“MEUS 2 PAIS”
ou
(FALANDO DE
COISA SÉRIA,
DE FORMA LÚDICA
E ATÉ POÉTICA.
ou
(TEATRO
INFANTIL /
INFANTOJUVENIL
COMO DEVE SER FEITO.)
Não posso, nem quero, me estender muito, na análise crítica
de um espetáculo infantil, ou infantojuvenil, ao qual assisti num domingo, dia 28
de maio próximo passado, no “Teatro OI Futuro” (Centro
Cultural Futuros - Arte e Tecnologia), no Rio de Janeiro. A peça
chama-se “MEUS 2 PAIS”, e nada mais é do que uma transposição das
páginas de um livro, escrito por WALCYR CARRASCO, para o palco, pelas
mãos de CESAR AUGUSTO, diretor da montagem. Reparem que não falei em “adaptação”,
uma vez que o texto está “ipsis litteris” no palco, dito pelo
ator PEDRO MONTEIRO, interpretando o personagem Naldo, um menino
de 9 anos.
O que
me leva a procurar ser conciso na minha análise, além da falta de tempo, é que
posso dizer o quanto a encenação me agradou – MUITO MESMO – sem precisar
me estender tanto. A peça encerra uma trilogia sobre “paternidade”,
idealizada e realizada por PEDRO, iniciada, em 2021, com “Pão
e Circo”, seguida de “Pai Ilegal”, em 2022.
SINOPSE:
A peça conta a história de Naldo (PEDRO MONTEIRO), um menino
de 9 anos, que tem que lidar com a separação dos pais, o que já é bem
difícil, em qualquer idade.
Quando a mãe (KELZY ECARD) precisa se mudar de cidade, por conta de uma promoção no seu emprego, Naldo passa a morar com o pai (CLAUDIO LINS) e um amigo deste, Celso (RODRIGO FRANÇA).
Não demora muito, o garoto começa a sofrer “bullying”,
na escola, e descobre que o pai é “gay”.
Será que ele vai aceitar sua nova família?
E
vamos diretamente ao assunto, a começar pelo texto. Tendo recebido o original
do livro, alguns dias após ter assistido à peça, constatei o que já me dissera PEDRO
MONTEIRO, no dia em que estive no “OI Futuro”: o texto não
sofreu nenhum corte ou acréscimo. O que houve foi o dedo “mágico” de
um inteligente, criativo e sensível diretor, CESAR AUGUSTO, para dar um
toque de mais contemporaneidade à história, construindo uma encenação a partir
de algo tão presente e agradável no dia a dia das crianças, pré-adolescentes e
adolescentes de hoje, ou seja, a linguagem dos jogos eletrônicos.
Considero uma “jogada genial” a ideia da utilização dessa
linguagem, os “videogames”, o que concede muito dinamismo à
encenação, bem ao gosto dos pequenos. E necessário, para que mantenham a
atenção e o interesse pelo que acontece no palco.
WALCYR
CARRASCO, consagrado novelista e autor de obras literárias, é
conhecido por abordar temas considerados tabus, sempre com um foco voltado a
informar, esclarecer e, se possível, influenciar e modificar pensamentos que já
não encontram respaldo nos dias hodiernos. Chega de intolerância, de apontar o
dedo aos outros, sem, primeiramente, “olhar para o próprio umbigo”!
Chega de julgamentos e pensamentos retrógrados, principalmente quando apoiados
em preconceitos e escrúpulos impostos por religiões, quaisquer que sejam elas.
Antes que alguém se abaixe, para pegar pedras, com o firme propósito de me
apedrejar, quero deixar bem claro que respeito todas as religiões, porém
custa-me acreditar que, em nome de um Deus, “perfeito”, ou lá qual
seja o seu nome, pessoas promovam verdadeiras “guerras” aos “imperfeitos”.
Um
autor comprometido com a verdade e o que existe de real nas sociedades, seja em
que lugar for, com relação a tudo, principalmente no que diz respeito às
relações de amizade, afeto e amor entre as pessoas, WALCYR, de forma bem
corajosa e realista, nos apresenta os percalços que surgem no caminho de uma criança
de 9 anos, que precisa entender o porquê da separação de seus pais e de o
pai ter encontrado um ser humano do mesmo gênero para amar. Um ser humano,
antes de tudo.
Chega
a ser comovente a forma como o autor trata o delicado assunto e vai
desenvolvendo a trama com muito carinho e respeito aos espectadores, seja lá
qual for o que cada um pense a respeito disso. Ele usa um vocabulário simples,
acessível a todos, inclusive, ou principalmente, os pequenos, sem rebuscamentos
e meias palavras. Nunca, em momento algum, de uma forma grosseira ou agressiva.
