A
NOSSA EXCELENTE
“OFF-BROADWAY”
(ROMANCEIRO POPULAR - ENFERMARIA Nº 6 -
MEU
NOME É ERNESTO.)
É muito comum, em
Nova York, espetáculos de TEATRO
estrearem no circuito Off-Broadway,
muitos deles produções simples, de baixo custo, entretanto de uma qualidade
tal, que, logo, acabam se transferindo para grandes teatros da Broadway e, com uma boa repaginaa, um “upgrade”,
se transformam em fenômenos de uma temporada; às vezes, de várias. dUma boa quantidade acaba sendo montada até
em outros países.
Quero, com
isso, traçar uma relação, guardadas as devidas proporções, entre o fato acima
citado e pequenas produções cariocas, modestas, a maioria ocupando espaços e
horários alternativos, porém feitas com tanto amor e competência, que, graças,
principalmente, à divulgação boca a boca, que é insuperável, se transferem,
também, para teatros de maior capacidade de público, e no chamado horário nobre,
passando, a partir disso, a ganhar destaque na mídia.
Um
dos mais recentes exemplos disso é o espetáculo O Pastor, texto de Daniel Porto, com direção de Carina Casuscelli,
interpretado por Alexandre Lino, Kátia Camello e Cesário
Candhí, que estreou na minúscula sala do Teatro 2, do Centro Cultural Solar de Botafogo, para três ou quatro
dezenas de pessoas (a capacidade local) e por uma temporada não muito longa,
que acabou sendo prorrogada, passando, depois, para outros teatros da zona sul,
para públicos maiores, sempre com casa lotada, e que, agora, está fazendo uma
brilhante carreira em São Paulo.
Outro bom
exemplo é o fenômeno The Book of Mormon,
uma montagem acadêmica, do grande diretor Rubens
Lima Jr., que dispensa qualquer outro comentário.
No
momento, há alguns espetáculos com as características já citadas e que merecem
ser vistos por um grande público, pelas pessoas que apreciam um bom TEATRO.
Falarei
um pouco sobre cada um deles, três no total, um que já saiu de cartaz e dois
que ainda podem, e devem, ser vistos:
ROMANCEIRO POPULAR
(UMA HOMENAGEM A ARIANO
SUASSUNA)
Faltaram adjetivos
no subtítulo da peça, como justa, merecida, linda, original...
Infelizmente,
o espetáculo saiu de cartaz, com casa cheia, no dia 31 de agosto passado,
quando, nesse último dia, tive a grata oportunidade e satisfação de assistir a
ele, no acanhado espaço Do Teatro 2 do
SESC Tijuca.
Para
cumprir uma extensa agenda, que, às vezes me leva a assistir até a três espetáculos
por dia (já houve a vez de quatro), fui sendo obrigado a adiar a minha ida
àquele teatro.
O espetáculo
deve voltar ao cartaz, mas não há previsão para isso, uma vez que sua idealizadora, diretora e atriz, LU GATELLI, será obrigada a fazer uma
pausa no trabalho, para dar à luz. Mas
fiquem atentos e não percam o espetáculo, quando ele reestrear.
A peça é mais uma produção da CIA. ENTREATO, que, há 14 anos, vem
apresentando excelentes montagens, frutos de uma pesquisa cênica, voltada para
o universo da palhaçaria, sem deixar de considerar as músicas folclóricas e o
teatro popular. O repertório de
espetáculos da companhia enaltece o melhor do Brasil: sua gente e seus
costumes.
Ariano Suassuna, já “imortal” desde seu nascimento, porém,
infelizmente, recém-falecido, não poderia ter recebido uma homenagem mais linda
do que ver algumas de suas peças e personagens amalgamadas, compondo uma outra
história, que, de forma tão criativa e singela, também é representativa do
chamado romanceiro popular.
O enredo, fala do dia a dia e das
muitas dificuldades porque passa uma companhia de um circo-teatro mambembe para
sobreviver, até o ponto de improvisar um ator, utilizando, para isso, um simples
funcionário da companhia.
Na trama, cruzam-se algumas das
mais representativas obras do mestre SUASSUNA:
a engraçadíssima O Santo e a Porca,
a clássica O Auto da Compadecida, A História de Amor de Romeu e Julieta e
Torturas de um Coração, tudo muito bem
selecionado e trabalhado pelo talento de LU
GATELLI.
A montagem traz para a “urbis” a
rica cultura popular nordestina, de uma maneira cômica, lúdica, singela,
sentimental, poética, criativa e contagiante, ao reunir, numa só mídia, teatro,
literatura, música, circo e as artes plásticas, na mais fiel reprodução de
tantos elementos diversos da nossa realidade de citadinos.
As considerações avaliativas do espetáculo, em detalhes, ficarão para
uma futura resenha, apenas sobre ele, pois tenho muita esperança de poder
revê-lo em outra temporada. Por
enquanto, digo apenas que gostei muito da peça.
FICHA TÉCNICA:
Texto e direção:
LU GATELLI.
