“CORA DO RIO
VERMELHO”
ou
(UM “SHOW”
DE DELICADEZA
E TERNURA.)
Outro espetáculo que não estava nas
minhas intenções receber uma crítica escrita é “CORA DO RIO VERMELHO”,
em cartaz no Teatro Poeirinha (VER SERVIÇO.), mas eu não me perdoaria,
se não encontrasse um tempinho para escrever sobre ele, por pouco que seja, mas
de coração, por se tratar de, como eu disse, no subtítulo, “UM ‘SHOW’
DE DELICADEZA E TERNURA”, além de mais outros fatores.
SINOPSE:
“CORA DO RIO VERMELHO” faz um passeio pela vida e a obra da poeta, contista e doceira CORA CORALINA, reunindo textos e poemas que falam sobre a força feminina e a alma da mulher brasileira.
O solo, o primeiro da carreira da atriz RAQUEL
PENNER, aportou no Rio de Janeiro, depois de uma vitoriosa temporada
virtual, QUE NÃO É TEATRO, e de uma presencial,
também bem sucedida, em São Paulo, em 2021.
O texto lembra um “tecido refinado e adornado
com bordados deslumbrantes”, uma reunião de textos e poesias,
completas ou em partes, da consagrada poeta, numa forma dramatúrgica,
criada por LEONARDO SIMÕES, o qual foi muito feliz nas suas escolhas e
criações próprias. Sua “costura”, a “união de seus
remendos” resultou, como não se poderia esperar outra coisa, num lindo
texto, comovente. Os poemas que fazem parte do texto
da peça foram retirados dos livros “Vintém de Cobre – Meias Confissões
de Aninha”, “Meu Livro de Cordel, “Villa Boa de Goyaz”
e “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”.
O “release” da peça, que me chegou às
mãos, por RACHEL ALMEIDA (RACCA COMUNICAÇÃO), diz que “a peça
propõe uma relação de cumplicidade entre atriz e plateia, com perguntas e
provocações”. A “cumplicidade” é total, sim, mas o “diálogo”,
entre palco e plateia, se dá no silêncio, o que significa dizer
que as “perguntas e provocações” não são diretamente feitas ao
público, esperando respostas, em forma de palavras. O espetáculo não é
interativo, no sentido lato do vocábulo, porém, de certa forma, ele o é, já
que, em silêncio absoluto, tomadas pela emoção e diante do talento da atriz,
as pessoas só fazem apurar a audição e fixar os olhos na atriz e no espaço
cênico, "conversando com eles".
O desejo de RAQUEL, em montar um monólogo, veio
se desenhando há algum tempo e se tornou mais robusto, quando ela, no desejo de
falar sobre a força feminina e da alma da mulher brasileira, chegou à obra
e à vida de CORA CORALINA, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (Dona Aninha),
que assumiu, aos 50 anos de idade, o nome como passou a assinar seus escritos,
CORA CORALINA, nascida na Cidade de Goiás, em 20 de agosto de
1889, tendo falecido em Goiânia, em 10 de abril de 1985, aos 95 anos de idade, considerada
uma das mais importantes escritoras brasileiras, mesmo tendo sido o seu
primeiro livro publicado só em junho de 1965 (“Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais"), já aos quase 76 anos de
idade, apesar de escrever seus versos desde a adolescência.
CORA “foi uma mulher
simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes
centros urbanos, alheia a modismos literários, e produziu uma obra poética, rica em motivos do
cotidiano do interior brasileiro, em particular, dos becos e ruas históricas de
Goiás”. (Wikipédia.)
Foi nascida e criada às margens do Rio Vermelho, o que justifica o título
da peça. Começou a escrever os seus primeiros textos aos 14 anos,
publicando-os, posteriormente, nos jornais da cidade de Goiânia,
e nos jornais de outras cidades, assim como na revista “A Informação
Goiana”, do Rio de Janeiro, que começou a ser
editada a 15 de julho de 1917. Apesar da pouca escolaridade, uma vez que
cursou somente as primeiras quatro séries, CORA atingiu a notoriedade
que merecia, por meio de sua obra, tão simples, tão delicada, tão poética... CORA,
apesar de sua pouca intimidade com as regras gramaticais, era uma mulher de “poderosas
palavras”, e esse desconhecimento do mundo acadêmico fazia com que ela priorizasse
a mensagem, em vez da forma. Em 1911, mudou-se para São Paulo,
onde viveu durante 45 anos. A sua
casa, na Cidade de Goiás, foi transformada num museu, em
homenagem à sua história de vida e produção literária.
