terça-feira, 8 de agosto de 2023

“BÁRBARA”

ou

(TEATRO DE

UTILIDADE PÚBLICA.)

 


 




        Quem acha que o TEATRO só existe para entreter não faz ideia de quão importante ele pode ser, quando existe, no texto, o propósito de fazer uma crítica, denunciar algo errado, impróprio ou inadequado, que mereça ser tornado público, ou alertar as pessoas para situações que são extremamente danosas, que precisam ser evitadas e se tornar uma página virada, como é o caso do “alcoolismo”, tema central da peça “BÁRBARA”, em cartaz no Teatro XP, Rio de Janeiro, com uma ótima dramaturgia, de MICHELLE FERREIRA, “livremente inspirada” no livro “A SAIDEIRA: UMA DOSE DE ESPERANÇA, DEPOIS DE ANOS LUTANDO CONTRA A DEPENDÊNCIA, escrito pela jornalista BARBARA GANCIA, no qual, sem o menor pudor e imbuída do mais louvável gesto de chamar a atenção para o problema que a atingiu, por muito tempo, mais de três décadas, alertando seus leitores, a fim de que não caiam na armadilha dos fugazes “prazeres” que o álcool proporciona, ela se expõe, nua e cruamente. Ainda não li o livro, mas, depois do que vi no palco do “XP”, já fiz minha encomenda, pela internet. Gostei muito do espetáculo, ao qual, há muito tempo, eu vinha tentando assistir, em São Paulo, onde fez duas concorridas temporadas, em dois Teatros diferentes, sem alcançar êxito, por incompatibilidade de agendas, além de várias outras apresentações, em turnê. 



        No prefácio do livro, Ruy Castro, um célebre biógrafo, escreveu estas lindas palavras: “Há pessoas cujas vidas imploram para ser escritas. O problema é que, para que isso aconteça, essa pessoa precisa estar viva. E Barbara Gancia preferia flertar com a morte, a bordo de copos e mais copos, e ao volante de carros suicidas. Em sua fase de ‘esbórnia’, Barbara viveu vários filmes de ação, cheios de alçapões invisíveis, quedas no abismo e ataques de ratos. Mas nenhum tão emocionante quanto sua luta pela sobriedade. Um dia, finalmente, depois de muitas recaídas, Barbara conseguiu parar a história. O resultado é ‘A SAIDEIRA’, um livro que só ela poderia ter escrito. E cuja leitura encerra lições para todos nós, que, tantas vezes, achamos que os prazeres que a vida nos oferecia estavam sendo dados de graça.”. Como uma espécie de subtítulo, encontramos na capa do livro: Uma dose de esperança, depois de anos lutando contra a dependência”.



      A peça é um solo, idealizado e dirigido por BRUNO GUIDA, interpretado por MARISA ORTH, em comemoração a quatro décadas de dedicação à ARTE de representar. Reparem que quem escreveu o livro que deu origem à peça se chama “BARBARA”, enquanto o título da peça é “BÁRBARA”. Notaram a diferença nas duas grafias? Por se tratar de um proparoxítono, o nome deveria ser acentuado, na antepenúltima sílaba, mas a autora do livro foi registrada sem a presença do acento tônico. E o que essa aula de acentuação gráfica tem a ver com a peça? (Momento descontração.) Simplesmente, porque MARISA não é BARBARA, em cena; é “BÁRBARA”, visto que, como já mencionado, a dramaturgia é “livremente inspirada” na obra literária, o que significa dizer que a dramaturga desenvolveu seu texto com base em fatos reais da vida da biografada e criou outros ficcionais, relacionados aos desdobramentos que o álcool provoca na vida de uma pessoa. BÁRBARA é uma personagem, inspirada em BARBARA. Como está escrito no “release” que recebi de PEDRO NEVES (“Clímax – Assessoria de Imprensa”), BRUNO GUIDA, apostou em recursos cênicos simples e no jogo direto com a plateia, elementos que somente o TEATRO pode oferecer”, e jogou todas as suas fichas no talento da atriz do solo.


Barbara Gancia.

