sábado, 15 de março de 2014



             
12 HOMENS E UMA SENTENÇA


 


(DE COMO SE PODE INICIAR, DE FORMA BRILHANTE, UM ANO TEATRAL)


 




 


            Mal começamos este ano teatral de 2014, que, certamente, será prejudicado por uma inconveniente e despropositada Copa do Mundo, que NÃO TÍNHAMOS, E NÃO TEMOS, CONDIÇÕES MÍNIMAS PARA BANCAR, e já posso garantir que um dos maiores sucessos do palco, nesta temporada, já surgiu e está em cartaz no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.  Trata-se de 12 HOMENS E UMA SENTENÇA, espetáculo que, durante mais de dois anos, fez uma brilhante carreira nos palcos paulistas, tendo, ainda, percorrido algumas outras praças, ganhando vários prêmios e muitas indicações a outros.


            A peça chegou ao Rio com quase todo o elenco original alterado.  Não consegui vê-la em São Paulo, motivo que me levou a aguardar sua vinda para o Rio com muita ansiedade.  Assisti a ela no dia seguinte ao de sua estreia e voltei uma semana depois, no domingo de carnaval, para perceber todos os detalhes dessa fantástica montagem e poder reunir elementos para estes comentários.  Espero, ainda, revê-la mais algumas vezes.  É assim que ajo, quando muito me encanta uma produção teatral.


            Apesar de ter recolhido dezenas de pequenas anotações, durante a minha segunda ida ao teatro, acho extremamente difícil entrar em detalhes, para não tirar, dos futuros espectadores, o prazer de acompanhar o desenrolar da trama e o final magnífico, porém nem um pouco surpreendente, para quem "participa", atentamente, de uma “batalha”, travada por duas lideranças: uma que deseja a condenação do réu e outra que, não exatamente o considera inocente, mas tem a coragem e a lucidez de assumir uma incerteza, o que poderia gerar um desastre total e uma irreparável injustiça.


            Sempre que se debate o tema “pena de morte”, no Brasil (creio que em todos os lugares), vem à tona, como um dos mais fortes argumentos quanto à sua implantação, o de que um erro, um engano, uma falha na condenação ceifará uma vida, erro que jamais poderá ser reparado.  Essa era a grande preocupação de um dos doze homens aos quais cabia a decisão de condenar um jovem, de 16 anos, à cadeira elétrica, por ter, supostamente, assassinado seu próprio pai, o que depoimentos de “testemunhas” davam como fato irrefutável. 








            A engenharia utilizada por REGINALD ROSE, dramaturgo americano, falecido em 2002, na construção deste texto é invejável e atinge as raias de detalhes poucas vezes vistos nos mais clássicos dos policiais que povoam as listas dos melhores de um “rancking” sobre o assunto.  Embora, com o desenrolar da peça, o espectador atento ao que vê e ouve, possa, de certa forma, facilmente imaginar o final da trama, previsível, as situações que são levantadas, as evidências que são trazidas à discussão pelo jurado que não quer provar a inocência do rapaz, mas apenas “discutir mais um pouco sobre o assunto” são impressionantes e decisivas para a própria existência deste texto teatral, excepcionalmente traduzido por IVO BARROSO.


            Ainda que toda a contenda seja disputada por dois dos personagens, o que defende, cegamente, a pena de morte para o rapaz, o nº 3, e o que apenas quer “discutir um pouco mais”, o nº 8, portanto os dois polos em que se baseia a discussão, não me atrevo a falar em dois protagonistas e dez coadjuvantes.  Protagonistas, todos o são, cada um a seu modo, cada um com suas características particulares, o que só faz tornar esta estrutura dramática mais interessante a cada fala, a cada diálogo, a cada nova surpresa, no decorrer da encenação.


