domingo, 14 de setembro de 2014


A NOSSA EXCELENTE

“OFF-BROADWAY”

 

 

 

(ROMANCEIRO POPULAR  -  ENFERMARIA Nº 6  -
MEU NOME É ERNESTO.)

 

 

            É muito comum, em Nova York, espetáculos de TEATRO estrearem no circuito Off-Broadway, muitos deles produções simples, de baixo custo, entretanto de uma qualidade tal, que, logo, acabam se transferindo para grandes teatros da Broadway e, com uma boa repaginaa, um “upgrade”, se transformam em fenômenos de uma temporada; às vezes, de várias.  dUma boa quantidade acaba sendo montada até em outros países.

           

Quero, com isso, traçar uma relação, guardadas as devidas proporções, entre o fato acima citado e pequenas produções cariocas, modestas, a maioria ocupando espaços e horários alternativos, porém feitas com tanto amor e competência, que, graças, principalmente, à divulgação boca a boca, que é insuperável, se transferem, também, para teatros de maior capacidade de público, e no chamado horário nobre, passando, a partir disso, a ganhar destaque na mídia.

 

            Um dos mais recentes exemplos disso é o espetáculo O Pastor, texto de Daniel Porto, com direção de Carina Casuscelli, interpretado por Alexandre Lino, Kátia Camello e Cesário Candhí, que estreou na minúscula sala do Teatro 2, do Centro Cultural Solar de Botafogo, para três ou quatro dezenas de pessoas (a capacidade local) e por uma temporada não muito longa, que acabou sendo prorrogada, passando, depois, para outros teatros da zona sul, para públicos maiores, sempre com casa lotada, e que, agora, está fazendo uma brilhante carreira em São Paulo.

           

Outro bom exemplo é o fenômeno The Book of Mormon, uma montagem acadêmica, do grande diretor Rubens Lima Jr., que dispensa qualquer outro comentário.

 

            No momento, há alguns espetáculos com as características já citadas e que merecem ser vistos por um grande público, pelas pessoas que apreciam um bom TEATRO.

 

            Falarei um pouco sobre cada um deles, três no total, um que já saiu de cartaz e dois que ainda podem, e devem, ser vistos:

 

 

 

ROMANCEIRO POPULAR

 

(UMA HOMENAGEM A ARIANO SUASSUNA)

 


 


 

            Faltaram adjetivos no subtítulo da peça, como justa, merecida, linda, original...

 

            Infelizmente, o espetáculo saiu de cartaz, com casa cheia, no dia 31 de agosto passado, quando, nesse último dia, tive a grata oportunidade e satisfação de assistir a ele, no acanhado espaço Do Teatro 2 do SESC Tijuca.

 

            Para cumprir uma extensa agenda, que, às vezes me leva a assistir até a três espetáculos por dia (já houve a vez de quatro), fui sendo obrigado a adiar a minha ida àquele teatro.

 

O espetáculo deve voltar ao cartaz, mas não há previsão para isso, uma vez que sua idealizadora, diretora e atriz, LU GATELLI, será obrigada a fazer uma pausa no trabalho, para dar à luz.  Mas fiquem atentos e não percam o espetáculo, quando ele reestrear.

 

A peça é mais uma produção da CIA. ENTREATO, que, há 14 anos, vem apresentando excelentes montagens, frutos de uma pesquisa cênica, voltada para o universo da palhaçaria, sem deixar de considerar as músicas folclóricas e o teatro popular.  O repertório de espetáculos da companhia enaltece o melhor do Brasil: sua gente e seus costumes.

Ariano Suassuna, já “imortal” desde seu nascimento, porém, infelizmente, recém-falecido, não poderia ter recebido uma homenagem mais linda do que ver algumas de suas peças e personagens amalgamadas, compondo uma outra história, que, de forma tão criativa e singela, também é representativa do chamado romanceiro popular.

