terça-feira, 30 de abril de 2024

 

“ENTRE FRANCISCOS -

O SANTO E O PAPA”

ou

(SANTIDADE

EM DOSE DUPLA.)

 




Uma peça à qual não pude assistir, por dificuldade de acesso, para mim, ao local onde foi encenada, o Teatro Domingos de Oliveira (Planetário da Gávea), quando apresentada, recentemente, pela primeira vez, voltou ao cartaz, emplacou uma segunda temporada, no Teatro Laura Alvim, dentro da Casa de Cultura Laura Alvim, e vai assim permanecer até o próximo dia 5 de maio, retratando um imaginário, insólito e utópico encontro entre o Papa Francisco e São Francisco de Assis.

 

 

 


SINOPSE:

Inicia-se o espetáculo com o Papa Francisco (PAULO GORGULHO), aparentando cansaço físico, menos do que lhe pesam os problemas da Humanidade, entrando numa lavanderia, no Vaticano, que ele mesmo mandara construir, para atender às necessidades da população de rua, e lá encontra um homem.

Logo ao entrar, percebe que há o homem olhando para uma das máquinas de lavar, parecendo aguardar que seja concluída uma operação de lavagem.

Inicia-se um diálogo entre eles.

As respostas do homem são inspiradoras, como os textos de São Francisco de Assis.

O homem que aguarda, aparentemente um sem-teto, canta algumas músicas de Francisco

Inicialmente, o Papa não percebe, mas esse homem é o próprio São Francisco de Assis (CÉSAR MELLO).

O Papa imagina ser impossível tal encontro, porém, aos poucos, o diálogo entre essas duas icônicas figuras vai revelando dores, incertezas, mas também amores, fé e reflexões sobre os grandes dilemas do cotidiano atual, no mundo. 



 


Todos sabemos que há muitos pontos em comum, com relação aos dois personagens da peça. Um deles é que o personagem Papa retrata a sensibilidade do Papa Francisco, amplamente conhecida, e o seu incondicional amor ao próximo, principalmente se forem os mais vulneráveis, mesmo sentimento que marcou a passagem de Francisco de Assis pela Terra, ainda que, em vida, tivesse sofrido reprimendas da Igreja Católica, uma vez que, no início da juventude, dedicou-se a uma vida irrequieta e mundana, com espaço para a indisciplina e extravagâncias, paixão pelas aventuras, pelas roupas da moda e pela bebida, e por sua liberalidade com o dinheiro, embora sempre mostrasse ter uma índole bondosa.

 

 

A conversa entre os dois personagens gira em torno de teorias e reflexões de cunho filosófico acerca da condição humana; uma radiografia do ser humano, do comportamento do homem de hoje, por assim dizer. Por meio do ótimo texto de GABRIAL CHALITA, o público é convidado, pelos dois personagens, a participar, com eles, daquele colóquio e refletir, juntos, sobre questões pungentes dos tempo atuais. Apesar da seriedade do tema e do dito “cunho folosófico”, o texto, muito bonito e bem escrito, características da obra de CHALITA, está ao alcance de qualquer pessoa, para rápido e total entendimento. No seu decorrer, cada vez mais, vai ficando bem claro o lado humano dos dois personagens. Mais do que São Francisco – pareceu-me – o Papa se mostra muito cético e preocupado com o destino do seu rebanho, em função de tantas barbaridades que vêm ocorrendo nos últimos tempos. O autor não perde a oportunidade de citar alguns dos maiores e piores conflitos, verdadeiros flagelos, que vêm abalando a paz mundial, ultimamente, ocupando as manchetes dos órgãos de comunicação do mundo inteiro. Essas referências servem para ligar a luz amarela em nossos corações e mentes. Acho muito interessante, e valorizo bastante, a fertilidade de imaginação de um consagrado escritor, que consegue pensar num encontro inusitado entre dois personagens tão distantes, no tempo, e tão próximos em comportamento, índole e atitudes. O Santo, que abdicou de toda a riqueza da família, para se dedicar a socorrer os pobres, dar-lhes total assistência, cuidar de quem era invisibilizado; e um Papa, que é um exemplo de acolhimento, um homem que vive o evangelho em sua essência, que acolhe os vulneráveis e se posiciona, para construir um mundo de paz, que se preocupa tanto com o seu semelhante, a ponto de mandar construir uma lavanderia, em pleno Vaticano, para ajudar a dar um pouco de dignidade aos desfavorecidos.