            A direção da peça é de um dos mais consagrados e competentes profissionais no seu ofício: EDUARDO TOLENTINO DE ARAÚJO, cujo nome sempre nos remete a uma das mais importantes páginas da história do TEATRO BRASILEIRO: GRUPO TAPA.  Perda de tempo dizer algo além disto: TOLENTINO, mais uma vez, esbanja talento na direção de um espetáculo teatral.  São precisas, cirúrgicas, suas marcações e orientações, fazendo com que um espetáculo de quase duas horas de duração consiga prender o espectador atento o tempo todo, distanciando o tempo cronológico do psicológico.


            Os figurinos, de ANA CRISTINA MONTEIRO DE CASTRO não permitem qualquer comentário diferente deste: são perfeitos e adequados aos personagens, no ambiente em que atuam: todos trajam ternos, como não poderia deixar de ser.  O que varia, um pouco, são as tonalidades.  E, aqui, posso estar embarcando numa "nave espacial", rumo a uma grande “viagem”, mas reparei que todos os ternos eram bem escuros, à exceção do único jurado que, desde o início, não aceita como definitiva a culpa do rapaz.  O nº 8 usa um terno claro.  E o personagem de MARCELO ESCOREL (também pode fazer parte da minha “viagem”) usa uma calça clara e um “blazer” entre o claro e o escuro.  Vejam a peça, tentem entender, nela, essa simbologia de cores e escolham se querem ou não ocupar um lugar vazio na minha “nave”.  Há vagas.


            A iluminação, de NÉLSON FERREIRA, não nos dá motivos para comentários negativos.  Ao contrário, funciona bem, sem direito a maiores comentários.


Uma lamentável falha "técnica", no programa da peça, não aponta o nome de quem assina o cenário, mas tive o trabalho de pesquisar e constatar que a responsável por ele é LOLA TOLENTINO, que fez um belo trabalho de reprodução do ambiente que o texto exige, uma sala de reuniões de um júri, na década de 50, num tribunal americano.  Cenário simples, mas muito objetivo, no qual se destaca uma grande mesa, quase que um personagem, em torno da qual um destino é construído.






UMA SINOPSE DO TEXTO: A peça se passa em Nova York, nos anos 50.  A trama, baseada no filme 12 ANGRY MEN (EUA, 1957, de Sidney Lumet; na tradução literal, 12 Homens Furiosos), é sobre um julgamento, no qual doze jurados devem decidir se condenam, ou não, à morte, na cadeira elétrica, um jovem de 16 anos, acusado de assassinar o pai.  Pelas leis americanas, o indivíduo só poderá ser levado à pena de morte por conta de uma decisão unânime.  Até que isso ocorra, cada julgamento “infrutífero” deverá ser comunicado ao juiz, que marcará tantos quantos forem necessários, até se atingir a desejada unanimidade (Nélson Rodrigues dizia, embora jamais venha a contar com a minha aquiescência, que “a unanimidade é burra”).  A discussão se dá em meio a um calor escaldante do verão de Nova York, que faz o suor pingar do rosto dos 12 homens, trancados a chave numa pequena e claustrofóbica "sala de júri".  Depois de dias de julgamento, está em suas mãos decidir a sorte do réu.


            O elenco está perfeitamente afinado, o que é muito difícil acontecer, se considerado o número de atores em cena (treze: os doze jurados e mais um guarda, que entra em cena apenas para auxiliar em alguma coisa, quando solicitado).  Não há um que se sobressaia aos outros, ao mesmo tempo em que todos se sobressaem individualmente e no conjunto.  Deu para confundir?  É simples: cada ator tem o seu grande momento de atuação e todos são igualmente importantes na trama, embora, aparentemente, haja um destaque para dois eixos: o jurado nº 3 e o nº 8, uma vez que são eles os condutores da discussão, os desencadeadores de toda o processo, e vão sendo responsáveis pelos posicionamentos dos demais.


            Os jurados ocupam lugares fixos (quase sempre) à volta da enorme mesa e "não têm nomes"; são designados por números (poderiam ser quaisquer de nós).  Para não roubar ao espectador, que sei que irá, correndo, conferir o que estou dizendo, não revelarei a metade das minhas anotações, que ocuparam cinco páginas de um bloquinho, mas não posso me furtar a tornar públicas algumas delas, ao falar do elenco:


Um pouco sobre cada um dos atores e de suas atuações:


            Nº 1 = EDMÍLSON BARROS - O presidente do júri.  Tenta conduzir os trabalhos com serenidade e imparcialidade, embora seja levado, porque é humano, em determinados momentos, a perder a calma, por conta de discussões acirradas, que quase levam os contendores às vias de fato.  Bom ator, em ótima atuação.