O enredo, fala do dia a dia e das muitas dificuldades porque passa uma companhia de um circo-teatro mambembe para sobreviver, até o ponto de improvisar um ator, utilizando, para isso, um simples funcionário da companhia. 

Na trama, cruzam-se algumas das mais representativas obras do mestre SUASSUNA: a engraçadíssima O Santo e a Porca, a clássica O Auto da Compadecida, A História de Amor de Romeu e Julieta e Torturas de um Coração, tudo muito bem selecionado e trabalhado pelo talento de LU GATELLI. 

A montagem traz para a “urbis” a rica cultura popular nordestina, de uma maneira cômica, lúdica, singela, sentimental, poética, criativa e contagiante, ao reunir, numa só mídia, teatro, literatura, música, circo e as artes plásticas, na mais fiel reprodução de tantos elementos diversos da nossa realidade de citadinos.

As considerações avaliativas do espetáculo, em detalhes, ficarão para uma futura resenha, apenas sobre ele, pois tenho muita esperança de poder revê-lo em outra temporada.  Por enquanto, digo apenas que gostei muito da peça.

 


 


 


 


 

FICHA TÉCNICA:

Texto e direção: LU GATELLI.

Elenco: DIEGO MARQUES, LÍGIA DECHEN, LU GATELLI, RICARDO GADELHA, RICARDO GONÇALVES, RICHARD GOULART e VITOR MARTINEZ.

Stand by: CAMILA ROCHA.

Direção musical: CÉSAR LIGNELLI.

Figurinos: RAQUEL THEO.

Cenografia: KERRYS ALDABALDE.

Iluminação: RICARDO GRINGS.

Adereços: FÁBIO FRANCINO.

Coreografias: ALESSANDRA LEMOS.

Assistente de direção: CAMILA ROCHA.

Identidade visual: MARCELO GATELLI.

Direção de produção: RENATO MAIA.

Assistente de produção: IGOR GOULART e ELVIS MARLON.

Realização: CIA. ENTREATO.

Assessoria de imprensa: MINAS DE IDEIAS.

 

     

    

     

 

 

 

 

(FOTOS: RETIRADAS DA PÁGINA DA PEÇA – FACEBOOK.)

 

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ENFERMARIA Nº 6

 

(UMA HISTÓRIA SOBRE SERES “HUMANOS”.)

 

 


 


            Até o próximo dia 18 (de setembro), você poderá assistir, no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea), em horários alternativos (4ªs e 5ªs, às 20h), a uma outra interessante montagem, fruto de muito sacrifício de um grupo de abnegados atores e amigos.

            Trata-se de ENFERMARIA Nº 6, uma peça baseada num conto/novela de ANTON TCHEKHOV, de 1892, que guarda uma leve semelhança com o famoso conto O Alienista, do não menos genial Machado de Assis, de 1881.

            Nesta adaptação, de EDSON BUENO, que também dirige a montagem, explorando a linguagem do teatro narrativo, o drama apresenta quatro indivíduos, que se debruçam em suas leituras, numa biblioteca surreal, e começam a dar vida ao enredo, construindo, aos olhos do público, a podridão da ENFERMARIA Nº6 - “o lugar mais nojento do mundo” – e, consequentemente, a história que ali se desenrola, dotada de teatralidade.  Com pitadas de humor agonizante, cáustico, por vezes, e momentos de rara sensibilidade e drama, as questões são colocadas em prol de uma profunda reflexão sobre a condição humana nesta sociedade punitiva, corrupta e desigual.

 



 


A história mostra um médico, numa cidadezinha da antiga Rússia czarista, e suas visitas à ENFERMARIA Nº 6, o pavilhão dos loucos do hospital que dirige.  Lá, ele filosofa com os internos, sobre a vida e a morte, chegando às últimas consequências – acaba como interno e morrendo no próprio dia de sua internação - após ser confrontado com a realidade.

