sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

 

“PIERRÔ DO MÉIER

- 3 CRÔNICAS DE

NELSON RODRIGUES”

ou

(UM/O NELSON RODRIGUES

AO QUAL NÃO POUPO APLAUSOS.)





         Encerrei muito bem o meu ano teatral de 2023, assistindo, na última quarta-feira (20/12/2023), ao monólogo “PIERRÔ DO MÉIER”, no Teatro Glauce Rocha, um espetáculo constituído por três crônicas da série “A vida Como Ela É...”, um vasto conjunto de textos produzidos por Nelson Rodrigues, na segunda metade do século XX. Apesar de não terem sido escritas para o TEATRO, as três crônicas possuem alta dramaticidade, narrativas ágeis e humor peculiar. Os três textos são “A Troca”, “O Monstro” e “Flor de Laranjeira”, reunidos, dramaturgicamente e de forma esplêndida, num só, como um todo indivisível.




         Jamais escondi que não me alinho com aqueles que idolatram Nelson Rodrigues, como um “gênio da dramaturgia nacional”, restando-me apenas aplaudir 5 das suas 17 peças. Da mesma forma, jamais ocultei a minha enorme admiração pelo cronista e pelo jornalista esportivo. Isso explica o subtítulo desta crítica. Apesar de ter sido um escritor provocador, amado por uns e odiado por outros, Nelson se dizia “um romântico” – lá à sua maneira, é verdade -, uma pessoa que acreditava no amor, um verdadeiro “Pierrô do Méier”, segundo o próprio.



         As três crônicas são deliciosas, como quase todas as que escreveu e que já renderam outros ótimos espetáculos de TEATRO, com um humor refinado e sofisticado, que faz com que o espectador ria, ou, até mesmo, gargalhe, vez por outra, para, em segundos depois, se questionar: “Estou rido disso por quê?”. Nélson, com sua maneira peculiar e inimitável de escrever, nos leva a achar graça de tudo: do amor, da paixão, da verdade, da traição, da honestidade, do patético... Deste, principalmente.



         Depois de duas boas temporadas, este ano, uma no Espaço Abu, em Copacabana, e outra no Teatro Rogério Cardoso, dentro da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, Nelson Rodrigues – Quem diria? – não acabou no Irajá, como a Greta Garbo, na peça escrita pelo dramaturgo Fernando Mello e encenada em 1973, mas foi parar bem no Centro do Rio de janeiro. Eu já conhecia as três crônicas, mas, até confirmar com a assessoria de imprensa do espetáculo, SHEILA GOMES, não tinha a certeza de que foram transpostas para o palco na sua íntegra, o que me foi confirmado depois.



         Não me envergonho de dizer – muito pelo contrário, disso me orgulho – que fico extremamente satisfeito quando vou assistir a uma peça, quase que “por dever profissional”, sem muitas expectativas, para que o tombo cause menos prejuízos, se ela não me agradar, e o que o palco me oferece é um bom espetáculo, que aplaudo com muito gosto e me desperta a vontade de recomendar o espetáculo ao maior número de pessoas possível. Foi o que ocorreu com esta montagem.



         Trata-se de uma produção muito simples, “franciscana”, não se pode negar, erguida com ínfimos recursos, o que, em absoluto, compromete sua boa qualidade. A falta de dinheiro é amplamente compensada pela força como o espetáculo conseguiu chegar às tábuas, fruto de talento profissional e muita garra e dedicação de gente comprometida com o fazer teatral.


(Foto: Gilberto Bartholo.)


         Sem nenhuma “pirotecnia”, a cenografia, o figurino e a iluminação cumprem seu papel de dar apoio ao texto e, principalmente, ao ator. Tanto o cenário quanto o figurino vestido por PAULO TRAJANO são frutos do trabalho de criação, a quatro mãos, de ELENA GAISSIONOK e do próprio TRAJANO. O primeiro resume-se na utilização de poucos elementos cênicos: uma poltrona vermelha (Deve ser a cor favorita de Nelson Rodrigues ou, pelo menos, me parece a que mais combina com a sua obra.); um cabideiro de chão, com algumas peças de roupas; uma cadeira; um pequeno tapete redondo; e uma luminária pendente. E precisava de mais alguma coisa? Não!!! O segundo, embora eu tenha assistido ao espetáculo na última fileira, por opção, já que me facilitava a acomodação, pareceu-me bem de acordo com a época em que as histórias correm. E a iluminação, que muda com pouca frequência, mas está sempre bem ajustada às premissas de cada cena ou passagem de uma a outra, é assinada por THALES PARADELA. Aprovo os três elementos de criação.