            Nº 2 = XANDO GRAÇA – Tenho, por este ator, uma admiração enorme, pelo conjunto de sua obra.  Só me lembro de uma única atuação dele que não me tenha agradado tanto, mas, na verdade, não lhe cabe a menor culpa, a não ser a de ter aceitado fazer parte do elenco de uma lamentável montagem de BOTEQUIM, um clássico de Gianfrancesco Guarnieri, completamente deturpado em recente montagem.  XANDO, embora muito longe de sua real competência profissional, conseguia se destacar positivamente naquele grande equívoco.  Em 12 HOMENS..., seu personagem, aparentemente um alienado, é responsável por algumas falas que servem de alívio, de válvula de escape, para o público, em momentos de grande tensão dramática.    O ator brilha em cena.


Nº 3 = GENÉZIO DE BARROS – O “dono da verdade”, o “inquisidor”, o “cruel”, o “insensível”, o “carrasco”, mas, ao mesmo tempo, o mais infeliz de todos.  Inicia sua trajetória no enredo, deixando bem claro que se deve levar a cabo um julgamento justo e dar condições de defesa ao acusado, numa total contradição com seus atos, já que, em todos os momentos, aponta o rapaz como o assassino "comprovado" do próprio pai, afirmando sempre, categoricamente, que “Ele tem de pagar pelo que fez”.  Seu personagem tem um filho, à época do julgamento, com 20 anos, a quem não via há dois, e que, aos 16 - exatamente a idade do acusado -, durante uma briga com o pai (“Fiz de tudo, para torná-lo um homem.”), agredira-o fisicamente, por ser “muito grande” (a justificativa do pai perante seus companheiros de júri).  Vive se contradizendo, em sua implacável ira contra o “assassino”.  Assegura só haver um exemplar da faca, rara, que vitimou o morto, entretanto uma outra, idêntica, é apresentada no tribunal, por outro jurado, durante o julgamento.  Firmou-se numa suposta frase do rapaz, segundo uma testemunha, com relação ao pai - EU VOU TE MATAR –, momentos antes do assassinato, afirmando que isso nunca é dito sem a verdadeira intenção, entretanto, num momento de fúria contra o jurado nº 8, repete a mesma frase.  Mais do que isso não posso adiantar.  Assistam à peça e entenderão o porquê de tanta sede de vingança.  O ator, que, embora atue, com perfeição, em outras mídias, é, sem a menor sombra de dúvidas, um ATOR DE TEATRO.  É fantástico o seu trabalho.


            Nº 4 = CAMILO BEVILACQUA – Talvez seja o jurado que mais importância dá a cada detalhe levantado por um dos dois pares que se opõem em opiniões.  Por isso mesmo, seu personagem passa uma ideia de muita ponderação, quando emite um parecer.  Ótimo trabalho do ator.  Seguro, autêntico.


            Nº 5 = ALEXANDRE MELLO – Seu passado, criado em circunstâncias muito parecidas com as do acusado, o que poderia tê-lo conduzido à marginalização, concede-lhe uma visão diferente das dos demais, em relação ao comportamento do suposto infrator.  Ele sentiu, na pele, quando criança e adolescente, toda sorte de maus tratos por que também passara o “criminoso”, o que lhe permite tentar enxergar o outro lado do problema.  Ninguém melhor do que ele para se pôr na posição do acusado e avaliar os motivos que poderiam tê-lo levado ao crime.  Ou não.  Defende, veementemente, quando provocado, a teoria de que nem todos os que nascem no “gueto” se transformam em marginais.  Uma de suas interessantes cenas é a simulação do uso de uma faca, como a que foi utilizada no crime, na tentativa de provar que o rapaz, de menor estatura que o pai, não teria condições para manusear a arma da forma como esta atingira o peito da vítima.  Detalhe de alta relevância na trama.  Muito boa atuação.


