“CLAUSTROFOBIA”
OU
(O QUE EU
SEMPRE ESPERO VER QUANDO VOU AO TEATRO.)
Ninguém
sai de casa, para ir ao Teatro, esperando assistir a um
espetáculo “capenga”, aborrecer-se e lamentar o tempo perdido. Sempre que
vou, carrego comigo a certeza de que não deixarei a sala de espetáculo frustrado,
para dizer o mínimo. Mas é do jogo; às vezes, não há como não fugir do arrependimento,
por ter ido, e da procura por uma “penitência”, para expiar, por não ter
feito uma escolha certa. Não sou adivinho; se o fosse, teria aproveitado melhor
muitas preciosas horas da minha vida. Ontem, assistindo à penúltima sessão, INFELIZMENTE,
do monólogo “CLAUSTROFOBIA”, no Teatro
III do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Rio de Janeiro, voltei
para casa como sempre gostaria de que acontecesse: em total “estado de graça”,
agradecendo, a quem quer que seja, pela possibilidade de me emocionar muito. No
caso dos agradecimentos de ontem, além de a todos os fabulosos profissionais
que fazem parte da FICHA TÉCNICA do
espetáculo, reservo alguns aos DEUSES DO TEATRO, os quais, de vez
em quando, é verdade, acho que para testar a minha fidelidade às ARTES
CÊNICAS, me carregam para cada “furada”, e para PAULA CATUNDA (assessoria de imprensa).
SINOPSE:
“CLAUSTROFOBIA” reúne um ascensorista, uma
executiva ambiciosa e um porteiro que sonha em ser policial.
Pressionados pelo sistema, os três personagens se
cruzam dentro de um prédio empresarial, no centro de uma metrópole brasileira.
O solo estabelece um jogo cênico dinâmico, que
transita entre a estranheza e o humor.
Através de três vidas que se entrelaçam, a peça expõe
o isolamento e a alienação da vida urbana atual.
O prédio onde se passa a história é um microcosmo das relações
trabalhistas, humanas e sociais do país.
O espetáculo parte de uma circunstância em que essas
questões são não apenas a base das relações interpessoais, mas até definitivas
para como os personagens enxergam a si próprios e julgam o outro.
“CLAUSTROFOBIA”, que não trata de pessoas trancadas dentro de um elevador, por conta de alguma pane, como era de se pensar, e MÁRCIO VITO se merecem. Foram feitos um para o outro. Um espetáculo
impecável, para comemorar os 30 anos de bons serviços prestados ao TEATRO
BRASILEIRO de um dos melhores atores que conheço no Brasil
e que, apesar de ser bastante reconhecido e respeitado, por seus pares e pelos
amantes do bom TEATRO, ainda não ocupa um lugar de destaque, de que é
merecedor, na galeria dos grandes atores deste país. Talvez seja –
aliás, com certeza – pelo fato de não ter uma grande visibilidade, por pouco
atuar na telinha. MÁRCIO também tem
uma considerável carreira no cinema, mas é, essencialmente, um ATOR
DE TEATRO, conhecido, portanto, por um público mais restrito. Não é tão
frequente ver, em cena, um ator que se joga de cabeça num personagem – no caso
em tela, três – de forma tão íntegra, profissional, competente e profunda. Traduzo, dessa forma, minha admiração por seu precioso trabalho, evitando contrariar os “patrulheiros de plantão”, que se
arrepiam diante do adjetivo “VISCERAL”, que EU ADORO E ACHO PRECISO E O MAIS
APLICÁVEL A ALGUMAS RARAS ATUAÇÕES. É fascinante, nesta peça, o trato
que ele dá à desconstrução de um personagem para, imediatamente, entrar em
outro, armando-se de máscaras faciais e posturas corporais precisas. Trata-se
de um ator muito premiado, e não foram poucas as vezes que tive a oportunidade
de aplaudi-lo tão efusivamente, como ontem. Jamais me esquecerei, por exemplo,
de seu marcante trabalho em “Incêndios”, uma OBRA-PRIMA, dirigida pelo saudoso
diretor Aderbal Freire-Filho. Em “CLAUSTROFOBIA”,
MÁRCIO é milimétrico, em detalhes,
na construção e representação das três personas, de maneira comedida, sem
nenhum excesso.
(Márcio Vito.)
ROGÉRIO CORRÊA nos proporciona uma “aula-show”
de dramaturgia,
com um texto “enxuto”, dito em justos 60 minutos de duração, porém com uma
profundeza indescritível e uma excepcional estrutura dramatúrgica poucas vezes
reconhecida por mim, num palco. É digna de todos os elogios a construção de seu
arco
dramático, que consiste na “progressão de conflitos que o protagonista atravessa, transformando-se,
a cada etapa, até chegar ao ponto mais crítico da jornada, descendendo, finalmente,
em direção à resolução da história”. O autor foi muito feliz na escolha e construção dos três personagens,
na consistência e nas particularidades das personalidades do trio, e na maneira
como trança suas idiossincrasias, utilizando um humor ácido, característico de sua dramaturgia.
