“ENTRE
FRANCISCOS -
O SANTO E O
PAPA”
ou
(SANTIDADE
EM DOSE DUPLA.)
Uma peça à
qual não pude assistir, por dificuldade de acesso, para mim, ao local onde foi
encenada, o Teatro Domingos de Oliveira (Planetário da Gávea), quando
apresentada, recentemente, pela primeira vez, voltou ao cartaz, emplacou uma
segunda temporada, no Teatro Laura Alvim, dentro da Casa
de Cultura Laura Alvim, e vai assim permanecer até o próximo dia 5 de
maio, retratando um imaginário, insólito e utópico encontro entre o Papa
Francisco e São Francisco de Assis.
SINOPSE:
Inicia-se o espetáculo com o Papa
Francisco (PAULO GORGULHO),
aparentando cansaço físico, menos do que lhe pesam os problemas da Humanidade,
entrando numa lavanderia, no Vaticano, que ele mesmo mandara
construir, para atender às necessidades da população
de rua, e lá encontra um homem.
Logo ao entrar, percebe que há o homem olhando
para uma das máquinas de lavar, parecendo aguardar que seja concluída
uma operação de lavagem.
Inicia-se um diálogo entre eles.
As respostas do homem são inspiradoras,
como os textos de São Francisco de Assis.
O homem que aguarda, aparentemente um sem-teto, canta algumas
músicas de Francisco.
Inicialmente, o Papa não percebe, mas esse homem é o próprio São Francisco de Assis (CÉSAR MELLO).
O Papa imagina ser impossível tal encontro, porém, aos poucos, o diálogo entre essas duas icônicas figuras vai revelando dores, incertezas, mas também amores, fé e reflexões sobre os grandes dilemas do cotidiano atual, no mundo.
Todos sabemos que há muitos pontos em comum, com relação aos dois personagens da peça. Um deles é que o personagem Papa retrata a sensibilidade do Papa Francisco, amplamente conhecida, e o seu incondicional amor ao próximo, principalmente se forem os mais vulneráveis, mesmo sentimento que marcou a passagem de Francisco de Assis pela Terra, ainda que, em vida, tivesse sofrido reprimendas da Igreja Católica, uma vez que, no início da juventude, dedicou-se a uma vida irrequieta e mundana, com espaço para a indisciplina e extravagâncias, paixão pelas aventuras, pelas roupas da moda e pela bebida, e por sua liberalidade com o dinheiro, embora sempre mostrasse ter uma índole bondosa.
A conversa
entre os dois personagens gira em torno de teorias e reflexões de cunho filosófico
acerca da condição humana; uma radiografia do ser humano, do comportamento do
homem de hoje, por assim dizer. Por meio do ótimo texto de GABRIAL CHALITA, o público é convidado, pelos dois personagens, a
participar, com eles, daquele colóquio e refletir, juntos, sobre questões
pungentes dos tempo atuais. Apesar da seriedade do tema e do dito “cunho
folosófico”, o texto, muito bonito e bem escrito, características da
obra de CHALITA, está ao alcance de
qualquer pessoa, para rápido e total entendimento. No seu decorrer, cada vez
mais, vai ficando bem claro o lado humano dos dois personagens. Mais do que São Francisco
– pareceu-me – o Papa se mostra muito cético e preocupado com o destino do seu
rebanho, em função de tantas barbaridades que vêm ocorrendo nos últimos tempos.
O autor não perde a oportunidade de citar alguns dos maiores e piores conflitos, verdadeiros flagelos, que vêm abalando a paz mundial, ultimamente, ocupando as manchetes dos órgãos
de comunicação do mundo inteiro. Essas referências servem para ligar a luz
amarela em nossos corações e mentes. Acho muito interessante, e valorizo
bastante, a fertilidade de imaginação de um consagrado escritor, que consegue
pensar num encontro inusitado entre dois personagens tão distantes, no tempo, e
tão próximos em comportamento, índole e atitudes. O Santo, que abdicou de
toda a riqueza da família, para se dedicar a socorrer os pobres, dar-lhes total
assistência, cuidar de quem era invisibilizado; e um Papa, que é um exemplo de
acolhimento, um homem que vive o evangelho em sua essência, que acolhe os
vulneráveis e se posiciona, para construir um mundo de paz, que se preocupa
tanto com o seu semelhante, a ponto de mandar construir uma lavanderia, em
pleno Vaticano, para ajudar a dar um pouco de dignidade aos
desfavorecidos.