 

Por uma indesejável total falta de tempo e excesso de trabalho, limito-me a dizer que, do ponto de vista da teatralidade, o espetáculo se encaixa, aos meus olhos, como ÓTIMO, porque reúne todas as qualidades necessárias a que uma peça mereça tal distinção.

 


        Como já externei minha opinião sobre o texto, dirijo, agora, meu foco para BRUNO GUIDA, que, além de ter idealizado o projeto, dirige o espetáculo de forma muito acertada. No início, tem-se a impressão de que as coisas acontecem de uma forma meio devagar, contudo, em pouco tempo, quando as lembranças das situações tragicômicas que marcaram a vida de uma “BARBARA dependente, sem limites, inconsequente e refém do vício” desfilam no espaço cênico, o ritmo da peça já é outro, com bastante dinamismo. Cada cena, mais surpreendente que a outra, é uma porta que se abre para novas surpresas. Quem tem uma atriz como MARISA ORTH sob sua direção não precisa se preocupar com a invenção da roda nem lhe propor mirabolantes resoluções cênicas. Basta ser simples e combinar com ela, no sentido de deixá-la ser ela mesma.



São ótimas as marcações, para o que contribui bastante a direção de movimento de FABRÍCIO LICURSI, o qual, discretamente, se mantém no palco, fora da ação, durante toda a duração da peça, funcionando como uma espécie de “contrarregra de luxo” ou “auxiliar de palco”, que, na FICHA TÉCNICA, aparece sob a rubrica de “suporte cênico”.


Marisa e Fabrício.


        MARISA ORTH se faz notar, num palco, por sua exuberante presença física e por ser dona de um talento e um carisma, capazes de prender a atenção do público, num monólogo. Na abertura do solo, ela, ainda como a atriz, tem uma rápida conversa com a plateia, momento em que diz que o espetáculo não se trata de uma COMÉDIA, como as pessoas desavisadas poderiam supor, já que seu trabalho de atriz está mais voltado para esse maravilhoso gênero teatral. Frisa que não é para rir. Acrescenta que tampouco é uma peça para fazer chorar, ainda que todos tenham o direito de exercer as duas reações. Para terminar esse colóquio, ela diz que seu objetivo, ali, é fazer o público se emocionar. E termina: “E vou fazer!”. E o faz mesmo!!! Uma das cenas que mais me marcaram é quando, numa festa, a personagem, querendo se libertar do vício, é incentivada a beber, sob os mais idiotas e vazios argumentos dos "amigos". É sabido que o alcoólatra* nunca estará totalmente curado. É preciso que se mantenha firme e se livre das tentações, dado que um único trago ou, até mesmo, a ingestão de um simples e “inofensivo” bombom recheado de licor é o suficiente para deflagrar uma recaída. MARISA é uma atriz completa, que interpreta, canta e dança, como faz em musicais, dona de uma versatilidade que a crendencia a protagonizar dramas e COMÉDIAS, com destaque para estas, e, agora, o seu primeiro monólogo.



        Agradou-me sobremaneira a cenografia, reunião dos trabalhos de ANA TURRA, como cenógrafa, e GRINGO CARDIA, como diretor de arte, simples e bastante criativa, com destaque para cinco gigantescos espelhos de maquiagem à volta da personagem, os quais a obrigam e se enxergar neles, da forma como ela é, e, ao mesmo tempo, fazem-na tomar consciência da sua triste realidade, que precisa ser mudada e que só depende dela.



        O consagrado artista FAUSE HATEN assina um figurino sóbrio e elegante, que favorece os movimentos e as várias caídas da personagem ao solo.



        Uma trilha sonora, como só ANDRÉ ABUJAMRA sabe compor, sublinha algumas cenas, agregando-lhes valor. Da mesma forma, aplaudo o belo desenho de luz, proposto por GUILHERME BONFANTI.