Se vai conseguir “fazer a cabeça” das pessoas não importa tanto;
o que é relevante é o fato de abordar o assunto, que “não pode mais ser
jogado para debaixo do tapete”.
O fato
de o pai do menino se assumir “gay”, após a separação, é um dos
focos, ou o que faz disparar o gatilho, nesta encenação, todavia outros
assuntos, temas paralelos, estão em jogo e também recebem o devido tratamento e
atenção, como as diferentes configurações familiares, o detestável,
inexplicável e inaceitável “bullying” nas escolas, a influência
dos amigos e os conflitos internos, causados pela separação dos pais.
Seguindo
os passos do escritor, CESAR AUGUSTO estabeleceu uma linha de direção e,
antes disso, uma proposta, que, sem fugir ao propósito primeiro do texto, atingisse,
facilmente o público-alvo. Se bem que não podemos negar que este também possam
ser os adultos, principalmente os mais ortodoxos, do ponto de vista “moral”.
Na verdade, não se trata de ser mais ou menos “moralista”, mas,
sim, de estar em consonância com os tempos modernos.
Por
oportuno, transcrevo um trecho do “release”, que me chegou, via PAULA
CATUNDA (Assessoria de Imprensa), com cujo conteúdo comungo
inteiramente: “Não é de hoje que o conceito de família se expandiu, se
diversificou, e suas múltiplas configurações estão presentes e felizes na
sociedade. Mas quem foge do modelo considerado tradicional sempre encontra
alguns (ou muitos) desafios.”. Por que não aceitar – pergunto eu -
famílias com dois pais ou duas mães, por exemplo? O importante é que haja amor,
respeito e harmonia entre os que as compõem.
WALCYR
escreveu o livro para falar dos desafios contidos numa relação “incomum”
entre um menino e seu pai e mostrar, para crianças, o que todos os adultos já
deveriam saber, que é a importância de aceitar as diferenças. No tocante
a isso, bastante importante é o fato de WALCYR ter pensado num homem
negro para ser o novo amor de um branco, “cutucando” a celeuma
que, via de regra, existe, com relação ao preconceito racial.
PEDRO
MONTEIRO, pai de uma menina de três anos, é um ser humano, por
demais, sensível, além de um excelente ator. Seu trabalho, na pele de uma criança
de 9 anos, é irretocável, porque, em momento algum, ele cai no estereótipo que
estamos acostumados a ver nos palcos, por parte de muitos adultos interpretando
papéis infantis. Um homem de porte avantajado, como ele, consegue ser “visto”
como um menino, sem precisar utilizar recursos não recomendados, como uma “vozinha
infantiloide”, que soa, na maioria das vezes, como algo desagradável
aos ouvidos. E extremamente falso. PEDRO convence, como o guri Naldo.
Ainda
que o ator esteja sozinho, presencialmente, no palco, não se pode dizer que se
trate de um monólogo, uma vez que ele contracena, em vídeos, com seis
admiráveis atores: KELZY ECARD (a
Mãe), CLAUDIO LINS (o Pai), BETINA VIANY (a
Avó Materna), RODRIGO FRANÇA (Celso, o “Amigo” do Pai),
GABRIELA ESTEVÃO e TAMIRES NASCIMENTO (Amiguinhas, de escola,
de Naldo).
O
espetáculo dispensa o luxo, mas prima pela qualidade e o bom gosto, expressos pelos
elementos de apoio: cenário, figurino, desenho de luz, trilha
sonora original, visagismo, projeção mapeada e animação.
BELI
ARAÚJO, por exemplo, assina um cenário simples e funcional, deixando o
palco nu, à exceção de uma cadeira apropriada para jogadores de “videogames”
e duas grandes telas, ao fundo, que servem às muitas projeções as quais
atravessam toda a encenação.
MARCELO
OLINTO é o responsável pelos figurinos, muito bem
acertados, não só para o protagonista como para os demais personagens. Naldo é um menino de 9 anos, vestido discretamente, em tons pastéis, com um
pequeno detalhe que ajuda na composição do personagem: um boné, usado ao
contrário.
ANA
LUZIA DE SIMONI ilumina a peça, com um trabalho corretíssimo,
em seu desenho de luz.
ANDRÉ
POYART compôs uma trilha sonora original que se encaixa,
com perfeição, no espetáculo, com muitos sons ligados aos jogos eletrônicos.
ANDY
LIMA
responde pelo visagismo da peça e, seguindo os passos do figurinista,
criou uma maquiagem comedida, um possante reforço no trabalho de
composição externa do personagem; ou melhor, dos personagens, incluindo os que
aparecem virtualmente.