(Rogério Corrêa.)
Em cena, três vidas
totalmente estranhas, uns aos outros personagens, mas que, no fundo, convergem
para um mesmo ponto. Trata-se de um trio comprimido entre o elevador e a
portaria de um prédio de escritórios. Marcelino é um personagem
encontrado, à farta, nas principais metrópoles do Brasil: migrante do
interior - mais propriamente, do nordeste -, é tímido, introvertido e trabalha
como ascensorista, para mandar dinheiro para casa. Quem não conhece um “marcelino”,
que seja? Conheci, e conheço, dezenas deles. Ele passa seus dias enclausurado, descendo
e subindo, dentro de uma caixa metálica, sem se dar conta de que é totalmente
dispensável, em seu labor, e sem maiores aspirações na vida, lutando apenas por
sobreviver, com o mínimo de dignidade, na “selva de pedra” de uma grande
cidade. Stella é uma executiva ambiciosa, uma espécie de “coach”
de si mesma, que está começando em um novo emprego. Preocupa-se, invariavelmente,
com sua aparência e a passar, aos outros, uma imagem que não corresponde, na
verdade, à sua real essência. Vive presa a uma autocobrança, pressão que coloca
sobre si mesma, para atingir ou cumprir uma determinada tarefa de forma
perfeita, conforme as expectativas que ela mesma estabeleceu, representada por
uma espécie de “alter ego”, que tenta corrigi-la, a cada nova espontânea “escorregada
e fraqueza”. O ser humano não pode sair da personagem criada por ela
mesma. Por último, porém não menos importante, o porteiro Webberson, o qual, da
portaria, controla tudo, até mesmo a música que toca no elevador, e seu volume, só para infernizar, deliberadamente, a vida do colega de trabalho. Ele sonha em
ser policial e ter em mãos uma arma que lhe traga “poder” – a
arma seria o “passaporte”, o “salvo-conduto” para o “poder”, um pensamento
esdrúxulo de uma boa parte dos policiais brasileiros - embora, do alto
de sua “importantíssima função”, ele já se julgue o “dono
do pedaço”, aquele que detém o poder de regular, comandar, reger e
regulamentar vidas alheias, as quais “dependem” dele. Os três não poupam
julgamentos, uns aos outros, com o indicadores apontando alguém, esquecendo-se
da velha máxima de que, ao fazer isso, os quatro outros dedos se voltam para si
mesmos.
Segundo MÁRCIO VITO, “o texto põe uma lupa nos pensamentos e
preconceitos que separam as personagens em classes às quais eles julgam pertencer,
que, realmente, são diferentes, entre si, mas eles apenas se imaginam mais
distantes uns dos outros do que de fato estão”, o que, de verdade,
facilmente está expresso no texto. E o diretor, de forma muito precisa, arrematata: “Esses três personagens se esbarram num mesmo contexto arquitetônico,
que é um prédio típico de centro empresarial. Se nos aprofundarmos um pouco
mais, as situações acontecem em torno do ascensorista, que está dentro do
elevador. São representações de um sistema traduzido pela arquitetura de um
prédio. A partir daí, vamos entendendo as humanidades”.
Como diretor, CESAR AUGUSTO ratifica a minha teoria de
que não é preciso ser ator para se tornar um bom diretor, e vice-versa, porém,
quando, antes de dirigir, o diretor também atua, parece-me que sua função de “maestro”
do espetáculo é melhor desenvolvida. Ótimo ator, ele carrega, para as suas direções,
a experiência de décadas de atuação e também é destaque, nas FICHAS
TÉCNICAS, como diretor, em espetáculos
premiadíssimos, como, por exemplo, “A Tropa”, em cartaz há sete anos, “Cerca
Viva” e “Julius Caesar – Vidas Paralelas”, para citar apenas os trabalhos
mais recentes. Em “CLAUSTROFOBIA”,
ele abusou do direito de esmiuçar um brilhante texto, decodificando-o ao extremo,
e de explorar todo o potencial de um ator do gabarito de MÁRCIO VITO. Suas marcações e resoluções de cenas são magistrais.
(Cesar Augusto.)
Quando, por total felicidade,
e competência,
principalmente, todos os artistas da FICHA TÉCNICA “acertam a mão”, o
resultado não pode ser outro: sucesso de crítica e de público,
este o mais importante: sessões com lotação esgotada e muitas pessoas em filas,
aguardando desistências, e/ou voltando para casa, por falta de lugares.
Já tendo feito uma análise
crítica, a meu juízo, do excepcional texto, da acurada
direção e da magnífica atuação, ressalto a
simplicidade e a pujança de uma cenografia integralmente a serviço
da montagem. Não consigo imaginar nada melhor do que pensaram BELI ARAUJO e CESAR AUGUSTO: um cubo, vazado em todos os lados, pendurado, a uma
altura de cerca de 10cm do piso, representando um elevador, que se presta a uma
estonteante surpresa, ao final da peça, “spoiler” que me recuso a dar e que
tem um significado muito expressivo e pertinente ao texto.
