FABBRI, que também faz um emocionante discurso em nome da democracia. A plateia se emociona e vai ao delírio.

Achei interessantíssima, e super criativa, a solução encontrada, pelo diretor do espetáculo, para fazer o registro de um seriado que marcou muito, na televisão: “Chaves”, uma produção mexicana. Pode ser que eu esteja enganado, porém é sabido, por muitos, que é difícil negociar com os que detêm os direitos autorais da série, para qualquer utilização direta da “grife”. Dessa forma, a cena se dá ao som da música-tema de “Chaves”, com o telão da boca de cena um pouco levantado a, mais ou menos, um metro do chão, deixando à mostra apenas os atores da cintura para baixo e alguns detalhes que identificam os personagens. É bem interessante ver o público dizendo, em voz alta: “Olha! É o(a) Fulano(a)!”, quando vê uma maleta, uma vassoura ou uma e norme bola vermelha, por exemplo. Achei deveras interessante e alegre a cena.   

Ao som de “Vai Passar” (Chico Buarque) e “Enredo do Meu Samba” (Jorge Aragão e Dona Ivone Lara), esta canção interpretada por SANDRA SÁ e elenco, é feito o registro da inauguração do Sambódromo da Avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro.

Hoje, uma lembrança, um anacronismo, as videolocadoras, que faziam a alegria de tanta gente – eu e a de minha família, inclusive - são aqui lembradas. Foi um dos momentos que mais me tocaram, porque fizeram evocar, em mim, muitas memórias daquele ano, principalmente, numa videolocadora do Leblon, quando, sempre nos mesmos dias e horários (para alugar as fitas de VHS e para devolvê-las.), eu me encontrava com queridos amigos e amigas, artistas, e batíamos longos papos, sugerindo, uns aos outros, este ou aquele filme. Doces “recuerdos”!

Foi na década de 80 que surgiram as grandes bandas de “rock” nacional (Algumas, um pouquinho antes, mas “estouraram” nessa época.), que fazem sucesso até hoje. Por esse motivo, aqui, elas são lembradas, em excelentes quadros musicais: “Os Paralamas do Sucesso”, “Barão Vermelho”, “Legião Urbana”, “Titãs”, “Blitz”, “Kid Abelha”, “Ira”, “Engenheiros do Havaí”, “Capital Inicial”, “RPM”, “Nenhum de Nós”, “Biquíni Cavadão” e outras.  




1985:

        Um dos eventos artístico-musicais que mais marcaram este ano, ou melhor, o que de mais importante aconteceu, na música e no universo do “show business” foi, sem dúvida, a realização do primeiro “Rock in Rio”, que, para quem não sabe (Será que existe alguém?), foi um festival de música, idealizado pelo empresário brasileiro Roberto Medina, reconhecido como um dos maiores festivais musicais do planeta. Foi, originalmente, organizado no Rio de Janeiro, de onde vem o nome, e se tornou um evento de repercussão em nível mundial, uma “grife” exportada. Em 2004, teve sua primeira edição fora do Brasil, em Lisboa, Portugal. Ao longo da sua história, o Rock in Rio” já teve 22 edições9 no Brasil, 9 em Portugal, 3 na Espanha e 1 nos Estados Unidos.

        Uma das maiores atrações desse evento foi a apresentação da banda “Queen”, que deixou sua marca entre nós, principalmente pela atuação de seu vocalista, Freddie Mercury. A cena em que a banda é lembrada é uma das mais aplaudidas, no espetáculo, com o público cantando, a plenos pulmões, as suas canções executadas.

        Após a primeira eleição indireta, que marcaria o fim da maldita ditadura militar, fruto do golpe militar de 1964, eleito Tancredo Neves, um civil, o país respirou aliviado, com a esperança de retomar sua vida, com o foco na democracia. Infelizmente, o presidente eleito faleceu, antes de tomar posse e, em seu lugar, assumiu seu vice, José Sarney (Ninguém merece! Estava bom demais, para ser verdade”).

        A cantora Madonna fazia grande sucesso, no Brasil e no mundo, motivo para caber, no espetáculo, um número musical homenageando-a. Embora tenha ouvido alguns comentários negativos, achei bastante interessante, criativa e oportuna a ideia de mostrar uma “representação” (Não imitação.) da cantora, loura, feita por uma atriz negra (CHELLE), com uma voz belíssima.

        Por oportuno, porque me chamou bastante a atenção, algo que eu, até então, não havia visto, em TEATRO, registro a atuação do violinista, PAULO VIEL, nas coreografias. Cumpre dizer que, na minha visão, ele tem papel garantido em qualquer musical, porque, além de um exímio musicista, dá seu recado interpretando, canta e dança muito bem. 

       Não tão importante, a meu juízo, mas que ficou bem interessante, no palco, pelas coreografias de VICTOR MAIA, há um foco voltado para o “boom” das academias de ginástica, num número bem dinâmico, executado por quase todo o elenco, ao som das canções que pontuavam, e pontuam, até hoje, os exercícios físicos da “galera que malha”.   