Um dos
elementos da maior importância, nesta montagem, é a projeção mapeada,
que não apresenta uma mínima falha e que requer uma profunda atenção e acuidade
do responsável por ela, RENATO KRUEGER. É ele quem aciona os botões,
para fazer com que os seis personagens virtuais “entrem em cena”,
dentro de uma sincronização perfeita, entre eles e o ator que está no palco.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Walcyr Carrasco
Direção: Cesar Augusto
Diretor Assistente: João Gofman
Assistência de Direção: Romulo Chindelar
Direção de Movimento: Carol Ozório
Elenco: Pedro Monteiro (presente, no palco), Betina Viany, Claudio
Lins, Gabriela Estevão, Kelzy Ecard, Rodrigo França e Tamires Nascimento
(aparições em vídeo)
Cenário: Beli Araújo
Figurinos: Marcelo Olinto
Desenho de Luz: Ana Luzia de Simoni
Trilha Sonora Original: André Poyart
Pesquisa Sonora: João Gofman
Visagismo e Maquiagem: Andy Lima
Projeção Mapeada: Renato Krueger
Operador de Câmera: Hernane Cardoso
Som Direto: Lucca Valor
“Logger” e “Still”: Sandro Demarco
Costura e Tingimento de Figurinos: Almir França
Costura de Cenário: Nice Tramontin
Cenotécnico: M W Serviços Cenotécnicos
Assistência de Iluminação: Pedro Carneiro
Camareira (estúdio): Jacyara de Carvalho
Assessoria de Imprensa: Paula Catunda e Rachel Almeida
Fotos de Divulgação: Beto Roma
Redes Sociais: Rafael Teixeira
Designer Gráfico: Davi Palmeira
Assistência de Produção: Caroline Matos
Direção de Produção: Dani Carvalho (Desejo Produções)
Realização: Pedro Monteiro
SERVIÇO:
Temporada: De 20 de maio a 9 de julho de 2023.
Local: Teatro OI Futuro (Centro Cultural Futuros - Arte e
Tecnologia).
Endereço: Rua Dois de Dezembro, nº 63 – Flamengo – Rio de Janeiro. (Acesso
próximo à estação do Metrô do Largo do Machado).
Telefone: (21)3131-3060.
Dias e Horários: Sábados e domingos, às 16h.
Valor dos Ingressos: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada).
Venda de ingressos: www.sympla.com.br
Lotação: 63 pessoas.
Duração: 50 minutos.
Classificação Etária: Livre.
Para
finalizar, cabe uma declaração do diretor da peça, CESAR AUGUSTO: “Nosso
espetáculo usa a linguagem dos jogos eletrônicos para simular a cabeça criativa
de uma criança. Queremos tratar de um tema importante de maneira saborosa, com abstrações,
onomatopeias e sensibilidade. Afinal, TEATRO também é jogar com a plateia.”.
Quanto a isso, não resta a menor dúvida de que a peça já é um grande sucesso e
merece uma vida bem longa. Basta testemunhar a interação dos pequenos com o
ator em cena. Não raro, muitos participam, de uma forma direta, do espetáculo,
apoiando o que diz o personagem ou complementando suas falas, com comentários sobre
a sua própria vivência e realidade familiar.
“MEUS 2
PAIS” apenas solidifica a teoria que aprendi com o finado ator,
diretor e produtor, Paulo Lara, por quem fui dirigido, no
intantil “Dom Chicote Mula Manca e Seu Fiel Companheiro Zé Chupança”, um pregado de que “TEATRO Infantil não é imbecil”. Além disso, esta
peça prova que as montagens voltadas ao público pueril não podem, nem devem, ser
longas, chegando, no máximo, aos 60 minutos, com raras exceções admitidas.
Esse tempo é mais que necessário e suficiente para se dar todos os recados e se
produzir TEATRO para os pequenos da melhor qualidade, como a peça em
tela.
Acima
de tudo, “MEUS 2 PAIS” é um espetáculo didático, sem ser “chato”.
É mais que óbvio que merece a minha total recomendação.
Claudio Lins e Renato Krueger.
Kelzy Ecard.
Rodrigo França.
Betina Viany.
Gabriela Estêvão.
Tamires Nascimento.
FOTOS: BETO ROMA (ESTÚDIO)
e AMANDA EYER (CENA)
GALERIA PARTICULAR
FOTOS: JOÃO PEDRO
BARTHOLO)
Com Pedro Monteiro.
Idem.
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI,
SEMPRE!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!
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POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR
NO TEATRO BRASILEIRO!
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