 FICHA TÉCNICA: 

Livremente inspirado a partir de “A SAIDEIRA: UMA DOSE DE ESPERANÇA, DEPOIS DE ANOS LUTANDO CONTRA A DEPENDÊNCIA”, de Barbara Gancia

Idealização: Bruno Guida

Direção: Bruno Guida

Dramaturgia: Michelle Ferreira

 

Atuação: Marisa Orth

Suporte Cênico: Fabrício Lucursi

 

Direção de Arte: Gringo Cardia

Cenografia: Anna Turra

“Designer” de Luz: Guilherme Bonfanti

Figurino: Fause Haten

Visagismo: Eliseu Cabral      

Trilha Sonora Original: André Abujamra

Direção de Movimento: Fabricio Licursi

Assistente de Direção: Mayara Constantino

Fotos: Bob Wolfenson

Assessoria de Imprensa: Pedro Neves

Operador de Som: Randal Juliano

Operador de Luz: Kelson Santos

Camareira: Charlene Soares

Diretor de Palco: Tigo

Redes Sociais e Estratégia Digital: André Massa

“Designer”: Kelson Spalato

Produção Executiva: Fernando Trauer

Direção de Produção: Marco Griesi, Renata Alvim e Daniella Griesi 

Produção e Realização: Palco 7 Produções, Rega Início Produções e Solo Entretenimento

 

Apresentado por Ministério da Cultura e PRIO

Patrocinador por Seguros Unimed

 

 

 

 

 

 SERVIÇO: 

Temporada: De 05 de agosto a 03 de setembro de 2023.

Local: Teatro XP.

Endereço: Jockey Club Brasileiro - (Av. Bartolomeu Mitre, 1110-B – Gávea – Rio de Janeiro).

Capacidade: 366 lugares.

Dias e Horários: Sextas-feiras, às 20h; sábados, às 20h; domingos, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$100,00 (inteira) e R$50,00 (meia entrada).

Venda “on-line”: www.sympla.com.br 

Bilheteria Física: No Teatro.

Telefone:(21)3807-1110.

O Teatro possui acessibilidade e ar-condicionado.

Classificação Etária: 14 anos.

Duração: 80 minutos.

ASSESSORIA DE IMPRENSA: Pedro Neves / Clímax - pedrohneves@gmail.com
(21) 99676-4917

Gênero: Monólogo Dramático.


 

 

 

 

Todo mundo tem, perto de si, alguém envolvido com o vício do álcool. Se não é parente próximo, é um distante, um amigo, um conhecido ou um conhecido do conhecido. Este espetáculo, eu o considero de grande utilidade pública e, embora tenha a consciência de que estou sendo utópico, penso que é daqueles que deveriam ser comprados e patrocinados pelo Estado, nas três esferas, para ser levado a escolas, clubes, associações de todos os tipos e outros lugares, como parte de uma ampla campanha de esclarecimento sobre o perigo do álcool, que não é um “amigo do Homem”.

 


Não poderia terminar esta crítica sem agradecer, de coração, a quem se empenhou, ao máximo, para trazer este excelente trabalho ao Rio de Janeiro: MARISA ORTH, BRUNO GUIDA, MARCO GRIESI, DANIELLA GRIESI e RENATA ALVIM

RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO!!!

 






   *OBSERVAÇÃO: Num determinado momento desta critica, utilizei o substantivo "alcoólatra", no lugar de "alcoólico", como passou a ser utilizado o termo que faz referência ao "indivíduo que possui uma relação de necessidade e depenência do álcool, com a consequente falta de controle da bebida". Essa troca, COM A QUAL NÃO CONCORDO, DE JEITO NENHUMse deve, provavelmente, à carga negativa, QUE, PARTICULARMENTE, NÃO IDENTIFICO, a qual a palavra "alcoólatra" apresenta: é como se fosse sinônimo de “doente irrecuperável, viciado sem salvação”. Como professor de língua portuguesa, não vejo isso com simpatia, partindo do princípio de que o sufixo "-latra" é um "elemento átono que exprime a noção de adorador, aquele que presta culto a", enquanto "-ico", na sua origem, entre outras acepções, diz respeito "àquilo que é relativo a ou que contém algo"ALCOÓLATRA, portanto, é aquele que adora álcool; ALCOÓLICO é aquilo que contém álcool. Sem "tretas", por favor! Façam o emprego que acharem melhor! 



FOTOS: BOB WOLFENSON

 

 

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