terça-feira, 17 de maio de 2022

 

“CORA DO RIO

VERMELHO”

ou

(UM “SHOW”

DE DELICADEZA

E TERNURA.)


 

      Outro espetáculo que não estava nas minhas intenções receber uma crítica escrita é “CORA DO RIO VERMELHO”, em cartaz no Teatro Poeirinha (VER SERVIÇO.), mas eu não me perdoaria, se não encontrasse um tempinho para escrever sobre ele, por pouco que seja, mas de coração, por se tratar de, como eu disse, no subtítulo, “UM ‘SHOW’ DE DELICADEZA E TERNURA”, além de mais outros fatores.




  

SINOPSE:

“CORA DO RIO VERMELHO” faz um passeio pela vida e a obra da poeta, contista e doceira CORA CORALINA, reunindo textos e poemas que falam sobre a força feminina e a alma da mulher brasileira.

 


    O solo, o primeiro da carreira da atriz RAQUEL PENNER, aportou no Rio de Janeiro, depois de uma vitoriosa temporada virtual, QUE NÃO É TEATRO, e de uma presencial, também bem sucedida, em São Paulo, em 2021.




     O texto lembra um “tecido refinado e adornado com bordados deslumbrantes”, uma reunião de textos e poesias, completas ou em partes, da consagrada poeta, numa forma dramatúrgica, criada por LEONARDO SIMÕES, o qual foi muito feliz nas suas escolhas e criações próprias. Sua “costura”, a “união de seus remendos” resultou, como não se poderia esperar outra coisa, num lindo texto, comovente. Os poemas que fazem parte do texto da peça foram retirados dos livros “Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha”, “Meu Livro de Cordel, “Villa Boa de Goyaz” e “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”.




     O “release” da peça, que me chegou às mãos, por RACHEL ALMEIDA (RACCA COMUNICAÇÃO), diz que “a peça propõe uma relação de cumplicidade entre atriz e plateia, com perguntas e provocações”. A “cumplicidade” é total, sim, mas o “diálogo”, entre palco e plateia, se dá no silêncio, o que significa dizer que as “perguntas e provocações” não são diretamente feitas ao público, esperando respostas, em forma de palavras. O espetáculo não é interativo, no sentido lato do vocábulo, porém, de certa forma, ele o é, já que, em silêncio absoluto, tomadas pela emoção e diante do talento da atriz, as pessoas só fazem apurar a audição e fixar os olhos na atriz e no espaço cênico, "conversando com eles".



   O desejo de RAQUEL, em montar um monólogo, veio se desenhando há algum tempo e se tornou mais robusto, quando ela, no desejo de falar sobre a força feminina e da alma da mulher brasileira, chegou à obra e à vida de CORA CORALINA, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (Dona Aninha), que assumiu, aos 50 anos de idade, o nome como passou a assinar seus escritos, CORA CORALINA, nascida na Cidade de Goiás, em 20 de agosto de 1889, tendo falecido em Goiânia, em 10 de abril de 1985, aos 95 anos de idade, considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras, mesmo tendo sido o seu primeiro livro publicado só em junho de 1965 (“Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais"), já aos quase 76 anos de idade, apesar de escrever seus versos desde a adolescência.




     CORA “foi uma mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, e produziu uma obra poética, rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular, dos becos e ruas históricas de Goiás”. (Wikipédia.) Foi nascida e criada às margens do Rio Vermelho, o que justifica o título da peça. Começou a escrever os seus primeiros textos aos 14 anos, publicando-os, posteriormente, nos jornais da cidade de Goiânia, e nos jornais de outras cidades, assim como na revista A Informação Goiana”, do Rio de Janeiro, que começou a ser editada a 15 de julho de 1917. Apesar da pouca escolaridade, uma vez que cursou somente as primeiras quatro séries, CORA atingiu a notoriedade que merecia, por meio de sua obra, tão simples, tão delicada, tão poética... CORA, apesar de sua pouca intimidade com as regras gramaticais, era uma mulher de “poderosas palavras”, e esse desconhecimento do mundo acadêmico fazia com que ela priorizasse a mensagem, em vez da forma. Em 1911, mudou-se para São Paulo, onde viveu durante 45 anos.  A sua casa, na Cidade de Goiás, foi transformada num museu, em homenagem à sua história de vida e produção literária.




      RAQUEL PENNER, idealizadora do projeto e atriz, na peça, diz que “CORA CORALINA foi uma mulher múltipla e libertária. Removeu pedras e abriu caminhos para outras mulheres”. CORA “escreveu sobre os lugares onde viveu, as pessoas com as quais se relacionou e a natureza que observava”.



