“ELA & EU
– VESPERAL COM CHUVA”
ou
“AI, A SOLIDÃO VAI
ACABAR COMIGO!”
(Dolores Duran)
Ainda temendo, e muito, a pandemia, mesmo correndo os riscos
de uma contaminação, por essa terrível variante delta, por saber de todos os
cuidados do Teatro PetraGold, seguindo os protocolos impostos, muito
corretamente, pelas autoridades sanitárias, e com todos os meus cuidados
pessoais, decidi que “precisava” ir aquele Teatro, para
assistir a um espetáculo. Era a minha sexta saída nesse sentido, durante esta maldita
pandemia. Havia a possibilidade de ter acesso a ele, de casa, via “on-line”,
mas eu não poderia perder a oportunidade de ver, mais uma vez, atuando, num
palco, uma das grandiosas atrizes da velha geração, dessas que, como o vinho, com
o passar do tempo, se valorizam mais ainda.
Refiro-me à DONA SUELY FRANCO (O “DONA” é por
conta de como trato as grandes atrizes do TEATRO, de idade mais
avançada, como uma homenagem, uma reverência, sejam elas minhas amigas pessoais ou não.), uma
das grandes damas do TEATRO BRASILEIRO, uma diva, que sempre mereceu ser
aplaudida de pé. E não é diferente neste espetáculo, um solo: “EU & ELA
– VESPERAL COM CHUVA”, seu primeiro monólogo, em mais de 60 anos de
carreira.
Trata-se de uma adaptação do conto “Vesperal com
Chuva”, de Lúcia Benedetti, feita por ROGÉRIA GOMES, idealizadora
do projeto, e RÔMULO RODRIGUES. ROGÉRIA ainda é a responsável
pela direção do espetáculo, e RÔMULO acumula a função de direção
de produção. CLAUDIO LINS faz a supervisão geral da peça e é
o responsável por sua direção musical.
SINOPSE:
O espetáculo traz à cena histórias de uma senhora, DONA
COTINHA (SUELY FRANCO), a qual, numa tarde chuvosa, ao esperar uma amiga, que
não chega nunca (Será que ela existe?), para um "habitual café", relembra, com
sensibilidade e humor, passagens felizes, difíceis e engraçadas de sua vida.
O texto é bastante simples, no sentido de “singelo”
e, visto superficialmente, não chama muito a atenção do espectador menos
atento, aquele que não enxerga as entrelinhas de um texto, qualquer que seja o
seu gênero. No TEATRO, os dramaturgos costumam utilizar muito esse recurso
de dizer “fora das palavras escritas”, podendo provocar, no
espectador, uma sensação de estar diante de uma escrita que pode parecer “bobinha”,
“para fazer passar o tempo”, uma “mera distração,
entretenimento apenas”. Mas não é assim. Não conheço o conto, mas, é claro, posso falar,
e devo, do texto dito pela personagem.
DONA COTINHA não surgiu do nada nem está ali por acaso.
E, para justificar essa minha informação, retomo a sinopse, quando diz,
no final, que “A peça é uma ‘colcha de retalhos’ da alma humana, um
espetáculo delicado, acolhedor e mais que necessário, num tempo em que o ser
humano precisa reconectar-se com sua humanidade”. Sim, todos temos
nossa porção “DONA COTINHA” e todos vivemos - uns mais, outros menos - o
que motiva a personagem a disparar seus “tiros”, em todas as
direções. E como se chama essa motivação, ou justificativa, para isso? Uma só
palavra define: SOLIDÃO. A personagem não quebra, intencionalmente, a quarta
parede, porém faz ameaças disso. Na verdade, ela está sozinha e solitária,
que são duas coisas bem distintas. Eu posso estar sozinho, porém não solitário
(Só depende de mim.), assim como posso estar cercado de gente, não sozinho,
portanto, porém mergulhado numa profunda solidão (Penso que também possa se
tratar de uma escolha de minha parte.). Isso para provocar uma reflexão.
