"31º FESTIVAL
DE CURITIBA"
"ODELAIR RODRIGUES
– UMA PEÇA TEATRAL"
ou
(MÉRITO
PELA INICIATIVA
E JUSTA HOMENAGEM
Está bem! Serei repetitivo, porém pode ser que, de tanto
bater na mesma tecla, um dia, as coisas possam mudar, entretanto, infelizmente,
ainda sou obrigado a dizer que “o Brasil não tem memória” e que,
via de regra, se valoriza muito mais o que nos chega com a tarja “Made
in...” do que o produto nacional. Isso também atinge as ARTES.
Muitas vezes, é preciso que um grande artista brasileiro, seja ele
representante de qualquer segmento, tenha seu talento reconhecido no exterior,
para que, em território brasileiro, isso seja também reconhecido, posteriormente. Poderia dar
uma série de exemplos, mas não vejo a menor necessidade disso.
Uma atriz negra, paranaense, a primeira a se encaixar nessa
descrição, chamada ODELAIR RODRIGUES, é um claro exemplo de apagamento,
injustificável, pelo tanto que representou para o TEATRO BRASILEIRO. Eu
mesmo, um “rato-de-TEATRO”, há mais de 50 anos, sabia de
sua existência, mas não conhecia o seu imenso e importante legado para a História
do TEATRO BRASILEIRO. Culpa minha? Talvez. Ou seria pelo fato de não se
falar dela como o merecia? E isso poderia ter acontecido pelo fato de não ser a atriz carioca ou paulista? Quem há de saber?
(Fotos: Fonte desconhecida.)
ODELAIR nasceu em Curitiba, em 14 de julho de 1935,
e faleceu na sua cidade natal, em 1º de julho de 2003, pouco antes de
atingir os 68 anos de idade, e foi uma das pioneiras da televisão
paranaense. Mas o assunto, aqui, é TEATRO? Sim, mas ela também atuou na
telinha, na telona e no rádio. Tendo cursado ARTES CÊNICAS, no Colégio
Estadual do Paraná, fazendo
parte do seu "Corpo Cênico", fez sua estreia,
pisando as tábuas, na peça "Sinhá Moça Chorou", em 1952,
mas a vocação para a profissão sempre esteve presente em ODELAIR, que,
desde a infância e adolescência, gostava de representar, por ocasião de peças
teatrais, quando ainda estudava no Colégio Xavier da Silva. (As
informações contidas neste parágrafo e algumas que virão adiante, referentes à
sua biografia e carreira, eu as extraí da “Wikipédia”.).
ODELAIR foi descoberta para o
estrelato por um grande amigo, Ary Fontoura, também paranaense,
com quem trabalhou no TEATRO e em radioteatros da Rádio Clube Paranaense, além de atuarem nas primeiras novelas
produzidas pela televisão do Paraná. A atriz fez parte do primeiro “cast”
de profissionais contratados pela TV Paraná. Também
trabalhou na Rede Globo de Televisão (Foi levada, do Paraná para o Rio
de Janeiro, por Ary Fontoura.) e TV Tupi, entre outros
canais, fazendo novelas que foram sucesso nos anos de 1960 e 1970.
Com Ary, dividiu o palco em dezenas de produções teatrais,
no antigo Teatro de Bolso, que existia na Praça Rui Barbosa, em Curitiba. Ao longo de sua sua carreira, ganhou vários prêmios.
SINOPSE:
Em formato de “metaTEATRO”, documental, de certa forma, “ODELAIR – UMA PEÇA TEATRAL” presta uma homenagem a ODELAIR RODRIGUES,
musa do TEATRO paranaense.
A artista, que é
considerada a primeira atriz negra da capital paranaense, também foi pioneira
na televisão e nas radionovelas, tendo ficado conhecida, principalmente, por
sua personagem “Bidê”, em contracena com Ary Fontoura.
A encenação se propõe a mostrar momentos marcantes e inéditos sobre a trajetória de vida e carreira de ODELAIR, uma das grandes pioneiras na difusão cultural, principalmente do TEATRO, no estado do Paraná.
Os que
me leem com frequência sabem que só escrevo sobre espetáculos de que
gosto, que contribuem para o meu crescimento, como pessoa e amante do TEATRO, peças
que me tocam, de alguma forma. Como estou aqui, a destinar boa parte do meu
tempo na escrita de uma apreciação crítica sobre “ODELAIR – UMA PEÇA
TEATRAL”, os que me honram com sua leitura agora devem ter chegado à conclusão de que a peça
me agradou. Sim, mas até uma determinada página, não importa qual. Vou tentar
explicar, bem claramente, o que me levou a estar, agora, em frente a um
computador, com os “dedos nervosos”, pressionando as sua teclas.
