segunda-feira, 23 de agosto de 2021

 

“ELA & EU

– VESPERAL COM CHUVA”

ou

“AI, A SOLIDÃO VAI

ACABAR COMIGO!”

(Dolores Duran)


 

        Ainda temendo, e muito, a pandemia, mesmo correndo os riscos de uma contaminação, por essa terrível variante delta, por saber de todos os cuidados do Teatro PetraGold, seguindo os protocolos impostos, muito corretamente, pelas autoridades sanitárias, e com todos os meus cuidados pessoais, decidi que “precisava” ir aquele Teatro, para assistir a um espetáculo. Era a minha sexta saída nesse sentido, durante esta maldita pandemia. Havia a possibilidade de ter acesso a ele, de casa, via “on-line”, mas eu não poderia perder a oportunidade de ver, mais uma vez, atuando, num palco, uma das grandiosas atrizes da velha geração, dessas que, como o vinho, com o passar do tempo, se valorizam mais ainda.

 

        Refiro-me à DONA SUELY FRANCO (O “DONA” é por conta de como trato as grandes atrizes do TEATRO, de idade mais avançada, como uma homenagem, uma reverência, sejam elas minhas amigas pessoais ou não.), uma das grandes damas do TEATRO BRASILEIRO, uma diva, que sempre mereceu ser aplaudida de pé. E não é diferente neste espetáculo, um solo: “EU & ELA – VESPERAL COM CHUVA”, seu primeiro monólogo, em mais de 60 anos de carreira.

 

        Trata-se de uma adaptação do conto “Vesperal com Chuva”, de Lúcia Benedetti, feita por ROGÉRIA GOMES, idealizadora do projeto, e RÔMULO RODRIGUES. ROGÉRIA ainda é a responsável pela direção do espetáculo, e RÔMULO acumula a função de direção de produção. CLAUDIO LINS faz a supervisão geral da peça e é o responsável por sua direção musical.



 


 

SINOPSE:

 

O espetáculo traz à cena histórias de uma senhora, DONA COTINHA (SUELY FRANCO), a qual, numa tarde chuvosa, ao esperar uma amiga, que não chega nunca (Será que ela existe?), para um "habitual café", relembra, com sensibilidade e humor, passagens felizes, difíceis e engraçadas de sua vida.

 

A peça é uma “colcha de retalhos” da alma humana, um espetáculo delicado, acolhedor e mais que necessário, num tempo em que o ser humano precisa reconectar-se com sua humanidade.

 

 




        O texto é bastante simples, no sentido de “singelo” e, visto superficialmente, não chama muito a atenção do espectador menos atento, aquele que não enxerga as entrelinhas de um texto, qualquer que seja o seu gênero. No TEATRO, os dramaturgos costumam utilizar muito esse recurso de dizer “fora das palavras escritas”, podendo provocar, no espectador, uma sensação de estar diante de uma escrita que pode parecer “bobinha”, “para fazer passar o tempo”, uma “mera distração, entretenimento apenas”. Mas não é assim. Não conheço o conto, mas, é claro, posso falar, e devo, do texto dito pela personagem.

 

        DONA COTINHA não surgiu do nada nem está ali por acaso. E, para justificar essa minha informação, retomo a sinopse, quando diz, no final, que “A peça é uma ‘colcha de retalhos’ da alma humana, um espetáculo delicado, acolhedor e mais que necessário, num tempo em que o ser humano precisa reconectar-se com sua humanidade”. Sim, todos temos nossa porção “DONA COTINHA” e todos vivemos - uns mais, outros menos - o que motiva a personagem a disparar seus “tiros”, em todas as direções. E como se chama essa motivação, ou justificativa, para isso? Uma só palavra define: SOLIDÃO. A personagem não quebra, intencionalmente, a quarta parede, porém faz ameaças disso. Na verdade, ela está sozinha e solitária, que são duas coisas bem distintas. Eu posso estar sozinho, porém não solitário (Só depende de mim.), assim como posso estar cercado de gente, não sozinho, portanto, porém mergulhado numa profunda solidão (Penso que também possa se tratar de uma escolha de minha parte.). Isso para provocar uma reflexão.