Elenco: DIEGO
MARQUES, LÍGIA DECHEN, LU GATELLI, RICARDO GADELHA, RICARDO
GONÇALVES, RICHARD GOULART e VITOR MARTINEZ.
Stand by: CAMILA
ROCHA.
Direção musical:
CÉSAR LIGNELLI.
Figurinos: RAQUEL
THEO.
Cenografia: KERRYS
ALDABALDE.
Iluminação: RICARDO
GRINGS.
Adereços: FÁBIO
FRANCINO.
Coreografias: ALESSANDRA
LEMOS.
Assistente de
direção: CAMILA ROCHA.
Identidade visual:
MARCELO GATELLI.
Direção de produção:
RENATO MAIA.
Assistente de
produção: IGOR GOULART e ELVIS
MARLON.
Realização: CIA.
ENTREATO.
Assessoria de
imprensa: MINAS DE IDEIAS.
(FOTOS:
RETIRADAS DA PÁGINA DA PEÇA – FACEBOOK.)
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
ENFERMARIA Nº 6
(UMA
HISTÓRIA SOBRE SERES “HUMANOS”.)
Até o próximo dia
18 (de setembro), você poderá assistir, no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea), em horários
alternativos (4ªs e
5ªs, às 20h), a uma outra interessante
montagem, fruto de muito sacrifício de um grupo de abnegados atores e amigos.
Trata-se de ENFERMARIA
Nº 6, uma peça baseada num conto/novela de ANTON TCHEKHOV, de 1892, que guarda uma leve semelhança com o
famoso conto O Alienista, do não
menos genial Machado de Assis, de
1881.
Nesta adaptação,
de EDSON BUENO, que também dirige a montagem, explorando a
linguagem do teatro narrativo, o drama apresenta quatro indivíduos, que se
debruçam em suas leituras, numa biblioteca surreal, e começam a dar vida ao
enredo, construindo, aos olhos do público, a podridão da ENFERMARIA Nº6 - “o lugar mais nojento do mundo” – e,
consequentemente, a história que ali se desenrola, dotada de teatralidade. Com pitadas de humor agonizante, cáustico,
por vezes, e momentos de rara sensibilidade e drama, as questões são colocadas
em prol de uma profunda reflexão sobre a condição humana nesta sociedade
punitiva, corrupta e desigual.
A história
mostra um médico, numa cidadezinha da antiga Rússia czarista, e suas visitas à ENFERMARIA Nº 6, o pavilhão dos loucos
do hospital que dirige. Lá, ele filosofa
com os internos, sobre a vida e a morte, chegando às últimas consequências –
acaba como interno e morrendo no próprio dia de sua internação - após ser
confrontado com a realidade.
Nas
palavras do adaptador e diretor, no programa distribuído ao público, “a
peça é uma pequena e bizarra história sobre os humanos. Não é uma peça sobre a loucura, nem sobre um
lugar onde os loucos são abandonados, nem sobre um hospital de loucos e, muito
menos, sobre o que fazer com eles. É uma
peça sobre os “normais” e o que fazem diante da necessidade de sobreviver e
permanecerem vivos. Sobre as opções
mesquinhas do dia a dia, as omissões, os medos e a ausência de paixão pela
vida. É uma peça de teatro sobre aqueles
que, mantendo os seus corações encarcerados, ‘atravessam a vida como quem faz
uma viagem transoceânica no porão do navio’.
É uma peça de teatro sobre conteúdos, não sobre personagens, nem sobre
uma trajetória de vida e morte.”
Embora simples na estrutura
material, por falta de recursos financeiros, o espetáculo é bem rico, do ponto
de vista da encenação e da proposta, cumprindo, a contento, o seu propósito.
COMENTÁRIOS
SOBRE A FICHA TÉCNICA:
- Texto: ANTON TECHEKHOV – Não foi capaz de escrever alguma coisa que não tivesse qualidade.
- Adaptação e direção: EDSON BUENO – Bom nos dois trabalhos.
- Elenco: ABNER VALENTIN, JOANNA SARAIVA, MOISÉS SALAZAR e PEDRO NUNES – Todos fazem um trabalho correto, com destaque para o naipe masculino.
- Cenário e figurino: NÍVEA FASO - Bem comedidos, em função do baixo orçamento, mas atendem bem à proposta.
- Luz (que não requer tanto investimento): LUAN DE ALMEIDA – Boa. Houve algumas pequenas falhas, que não chegaram a comprometer o espetáculo, as quais credito ao operador.
- Sonoplastia: EDSON BUENO (o diretor “se vira nos trinta” e eu acho isso ótimo, porque mostra o nível de envolvimento e de paixão por uma empreitada) - Boa.
- Visagismo: NÍVEA FASO – Bom (aplico, aqui, o que disse no item anterior).
- Cenotécnica: DIEGO SANTOS.
- Costureiras: ADÉLIA e MARLENE DE PAULA.
- Operador de som: LOUISE DE LEMOS.
- Operador de luz: FELIPE PEDRINI.
- Programação visual: PEDRO AGUIAR.
- Produção: ARQUÉTIPOS CIA. DE TEATRO.