Foi reservado, aqui, um espaço para uma homenagem à cantora Tina Turner, recém-falecida, que viria a fazer um memorável “show", no Maracanã, em 1988. Bela cena!

Voltando às bandas nacionais, não, propriamente, as de “rock”, foi em 1985 que aconteceu o ápice do sucesso do grupo “Roupa Nova”, até hoje em atividade, sempre com o mesmo sucesso e aprovação de novas gerações de fãs.

A “dissecação” do ano de 1985 marca o fim do primeiro ato do espetáculo. Talvez, ou é quase certo, a minha opinião não venha a ser bem aceita, mas eu preferia que não houvesse o intervalo de 15 minutos, o qual acaba se estendendo por muito mais tempo, assim como acho que poderia ser suprimido o número de plateia que antecede o início do segundo ato. Não me joguem pedras, por favor! É, apenas, uma opinião, que vou sustentar, até sob tortura. 





1986:

       Não consegui enxergar tantos detalhes que merecessem a minha atenção, neste ano. Há muita referência à “Rainha dos Baixinhos”, Xuxa, que o público adora (Não eu”) e um cativante número musical com os “Ursinhos Carinhosos” (Momento “fofura”.).

     Por sua importância e capacidade de influenciar os jovens, mais uma vez, são lembradas algumas bandas de “rock” brasileiras.




1987:

      Pode parecer uma redundância, mas, aqui, também há espaço para aquelas bandas de “rock” já citadas, porque elas ocupam um bom espaço da nossa história musical. Acho bem justa e acertada a repetição.

        Acredito que o ponto alto deste ano, no espetáculo, é reservado a SANDA SÁ, num número musical, em seu camarim, quando uma fã, interpretada pela magnífica IVANNA DOMENYCO, lhe pede um autógrafo num LP (vinil), o qual alcançou uma venda considerável. Mérito para o dueto entre SANDRA e IVANNA.

      Os que viveram aquela época hão de se lembrar do “verão da lata”, relacionado a um fato bizarro: latas, contendo, cada uma, 1,5 kg de maconha, chegaram às praias do Rio de Janeiro, depois de terem sido jogadas ao mar, para evitar um flagrante, por tripulantes de um navio australiano.

Um dos números musicais mais marcantes deste ano é o da cantriz ROSANA CHAYIN, interpretando a canção “O Amor e o Poder” (Versão de Claudio Rabello, para a canção “The Power of Love”, de C. De Rouge e J. Rush / M. S), gravação da cantora Rosana, tema da personagem Jocasta, na novela “Mandala”, da TV Globo. O público não só canta junto com a cantriz, como também a aplaude bastante, ao final do número.




1988:

Um ano muito importante para a história contemporânea do Brasil, por conta da outorga da Constituição que rege o país até hoje. Esse fato histórico, abrindo as portas para “um novo Brasil”, mereceu a atenção do roteirista deste “DOC.MUSICAL”.

Dois outros fatos marcantes deste ano foram a criação do SUS, um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, e a criação, pela UNAIDS, um órgão ligado à ONU, do “Dia Nacional de Combate à AIDS”, que serviu como “gatilho” para mais uma bela homenagem ao cantor e compositor Cazuza, soropositivo, que veio a falecer em 1990.

       Praticamente, não há um fechamento deste ano, para dar acesso ao próximo. Um belo número, bastante comovente, no qual são exibidas imagens de Cazuza, falando sobre sua comadre, SANDRA SÁ (O cantor batizou o filho da artista, Luiz Jorge Frederico de Sá.), seguido de uma linda interpretação de SANDRA, de forma impecável e tomada de intensa emoção, para a belíssima canção “Codinome Beija-Flor” (Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias), marcam a passagem de um ano a outro. SANDRA SÁ age como se estivesse cantando diretamente para Cazuza, o qual aparece num telão, à frente do palco, os dois colocados, estrategicamente, como se um olhasse, fixamente, nos olhos do outro. Não dá mesmo para conter as lágrimas.

Não posso deixar de mencionar um momento apoteótico deste ano, que é um belo congraçamento, entre palco e plateia, todos cantando “O Que É, O Que É? (Gonzaguinha).




 “VIVER E NÃO TER A VERGONHA DE SER FELI

CANTAR A BELEZA DE SER UM ETERNO APRENDIZ 

EU SEI QUE A VIDA DEVIA SER BEM MELHOR, E SERÁ

MAS ISSO NÃO IMPEDE QUE EU REPITA:

É BONITA, É BONITA, E É BONITA” 

 



1989:

    E a “nave do tempo” se prepara para voltar ao solo. Está chegando ao fim essa linda viagem de sonho, fechando-se mais uma década. FREDERICO REDER e MARCOS NAUER encerram o espetáculo com chave de ouro, de forma que todos se emocionem e deixem o Theatro Claro Rio com vontade de rever o musical e de divulgá-lo, entre seus pares, porque é assim mesmo que a gente fica, quando “80...” começa a se tornar mais uma imensa e indelével recordação. Foram cerca de 3 horas de beleza e magia.

