SILÊNCIOS CLAROS
(DELICADEZA E EMOÇÃO PRESENTES EM TUDO.)
Há
quem não aprecie; eu gosto muito.
Estou falando
de monólogos.
Dois fatores,
entretanto, são imprescindíveis, para que o espetáculo não se torne tedioso
para o espectador: um bom texto e um bom intérprete. É claro que, por ser TEATRO, outros elementos deverão ter, também, importância e ajudarão
a valorizar o trabalho do autor e de quem o interpreta, como direção, luz, cenário,
música...
Tudo isso foi
muito bem conjugado para fazer de SILÊNCIOS
CLAROS um ótimo e lindo espetáculo, um projeto que demorou anos para ser
concretizado; uma, pode-se dizer, produção independente, fruto da coragem e do
amor ao TEATRO da atriz ESTER JABLONSKI, que interpreta quatro
dos tantos excelentes contos de uma das mais consagradas e respeitadas
escritoras “brasileiras”, a despeito de ter nascido na Ucrânia (veio para o
Brasil com pouco mais de um ano): CLARICE
LISPECTOR.
Os
contos, na íntegra, são, por ordem de apresentação, O GRANDE PASSEIO, UMA TARDE PLENA, A
FUGA e UMA GALINHA, este um dos meus
favoritos. Todos eles apresentam, em comum, a temática da
solidão, ingrediente “arroz-de-festa”, nos textos de CLARICE. Com um profundo
mergulho na alma
da mulher, na escritora, pode-se, também, perceber (Quem sabe?) uma mesma mulher em quatro fases
de sua vida, quatro momentos distintos da sua solidão.
CLARICE já foi, tantas e tantas vezes,
transposta das folhas dos livros para o piso dos palcos, algumas vezes em
produções excelentes, como SIMPLESMENTE
EU, CLARICE LISPECTOR, um outro monólogo, primoroso, que saiu,
recentemente, de cartaz, após dois ou três anos de ininterrupto sucesso,
garantindo à atriz BETH GOULART vários
prêmios de TEATRO. Em outras vezes, infelizmente, CLARICE merecia ser melhor e mais
respeitada. Coisas do TEATRO.
Coisas da vida!
Nesta
montagem, muito bem-sucedida, que permanecerá em cartaz, no Teatro Eva Herz, da Livraria Cultura,
no Centro do Rio de Janeiro, até o dia 30 de abril, às 3ªs e 4ªs feiras, no horário
das 19h, tudo é delicado e digno de elogios.
O
texto dispensa quaisquer comentários. O difícil é selecionar textos de CLARICE para a montagem de um espetáculo
teatral.
O
perigo de uma montagem coma esta vir a se transformar num enfadonho sarau
escolar de cidade do interior não existe, graças ao talento e à sensibilidade
de ESTER JABLONSKI, que, de forma
impecável, sabe, e soube, captar as nuanças do universo clariceano e
transmiti-las ao público, abusando, por exemplo, da capacidade de provocar, nos
espectadores, todos os estímulos sensoriais, principalmente os táteis, tão
comuns nas linhas da autora. Um belo
trabalho de ESTER, devidamente
conduzido por FERNANDO PHILBERT,
responsável pela direção.
É
muito boa a iluminação, de VILMAR OLOS, assim como o figurino, de KIARA BIANCA, que (permitam-me a brincadeira, por mais sem-graça
que possa parecer) apesar de “clara” e “branca”, desenhou um traje preto, para
a atriz, com alguns detalhes dos quais esta se utiliza, para alterar o modelo,
a cada novo conto interpretado.
Foi
composta, originalmente, uma música,
pelo talentoso MARCELO ALONSO NEVES,
que muito contribui para realçar detalhes de algumas cenas e criar climas
diversos.
Merece
um destaque especial o cenário,
delicado e harmonioso, de JORGE RORIZ,
que é muito rico em detalhes e acabamentos.
Não pude assitir ao espetáculo nas temporadas anteriores, três ou quarto,
encenadas em espaços diversos, contando, cada uma delas, segundo informação da
própria ESTER, com cenários
diferentes, do mesmo cenógrafo, confeccionados com materiais diversos, todos
igualmente bonitos. Pena não tê-los
conhecido, a não ser por fotos. Mas o
que ora emoldura e ocupa o espaço do Teatro
Eva Herz é digno de muitos elogios, predominando a arte de dobraduras em arame. Delicadeza pura!
Delicadezas em arame
Recomendo a todos os que apreciam a obra de CLARICE LISPECTOR e que valorizam uma
boa interpretação dramática a não perder este espetáculo, que é curto (apenas
50 minutos), mas que, exatamente por ser muito bonito, deixa, no espectador, aquele gostinho de “quero mais”.
(FOTOS –
DIVULGAÇÃO / PRODUÇÃO)
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