 

        DONA COTINHA “pensa alto”, utiliza-se de solilóquios, fala com ela mesma, em qualquer que seja a recordação da vez. Ela, contudo, nos representa. É só prestar atenção às entrelinhas e sair do Teatro disposto a, no mínimo, refletir sobre o que viu e ouviu, e tomar um rumo, na vida. Pode ser ficar estático, permanecer como está, se acha que isso lhe é confortável (DUVIDO!!!), ou escolher uma nova rota para seguir. Tenho certeza de uma coisa: cada um de nós tem, sim, principalmente com relação ao momento que estamos vivendo, sob todos os pontos de vista, que partir para uma reconexão consigo mesmo, praticando a empatia, pois isso será benéfico a toda a Humanidade. Não há outra alternativa. Penso ser a única saída para que o dito ser “humano” não venha a desaparecer da face da Terra, num tempo nem tão distante de agora.

 

        E é DONA COTINHA, com as histórias de sua vida, suas memórias, os sonhos de quando era jovem, seus desencantos, suas fragilidades, suas alegrias, decepções e medos, quem chama a nossa atenção para a necessidade, urgente, da já referida reconexão. E faz tudo isso com muita suavidade, humor e uma pitada de nostalgia.

 

SUELY FRANCO nada mais faz do que “dar vida a um texto sensível, que fala de como o ser humano lida com suas emoções cotidianas”. Esse “nada mais faz” não tem a menor intenção de dizer que se trata de uma tarefa fácil, para qualquer atriz incipiente; muito pelo contrário. O espetáculo só ganha o patamar em que se encontra por conta do grande talento da veterana atriz, a qual “se entrega à personagem, com leveza e imponência...”.



 


“Nunca me convidaram para um monólogo. Quando eu iniciei, não tinha muito isso. O maior desafio está sendo decorar. Representar, para mim, é divertimento puro!” – diz SUELY FRANCO sobre a estreia em seu primeiro monólogo. Para encerrar os comentários sobre o comportamento da atriz, em cena, só preciso dizer que, por acompanhar sua brilhante carreira, há décadas, posso afirmar que seu desempenho é dos melhores que já vi, da parte dela, como não esperaria eu outra coisa. Aplaudi-a de pé e com bastante entusiasmo.

 

Reflexo das dificuldades financeiras por que todos estamos passando, principalmente os corajosos e destemidos, os “da resistência”, que insistem em fazer ARTE, principalmente quando se trata de TEATRO, a montagem é bem “franciscana”, o que não significa dizer que não seja bonita, bem cuidada, com todos os setores funcionando corretamente.

 

    Isso se aplica ao texto, sobre o qual já esgotei minhas observações, e aos demais pilares de sustentação deste solo, começando pela cenografia, assinada por um dos melhores cenógrafos brasileiros: JOSÉ DIAS. DIAS executa seus trabalhos, sempre de forma satisfatória, se tem em mãos um orçamento polpudo, para produções “ricas”, ou se o dinheiro de que pode dispor é pouco, nas “pobres”. Ele consegue, aqui, com sua inteligência e sensibilidade, criar um cenário composto por apenas três peças, que, embora fixadas, quase coladas, no centro do palco, dão a impressão de ocupar todo o espaço cênico disponível. Três móveis de estilo clássico, de outra época, porém atemporais, na minha visão, compondo um ambiente romântico. Uma cadeira de balanço, ao centro; um abajur de pé, à esquerda da cadeira; à direita desta, uma espécie de porta-revistas, ou algo que o valha, de onde a personagem retira alguns poucos objetos de cena, com destaque para um bastidor para bordar, o que ela faz durante boa parte do tempo, enquanto “dá o texto”. No chão, um gigantesco tapete redondo e, acima, uma construção transparente, fazendo as vezes de um teto, muito explorado pela iluminação, esta desenhada por DJALMA AMARAL, num bom trabalho, valorizando bastante algumas cenas, incluindo os efeitos de uma chuva lá fora.

