AMIGOS
À
PARTE
(NEGÓCIOS AMIGOS)
É
uma alegria muito grande ver um ex-aluno, que, desde muito pequeno, demonstra
seu interesse pelas artes, crescer, virar um homem e se profissionalizar
naquilo que ele tanto ama, o TEATRO.
Falo
do jovem MATHEUS BRITO, que tem seu
duplo batismo, como autor e diretor, na comédia (Ou seria um drama, maquiado
com as tintas do humor?) AMIGOS À PARTE,
que fez uma curta temporada no Teatro
das Artes, espetáculo que espero se transfira para outro espaço.
Não
se trata de um grande texto, mas, para primeiro filho, satisfaz e cumpre sua
função, de falar de alguns valores, e discuti-los, tão próximos à juventude,
nicho ao qual a peça se destina, primeiramente (mas também agrada aos mais
velhos), principalmente amizade e lealdade.
Mas, também, ninguém nasce Renata
Mizrahi, Júlia Spadaccini, Jô Bilac... Aprendizado, exercício e determinação, além
do talento, é claro, fazem parte da lista de ingredientes para se construir um
grande dramaturgo. MATHEUS chegará lá.
SINOPSE
A
história se passa num apartamento, dividido por quatro amigos, os quais também
compartilham suas confidências, seus dramas, suas conquistas, suas alegrias e
suas dores, seus medos, com deve, mesmo, acontecer entre amigos.
Um fato, porém, põe à
prova essa amizade, no momento em que PLÍNIO
(MATHEUS MONTEIRO) comunica aos outros três que, no dia seguinte, será
menos um a dividir as despesas do apartamento e as experiências de vida com os
amigos, pois estará viajando para o Japão, onde ficará por dois anos, atraído
por uma proposta de emprego.
Isso funciona, aos olhos
dos outros, como uma grande e dupla traição: por “abandoná-los” e pelo fato de
o anúncio ter sido feito tão em cima da hora, de surpresa.
Não adiantava nada PLÍNIO (MATHEUS MONTEIRO) explicar que
seria bom para ele e que, também, seria “por algum tempo”, uma vez que o grande
pavor dos outros era de que essa medida de tempo se transformasse num “para
sempre”.
Um misto de aflição,
descontentamento e decepção toma conta dos outros: CACO (MAGNO NAVARRO), JOTA
(MARCOS GONÇALVES) e DUDE (NICOLA
PELUSO). Porém, ao longo daquela
noite, nostálgica, conversando mais sobre o passado e menos sobre o futuro, e
quando alguns “segredos” vêm à tona, esse clima é desfeito, dando lugar a um
sentimento que, a partir de então, impulsionará a todos: o de seguir em frente,
de buscar seus sonhos, que é a grande mensagem do texto.
O
tema da peça, seu eixo central - o valor da amizade e os limites e sacrifícios
que devem ser feitos para que seja conservada “ad aeternum” - não é nenhuma
novidade e, por tantas vezes, já foi explorado em cena. Mas o que torna interessante o enredo é o
fato de o assunto ser tratado por personagens tão jovens, com seus valores e
visões próprios e individuais sobre o tema, chegando às raias do egoísmo, e a
forma como é explorado por MATHEUS,
valendo-se do humor, às vezes cáustico e cruel, e de uma linguagem de muito fácil
acesso, por parte do público-alvo. O
texto é bem escrito e os diálogos são muito bem construídos e articulados
A
intensidade de uma amor fraterno, que (o texto não diz com precisão, ou não
prestei a devida atenção) deve ter-se iniciado na infância e é consolidado ao
longo do tempo, leva aquela amizade a um patamar acima de tudo e de todos: a
amizade em primeiro lugar. Como se
tivesse sido firmado um pacto, incapaz ou impossível de ser rompido, o que, se
levado para o nível da racionalidade, seria facilmente inaceitável, pois,
embora, para algumas situações, a eternidade faça parte dos nossos desejos, nada
é eterno. Possivelmente, o que se passou
naquela noite, os sentimentos que mexeram com a cabeça dos quatro rapazes,
incluindo PLÍNIO, não teria
acontecido, se tudo fosse sendo conversado, de forma natural, homeopaticamente,
ao longo de um tempo, já que se tratava de um fato normal. A revelação repentina é que se constituiu na
quebra de um dos quatro elos e deflagrou todo o conflito. Aliás, é graças a esse fato que o texto
existe.