Nas palavras do adaptador e diretor, no programa distribuído ao público, “a peça é uma pequena e bizarra história sobre os humanos.  Não é uma peça sobre a loucura, nem sobre um lugar onde os loucos são abandonados, nem sobre um hospital de loucos e, muito menos, sobre o que fazer com eles.  É uma peça sobre os “normais” e o que fazem diante da necessidade de sobreviver e permanecerem vivos.  Sobre as opções mesquinhas do dia a dia, as omissões, os medos e a ausência de paixão pela vida.  É uma peça de teatro sobre aqueles que, mantendo os seus corações encarcerados, ‘atravessam a vida como quem faz uma viagem transoceânica no porão do navio’.  É uma peça de teatro sobre conteúdos, não sobre personagens, nem sobre uma trajetória de vida e morte.”

            Embora simples na estrutura material, por falta de recursos financeiros, o espetáculo é bem rico, do ponto de vista da encenação e da proposta, cumprindo, a contento, o seu propósito.

 

 


 

 

 


 

           

 

COMENTÁRIOS SOBRE A FICHA TÉCNICA:

 

  1. Texto: ANTON TECHEKHOV – Não foi capaz de escrever alguma coisa que não tivesse qualidade.
  2. Adaptação e direção: EDSON BUENO – Bom nos dois trabalhos.
  3. Elenco: ABNER VALENTIN, JOANNA SARAIVA, MOISÉS SALAZAR e PEDRO NUNES – Todos fazem um trabalho correto, com destaque para o naipe masculino.
  4. Cenário e figurino: NÍVEA FASO - Bem comedidos, em função do baixo orçamento, mas atendem bem à proposta.
  5. Luz (que não requer tanto investimento): LUAN DE ALMEIDA – Boa.  Houve algumas pequenas falhas, que não chegaram a comprometer o espetáculo, as quais credito ao operador.
  6. Sonoplastia: EDSON BUENO (o diretor “se vira nos trinta” e eu acho isso ótimo, porque mostra o nível de envolvimento e de paixão por uma empreitada) - Boa.
  7. Visagismo: NÍVEA FASO – Bom (aplico, aqui, o que disse no item anterior).
  8. Cenotécnica: DIEGO SANTOS.
  9. Costureiras: ADÉLIA e MARLENE DE PAULA.
  10. Operador de som: LOUISE DE LEMOS.
  11. Operador de luz: FELIPE PEDRINI.
  12. Programação visual: PEDRO AGUIAR.
  13. Produção: ARQUÉTIPOS CIA. DE TEATRO.
  14. Assistente de Produção: GIOVANA LIMA e CÉSAR JÚNIOR.
  15. Direção de produção e idealização: ABNER VALENTIN.
  16. Realização: ARQUÉTIPOS CIA. DE TEATRO e GRUPO DELÍRIO CIA. DE TEATRO.
  17. Fotografia: JOÃO JÚLIO MELO.
  18. Videomaker: MILENA REIS.
     
     
     
     
     
     
     
     
     
    (FOTOS: JOÃO JÚLIO MELO)

 

 

 

 

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MEU NOME É ERNESTO

 

(E VIVA A MELHOR IDADE!!!)

 

 


 

 

            Tudo o que está ligado a crianças e a idosos me encanta e me comove.

 

            No Teatro SESC Casa da Gávea, está em cartaz, até o dia 21 de setembro, um espetáculo lindo e comovente: MEU NOME É ERNESTO.

 

            A peça é uma livre adaptação (na ficha técnica, não consta o seu autor) do texto "I'm Herbert", de Robert Anderson, e propõe uma reflexão sobre a terceira idade, de forma leve e irreverente, a partir da encenação de situações cotidianas do dia a dia de um casal de idosos, os quais mostram que o mais importante é a cumplicidade que se mantém dentro da vida que se leva.