Os dois cenógrafos também
assinam o figurino único da peça, o qual se ajusta aos três personagens,
ainda que sejam dois homens e uma mulher, permitindo, ao espectador, “enxergar”
o que lá não está, como complementos e uniformes. É um traje neutro, na forma
de um macacão estilizado, que funciona muito bem na encenação.
E com que maestria ADRIANA ORTIZ ilumina a peça, com um desenho
de luz dos melhores que conheci nos últimos tempos! Uma iluminação
bem setorizada, branca, pondo em destaque as áreas de atuação em cada cena. Os
recortes de luz, nesta peça, são uma atração à parte. O mesmo posso dizer com
relação ao cuidadoso e belo trabalho de ANDRÉ
POYART, na criação de uma trilha
sonora original, indispensável ao espetáculo. Da mesma forma como me referi
à cenografia,
não posso pensar na falta daquela trilha, para o brilho do
espetáculo. Injusto eu seria, se não mencionasse, de forma elogiosa, o trabalho
de ANDREA MACIEL, responsável por um
corretíssimo trabalho de direção de movimento, que exige
muito do ator e que o auxilia na coroação de seu trabalho.
Preciso dizer, para
terminar, que o projeto foi idealizado por ROGÉRIO
CORRÊA, estreante, no Rio de Janeiro, em espetáculo presencial.
Ele está radicado em Londres, há 30 anos, com algumas
breves passagens pelo Brasil, durante esse tempo. Veio para
o Rio
de Janeiro, onde se encontra até hoje, para acompanhar os detalhes da
montagem de sua peça. Tive o prazer de conhecê-lo, pessoalmente, ontem. Apreciador
de seu trabalho – Durante a pandemia de COVID-19, já havia assistido, virtualmente, a trabalhos
seus, como “Entre Homens”, também dirigido por CESAR AUGUSTO. – acrescento
que ROGÉRIO tem preferência por temas
políticos e polêmicos e teve a ideia de escrever “CLAUSTROFOBIA” em 2009, durante uma temporada no Rio.
Segundo ele, a a motivação para a peça surgiu quando percebeu que, no Brasil,
ainda havia muito ascensorista trabalhando e descobriu que, para si, “aquele
trabalho era uma metáfora da alienação do capitalismo, do trabalho contemporâneo”. CORRÊA trabalha, em Londres,
como roteirista, pela Universidade Goldsmiths, com várias
premiações na Inglaterra.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Rogério
Corrêa
Direção: Cesar
Augusto
Ator: Márcio
Vito
Cenário e Figurino:
Cesar Augusto e Beli Araujo
Iluminação:
Adriana Ortiz
Trilha Sonora Original: André Poyart
Assistente de
Direção: João Gofman
Direção de Movimento:
Andrea Maciel
Assistente de
Iluminação: Jandir Ferrari
Assessoria de Imprensa:
Paula Catunda
Fotografias:
Nil Caniné
Redes Sociais:
Rafael Teixeira
“Designer” Gráfico: Rita
Ariani
Produção: Malu
Costa
Assistente de
Produção: Rômulo Chindelar
“Controller”: Cristiane
Cavalcante
Contabilidade:
Mauro de Santana
Realização:
Treco Produções
SERVIÇO:
Temporada: De 07
de março a 14 de abril de 2024.
Local: Centro
Cultural Banco do Brasil (CCBB) – RJ – Teatro III.
Endereço: Rua
Primeiro de Março, nº 66 – Centro (Candelária) – RJ.
Dias e Horários:
De 5ª feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Informações:
(21) 3808-2020 | ccbbrio@bb.com.br
Valor dos Ingressos:
R$30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada).
(Estudantes,
maiores de 65 anos e Clientes Ourocard pagam meia-entrada.)
Bilhetes
disponíveis na bilheteria do CCBB ou pelo site bb.com.br/cultura
Funcionamento
da Bilheteria: De 4ª a 2ª feira, das 9h às 20h (Fechado às 3ªs feiras).
Capacidade
Teatro III: 86 lugares.
Classificação
Etária: 16 anos.
Duração: 60
minutos.
Gênero: Drama.
E o que
mais dizer sobre esta peça, que, INFELIZMENTE, encerra sua temporada
hoje, ainda que eu tenha esperança de que volte em outros Teatros maiores? Que tudo
nela é protagonismo e que é um dos melhores espetáculos a que já
assisti até agora, neste ano de 2024. Se voltar ao cartaz, irei
revê-lo, É uma peça que recomendo a quem sabe apreciar um TEATRO de qualidade.
FOTOS: NIL
CANINÉ
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E
SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA
QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
Nenhum comentário:
Postar um comentário