(Gabriel Chalita - foto: fonte desconhecida.)


 

O “santo” encontro é um tanto efêmero, mas dura exatamente o tempo necessário para que os dois personagens troquem pensamentos que geram reflexões, as quais, também, indiretamente, são propostas ao público. O autor explora o lado humano dos dois personagens e, também, a sua fraqueza, como seres humanos que são. O espetáculo não se apresenta como um mero veículo para entreter. Sua proposta vai muito além disso. É um convite a uma transformação interior de cada um dos que assistem a ele.

 

 

 

FERNANDO FHILBERT marca mais um ponto positivo em sua carreira de direção, apostando no texto e no talento da dupla de atores. Sendo assim, passa-nos a impressão de que permitiu que tudo fluísse com bastante naturalidade e leveza, a partir do talento dos atores. PHILBERT, gaúcho, radicado, há mais de 30 anos no Rio de Janeiro, começou sua carreira como assistente de direção de figuras tarimbadas do TEATRO, como Domingos Oliveira, Aderbal Freire-Filho e Gilberto Gawronski. Atualmente, é um dos diretores mais atuantes da cena carioca, já colecionando vários sucessos e indicações a prêmios de TEATRO, alguns conquistados, desde quando assumiu as rédeas da direção, com as bênçãos do trio de grandes mestres.  

 

 


(Fernando Philbert. Foto: fonte desconhecida.)


A cenografia, assinada por NATÁLIA LANA, resume-se à realista reprodução de uma simples lavanderia, com seis máquinas de lavar roupa, em ação, ao fundo, de vez em quando, ligadas, cestos de roupas e dois bancos de madeira. Não era mesmo necessário haver mais nada naquele ambiente simples e funcional. 

 

 

 

KAREN BRUSTTOLIN desenhou figurinos adequados aos dois personagens: para o Francisco, Chefe da Igreja Católica Apostólica Romana, a tradicional roupa de um Papa, com todos os detalhes e adereços, traje muito elegante e bem talhado, costurado com requinte; e uma veste simples, meio “andrajosa”, para o “santo dos pobres”, o padroeiro dos animais e da Natureza.

 

 

 

Sempre presente, na equipe de FERNANDO PHILBERT, VILMAR OLOS preparou uma luz simples e funcional, sem muitas firulas, dentro do espírito geral da montagem.

 

 

A encenação conta com uma agradável trilha sonora e a utilização de ruídos que reproduzem o barulho das máquinas de lavar roupa em serviço e outros, externos, os quais, vez por outra, parecem ter sido propositais, para provocar os dois personagens a falar mais alto, a fim de que suas mensagens e ensinamentos cheguem aos receptores pretendidos e não fiquem no ar, inaudíveis e “indecodificáveis” (Acabei de criar um neologismo, dado que o vocábulo não está registrado, ainda, oficialmente, no VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicação oficial de ABL – Academia Brasileira de Letras.).

 

 

Considero acertadíssima a escolha do elenco. Constatei, entre os dois atores, um perfeito entrosamento, ratificando o que já sabia, ou seja, que poderia encontrar naquele palco, por uma informação que consta no “release” da peça, a mim enviado por MÁRIO CAMELO (Prisma Colab – Assessoria de Imprensa). Lá, havia uma destacável referência à “química” que passou a existir entre PAULO GORGULHO e CÉSAR MELLO, desde os primeiros ensaios, lembrando que os dois nunca haviam trabalhado juntos anteriormente.