Antes,
quero fazer um registro, que julgo importante, para justificar esta crítica. Ao
deixar, na tarde de um sábado chuvoso e frio, no penúltimo dia do “Festival
de Curitiba”, o “Espaço Excêntrico
Mauro Zanatta”, um lugar alternativo, para a apresentação de
espetáculos de TEATRO, aós ter visto a encenação da peça em tela, uma pessoa, que eu não conhecia, mas já havia
visto em alguns eventos do “Festival”, se aproximou de mim e me
fez três perguntas, emendando uma na outra, não me dando oportunidade de
responder a cada uma delas: “Você é crítico, não é? Gostou? Vai
escrever?”. Não tive tempo para uma resposta diferente de “Não
sei.”, porque o meu carro de aplicativo acabara de chegar.
Algumas pessoas devem ter saído do
espetáculo com o mesmo pensamento que eu. Outros devem ter gostado muito e até
adorado a peça. Alguns podem ter gostado tanto quanto, ou menos do que, aquela
pessoa. Isso “é do jogo”, cada um tem sua opinião, e todos têm o direito de decodificar uma
obra de ARTE de acordo com o que ela lhe causa de prazer; ou não. Isso pode ser feito com a aplicação de conhecimentos técnicos do que seja TEATRO ou, puramente, pelo aspecto emocional, deixando o coração se sobrepor à razão. Eu sempre procuro assistir a uma peça com um olhar duplo, de técnico e de espectador.
Do ponto de vista artístico, não posso
dizer que a montagem, de minha parte, mereça grandes elogios. Nesse aspecto,
acho que ficou a desejar, o que acredito seja em função de duas coisas: o fato
de KELVIN MILLARCH e CAIO FRANKIU, dois jovens entusiastas do TEATRO,
à frente da “CIA. KÀ DE TEATRO”, estarem envolvidos em tantos projetos no
“Festival” e, principalmente, por conta da falta de recursos
financeiros para uma produção mais bem cuidada. Só que, aqui, para mim, isso é
o que menos importa. Diante de tanto amor e dedicação que aqueles jovens
artistas, facilmente, transmitem e por se tratar de uma justa homenagem a quem
bem a merece, nem pensei duas vezes para me decidir a escrever uma crítica
sobre esta encenação.
“ODELAIR RODRIGUES – UMA PEÇA
TEATRAL” foi apresentada dentro da programação do “FRINGE”, um dos magníficos “tentáculos”
do “Festival de Curitiba”. Paralelamente a isso, a artista foi
tema de uma exposição, organizada pelos responsáveis pelo projeto da peça, com
curadoria de AMANDA SOARES, sobre a vida e a carreira artística de ODELAIR, no “Café
do Teatro”, tradicional ponto de encontro da classe teatral curitibana,
durante as duas semanas de duração do “Festival”.
Um outro grande motivo
para justificar esta crítica repousa nas palavras de KELVIN MILLARCH, um
dos idealizadores da ideia: “É um projeto que busca preservar a memória
da atriz paranaense, de forma a valorizar sua trajetória no TEATRO, rádio e TV.
Com ele, pretendemos trazer à cena uma narrativa completa, forte e presente da
vida e obra de uma atriz que será representada por também atrizes negras e
paranaenses.”. É muito bonito e comovente ver jovens interessados em
homenagear aqueles que os precederam, tentando, assim, manter vivo o seu
importante legado, para eles e para o público em geral, pelo que lhes sou muito
grato.
O título da peça
poderia, a meu juízo, ser outro, o que não interfere na minha apreciação
crítica sobre o espetáculo. Em compensação, muito me agradou o da
exposição sobre a vida e a obra da artista: “É SER ODELAIR”. O emprego
do vocábulo “SER”, normalmente um verbo, é muito interessante. Um artigo definido "O", omitido, pode levar o vocábulo a assumir a forma de um substantivo, no sentido de o “SER” humano ODELAIR, a sua "persona", ou estar relacionado ao ato de alguém ser capaz de "existir como uma ODELAIR". Acho excelente a
indução a duas interpretações, por meio de uma ambiguidade, que acredito ter
sido intencional.
A homenagem a
ODELAIR é bastante pertinente, não só por sua importância como artista, mas
também pelo fato de ser negra, o que lhe rendeu muito preconceito (MULHER,
NEGRA e ATRIZ.), desde sua adolescência, um absurdo, que, cada
vez mais, deve ser combatido. É mais que oportuno abordar o tema do combate ao
preconceito de cor e raça. Esse aspecto é muito bem explorado no texto da peça,
que não apresenta nada de especial, limitando-se a ser documental, partindo de
uma profunda pesquisa, seguindo a linha do tempo de vida da artista. ODELAIR
era formada em contabilidade, entretanto, por conta da cor de sua pele, não logrou
êxito na profissão e, para sobreviver, trabalhou até como doméstica, o que não
é nenhum demérito, diga-se de passagem, mas aquilo não era para ela. Esse
detalhe da vida da atriz está muito presente na peça, cujo texto foi concebido
como resultado de um trabalho de criação coletiva do grupo, o qual mergulhou de
cabeça nessa empreitada, durante três anos, amparado num “esqueleto” criado por
CAIO FRANKIU.
KELVIN MILLARCH faz uma
direção bem discreta, ainda que apresente algumas interessantes soluções para certas cenas, de
bom gosto e criatividade, com a utilização de muitas folhas de jornal.
O elenco parecia estar um
pouco “engessado”, talvez por falta de mais ensaios – não sei -
ou por conta da limitação espacial, visto que o espaço cênico onde se deu a
apresentação é pequeno, sem apresentar coxias, o que confina os artistas e delimita
outras ideias que a direção possa ter. Não destaco nenhuma atuação, porém percebi que todos,
sem exceção, alternavam bons momentos de interpretação com outros não muito apreciáveis. Reforço que identifiquei potencial interpretativo em todos, o qual
pode, e deve, ser estimulado, exercitado e trabalhado com mais afinco.
Achei, contudo, que todos se empenharam, o máximo possível, em seus trabalhos.
Dos elementos de criação, nada a destacar, a não ser o “se virar nos 30”, por parte da “CIA.”, em função dos parcos recursos de que a produção dispunha. Como sempre, FAZER TEATRO, NO BRASIL É UM ATO DE RESISTÊNCIA. A cenografia se limita a uma mesa, uns bancos e uma grande “arara”, com muitas peças de roupas, que vão sendo trocadas, pelo elenco, à vista do público, durante a encenação. Esse “cabideiro gigante” também serve para ocultar detalhes que serão expostos em cenas seguintes, como se fosse uma parede. Naturalmente, por falta de verba, não houve figurinos da época em que viveu ODELAIR, desenhados e confeccionados, especialmente, para a montagem, contudo os atores procuraram, em seus acervos particulares, ou em outras fontes – não sei – peças que pudessem ajudar na caracterização de seus personagens. O resultado disso é bom, ou, pelo menos, satisfatório. Não há uma iluminação muito elaborada, mas o trabalho de IKE ROCHA é bem aceitável, dentro dos recursos que tinha em mãos.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia: Criação coletiva, seguindo uma base, proposta por Caio
Frankiu
Elenco (por ordem alfabética): Amanda Soares, Bruno Sanctus, Caio
Frankiu, Dani Rocha, Luiz Nogueira e Mattias de Sales
Cenário: Caio Frankiu
Sonoplastia: Kelvin Millarch
Fotos: Virgínia Benevenuto e Larissa Godoy
O diretor da peça diz que “A proposta inicial vem com uma reflexão sobre por que motivo não ouvimos muito falar sobre ODELAIR. A motivação principal é a vontade de levar o nome da atriz ao público da nossa geração.”. E eu acrescento: de qualquer geração.
O espetáculo, segundo informação que
recebi da “CIA. KÀ DE TEATRO”, estará em cartaz, durante os meses de
agosto e setembro, no mesmo local em que aconteceram as apresentações dentro do
“Festival de Curitiba”, o “Espaço Excêntrico Mauro Zanatta”.
Faço votos de que seja uma bela temporada, de grande sucesso, e acho que o
público curitibano deveria prestigiar o trabalho da “CIA.”. Tenho
certeza de que todas as arestas que detectei serão aparadas, e o espetáculo
ganhará mais características de um trabalho profissional.
Espero que a pessoa que me abordou, à
saída da apresentação, possa estar lendo esta crítica e tenha entendido tudo, sem
que eu precise desenhar.
“E la nave va...”
FOTOS: VIRGINIA
BENEVENUTO
e
LARISSA GODOY
GALERIA PARTICULAR
(Fotos: GILBERTO BARTHOLO.)
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI,
SEMPRE!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!
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NO TEATRO
BRASILEIRO!
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