 

        PATRÍCIA MUNIZ acertou no figurino e o mesmo posso dizer sobre VÁLTER ROCHA, o criador de um ótimo visagismo, deixando, os dois, a personagem com uma ótima aparência, apesar de bem idosa. Por alguns momentos, pensei estar diante de uma “Dona Benta”, a avozinha do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”.

 

     Ainda colaboram para o bom resultado do espetáculo, RODRIGO PARCIAS, na composição de uma trilha sonora original e na assistência de direção musical; SUELI GUERRA, na direção de movimento/coreografia; e AGNES MENDES, na programação visual, além de outros nomes.  

 


 



 

FICHA TÉCNICA:

 

Inspirado no conto “Vesperal Com Chuva”, de Lúcia Benedetti

Idealização: Rogéria Gomes

Texto: Rogéria Gomes e Rômulo Rodrigues

Direção: Rogéria Gomes

Supervisão Geral: Cláudio Lins

 

Elenco: (DONA) SUELY FRANCO

 

Direção Musical: Cláudio Lins

Assistente de Direção Musical e Trilha Sonora Original: Rodrigo Parcias

Cenografia: José Dias

Figurino: Patrícia Muniz

Iluminação: Djalma Amaral

Visagismo: Válter Rocha

Direção de Produção: Rômulo Rodrigues

Direção de Movimento/Coreografia: Sueli Guerra

Assistente de Coreografia: Marcus Anoli

Fotografia: Luciana Mesquita

Produção Executiva: Rogéria Gomes e Rômulo Rodrigues

Coordenação Administrativa Financeira: Lourisinha Fernandes

Realização: PRAMA COMUNICAÇÃO

 

 

 

 

 


 

SERVIÇO:

 

Temporada: De 07 a 28 de agosto/21

Local: Teatro PetraGold

Endereço: Rua Conde de Bernadotte, 26 - Leblon, Rio de Janeiro

Telefone: (21) 2529-7700

https://www.teatropetragold.com.br

Dias e Horários: Somente aos sábados, às 19h

Classificação: Livre

Duração: 50 minutos

 

TEMPORADA PRESENCIAL E “ON-LINE”, COM TRANSMISSÃO AO VIVO.

 

 


 




        Ver SUELY FRANCO, aos 81 anos de idade, lépida e fagueira, deslocando-se, sozinha, em cena, de lá para cá, daqui para lá, dançando num palco, numa excelente atuação, é, para mim e para todos os que seguirem a minha recomendação de assistir ao espetáculo “ELA & EU – VESPERAL COM CHUVA”, por cinquenta minutos, presencialmente ou via “on-line”, um grande privilégio e uma experiência muito encantadora para os espectadores.

 

 

E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!! 

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!! 

 

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!




GALERIA PARTICULAR (FOTOS "AFETIVAS E DOMÉSTICAS")



Com a divina SUELY FRANCO.




Com a querida anfitriã, ROGÉRIA GOMES.




Com queridos amigos (da esquerda para a direita: RÔMULO RODRIGUES, JOSÉ DIAS, (DONA) SUELY FRANCO, (SENHOR) EMILIANO QUEIROZ e ROGÉRIA GOMES.



Com esta "entidade": (SENHOR) EMILIANO QUEIROZ



Com o querido amigo JOSÉ DIAS.


 Com a querida amiga ADRIANA GUSMÃO, que sempre nos recebe, com muito carinho e generosidade, no Teatro PetraGold.




Programa da peça (o primeiro que recebi em espetáculos presenciais).






Um comentário:

  1. Adorei a crítica. Pena que não estou no Rio nesse período? Como faço para assistir on line?

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