OLEANNA
(UMA PEÇA SOBRE O PODER: SUA FORÇA E SEU
PREÇO.)
Assisti ao
espetáculo OLEANNA, em cartaz até 21
de abril, no Teatro Gláucio Gil, de
6ª a 2ª feira, sempre no horário das 20h (é
excelente a opção de TEATRO às 2ªs feiras), cuja proposta, bastante
interessante, apresenta um dos personagens, um docente universitário,
interpretado por um homem, MARCOS BREDA,
e por uma mulher, MIWA YANAGIZAWA,
alternando-se por sessões.
Tive a
oportunidade de ver a peça com BREDA
e decidi que não escreveria sobre ela, antes de poder ver o trabalho de MIWA, muito elogiado pelos envolvidos
no projeto, do que, aliás, não tenho a menor dúvida. Entretanto, por total falta de tempo e
incompatibilidade de agenda, creio que, infelizmente, vou ficar me devendo esse
prazer, motivo pelo qual aqui estou discorrendo sobre o espetáculo.
O texto também
tem uma versão para as telas e causou muita celeuma, principalmente nos Estados
Unidos, quando de seu lançamento, o mesmo tendo acontecido com a versão para os
palcos. Trata-se de um dos texto mais
polêmicos da dramaturgia americana, nos últimos tempos.
Ao final de
cada sessão, nesta temporada, o elenco e o diretor se propõem a um pequeno
debate com a plateia. No dia em que
estive no Gláucio Gil, a conversa foi tão agradável e enriquecedora, com
relatos pessoais de alguns dos presentes, e durou tanto, que quase fomos
expulsos do teatro, pelos funcionários, ávidos de retornar às suas casas. Gostei tanto do debate quanto da peça.
Antes de
qualquer outro comentário, afirmo que é digno de todos os elogios o programa da
peça; mais propriamente, o conteúdo dos textos escritos nele. É tudo muito esclarecedor e, se lidos, os
textos, antes ou depois de o espectador ter visto a peça, poderão mudar o rumo
de suas convicções acerca dos personagens e de suas visões e interpretações
para aquilo que parece ser o tema central da trama – o assédio sexual -, mas
que é apenas uma face de algo maior: a
força e o preço do poder.
Considero
tarefa muito difícil escrever sobre este espetáculo, baseado num fato real, em
função da sua riqueza e profundidade e de tantos detalhes nele contidos. Precisaria
de muita capacidade de síntese, para não tornar enfadonha esta despretensiosa
resenha. Assim, limito-me a uma sinopse
bastante superficial, convidando o prezado leitor a ir ao Teatro Gláucio Gil, a fim de conferir o que digo.
SINOPSE:
Um excelente (?) professor universitário (JOHN)
recebe, no seu gabinete, uma aluna medíocre (?) (CAROL), para a apreciação de um trabalho. Ela não consegue entender nada do que ele
explica nas aulas, muito menos o que escreveu num livro, indicado como fonte
bibliográfica, e sente que seu futuro como universitária está ameaçado, uma vez
que já prevê sua reprovação na matéria que ele leciona.
O diálogo inicial transforma-se num violento
confronto de ideias sobre as finalidades da educação e do ensino, o lugar do
indivíduo na sociedade, as relações entre os sexos e os limites da liberdade. Um confronto que envolve o espectador e o
incita a tomar uma posição, a favor de um e contrária a outro, podendo, no meio
da trama, ou no seu final, inverter-se.
De início, o que parece apenas uma
disputa entre um “mestre” e uma “discípula” revela-se uma grande e dolorosa
peleja sobre o que possa vir a ser a verdade. Quem teria razão? O professor lúcido, muito articulado, detentor
de um vocabulário riquíssimo e do “poder”, o que não faz o menor sentido para a
aluna? Ou seria a aluna, que se sente
humilhada, quando vai à busca de respostas simples e objetivas e é “metralhada”,
com uma esmagadora demonstração de brilho intelectual do “poderoso” professor?
Na verdade, a guerra existe para que
saia vencedor aquele que tem o direito à palavra: o que melhor a domina ou o que
ainda não consegue fazer o “correto” uso dela.
A palavra e seus vários significados.
A palavra e suas diversas conotações, como, por exemplo, “estupro”.
Um bom
psicanalista encontra, em OLEANNA, material
abundante para escrever um longo tratado sobre a condição humana, as verdades e
as contradições do ser dito humano, as ações e reações inter-humanas, tendo o
poder, no mais “latu sensu”, como pano de fundo.
Falar muito
mais do que isto seria tirar, do futuro espectador, o prazer de saborear o
espetáculo e, sem se deixar influenciar, “comprar a briga” do professor ou da
aluna.
Para GUSTAVO PASO, diretor do espetáculo, e
um dos responsáveis pela ocupação temporária do Teatro Gláucio Gil, com a CIA
TEATRO EPIGENIA, lutando contra todas as dificuldades, incluindo a falta de
patrocinadores, DAVID MAMET traz à
tona um certo patrulhamento frequente nos dias de hoje.
A boa tradução do texto é de MARCOS DAUD.
Como já foi
mencionado, a direção do espetáculo,
muito boa, é de GUSTAVO PASO.
No elenco, no dia em que assisti à peça, MARCOS BREDA e LUCIANA FÁVERO, ambos brilhantes, muito seguros e convincentes em
seus personagens.
A iluminação, muito boa, é assinada por PAULO CÉSAR MEDEIROS.
O cenário, que pode lembrar uma arena,
onde gladiadores tentam destruir leões e fugir ao apetite destes, foi criado
por GUSTAVO PASO e TECA FICHINSKI.
Os figurinos foram idealizados por JÔ RESENDE.
Uma boa trilha sonora original foi criada por ANDRÉ POYART, executada por SAULO VIGNOLI (cello) e ANDERSON PEQUENO (violino).
Indiscutivelmente,
OLEANNA é um espetáculo instigante,
que faz o espectador levar para casa muitas reflexões e ficar mergulhado nelas,
por muito tempo, sem que, talvez, até consiga chegar a conclusões.
Não é uma peça
para divertir, para o lazer. Os que têm
preguiça de pensar ou que vão ao teatro para cumprir uma agenda social não
haverão de apreciar este espetáculo, que não é superficial; é de uma profundeza
abissal.
Recomendo, com
veemência, a peça e parabenizo todos os envolvidos no projeto.
(FOTOS:
PRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO DO ESPETÁCULO)
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