     Emendando com o final do ano anterior, há, como já disse, a justíssima e merecida homenagem a Cazuza, que morreu, vítima da AIDS, em 7 de julho de 1990. O elenco interpreta alguns de seus mais marcantes sucessos, no que é acompanhado por um coro de cerca de 600 pessoas, que sempre superlotam o Theatro.

      Ainda sobrou espaço para lembrar a queda do muro de Berlim, que marcou o fim da “Guerra Fria”, a reunificação das duas Alemanhas, o término dos regimes socialistas e o início da globalização (Simbolicamente, representa a vitória do capitalismo sobre o socialismo.) e o acesso à internet, que nem precisa de qualquer comentário, considerando-se o que isso representou de avanço e facilidades na vida de todos os habitantes do planeta.




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FICHA TÉCNICA: 

Roteiro e Pesquisa: Marcos Nauer

Direção Geral: Frederico Reder

Assistência de Direção / Direção Residente: Giu Mallen

Direção Musical: Jules Vandystadt

Direção de Movimento e Coreografia: Victor Maia

Assistência de Movimentos e Coreografias: Clara da Costa

Cenografia: Rogério Falcão e Reinaldo Reis

Cenografia Digital: MazeFX e Marcos Nauer

Direção de Arte: Bárbara Lana

Figurinos: Bruno Perlato

Desenho de Luz: Sérgio Martins

Desenho de Som: Thiago Chaves

Visagismo: Alisson Rodrigues

Perucaria: André Góes

 

Elenco (por ordem alfabética): BETO MACEDO, CHELLE, DAMIANA SADILI, ELIS ARAÚJO, FABI FIGUEIREDO, FELIPE MIRANDDA, FILL MOTTA, GABRIEL FABBRI, GIOVANA ZOTTI, GUTA MENEZES, IVANNA DOMENYCO, JULLIE, LEANDRO MASSAFERI, LÉO ARAÚJO, LUAN CARVALHO, MADSON DE PAULA, MANOEL VICTOR, MARCELO BRUNO, PAULO VIEL, PEDRO NASSER, RAFA DIVERSE, RODRIGO SERPHAN, ROSANA CHAYIN, SANDRA SÁ, STACY LOCATELLI e VIC ARANTES

 

Banda (por ordem alfabética): ALVARO WANKAWARI (sax, clarinete e flauta), FILL MOTTA (guitarra e voz), GABRIEL FABBRI (piano 2 e voz), GUTA MENEZES (trompete, flugel e gaita), MARCELO BRUNO (contrabaixo e voz), NAIFE SIMÕES (bateria, bongô e pandeiro), PAULO VIEL (violino e voz), SAULO VIGNOLI (cello) e VAGNER MAYERN (regência e piano 1)

 

Direção de Produção: Juliana Reder

Direção de Comunicação / “Marketing”: Luís Fernando Rodrigues

Produção Executiva: Luana Simões

 






 SERVIÇO:

Temporada: De 02 de junho a 16 de julho de 2023.

Local: Theatro Claro Rio.

Endereço: Rua Siqueira Campos, nº 143 (Shopping Cidade Copacabana) – 2º piso – Copacabana - Rio de Janeiro.

Dias e Horários: 6ª feira, às 20h; sábado, às 16h e 21h; domingo, às 15h e 19h; 2ª feira, às 17h30min.

Classificação Etária: 12 anos.

Duração: 3 horas.

Gênero: DOC.MUSICAL

 

OBSERVAÇÃO: Após o encerramento da temporada carioca, o espetáculo estreará no Theatro Claro São Paulo, para uma nova temporada, de 22 de julho a 03 de setembro de 2023.

 

 



   “80 – DÉCADA DO VALE TUDO – DOC.MUSICAL” é um espetáculo muito dinâmico, capaz de tirar o nosso fôlego, antes de cada cena, com muitas projeções antecedendo cada referência ao vivo, no palco, que merece ser visto por todos. Uma montagem em forma de superprodução, com quase 10 toneladas de cenário, mais de 600 figurinos e 120 perucas e 30 artistas, entre músicos, atores e bailarinos, incumbidos de mostrar momentos icônicos da década de 80, sem contar o batalhão de pessoas nos bastidores.


    



      SANDRA SÁ, confesso, sem o menor pudor, me surpreendeu sobremaneira, com seu carisma e poder de se comunicar com uma plateia. Um detalhe que não pode deixar de vir a lume é o fato de que este é o primeiro espetáculo de TEATRO com intérprete de libras e audiodescrição em todas as sessões.



    Acho que um único substantivo bastaria, para definir o espetáculo: uma CATARSE. Melhor ficaria com o acréscimo de um adjetivo: COLETIVA. UMA CATARSE COLETIVA!!!



        Se eu recomendo o espetáculo? Alguma dúvida? É claro que sim?!


 

 

FOTOS: CARLOS GOMES

(E IMAGENS CAPTADAS NAS REDES SOCIAIS DO ELENCO.)

 

 

 

 

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