- Assistente de Produção: GIOVANA LIMA e CÉSAR JÚNIOR.
- Direção de produção e idealização: ABNER VALENTIN.
- Realização: ARQUÉTIPOS CIA. DE TEATRO e GRUPO DELÍRIO CIA. DE TEATRO.
- Fotografia: JOÃO JÚLIO MELO.
- Videomaker: MILENA REIS.(FOTOS: JOÃO JÚLIO MELO)
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
MEU NOME É ERNESTO
(E VIVA A MELHOR IDADE!!!)
Tudo
o que está ligado a crianças e a idosos me encanta e me comove.
No
Teatro SESC Casa da Gávea, está em
cartaz, até o dia 21 de setembro, um
espetáculo lindo e comovente: MEU NOME É
ERNESTO.
A
peça é uma livre adaptação (na ficha técnica, não consta o seu autor) do texto "I'm Herbert", de Robert Anderson, e propõe uma reflexão
sobre a terceira idade, de forma leve e irreverente, a partir da encenação de
situações cotidianas do dia a dia de um casal de idosos, os quais mostram que o
mais importante é a cumplicidade que se mantém dentro da vida que se leva.
Um dos
destaques do espetáculo é o trabalho corporal e de criação e incorporação dos
personagens. Os dois jovens atores, JÉSSIKA MENKEL e ARTHUR IENZURA, de 23 anos, interpretam um casal de idosos de cerca
de 80. E, para a caracterização dos
personagens, os atores são submetidos a uma sessão de maquiagem de cerca de
três horas.
A peça conta a
história de MARTA e ERNESTO, um casal de idosos, os dois
vivendo de suas lembranças, mas, quase sempre, esquecendo-se de fatos e
confundindo histórias, datas e, principalmente, nomes. Ambos já haviam sido casados outras vezes e
estão juntos desde quando tinham 70 anos, o que é mencionado no texto,
significando, portanto, que ambos têm a mesma idade.
As lembranças estão tão presentes, embora confusas, na cabeça do casal,
que servem como peças de um grande quebra-cabeça, onde o que importa é
justamente o estar junto, e não o tempo ou o espaço. A cumplicidade tem de ser total para uma
convivência em comum.
Com classificação livre, o espetáculo é destinado a todos os públicos e
tem como objetivo prestar uma homenagem aos idosos, à sabedoria presente na “melhor
idade”.
COMENTÁRIOS SOBRE A FICHA TÉCNICA:
1) Texto: adaptação livre de "I'm Herbert", de Robert Anderson – O texto é o que menos
interessa neste espetáculo. Serve,
apenas, para levantar a problemática de um relacionamento entre pessoas da
“melhor idade” e para dar oportunidade aos atores de mostrar o seu potencial de
intérpretes.
2) Direção: FELIPE FAGUNDES – Aprovada. Acertou na dosagem do humor e nas cenas em
que há um pequeno apelo dramático.
3) Elenco: ARTHUR IENZURA e
JÉSIKA MENKEL – Estão de parabéns os dois, ao enfrentar o desafio de
interpretar dois personagens tão distantes da sua realidade etária. Uma pessoa jovem, no palco, interpretando
personagens muito mais velhos, em geral, significa um pezinho na caricatura, no
ridículo. Isso não ocorre, em momento
algum, durante toda a encenação. Os dois
jovens atores, os quais eu ainda não conhecia, demonstram muita sensibilidade e
maturidade para interpretar até, quem sabe, seus bisavós. O resultado, que deve ter sido fruto de muita
pesquisa e observação, resulta num belo trabalho, digno de todos os elogios.
4) Cenografia: VANESSA ALVES – Simples e modesta, em função dos
parcos recursos da produção e do espaço no qual a peça é representada, mas me
agradou.
5) Figurino e caracterização: DANIELE GABRIEL e ISABEL DE LIMA – Bons, ajustados aos personagens e às exigências
do texto.
6) Criação de maquiagem: VÍTOR MARTINEZ – Excelente trabalho!
7) Preparação vocal: NATÁLIA FICHE – Ótima. Os resultados de voz e de prosódia soam bem
naturais.
8) Preparação corporal: WANJA BASTOS – Perfeita. Os atores receberam uma excelente orientação,
para atingirem a postura que mantêm em cena, durante todo o decorrer do espetáculo.
9) Direção de movimento: ISABEL CHAVARRI – Sem maiores comentários,
a não ser dizer que também colabora, em muito, para o bom resultado desta
montagem.
10) Trilha Sonora: FELIPE FAGUNDES e JÉSSIKA MENKEL – Correta.
11) Operação de som: MARIDA D’ÁVILA.
12) Operação de luz: VANESSA ALVES.
13) Designe gráfico e fotografia: KARLA KALIFE.
14) Designe de luz: AÍRTON SILVA.
15) Assistente de produção: FRANCISCO DE ASSIS e THAÍS MAZZONI.
16) Assessoria de imprensa: BRENO PROCÓPIO.
Foto dos atores com a plateia, feita na sessão a que assisti.
Com os atores e os personagens.
(FOTOS: KARLA KALIFE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário