“BÁRBARA”
ou
(TEATRO DE
UTILIDADE PÚBLICA.)
Quem acha que o TEATRO
só existe para entreter não faz ideia de quão importante ele pode ser, quando
existe, no texto, o propósito de fazer uma crítica, denunciar algo errado,
impróprio ou inadequado, que mereça ser tornado público, ou alertar as pessoas
para situações que são extremamente danosas, que precisam ser evitadas e se
tornar uma página virada, como é o caso do “alcoolismo”, tema
central da peça “BÁRBARA”, em cartaz no Teatro XP, Rio
de Janeiro, com uma ótima dramaturgia, de MICHELLE FERREIRA, “livremente
inspirada” no livro “A SAIDEIRA: UMA DOSE DE ESPERANÇA, DEPOIS DE ANOS LUTANDO CONTRA A DEPENDÊNCIA”,
escrito pela jornalista BARBARA GANCIA, no qual, sem o menor pudor e
imbuída do mais louvável gesto de chamar a atenção para o problema que a
atingiu, por muito tempo, mais de três décadas, alertando seus leitores, a fim de que não caiam na
armadilha dos fugazes “prazeres” que o álcool proporciona, ela se
expõe, nua e cruamente. Ainda não li o livro, mas, depois do que vi no palco do
“XP”, já fiz minha encomenda, pela internet. Gostei muito do
espetáculo, ao qual, há muito tempo, eu vinha tentando assistir, em São
Paulo, onde fez duas concorridas temporadas, em dois Teatros diferentes,
sem alcançar êxito, por incompatibilidade de agendas, além de várias outras apresentações, em turnê.
No prefácio do livro, Ruy Castro, um célebre
biógrafo, escreveu estas lindas palavras: “Há pessoas cujas vidas imploram
para ser escritas. O problema é que, para que isso aconteça, essa pessoa
precisa estar viva. E Barbara Gancia preferia flertar com a morte, a bordo de
copos e mais copos, e ao volante de carros suicidas. Em sua fase de ‘esbórnia’,
Barbara viveu vários filmes de ação, cheios de alçapões invisíveis, quedas no
abismo e ataques de ratos. Mas nenhum tão emocionante quanto sua luta pela
sobriedade. Um dia, finalmente, depois de muitas recaídas, Barbara conseguiu
parar a história. O resultado é ‘A SAIDEIRA’, um livro que só ela poderia ter
escrito. E cuja leitura encerra lições para todos nós, que, tantas vezes,
achamos que os prazeres que a vida nos oferecia estavam sendo dados de graça.”. Como uma
espécie de subtítulo, encontramos na capa do livro: “Uma dose de esperança, depois de anos lutando
contra a dependência”.
A peça é um solo,
idealizado e dirigido por BRUNO GUIDA, interpretado por MARISA ORTH,
em comemoração a quatro décadas de dedicação à ARTE de representar. Reparem
que quem escreveu o livro que deu origem à peça se chama “BARBARA”, enquanto
o título da peça é “BÁRBARA”. Notaram a diferença nas duas
grafias? Por se tratar de um proparoxítono, o nome deveria ser acentuado, na
antepenúltima sílaba, mas a autora do livro foi registrada sem a presença do
acento tônico. E o que essa aula de acentuação gráfica tem a ver com a peça? (Momento descontração.) Simplesmente, porque MARISA não é BARBARA, em cena; é “BÁRBARA”,
visto que, como já mencionado, a dramaturgia é “livremente inspirada”
na obra literária, o que significa dizer que a dramaturga desenvolveu seu texto
com base em fatos reais da vida da biografada e criou outros ficcionais,
relacionados aos desdobramentos que o álcool provoca na vida de uma pessoa. BÁRBARA é uma personagem, inspirada em BARBARA. Como está escrito no “release” que recebi de PEDRO NEVES (“Clímax
– Assessoria de Imprensa”), “BRUNO GUIDA, apostou em recursos cênicos simples e
no jogo direto com a plateia, elementos que somente o TEATRO pode oferecer”, e jogou todas as suas fichas no talento da atriz
do solo.
Barbara Gancia.
Por uma indesejável total falta de tempo e
excesso de trabalho, limito-me a dizer que, do ponto de vista da teatralidade,
o espetáculo se encaixa, aos meus olhos, como ÓTIMO, porque reúne todas
as qualidades necessárias a que uma peça mereça tal distinção.
Como já externei minha opinião sobre o
texto, dirijo, agora, meu foco para BRUNO GUIDA, que, além de ter
idealizado o projeto, dirige o espetáculo de forma muito acertada. No início,
tem-se a impressão de que as coisas acontecem de uma forma meio devagar,
contudo, em pouco tempo, quando as lembranças das situações tragicômicas que
marcaram a vida de uma “BARBARA dependente, sem limites, inconsequente e
refém do vício” desfilam no espaço cênico, o ritmo da peça já é outro,
com bastante dinamismo. Cada cena, mais surpreendente que a outra, é uma porta
que se abre para novas surpresas. Quem tem uma atriz como MARISA ORTH sob
sua direção não precisa se preocupar com a invenção da roda nem lhe propor
mirabolantes resoluções cênicas. Basta ser simples e combinar com ela, no
sentido de deixá-la ser ela mesma.
São ótimas as marcações, para o que contribui
bastante a direção de movimento de FABRÍCIO LICURSI, o qual, discretamente,
se mantém no palco, fora da ação, durante toda a duração da peça, funcionando como uma espécie de “contrarregra
de luxo” ou “auxiliar de palco”, que, na FICHA TÉCNICA,
aparece sob a rubrica de “suporte cênico”.
Marisa e Fabrício.
MARISA ORTH se faz notar, num
palco, por sua exuberante presença física e por ser dona de um talento e um
carisma, capazes de prender a atenção do público, num monólogo. Na abertura do
solo, ela, ainda como a atriz, tem uma rápida conversa com a plateia, momento
em que diz que o espetáculo não se trata de uma COMÉDIA, como as pessoas desavisadas poderiam supor, já que seu trabalho de atriz está mais voltado para esse
maravilhoso gênero teatral. Frisa que não é para rir. Acrescenta que tampouco é
uma peça para fazer chorar, ainda que todos tenham o direito de exercer as duas
reações. Para terminar esse colóquio, ela diz que seu objetivo, ali, é fazer o
público se emocionar. E termina: “E vou fazer!”. E o faz mesmo!!!
Uma das cenas que mais me marcaram é quando, numa festa, a personagem, querendo
se libertar do vício, é incentivada a beber, sob os mais idiotas e vazios
argumentos dos "amigos". É sabido que o alcoólatra* nunca estará totalmente curado. É preciso
que se mantenha firme e se livre das tentações, dado que um único trago ou, até
mesmo, a ingestão de um simples e “inofensivo” bombom recheado de
licor é o suficiente para deflagrar uma recaída. MARISA é uma atriz
completa, que interpreta, canta e dança, como faz em musicais, dona de uma
versatilidade que a crendencia a protagonizar dramas e COMÉDIAS, com
destaque para estas, e, agora, o seu primeiro monólogo.
Agradou-me sobremaneira a cenografia,
reunião dos trabalhos de ANA TURRA, como cenógrafa, e GRINGO
CARDIA, como diretor de arte, simples e bastante criativa, com destaque
para cinco gigantescos espelhos de maquiagem à volta da personagem, os quais a
obrigam e se enxergar neles, da forma como ela é, e, ao mesmo tempo, fazem-na
tomar consciência da sua triste realidade, que precisa ser mudada e que só
depende dela.
O consagrado artista FAUSE HATEN
assina um figurino sóbrio e elegante, que favorece os movimentos e as várias
caídas da personagem ao solo.
Uma trilha sonora, como só ANDRÉ
ABUJAMRA sabe compor, sublinha algumas cenas, agregando-lhes valor. Da
mesma forma, aplaudo o belo desenho de luz, proposto por GUILHERME BONFANTI.
FICHA TÉCNICA:
Livremente inspirado a partir de “A SAIDEIRA: UMA DOSE DE ESPERANÇA, DEPOIS DE ANOS LUTANDO CONTRA A DEPENDÊNCIA”, de Barbara Gancia
Idealização:
Bruno Guida
Direção: Bruno
Guida
Dramaturgia: Michelle
Ferreira
Atuação:
Marisa Orth
Suporte
Cênico: Fabrício Lucursi
Direção
de Arte: Gringo Cardia
Cenografia: Anna
Turra
“Designer” de Luz: Guilherme Bonfanti
Figurino: Fause
Haten
Visagismo: Eliseu
Cabral
Trilha
Sonora Original: André Abujamra
Direção
de Movimento: Fabricio Licursi
Assistente
de Direção: Mayara Constantino
Assessoria de Imprensa: Pedro Neves
Operador de Som: Randal Juliano
Operador de Luz: Kelson Santos
Camareira: Charlene Soares
Diretor de Palco: Tigo
Redes Sociais e Estratégia Digital: André Massa
“Designer”: Kelson
Spalato
Produção Executiva: Fernando Trauer
Direção
de Produção: Marco Griesi, Renata Alvim e Daniella Griesi
Produção
e Realização: Palco 7 Produções, Rega Início Produções e Solo Entretenimento
Apresentado por Ministério
da Cultura e PRIO
Patrocinador por Seguros Unimed
SERVIÇO:
Temporada: De 05 de agosto a 03 de
setembro de 2023.
Local: Teatro XP.
Endereço: Jockey Club Brasileiro - (Av. Bartolomeu
Mitre, 1110-B – Gávea – Rio de Janeiro).
Capacidade: 366 lugares.
Dias e Horários: Sextas-feiras, às 20h;
sábados, às 20h; domingos, às 19h.
Valor dos Ingressos: R$100,00 (inteira) e R$50,00
(meia entrada).
Venda “on-line”: www.sympla.com.br
Bilheteria Física: No Teatro.
Telefone:(21)3807-1110.
O Teatro possui acessibilidade e ar-condicionado.
Classificação Etária: 14 anos.
Duração: 80 minutos.
ASSESSORIA DE IMPRENSA: Pedro Neves / Clímax - pedrohneves@gmail.com
(21) 99676-4917
Gênero: Monólogo Dramático.
Todo mundo tem, perto de si, alguém envolvido com o vício do álcool. Se
não é parente próximo, é um distante, um amigo, um conhecido ou um conhecido do
conhecido. Este espetáculo, eu o considero de grande utilidade pública e,
embora tenha a consciência de que estou sendo utópico, penso que é daqueles que
deveriam ser comprados e patrocinados pelo Estado, nas três
esferas, para ser levado a escolas, clubes, associações de todos os tipos e
outros lugares, como parte de uma ampla campanha de esclarecimento sobre o
perigo do álcool, que não é um “amigo do Homem”.
Não poderia terminar esta crítica sem agradecer, de coração, a quem se empenhou, ao máximo, para trazer este excelente trabalho ao Rio de Janeiro: MARISA ORTH, BRUNO GUIDA, MARCO GRIESI, DANIELLA GRIESI e RENATA ALVIM.
RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO!!!
FOTOS: BOB WOLFENSON
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
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DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI,
SEMPRE!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!
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