RAQUEL
PENNER, idealizadora do projeto e atriz, na peça, diz
que “CORA CORALINA foi uma mulher múltipla e libertária.
Removeu pedras e abriu caminhos para outras mulheres”. CORA “escreveu sobre os lugares onde
viveu, as pessoas com as quais se relacionou e a natureza que observava”.
Não sei se foi uma reação inconsciente, mas, quando adentrei
a plateia do Teatro Poeirinha, na última sexta-feira, dia 13
de maio (2022), acomodei-me na primeira fila e vi, à minha frente, um cenário
tão simples quanto deslumbrante, veio-me à cabeça outro solo, da atriz Suzana
Nascimento, “Calango Deu – Os Causos de Dona Zaninha”, guardadas
as devidas proporções, com um cenário muito parecido, lindíssimo, e, talvez, por terem
sido dirigidos, ambos os espetáculos, por ISAAC BERNAT, um “homem
de TEATRO”, com muita “sabença” e sensibilidade. É preciso
registrar que a Cenografia, o Figurino e a Produção de Objetos
de Cena levam a assinatura de DANI VIDAL e NEY MADEIRA, dois
grandes profissionais nessa área. O trabalho de cenotécnico foi de ANDRÉ
SALLES.
Percebe-se uma grande sintonia entre o diretor e a atriz.
Fiquei com a impressão de que já havia uma relação afetiva e de trabalho, entre
os dois, de muito tempo. Excelente direção! Excelente atuação!
A docilidade, na voz e nos gestos de RAQUEL, na pele
de uma personagem, se aproxima muito da maneira de falar de CORA,
a real. Ainda guardo, na minha memória auditiva, sua voz, dando entrevistas ou
recitando seus poemas. E sua doce imagem também. Cândida, suave, terna; o amor, o lirismo, a poesia da
vida transformados em palavras.
Retirado do já citado “releasae”: “Ao longo da encenação, aparecem algumas músicas populares, unindo vozes femininas de cantoras-atrizes do cenário teatral brasileiro: Aline Peixoto, Chiara Santoro, Clara Santhana, Cyda Moreno e Soraya Ravenle.”.
Para dar mais vida e beleza ao espetáculo, fazendo
realçar os elementos plásticos, entra em campo ANA LUZIA DE SIMONI,
com suas belas luzes e cores, como sempre, com uma correta iluminação.
Para
encerrar os comentários técnicos, falo de ALINE PEIXOTO,
responsável por uma boa trilha sonora e direção musical.
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Raquel Penner
Dramaturgia: Leonardo Simões
Direção: Isaac Bernat
Atuação: Raquel Penner
Cenografia, Figurino e Produção de Objetos: Dani
Vidal e Ney Madeira – Ney Madeira Produções Artísticas
Cenotécnico: André Salles
Tingimento, Bordado e Tratamento de Objeto: Dani
Vidal e Ney Madeira
Costureira: Aureci da Cunha Rocha
Costureira de Cenário: Alessandra Valle
Pintura de Arte: Paulo Campos
Carpinteiro: Paulo Sá
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Direção Musical e
Trilha Sonora: Aline Peixoto
Percussão: Fabiano Salek
Vozes: Aline Peixoto, Chiara Santoro, Clara Santhana,
Cyda Moreno e Soraya Ravenle
Operação de Som: Rafa Barcelos
Músicas: “Aponte” (Lan Lanh /Nanda Costa /
Sambê), “Maria, Maria” (Milton Nascimento) e “Simplicidade”
(Jaime Alem)
Visagismo: Mona Magalhães
Direção de Movimento: Luiza Vieira
Fotografias e Designer Gráfico: Bianca Oliveira –
Estúdio da Bica
Mídias Sociais e Planejamento de Divulgação: Lyana
Ferraz
Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca
Comunicação)
Realização: Núcleo de Ensino e Pesquisa de Artes Cênicas – NEPAC
SERVIÇO:
Temporada: de 12 a 29 de maio de 2022.
Local: Teatro Poeirinha.
Endereço: Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio
de Janeiro / RJ.
Telefone: (21)2537-8053.
Dias e Horários: de quinta-feira a sábado, às
21h; domingo, às 19h.
Ingressos: R$25,00 (inteira) e R$12,50 (meia entrada).
https://bileto.sympla.com.br/event/73298
Duração: 50 minutos
Lotação: 50 pessoas
Classificação Etária: 12 anos.
Gênero: Solo
Recomendo,
com bastante empenho, este espetáculo, que consegue ser, ao mesmo
tempo, forte e delicado, assim como a escrita da poeta, e terno e
lírico, idem.
FOTOS: BIANCA OLIVEIRA
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
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TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO
BRASILEIRO!
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