Dois
são os momentos que destaco no espetáculo:
O primeiro
deles se refere às revelações, os segredos, de cada um, como a de CACO, que havia escondido dos amigos
que, muito em breve, também estaria deixando o grupo, já que sua namorada
estava grávida dele; a de JOTA, que
esconde de um dos amigos que não o convidara para sua “festa surpresa”, por não
gostar muito dele naquela época e que se mantinha próximo a ele apenas para
conseguir colar nas provas; e a de DUDE,
que passara no vestibular, sempre que fazia uma tentativa, mas não fazia sua
matrícula na universidade e escondia o fato dos amigos, porque tinha medo de “crescer”
e ter de abandonar o grupo, partindo para uma vida-solo, abraçando suas novas e
próprias responsabilidades. Um Peter Pan
da era digital.
O
segundo é quando os quatro, relembrando o tempo em que iam, juntos, ao cinema, ao
som das trilhas sonoras de grandes clássicos da telona, improvisam, em tom de
brincadeira, a representação de algumas cenas emblemáticas de películas. Esse momento, na peça, arranca,
merecidamente, muitos aplausos da plateia.
Super-Homem.
ET.
Super-Heróis.
Os
atores são jovens, com momentos de altos e baixos nas suas interpretações, o
que é bastante natural, para quem ainda está se iniciando na arte de
representar, porém o saldo é positivo e os senões não chegam a comprometer o
trabalho. Todos, certamente, com a garra
que demonstraram em cena, chegarão a um melhor nível de interpretação, a julgar
pelo que já fazem. Afinal, ninguém nasce
Paulo Autran, Antônio Fagundes, Marco Nanini... Os diamantes nascem brutos.
Assisti ao espetáculo duas vezes e tive a oportunidade de ver todos os atores titulares dos papéis e os que atuam como "stand-in" em ação. Gostei de todos.
O elenco original: (sentido horário) Marcos Gonçalves, Magno Navarro, Nicola
Peluso e Matheus Monteiro.
Por
conta da grande dificuldade que existe para se conseguir levantar um espetáculo
teatral, no Brasil, ainda mais em se tratando de um autor jovem e desconhecido,
com um elenco que nem passou, ainda, pelos estúdios de Malhação (quero crer), o
que significa dizer que “não é formado por celebridades globais”, tudo é muito
simples, no palco (cenários, figurinos e iluminação), mas bastante a serviço da
proposta.
Espero,
sinceramente, que os rapazes consigam, muito em breve, uma boa pauta em outro
teatro do Rio de Janeiro, para que possamos levar muitos jovens estudantes a
assistir ao espetáculo e discutir, e refletir, sobre ele, o que é uma grande
carência entre os jovens de hoje, principalmente se o assunto é TEATRO.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Matheus Brito
Direção: Matheus Brito
Supervisão: Raul Franco
Elenco: Matheus Monteiro (Plínio), Magno Navarro (Caco), Marcos
Gonçalves (Jota) e Nicola Peluso (Dude)
Stand-in: Alex Felippe e Felipe Côrtes.
Produção: Cora Belgman
Produção Executiva: Renatha Bottelho
Direção Musical: Lohran Leucas
Produção Musical: DB Up Produções
Assessoria de Imprensa: Lyvia Rodrigues (aquelaquedivulga.com)
Figurinos: Matheus Brito
Cenografia: EAT Luiz Carlos Ripper
Visagismo: Márcio Louza
Patrocínio: Lanchonete do Bolinha
Co-patrocínio: Higiplast
Apoio: Tutores – Educação Multi Disciplinar; Umbu Produções
Artísticas; Bernardi Produções; EAT – Luiz Carlos Ripper;
Parceiros de Mídia: Photolife, Arlequim Produções; KP Filmes; DB
Up Produções;
Promoção: Transamérica e Elemídia;
Realização: RBT Produções
(FOTOS: MARCELA DIAS)
Falou e disse, Gilberto!
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