     Não sei se foi uma reação inconsciente, mas, quando adentrei a plateia do Teatro Poeirinha, na última sexta-feira, dia 13 de maio (2022), acomodei-me na primeira fila e vi, à minha frente, um cenário tão simples quanto deslumbrante, veio-me à cabeça outro solo, da atriz Suzana Nascimento, “Calango Deu – Os Causos de Dona Zaninha”, guardadas as devidas proporções, com um cenário muito parecido, lindíssimo, e, talvez, por terem sido dirigidos, ambos os espetáculos, por ISAAC BERNAT, um “homem de TEATRO”, com muita “sabença” e sensibilidade. É preciso registrar que a Cenografia, o Figurino e a Produção de Objetos de Cena levam a assinatura de DANI VIDAL e NEY MADEIRA, dois grandes profissionais nessa área. O trabalho de cenotécnico foi de ANDRÉ SALLES.




      Percebe-se uma grande sintonia entre o diretor e a atriz. Fiquei com a impressão de que já havia uma relação afetiva e de trabalho, entre os dois, de muito tempo. Excelente direção! Excelente atuação!



     A docilidade, na voz e nos gestos de RAQUEL, na pele de uma personagem, se aproxima muito da maneira de falar de CORA, a real. Ainda guardo, na minha memória auditiva, sua voz, dando entrevistas ou recitando seus poemas. E sua doce imagem também. Cândida, suave, terna; o amor, o lirismo, a poesia da vida transformados em palavras.



    Retirado do já citado “releasae”: “Ao longo da encenação, aparecem algumas músicas populares, unindo vozes femininas de cantoras-atrizes do cenário teatral brasileiro: Aline Peixoto, Chiara Santoro, Clara Santhana, Cyda Moreno e Soraya Ravenle.”.




     Para dar mais vida e beleza ao espetáculo, fazendo realçar os elementos plásticos, entra em campo ANA LUZIA DE SIMONI, com suas belas luzes e cores, como sempre, com uma correta iluminação.




Para encerrar os comentários técnicos, falo de ALINE PEIXOTO, responsável por uma boa trilha sonora e direção musical.



 

  

FICHA TÉCNICA:

Idealização: Raquel Penner

Dramaturgia: Leonardo Simões

Direção: Isaac Bernat

 

Atuação: Raquel Penner

 

Cenografia, Figurino e Produção de Objetos: Dani Vidal e Ney Madeira – Ney Madeira Produções Artísticas

Cenotécnico: André Salles

Tingimento, Bordado e Tratamento de Objeto: Dani Vidal e Ney Madeira

Costureira: Aureci da Cunha Rocha

Costureira de Cenário: Alessandra Valle

Pintura de Arte: Paulo Campos

Carpinteiro: Paulo Sá

Iluminação: Ana Luzia de Simoni

Direção Musical e Trilha Sonora: Aline Peixoto

Percussão: Fabiano Salek

Vozes: Aline Peixoto, Chiara Santoro, Clara Santhana, Cyda Moreno e Soraya Ravenle

Operação de Som: Rafa Barcelos

Músicas: “Aponte” (Lan Lanh /Nanda Costa / Sambê), “Maria, Maria” (Milton Nascimento) e “Simplicidade” (Jaime Alem)

Visagismo: Mona Magalhães

Direção de Movimento: Luiza Vieira

Fotografias e Designer Gráfico: Bianca Oliveira – Estúdio da Bica

Mídias Sociais e Planejamento de Divulgação: Lyana Ferraz

Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)

Realização: Núcleo de Ensino e Pesquisa de Artes Cênicas – NEPAC

 



 

SERVIÇO:

Temporada: de 12 a 29 de maio de 2022.

Local: Teatro Poeirinha.

Endereço: Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro / RJ.

Telefone: (21)2537-8053.

Dias e Horários:  de quinta-feira a sábado, às 21h; domingo, às 19h.

Ingressos: R$25,00 (inteira) e R$12,50 (meia entrada).

https://bileto.sympla.com.br/event/73298

Duração: 50 minutos

Lotação: 50 pessoas

Classificação Etária: 12 anos.

Gênero: Solo

 





Recomendo, com bastante empenho, este espetáculo, que consegue ser, ao mesmo tempo, forte e delicado, assim como a escrita da poeta, e terno e lírico, idem.






 

FOTOS: BIANCA OLIVEIRA

 

 

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