         O espetáculo recebeu uma criteriosa e criativa direção, bastante ajustada ao texto, de ELENA GAISSIONOK. Não a conheço, mas tive a impressão de que ela e TRAJANO se conhecem tão bem, que devem dialogar apenas pelo olhar. A diretora utilizou excelentes marcações, em cena, e conseguiu explorar, ao máximo, o imenso talento interpretativo do ator, este, sem a menor sombra de dúvida, a grande “cereja do bolo”, nesta encenação. As duas primeiras temporadas deste solo aconteceram em duas salas muito acanhadas, que comportam um público bastante reduzido – No Espaço Abu, 40 lugares; no Teatro Rogério Cardoso, 70. -, diferente do Teatro Glauce Rocha, com seus 204 lugares, divididos em plateia e balcão. Proporcionalmente à área destinada ao público, os espaços cênicos, em ambos, eram muito tímidos, ao contrário do palco do atual Teatro. Isso é de extrema relevância, porque direciona o trabalho da direção e a “performance” do ator. Se as pessoas que assistiram ao monólogo antes, em algum dos espaços anteriores, já gostaram dele – várias já me haviam feito relatos positivos sobre a peça -, certamente, gostariam muito mais agora.



Se ainda estivesse atuando como jurado de dois prêmios de TEATRO, eu indicaria, sem pestanejar, o nome de PAULO TRAJANO à premiação de melhor ator em monólogos. Acredito que, se ele se propusesse a me “contar aquelas histórias” na sala do meu apartamento, sem nenhum outro recurso, que não fosse apenas o seu potencial artístico, eu o aplaudiria da mesma forma. Fiquei impressionado, ao ver como ele consegue, fácil e naturalmente, prender a atenção de uma plateia inteira e como ocupa, com maestria, o palco, locomovendo-se bastante, jamais permitindo que o espetáculo perdesse o seu excelente ritmo. Que correta expressão corporal e que fôlego! Como abandona um personagem e assume outro/a, mudando de postura física e de voz! E de máscaras faciais! E que dicção! Um grande trabalho de interpretação!     



 

 FICHA TÉCNICA:

Autor: Nelson Rodrigues

Direção: Elena Gaissionok

 

Atuação: Paulo Trajano

 

Cenografia: Elena Gaissionok e Paulo Trajano

Figurino: Elena Gaissionok e Paulo Trajano

Iluminação: Thales Paradela

Programação Visual: Aline Assumpção

Fotografia: Renato Neto

Assessoria de Imprensa: Sheila Gomes

Direção de Produção: Claudio Calixto

Produção Executiva: Cláudio Calixto

 

 




 

 SERVIÇO:

Temporada: De 06 a 28 de dezembro de 2023.

Local: Teatro Glauce Rocha.

Endereço: Avenida Rio Branco, nº 179 – Centro – Rio de Janeiro (Em frente à estação Carioca, do metrô, saída Rio Branco.).

Dias e Horários: Quartas e quintas-feiras, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$60,00 (inteira) e R$30,00 (meia-entrada).

Vendas na bilheteria do Teatro e no “site” da Sympla (https://www.sympla.com.br)

Capacidade: 204 lugares.

Acessibilidade.

Duração: 70 minutos.

Classificação Etária: 16 anos.

Outras informações: @Pierrodomeier / @calixtoproducoesrj

Gênero: Monólogo. 


 


         Encerrei meu ano teatral de 2O23 em grande estilo, repito, com chave de ouro, assistindo a “PIERRÔ DO MÉIER”. Permita-se, também, ser merecedor desse prazer.


 

 

FOTOS: RENATO NETO

 

 

 

 

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