            Nº 6 = BABU SANTANA – De todos os jurados, é o que tem menor escolaridade e ascensão social, por ser um operário.  O personagem começa meio perdido entre aquelas “feras”, muito tímido, quase acuado, creio que por excesso de humildade, entretanto, sendo o único capaz de resolver um simples problema de consertar uma luminária daquela sala e fazer voltar a funcionar um velho ventilador, que aplacasse um pouco a insalubridade daquele ambiente, a partir desse momento, parece conscientizar-se de que seu voto é tão importante quanto os dos demais e, em função disso, se solta e fala de igual para igual com os outros.  Muito interessante esta transformação do personagem e muito bom o trabalho do ator.  Na segunda vez em que assisti à peça, BABU foi substituído por MARCELLO MELO, cuja atuação, apesar de não comprometedora, é menos convincente que a do titular do papel, talvez porque seu tipo físico não seja muito adequado ao personagem, no contexto da trama.       


            Nº 7 = MARCELLO ESCOREL – Apesar de o texto ser um drama, há espaço, nele, para alguns momentos de humor - muito bom humor - e MARCELLO é um dos responsáveis por aliviar, vez por outra, a grande tensão que vai se modelando, como uma bola de neve, na cabeça do espectador.  Seu personagem não tem o menor interesse em que se prolongue a discussão, uma vez que seu foco está numa partida decisiva de beisebol, para a qual ganhara ingressos e “não queria desperdiçá-los”.  É bastante interessante o fato de seu vocabulário e frequentes metáforas empregadas estarem sempre ligadas ao universo daquele esporte.  Movimenta-se, pelo espaço cênico, sem a menor classe, afastando-se, completamente, da postura exigida pelo evento: atira, ou melhor, “arremessa” bolinhas de papel para todos os lados, como se estivesse praticando seu esporte predileto, está sempre com a boca ocupada por goma de mascar e gesticula exageradamente e de forma quase vulgar.  Uma bela presença em cena, com suas tiradas debochadas e, por vezes, agressivas, com relação aos seus pares.  Excelente ator, excelente papel, excelente atuação.


            Nº 8 = NORIVAL RIZZO – É o responsável por toda a situação criada no tribunal, uma vez que, inicialmente, era o único que discordava da decisão de levar o jovem “infrator” à cadeira elétrica.  Não que acreditasse na sua inocência; achava, isto sim, que os testemunhos contra o acusado poderiam ser inconsistentes e inverossímeis, as testemunhas poderiam ter falhado em seus depoimentos e que era necessário discutir muito, até a decisão de ceifar a vida de um ser humano, principalmente um adolescente.  Segundo ele, duas testemunhas haviam sido consideradas fundamentais para a promotoria, mas bastava que, pelo menos uma delas estivesse equivocada, e a sorte – a má sorte – do acusado estaria lançada.  É fantástico o detalhe de ter solicitado, ao presidente do júri, a planta do imóvel habitado pela vítima e pelo acusado, e também pelo velho que testemunhou contra o rapaz, pois isso serviu para mexer com as consciências de alguns jurados, após uma simulação de como teria sido o deslocamento da testemunha até o local de onde disse ter visto o rapaz abandonar a cena do crime, cronometrando tal deslocamento.  Era de opinião, também, de que a defesa havia sido fraca, deixando passar muitas falhas no decorrer do processo.  Na tentativa de salvar o julgado da pena capital, preocupou-se em apresentar um histórico da trajetória do rapaz até aquela idade, levantando, com detalhes, sua vida pregressa.  Era, de todos, e de longe, o que parecia mais valorizar a vida humana.  Sua postura se mantém estável, alterando-se muito pouco, diante das provocações, dos deboches e das quase agressões físicas por parte de alguns jurados.  Na verdade, fez o que o advogado de defesa deveria ter feito, este que – é dito no texto – não atuou na defesa do rapaz por vontade própria, talvez por não ter vislumbrado a menor possibilidade de livrá-lo da morte – tendo sido, indicado, para o julgamento anterior, à revelia, pelo juiz que conduzia os trabalhos.  Por incompetência ou descaso, não exercera seu ofício como deveria.  A experiência desse veterano ator ajudou-o bastante a interpretar muito bem seu personagem.



