“PIERRÔ DO
MÉIER
- 3 CRÔNICAS
DE
NELSON
RODRIGUES”
ou
(UM/O NELSON
RODRIGUES
AO QUAL NÃO
POUPO APLAUSOS.)
Encerrei
muito bem o meu ano teatral de 2023, assistindo, na última
quarta-feira (20/12/2023), ao monólogo “PIERRÔ
DO MÉIER”, no Teatro Glauce Rocha, um
espetáculo constituído por três crônicas da série “A vida Como Ela É...”,
um vasto conjunto de textos produzidos por Nelson Rodrigues, na segunda metade
do século XX. Apesar de não terem sido escritas para o TEATRO,
as três crônicas possuem alta dramaticidade, narrativas ágeis e humor peculiar.
Os três textos são “A Troca”, “O Monstro” e “Flor de Laranjeira”,
reunidos, dramaturgicamente e de forma esplêndida, num só, como um todo
indivisível.
Jamais escondi que não me alinho com
aqueles que idolatram Nelson Rodrigues, como um “gênio
da dramaturgia nacional”, restando-me apenas aplaudir 5
das suas 17 peças. Da mesma forma, jamais ocultei a minha enorme
admiração pelo cronista e pelo jornalista esportivo. Isso explica o subtítulo
desta crítica. Apesar de ter sido um escritor provocador, amado por uns e
odiado por outros, Nelson se dizia “um romântico” – lá à sua maneira, é verdade -,
uma pessoa que acreditava no amor, um verdadeiro “Pierrô do Méier”, segundo o próprio.
As três crônicas são deliciosas, como
quase todas as que escreveu e que já renderam outros ótimos espetáculos de TEATRO,
com um humor refinado e sofisticado, que faz com que o espectador ria, ou, até
mesmo, gargalhe, vez por outra, para, em segundos depois, se questionar: “Estou
rido disso por quê?”. Nélson, com sua maneira peculiar e
inimitável de escrever, nos leva a achar graça de tudo: do amor, da paixão, da
verdade, da traição, da honestidade, do patético... Deste, principalmente.
Depois de duas boas temporadas, este
ano, uma no Espaço Abu, em Copacabana, e outra no Teatro
Rogério Cardoso, dentro da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema,
Nelson
Rodrigues – Quem diria? – não acabou no Irajá, como a Greta
Garbo, na peça escrita pelo dramaturgo Fernando Mello e encenada
em 1973,
mas foi parar bem no Centro do Rio de janeiro. Eu já conhecia as três
crônicas, mas, até confirmar com a assessoria de imprensa do espetáculo, SHEILA GOMES, não tinha a certeza de
que foram transpostas para o palco na sua íntegra, o que me foi confirmado depois.
Não
me envergonho de dizer – muito pelo contrário, disso me orgulho – que
fico extremamente satisfeito quando vou assistir a uma peça, quase que “por
dever profissional”, sem muitas expectativas, para que o tombo cause
menos prejuízos, se ela não me agradar, e o que o palco me oferece é um bom
espetáculo, que aplaudo com muito gosto e me desperta a vontade de
recomendar o espetáculo ao maior número de pessoas possível. Foi o que ocorreu
com esta montagem.
Trata-se
de uma produção muito simples, “franciscana”, não se pode negar, erguida
com ínfimos recursos, o que, em absoluto, compromete sua boa qualidade. A falta
de dinheiro é amplamente compensada pela força como o espetáculo conseguiu chegar
às tábuas, fruto de talento profissional e muita garra e dedicação de gente
comprometida com o fazer teatral.
(Foto: Gilberto Bartholo.)
Sem
nenhuma “pirotecnia”, a cenografia, o figurino e a iluminação
cumprem seu papel de dar apoio ao texto e, principalmente, ao ator. Tanto o cenário
quanto o figurino vestido por PAULO
TRAJANO são frutos do trabalho de criação, a quatro mãos, de ELENA GAISSIONOK e do próprio TRAJANO. O primeiro resume-se
na utilização de poucos elementos cênicos: uma poltrona vermelha (Deve ser a
cor favorita de Nelson Rodrigues ou, pelo menos, me parece a que mais combina
com a sua obra.); um cabideiro de chão, com algumas peças de roupas; uma
cadeira; um pequeno tapete redondo; e uma luminária pendente. E precisava de
mais alguma coisa? Não!!! O segundo, embora eu tenha assistido ao espetáculo na
última fileira, por opção, já que me facilitava a acomodação, pareceu-me bem de
acordo com a época em que as histórias correm. E a iluminação, que muda com
pouca frequência, mas está sempre bem ajustada às premissas de cada cena ou
passagem de uma a outra, é assinada por THALES
PARADELA. Aprovo os três elementos de criação.