 

 

 

O Papa Francisco de PAULO GORGULHO é impecável. Uma interpretação comedida, “dentro das quatro linhas”. O ator consegue dosar muito bem as emoções do personagem, mesmo num determinado momento em que parece perder o controle delas, ao perceber que o futuro da Humanidade é digno de muito receio e preocupação. Até meio “exasperado”, o personagem transpira serenidade e paz. Um excelente trabalho! Gostaria de ver GORGULHO mais vezes no TEATRO, já que, para mim, pelo menos, morador do Rio de Janeiro (Ele reside em São Paulo.), só conhecia, e sempre admirei, suas criações na TV, quando eu tinha tempo para assistir a elas, ou em duas ou três produções cinematográficas (Costumo ser meio “bissexto” para o cinema.)

 

 

 

Já com relação a CÉSAR MELLO, dá-se o contrário. Creio nunca tê-lo visto na telinha ou na telona – Não me lembro disso. -, porém, em compensação, já assisti a várias peças em que ele atuou, musicais, por excelência, e sempre aplaudi todas as suas criações, dentre aquelas das quais me lembro, como em “Hair” (2010), “Mudança de Hábito” (2015), “Wicked” (2016 – primeira montagem brasileira), “Dona Ivone Lara: Um Sorriso Negro” (2018/2019), “Uma Linda Mulher” (2023) e, principalmente, quando interpretou o icônico personagem Mufasa, em “O Rei Leão da Broadway”, na primeira montagem da peça no Brasil (2013/2014). É a primeira vez que o vejo atuando num espetáculo que não seja musical – O ator domina as três áreas de atuação exigidas nos musicais: canto, dança e interpretação. - e gostei muito do seu trabalho. MELLO nos brinda com um São Francisco de Assis leve e, em alguns momentos, divertido também.

 

 

 

FICHA TÉCNICA: 

Idealização: Gabriel Chalita

Texto: Gabriel Chalita

Direção: Fernando Philbert

 

Elenco: Paulo Gorgulho e César Mello

 

Cenografia: Natália Lana

Figurino: Karen Brusttolin

Desenho de Luz: Vilmar Olos

Trilha Sonora: Gui Leal 

“Design” Gráfico: Igor Gabriel Paz

Operação de Luz: Thayssa Carvalho

Operação de Som: André Vieri

Camareira: Rita Vasconcelos

Direção de Produção: Guilherme Logullo

Produção Executiva: Manu Hashimoto

Assistência de Direção / Produção: Renata Ricci

Fotos: Guilherme Logullo

Assessoria de Imprensa: Prisma Colab  

Realização: Luar de Abril

 


 


 

 


SERVIÇO: 

Temporada: De 15 de abril a 05 de maio de 2024.

Local: Teatro Laura Alvim (Casa de Cultura Laura Alvim).

Endereço: Avenida Vieira Souto, nº 176, Ipanema – RJ.

Telefone: (21) 2332-2016.

Dias e Horários: sexta-feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada).

Vendas “online”https://riocultura.eleventickets.com/#!/evento/b387a5281522ecf99f3cf2ae482409e120ecf8a7 

Duração: 70 minutos.

Capacidade: 190 lugares.

Indicação Etária: Livre.

Gênero: Drama.

 


 


       Embora eu não tivesse percebido, terminado o espetáculo, no já citado “release”, consta uma afirmação que passei a aceitar: O local (lavanderia) torna-se, então, uma espécie de metáfora, representando um espaço em que as dores da humanidade precisam ser, de certa forma, lavadas.”.

 

 

 

         Antes que alguém possa estar tirando alguma conclusão equivocada, acerca da temática do espetáculo, “...não é uma peça sobre uma religião; é uma peça sobre humanidade, sobre o amor que liga as pessoas ou sua ausência, que traz tantas sujeiras”. Tranquilizem-se, pois não há nenhuma intenção em “catequizar” o público. E não percam esta produção, que eu RECOMENDO MUITO. E, aos amigos de São Paulo, a feliz notícia de que, no próximo dia 10 de maio, o espetáculo faz sua estreia na capital paulista, como mostra a arte abaixo:


 

 

 

FOTOS: GUILHERME LOGULLO








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