Norival Rizzo


 


            Nº 9 = HENRIQUE CÉSAR - Outro veterano ator, o mais velho de todos, por isso mesmo, de certa forma, discriminado por alguns personagens, tem uma participação muito importante, uma vez que, com sua aguda observação, ajuda, com detalhes, a esclarecer alguns pontos nebulosos durante a discussão.  Foi o único, por exemplo, que percebeu, durante o julgamento anterior, no tribunal, que o velho que testemunhara contra o rapaz, claudicava, puxava de uma das pernas, o que, posteriormente, gerou a conclusão de que não poderia ter-se deslocado, em quinze segundos, com afirmara a testemunha, em seu quarto, a ponto de ver o rapaz fugindo da cena do crime.  Mostra-se - o seu personagem - muito perspicaz, também, ao perceber que uma das “testemunhas principais” não teria condições de acusar categoricamente o rapaz, do crime, nas circunstâncias em que teria ocorrido o seu testemunho, pelo detalhe da falta de óculos, no fatídico momento.  Confiram os interessantes detalhes, assistindo à peça.  Discreto, porém um bom trabalho o do ator.


            Nº 10 = HENRI PAGNONCELLI – Interpreta uma pessoa irritadiça, profundamente mal-humorada e extremamente preconceituosa, a qual julga o semelhante a partir de um “pré-conceito” de que todos os moleques da periferia são marginais, já nascem marcados para o crime e que, para eles, não há remédio nem recuperação.  Se veio do gueto, é marginal; se é marginal, é capaz de delinquir; se delinque, é merecedor de punição; e punição para delinquentes criminosos é a pena de morte.  Algumas de suas intervenções, no texto, são das mais interessantes e representativas de um autoritarismo e de um senso de “dono da verdade”, que não admite ser contrariado em suas posições.  Fazia tempo que não o via atuando num palco, o que me proporcionou grande prazer, por sua excelente “performance”.  Tomara seja ele, em seu consultório (o ator é também médico), e acredito que o seja, tão competente como o é num palco.


            Nº 11 = MÁRIO JOSÉ PAES – Seu personagem, sempre atento às observações do jurado nº 8, sereno e aberto a reflexões, é um estrangeiro (o ator é argentino), o que lhe concede, perante alguns dos outros, um caráter de “intruso” no grupo.  Curiosamente, apesar de não ser um falante nativo do Português, é responsável por um momento de descontração, ao corrigir o personagem de HENRI PANGNOCELLI, quando este enche a boca para dizer um “pra mim acreditar”.  Como professor de Língua Portuguesa, acho que foi minha a gargalhada mais sonora e consciente nessa cena.  A se confirmar um comentário que ouvi, foi MÁRIO o responsável por trazer o espetáculo ao Rio.  Se procedente a informação, a ele os meus maiores agradecimentos (ou a outro a quem possa caber tal iniciativa), pela oportunidade de poder ver 12 HOMENS....  Também é responsável por uma boa atuação, e muito me agrada sua maneira natural de representar.  Não parece que tem um texto decorado.  Isso é muito bom e é um diferencial que conta muito para mim, quando presto atenção ao trabalho de um ator.