(Gabriel Chalita - foto: fonte desconhecida.)
O “santo”
encontro é um tanto efêmero, mas dura exatamente o tempo necessário para que os
dois personagens troquem pensamentos que geram reflexões, as quais, também,
indiretamente, são propostas ao público. O autor explora o lado humano dos dois
personagens e, também, a sua fraqueza, como seres humanos que são. O espetáculo
não se apresenta como um mero veículo para entreter. Sua proposta vai muito
além disso. É um convite a uma transformação interior de cada um dos que
assistem a ele.
FERNANDO
FHILBERT marca mais um ponto positivo em sua carreira de direção, apostando
no texto e no talento da dupla de atores. Sendo assim, passa-nos a
impressão de que permitiu que tudo fluísse com bastante naturalidade e leveza, a partir do talento dos atores. PHILBERT, gaúcho,
radicado, há mais de 30 anos no Rio de Janeiro, começou
sua carreira como assistente de direção de figuras tarimbadas do TEATRO,
como Domingos Oliveira, Aderbal Freire-Filho e Gilberto
Gawronski. Atualmente, é um dos diretores mais atuantes da cena
carioca, já colecionando vários sucessos e indicações a prêmios de TEATRO, alguns conquistados, desde quando assumiu as rédeas da direção, com as bênçãos do trio de
grandes mestres.
A
cenografia, assinada por NATÁLIA LANA,
resume-se à realista reprodução de uma simples lavanderia, com seis máquinas de
lavar roupa, em ação, ao fundo, de vez em quando, ligadas, cestos de
roupas e dois bancos de madeira. Não era mesmo necessário haver mais nada naquele
ambiente simples e funcional.
KAREN
BRUSTTOLIN desenhou figurinos adequados aos dois personagens: para o Francisco,
Chefe
da Igreja Católica Apostólica Romana, a tradicional roupa de um Papa,
com todos os detalhes e adereços, traje muito elegante e bem talhado, costurado
com requinte; e uma veste simples, meio “andrajosa”, para o “santo
dos pobres”, o padroeiro dos animais e da Natureza.
Sempre
presente, na equipe de FERNANDO PHILBERT,
VILMAR OLOS preparou uma luz
simples e funcional, sem muitas firulas, dentro do espírito geral da montagem.
A encenação conta com uma agradável trilha sonora e a utilização de ruídos que reproduzem o barulho das máquinas de lavar roupa em serviço e outros, externos, os quais, vez por outra, parecem ter sido propositais, para provocar os dois personagens a falar mais alto, a fim de que suas mensagens e ensinamentos cheguem aos receptores pretendidos e não fiquem no ar, inaudíveis e “indecodificáveis” (Acabei de criar um neologismo, dado que o vocábulo não está registrado, ainda, oficialmente, no VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicação oficial de ABL – Academia Brasileira de Letras.).
Considero
acertadíssima a escolha do elenco. Constatei, entre os dois atores, um perfeito
entrosamento, ratificando o que já sabia, ou seja, que poderia encontrar
naquele palco, por uma informação que consta no “release” da peça, a mim
enviado por MÁRIO CAMELO (Prisma Colab – Assessoria de Imprensa).
Lá, havia uma destacável referência à “química” que passou a existir entre
PAULO GORGULHO e CÉSAR MELLO, desde os primeiros
ensaios, lembrando que os dois nunca haviam trabalhado juntos anteriormente.