 

Um dos destaques do espetáculo é o trabalho corporal e de criação e incorporação dos personagens.  Os dois jovens atores, JÉSSIKA MENKEL e ARTHUR IENZURA, de 23 anos, interpretam um casal de idosos de cerca de 80.  E, para a caracterização dos personagens, os atores são submetidos a uma sessão de maquiagem de cerca de três horas.

 

 

 


 

 

A peça conta a história de MARTA e ERNESTO, um casal de idosos, os dois vivendo de suas lembranças, mas, quase sempre, esquecendo-se de fatos e confundindo histórias, datas e, principalmente, nomes.  Ambos já haviam sido casados outras vezes e estão juntos desde quando tinham 70 anos, o que é mencionado no texto, significando, portanto, que ambos têm a mesma idade. 

 

As lembranças estão tão presentes, embora confusas, na cabeça do casal, que servem como peças de um grande quebra-cabeça, onde o que importa é justamente o estar junto, e não o tempo ou o espaço.  A cumplicidade tem de ser total para uma convivência em comum.

Com classificação livre, o espetáculo é destinado a todos os públicos e tem como objetivo prestar uma homenagem aos idosos, à sabedoria presente na “melhor idade”.

 

 


 


 


 

 

COMENTÁRIOS SOBRE A FICHA TÉCNICA:

 

1) Texto: adaptação livre de "I'm Herbert", de Robert Anderson – O texto é o que menos interessa neste espetáculo.  Serve, apenas, para levantar a problemática de um relacionamento entre pessoas da “melhor idade” e para dar oportunidade aos atores de mostrar o seu potencial de intérpretes.

2) Direção: FELIPE FAGUNDES – Aprovada.  Acertou na dosagem do humor e nas cenas em que há um pequeno apelo dramático.

3) Elenco: ARTHUR IENZURA e JÉSIKA MENKEL – Estão de parabéns os dois, ao enfrentar o desafio de interpretar dois personagens tão distantes da sua realidade etária.  Uma pessoa jovem, no palco, interpretando personagens muito mais velhos, em geral, significa um pezinho na caricatura, no ridículo.  Isso não ocorre, em momento algum, durante toda a encenação.  Os dois jovens atores, os quais eu ainda não conhecia, demonstram muita sensibilidade e maturidade para interpretar até, quem sabe, seus bisavós.  O resultado, que deve ter sido fruto de muita pesquisa e observação, resulta num belo trabalho, digno de todos os elogios.

4) Cenografia: VANESSA ALVES – Simples e modesta, em função dos parcos recursos da produção e do espaço no qual a peça é representada, mas me agradou.

5) Figurino e caracterização: DANIELE GABRIEL e ISABEL DE LIMA – Bons, ajustados aos personagens e às exigências do texto.

6) Criação de maquiagem: VÍTOR MARTINEZ – Excelente trabalho!

7) Preparação vocal: NATÁLIA FICHE – Ótima.  Os resultados de voz e de prosódia soam bem naturais.

8) Preparação corporal: WANJA BASTOS – Perfeita.  Os atores receberam uma excelente orientação, para atingirem a postura que mantêm em cena, durante todo o decorrer do espetáculo.

9) Direção de movimento: ISABEL CHAVARRI – Sem maiores comentários, a não ser dizer que também colabora, em muito, para o bom resultado desta montagem.

10) Trilha Sonora: FELIPE FAGUNDES e JÉSSIKA MENKEL – Correta.

11) Operação de som: MARIDA D’ÁVILA.

12) Operação de luz: VANESSA ALVES.

13) Designe gráfico e fotografia: KARLA KALIFE.

14) Designe de luz: AÍRTON SILVA.

15) Assistente de produção: FRANCISCO DE ASSIS e THAÍS MAZZONI.

16) Assessoria de imprensa: BRENO PROCÓPIO.

 

 

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Foto dos atores com a plateia, feita na sessão a que assisti.

 

 

 


Com os atores e os personagens.

 

 

 

 

(FOTOS: KARLA KALIFE)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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