            Nº 12 = GUSTAVO RODRIGUES – O mais jovem de todos os jurados.  Totalmente descompromissado com o julgamento, meio “maria-vai-com-as outras”, facilmente embarcava no argumento dos outros, alternando sua posição com relação à culpa ou inocência do rapaz.  É publicitário e, assim como o personagem de MARCELO ESCOREL, impregnava suas falas com chavões ligados à sua área de atuação, o "marketing".  Vivia tentando fazer piadas ligadas à sua profissão, intervenções estas sem a menor graça, e, de forma irresponsável, ignorando a importância daquele julgamento, aproveitava o tempo para bolar campanhas ou “slogans” para seus clientes.  Creio que é o personagem que melhor retrata a possibilidade de um corpo de jurados ser mal constituído.  GUSTAVO, pouco conhecido na mídia, é um grande ator e tem, em seu currículo, magníficos trabalhos, o mais recente dos quais foi o monólogo “BILLDOG”, que lhe conferiu o prêmio de melhor ator na FITA (Festa Internacional de Teatro de Angra), versão 2012.


 




 


            Ainda há um décimo terceiro ator, FRANCISCO PAZ, que seria, no caso, o único que poderia ser caracterizado como coadjuvante, na trama, uma vez que representa um guarda, que tem umas bissextas entradas, todas muito rápidas, em cena, para introduzir os julgadores na sala a eles reservada ou para atender a alguma necessidade, solicitada pelo presidente do júri.  Não há o que se possa comentar sobre o jovem ator, a não ser que, ainda que de pouca relevância o seu personagem, cumpre corretamente sua função.


            Para fechar esta já longa resenha, gostaria de revelar um estudo, quase uma "brincadeira", que MARCELLO ESCOREL, iniciado nos estudos de astrologia, resolveu fazer, atribuindo, a cada um dos jurados, um signo do zodíaco, de acordo com a personalidade de cada um.  Com a devida autorização do “astrólogo”, passo a divulgar a listagem, para que os entendidos no assunto possam, também, discutir o tema.  Vejam se confere: 1 - Virgem, 2 - Touro, 3 - Escorpião, 4 - Sagitário, 5 - Peixes, 6 - Câncer, 7 - Áries, 8 - Libra, 9 - Capricórnio, 10 - Leão, 11 - Aquário, 12 - Gêmeos.




IMG_4016-Elenco da peça






Enquanto meditava sobre o que escrever nesta resenha, veio-me à lembrança uma canção de Tunai e Sérgio Natureza, cujas partes da letra muito se aplicam a este espetáculo: AS APARÊNCIAS ENGANAM, esplendidamente gravada pela maior cantora popular que este país conheceu: ELIS REGINA. 


Pode ser mais uma das minhas "viagens", entretanto, embora composta para retratar uma relação amorosa, acho que dá para ser transportada para a situação abordada na peça (os trechos em vermelho).  Se eu estiver errado, pelo menos, a canção foi relembrada.  Procurem ouvi-la.  Vale a pena.  É muito linda.


           


AS APARÊNCIAS ENGANAM

As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam,
porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões.
Os corações pegam fogo e, depois, não há nada que os apague.
Se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são
o alimento, o veneno e o pão
, o vinho seco, a recordação
dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver.


As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam,
porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões.
Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele.
Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser,
não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar
,
não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor.


As aparências enganam aos que gelam e aos que inflamam,
porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões.

Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno.
Mas o verão que os unira, ainda, vive e transpira ali.
nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera,
no insistente perfume de alguma coisa chamada amor.

 


NÃO PERCAM ESTE ESPETÁCULO POR NADA NO MUNDO!


 


(FOTOS DE DIVULGAÇÃO – PRODUÇÃO)


 


 





 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

Um comentário:

  1. Esses 12 homens mexem com nossos corações e mentes. Incrível! Genial! Emocionante!
    Confesso que estou super curiosa para ler suas anotações do caderninho secreto. Qto ao detalhe da cor dos ternos, havia reparado bem o único terno claro do jurado nº8, mas não tinha me dado conta do blazer e calça de cores diferentes do jurado nº7. Nesse caso acho que não preciso do seu caderninho, tenho cá uma interpretação, mas não vou divulgá-la, pelo mesmo motivo que vc. É, AS APARÊNCIAS ENGANAM funciona como uma boa música de fundo para refletir sobre esse belíssimo espetáculo.
    Gilberto, sua crítica (embora vc não goste desse título) está ao mesmo tempo reveladora e instigante. Ótimo trabalho.

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