O Papa
Francisco de PAULO GORGULHO é impecável. Uma interpretação
comedida, “dentro das quatro linhas”. O ator consegue dosar muito bem as
emoções do personagem, mesmo num determinado momento em que parece perder o
controle delas, ao perceber que o futuro da Humanidade é digno de
muito receio e preocupação. Até meio “exasperado”, o personagem transpira
serenidade e paz. Um excelente trabalho! Gostaria de ver GORGULHO mais vezes no TEATRO, já que, para mim, pelo
menos, morador do Rio de Janeiro (Ele reside em São Paulo.), só conhecia, e
sempre admirei, suas criações na TV, quando eu tinha tempo para assistir a
elas, ou em duas ou três produções cinematográficas (Costumo ser meio “bissexto” para
o cinema.).
Já com relação a CÉSAR MELLO, dá-se o contrário. Creio nunca tê-lo
visto na telinha ou na telona – Não me lembro disso. -, porém, em compensação,
já assisti a várias peças em que ele atuou, musicais, por excelência,
e sempre aplaudi todas as suas criações, dentre aquelas das quais me lembro, como
em “Hair”
(2010), “Mudança de Hábito” (2015), “Wicked” (2016 – primeira montagem
brasileira), “Dona Ivone Lara: Um Sorriso Negro” (2018/2019),
“Uma
Linda Mulher” (2023) e, principalmente, quando interpretou o icônico personagem
Mufasa,
em “O
Rei Leão da Broadway”, na primeira montagem da peça no Brasil
(2013/2014). É a primeira vez que o vejo atuando num espetáculo que
não seja musical – O ator domina as três áreas de atuação exigidas nos musicais: canto,
dança e interpretação. - e gostei muito do seu trabalho. MELLO nos brinda com um São
Francisco de Assis leve e, em alguns momentos, divertido também.
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Gabriel Chalita
Texto: Gabriel Chalita
Direção: Fernando Philbert
Elenco: Paulo Gorgulho e César Mello
Cenografia: Natália Lana
Figurino: Karen Brusttolin
Desenho de Luz: Vilmar Olos
Trilha Sonora: Gui Leal
“Design” Gráfico: Igor Gabriel Paz
Operação de Luz: Thayssa Carvalho
Operação de Som: André Vieri
Camareira: Rita Vasconcelos
Direção de Produção: Guilherme Logullo
Produção Executiva: Manu Hashimoto
Assistência de Direção / Produção: Renata Ricci
Fotos: Guilherme Logullo
Assessoria de Imprensa: Prisma Colab
Realização:
Luar de Abril
SERVIÇO:
Temporada:
De 15 de abril a 05 de maio de 2024.
Local: Teatro
Laura Alvim (Casa de Cultura Laura Alvim).
Endereço:
Avenida Vieira Souto, nº 176, Ipanema – RJ.
Telefone:
(21) 2332-2016.
Dias e Horários:
sexta-feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h.
Valor dos
Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada).
Vendas “online”: https://riocultura.eleventickets.com/#!/evento/b387a5281522ecf99f3cf2ae482409e120ecf8a7
Duração:
70 minutos.
Capacidade:
190 lugares.
Indicação
Etária: Livre.
Gênero:
Drama.
Embora eu não tivesse percebido, terminado o espetáculo, no já citado “release”, consta uma afirmação que passei a aceitar: “O local (lavanderia) torna-se, então, uma espécie de metáfora, representando um espaço em que as dores da humanidade precisam ser, de certa forma, lavadas.”.
Antes
que alguém possa estar tirando alguma conclusão equivocada, acerca da temática
do espetáculo, “...não é uma peça sobre uma religião; é uma peça sobre humanidade,
sobre o amor que liga as pessoas ou sua ausência, que traz tantas sujeiras”.
Tranquilizem-se, pois não há nenhuma intenção em “catequizar” o público. E não
percam esta produção, que eu RECOMENDO MUITO. E, aos amigos de São Paulo, a feliz notícia de que, no próximo dia 10 de maio, o espetáculo faz sua estreia na capital paulista, como mostra a arte abaixo:
FOTOS:
GUILHERME LOGULLO
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
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