O
espetáculo recebeu uma criteriosa e criativa direção, bastante ajustada ao texto,
de ELENA GAISSIONOK. Não a conheço,
mas tive a impressão de que ela e TRAJANO
se conhecem tão bem, que devem dialogar apenas pelo olhar. A diretora utilizou
excelentes marcações, em cena, e conseguiu explorar, ao máximo, o imenso
talento interpretativo do ator, este, sem a menor sombra de dúvida, a grande “cereja
do bolo”, nesta encenação. As duas primeiras temporadas deste solo
aconteceram em duas salas muito acanhadas, que comportam um público bastante
reduzido – No Espaço Abu, 40 lugares; no Teatro Rogério Cardoso, 70. -,
diferente do Teatro Glauce Rocha, com seus 204 lugares, divididos em
plateia e balcão. Proporcionalmente à área destinada ao público, os espaços
cênicos, em ambos, eram muito tímidos, ao contrário do palco do atual Teatro.
Isso é de extrema relevância, porque direciona o trabalho da direção e a “performance”
do ator. Se as pessoas que assistiram ao monólogo antes, em algum dos espaços
anteriores, já gostaram dele – várias já me haviam feito relatos positivos sobre a peça
-, certamente, gostariam muito mais agora.
Se ainda estivesse
atuando como jurado de dois prêmios de TEATRO,
eu indicaria, sem pestanejar, o nome de PAULO TRAJANO
à premiação de melhor ator em monólogos. Acredito que, se ele se propusesse a
me “contar
aquelas histórias” na sala do meu apartamento, sem nenhum outro
recurso, que não fosse apenas o seu potencial artístico, eu o aplaudiria da
mesma forma. Fiquei impressionado, ao ver como ele consegue, fácil e naturalmente, prender a atenção de uma
plateia inteira e como ocupa, com maestria, o palco, locomovendo-se bastante, jamais
permitindo que o espetáculo perdesse o seu excelente ritmo. Que correta
expressão corporal e que fôlego! Como abandona um personagem e assume outro/a,
mudando de postura física e de voz! E de máscaras faciais! E que dicção! Um
grande trabalho de interpretação!
Autor: Nelson Rodrigues
Direção: Elena
Gaissionok
Atuação: Paulo Trajano
Cenografia: Elena
Gaissionok e Paulo Trajano
Figurino: Elena
Gaissionok e Paulo Trajano
Iluminação: Thales
Paradela
Programação Visual:
Aline Assumpção
Fotografia: Renato Neto
Assessoria de Imprensa: Sheila Gomes
Direção de Produção:
Claudio Calixto
Produção Executiva: Cláudio Calixto
Temporada: De 06 a 28 de
dezembro de 2023.
Local: Teatro Glauce
Rocha.
Endereço: Avenida Rio
Branco, nº 179 – Centro – Rio de Janeiro (Em frente à estação Carioca, do metrô, saída Rio Branco.).
Dias e Horários: Quartas
e quintas-feiras, às 19h.
Valor dos Ingressos: R$60,00
(inteira) e R$30,00 (meia-entrada).
Vendas na bilheteria do
Teatro e no “site” da Sympla (https://www.sympla.com.br)
Capacidade: 204 lugares.
Acessibilidade.
Duração: 70 minutos.
Classificação Etária: 16
anos.
Outras informações:
@Pierrodomeier / @calixtoproducoesrj
Gênero: Monólogo.
Encerrei meu ano teatral
de 2O23
em grande estilo, repito, com chave de ouro, assistindo a “PIERRÔ DO MÉIER”. Permita-se, também, ser merecedor desse prazer.
FOTOS: RENATO NETO
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A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
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Sensacional!!!! Paulo Trajano e equipe envolvida em sincronia perfeita!
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