terça-feira, 21 de março de 2017


 

NADA

 

(GOTAS DE TCHEKHOV PARA ALIMENTAR A ALMA.)

 
 
 
 



            Um casamento perfeito: TCHEKHOV, GILBERTO GAWRONSKI, ANALU PRESTES, CLARISSE DERZIÉ LUZ e RENATO KRUEGER. Poligamia consentida. Isso é o que pode ser encontrado no espaço cênico do simpático Teatro Poeira, às 3ªs e 4ªs feiras, às 21 horas, até o dia 26 de abril (2017).

            Uma feliz ideia, desse grupo de talentosos artistas, para nos pôr em contato, mais uma vez com a obra de um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, o russo Anton Pavlovitch TCHEKHOV (1860   1904).

TECHEKHOV foi médico, dramaturgo e escritor russo, considerado um dos maiores contistas de todos os tempos.

Como autor de TEATRO, além de outras peças, escreveu quatro grandes clássicos: “A Gaivota”, “As Três Irmãs”, “O Jardim das Cerejeiras” e “Tio Vânia”. Como contista, é considerado um dos melhores de todos os tempos. Costumava, modesta ou ironicamente, dizer que "A medicina é a minha legítima esposa; a literatura é apenas minha amante”.






Montar TECHEKHOV sempre foi um grande desafio, para diretores e atores, uma vez que ele escreveu seus textos, mergulhado numa originalidade, mais tarde, imitada por outros consagrados autores, que é a chamada técnica do fluxo de consciência, em que se procura transcrever o complexo processo de pensamento de um personagem, com o raciocínio lógico entremeado com impressões pessoais momentâneas e exibindo os processos de associação de ideias”.

“NADA” consiste num trabalho de recorte e colagem, com alinhavos, de trechos de peças do dramaturgo russo. Como diz o diretor do espetáculo e responsável pela dramaturgia, GILBERTO GAWRONSNKI, “É uma colagem. Usei trechos de peças de TCHEKHOV das quais nós três (GILBERTO, ANALU e CLARISSE) participamos, mas tendo como base “O Canto Do Cisne” e “Malefícios Do Tabaco”. ANALU estava na montagem de ‘As Três Irmãs’, direção de José Celso Martinez Correa, 1972. Clarisse fez ‘O Jardim Das Cerejeiras’, direção de Paulo Mamede, em 1989. Eu participei de ‘A Gaivota’, direção de Enrique Diaz, em 2006. E coloquei, ainda, um pedacinho de ‘Rei Lear’, de Shakespeare, direção de Ron Daniels, com Raul Cortez, onde eu interpretava o Bobo, 2000”.

 
 





 
SINOPSE:
 
A peça começa com um velho ator, VASSIL VASSÍLITCH (ANALU PRESTES), fazendo, pela última vez, o monólogo “Malefícios do Tabaco”. Ele não quer ir para casa, o que não lhe causa o menor prazer, porque não tem ninguém a esperá-lo, e fica no camarim, contracenando com o Ponto (NIKÍTUCHKA (CLASISSE DERZIÉ LUZ), que mora no teatro.
 
Eles confabulam sobre reminiscências, trocando desabafos, bebendo vodca, e atravessam a madrugada, interpretando personagens de TCHEKHOV, principalmente.
 
O texto é sobre fazer TEATRO, sobre a vida e sobre o tempo.
 
Algo que acontece, no fim de um espetáculo, inverte a situação e faz o público enxergar um teatro vazio, fechado e sem gente. O teatro é uma casa que vive de movimento. 
 
O foco da peça desloca-se da “situação cômica”, de alguém que dá uma conferência sobre um tema sobre o qual não entende nada, para se centrar na tragicomédia da existência de um homem.
 


 
 


            Segundo o “release” da peça, enviado pela assessoria de imprensa (LUIZA MARTINS), observa-se, no espetáculo, queA atualidade de um autor que mudou a dramaturgia mundial ganha encenação inusitada, que transita pela ambiguidade de gêneros”, isso porque duas atrizes interpretam papéis masculinos, os quais, por sua vez, dentro de uma metalinguagem, vivem personagens femininas, “em atmosferas revestidas de sutilezas”. São dois “homens”, que interpretam duas “mulheres”, mas que, no final, são apenas dois seres humanos.
 
 
 



            O título da peça se explica pelo fato de ela ter surgido do “nada”. Melhor dizendo, ANALU e CLARISSE procuraram GAWRONSKI, apenas com a vontade da realização de um trabalho juntas, dirigidas por ele. Não sabiam o que queriam, não tinham um texto em mente, até que surgiu, via GILBERTO, do “nada”, a ideia deste espetáculo, logo aceita pela dupla de atrizes e grandes amigas.

            “NADA” também pode remeter a um estado de consciência do ser humano, sob determinadas pressões e/ou situações. Pode ser, ainda, a resposta para um drama existencial: O que somos? “NADA”?

GILBERTO GAWRONSKI assina uma ótima direção, deixando ANALU e CLARISSE quase livres, para criar e dar vazão ao potencial interpretativo, que não é pequeno, da dupla de grandes atrizes do TEATRO BRASILEIRO. A elas, junta-se RENATO KRUEGER, que, além de ser responsável pelas criação da imagens projetadas e pela operação de as tornar visíveis à plateia, faz uma pequena, porém, marcante, participação como ator.
 
 
 



Para GILBERTO, a dramaturgia que está em cena usa a própria vivência dos “performers”. “Isso me inspira e me sensibiliza. Meu trabalho foi muito intuitivo, mas agrega 40 anos fazendo teatro. Tem horas que me pergunto: qual é o gênero dessa peça? É comedia, drama? Tem até um pouco de musical. Acredito muito nela como um evento teatral. TCHEKHOV sempre brinca com o lúdico e o poético que está nessa casa que a gente habita em comum, o teatro”.

Com temos verificado, ultimamente, em muitas e grandes montagens teatrais, a utilização de projeções, quer para ajudar a compor o cenário, quer para fazer intervenções nas cenas, tem sido uma constante, felizmente, na maioria da vezes, empregadas da melhor forma possível. Aqui, também, devemos destacar tal elemento, muito bem utilizado, sob a responsabilidade de RENATO KRUEGER, tanto no trabalho de produzir o material como o de projetá-lo.
 
 
 



 



            O cenário procura deixar à mostra, no espaço cênico, poucos elementos, suficientes para sugerir ora um camarim, ora um palquinho. A concepção cenográfica, assim como a iluminação, também são obra de GILBERTO GRAWONSKI e funcionam muito bem.    

O figurino, segundo o diretor da peça, “é muito especial e tem um valor afetivo”, uma vez que “Marília Pêra me doou o seu acervo com uma frase muito bonita: ‘Queria que isso não virasse museu, que servisse para vestir outros personagens’”.


 
 



 
FICHA TÉCNICA:
 
Textos: Anton Tchekov
Dramaturgia e Encenação: Gilberto Gawronski
 
Elenco: Analu Prestes, Clarisse Derzié Luz e Renato Krueger
 
Concepção Cênica: Gilberto Gawronski
Iluminação: Gilberto Gawronski
Fotos e Projeções: Renato Krueger
Direção de Produção: Jessica Leite
 

 
 
 


 
 
 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De14/03/ a 26 de abril.
Local: Teatro Poeira.
Endereço: Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2537-8053.
Dias e Horários: às 3ªs e 4ªs feira, às 21h.
Valor do Ingresso: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Duração: 70 minutos.
Indicação Etária: 12 anos.
 

 
 

 









            Achei oportuno, para facilitar a compreensão do universo tchekhoviano e estimular a ida ao TEATRO, para assistir a esta excelente peça, a transcrição de algumas frases da autoria de TCHEKHOV:

Sobre o AMOR: “Aquilo que provamos, quando estamos apaixonados, talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra, ao homem, como é que ele deveria ser sempre”.

Sobre a AUTOESTIMA: “Valoriza-te para mais: os outros se ocuparão em baixar o preço”.

Sobre a HONESTIDADE: “Todos nós sabemos o que é uma ação desonesta, mas o que é a honestidade, isso, ninguém sabe”.

Sobre a ARTE: “As obras de arte dividem-se em duas categorias: as de que gosto e as de que não gosto. Não conheço outro critério”.

Sobre a CONFIANÇA: “Confia no teu cão até o último momento, mas, na tua mulher, ou no teu marido, apenas até a primeira ocasião”.

Sobre a LIBERDADE: “Não tenhas medo de parecer palerma; antes de tudo é preciso ter o espírito livre; só quem não teme escrever palermices tem o espírito livre”.

Sobre o CASAMENTO: “Se tens medo da solidão, não te cases”.

Sobre a PALAVRA: “Não permitais à língua ultrapassar o pensamento”.



 









            Os assuntos que motivaram as frases acima, e outros, estão presentes na peça, como gotas de uma poção medicamentosa, que nos faz muito bem ao espírito. Em pouco mais de uma hora, o público se delicia com o belo trabalho que lhe é mostrado, motivo pelo qual recomendo o espetáculo.





 

  
 (FOTOS: RENATO KRUEGER.)
 


 

 

 

 


 
 





 

 

 

 

 

 

 

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