DONA COTINHA “pensa alto”, utiliza-se de
solilóquios, fala com ela mesma, em qualquer que seja a recordação da
vez. Ela, contudo, nos representa. É só prestar atenção às entrelinhas e sair
do Teatro disposto a, no mínimo, refletir sobre o que viu e ouviu, e
tomar um rumo, na vida. Pode ser ficar estático, permanecer como está, se acha
que isso lhe é confortável (DUVIDO!!!), ou escolher uma nova rota para
seguir. Tenho certeza de uma coisa: cada um de nós tem, sim, principalmente com
relação ao momento que estamos vivendo, sob todos os pontos de vista, que partir
para uma reconexão consigo mesmo, praticando a empatia, pois isso
será benéfico a toda a Humanidade. Não há outra alternativa. Penso ser a única
saída para que o dito ser “humano” não venha a desaparecer da
face da Terra, num tempo nem tão distante de agora.
E é DONA COTINHA, com as histórias de sua vida, suas
memórias, os sonhos de quando era jovem, seus desencantos, suas fragilidades,
suas alegrias, decepções e medos, quem chama a nossa atenção para a
necessidade, urgente, da já referida reconexão. E faz tudo isso com
muita suavidade, humor e uma pitada de nostalgia.
SUELY
FRANCO nada mais faz do que “dar vida a um texto
sensível, que fala de como o ser humano lida com suas emoções cotidianas”.
Esse “nada mais faz” não tem a menor intenção de dizer que se
trata de uma tarefa fácil, para qualquer atriz incipiente; muito pelo contrário.
O espetáculo só ganha o patamar em que se encontra por conta do grande talento
da veterana atriz, a qual “se entrega à personagem, com leveza e
imponência...”.
“Nunca
me convidaram para um monólogo. Quando eu iniciei, não tinha muito isso. O maior
desafio está sendo decorar. Representar, para mim, é divertimento puro!”
– diz SUELY FRANCO sobre a estreia em seu primeiro monólogo. Para
encerrar os comentários sobre o comportamento da atriz, em cena, só preciso
dizer que, por acompanhar sua brilhante carreira, há décadas, posso afirmar que
seu desempenho é dos melhores que já vi, da parte dela, como não esperaria eu
outra coisa. Aplaudi-a de pé e com bastante entusiasmo.
Reflexo
das dificuldades financeiras por que todos estamos passando, principalmente os
corajosos e destemidos, os “da resistência”, que insistem em
fazer ARTE, principalmente quando se trata de TEATRO, a montagem
é bem “franciscana”, o que não significa dizer que não seja
bonita, bem cuidada, com todos os setores funcionando corretamente.
Isso se aplica ao texto, sobre o qual já esgotei
minhas observações, e aos demais pilares de sustentação deste solo, começando
pela cenografia, assinada por um dos melhores cenógrafos brasileiros: JOSÉ
DIAS. DIAS executa seus trabalhos, sempre de forma satisfatória, se
tem em mãos um orçamento polpudo, para produções “ricas”, ou se o
dinheiro de que pode dispor é pouco, nas “pobres”. Ele consegue, aqui,
com sua inteligência e sensibilidade, criar um cenário composto por
apenas três peças, que, embora fixadas, quase coladas, no centro do palco, dão
a impressão de ocupar todo o espaço cênico disponível. Três móveis de estilo
clássico, de outra época, porém atemporais, na minha visão, compondo um
ambiente romântico. Uma cadeira de balanço, ao centro; um abajur de pé, à esquerda
da cadeira; à direita desta, uma espécie de porta-revistas, ou algo que o valha, de
onde a personagem retira alguns poucos objetos de cena, com destaque para um bastidor
para bordar, o que ela faz durante boa parte do tempo, enquanto “dá o
texto”. No chão, um gigantesco tapete redondo e, acima, uma construção
transparente, fazendo as vezes de um teto, muito explorado pela iluminação,
esta desenhada por DJALMA AMARAL, num bom trabalho, valorizando bastante
algumas cenas, incluindo os efeitos de uma chuva lá fora.
PATRÍCIA MUNIZ acertou no figurino e o mesmo
posso dizer sobre VÁLTER ROCHA, o criador de um ótimo visagismo,
deixando, os dois, a personagem com uma ótima aparência, apesar de bem idosa.
Por alguns momentos, pensei estar diante de uma “Dona Benta”, a
avozinha do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”.
Ainda colaboram para o bom resultado do espetáculo, RODRIGO
PARCIAS, na composição de uma trilha sonora original e na assistência
de direção musical; SUELI GUERRA, na direção de movimento/coreografia; e AGNES
MENDES, na programação visual, além de outros nomes.
FICHA TÉCNICA:
Inspirado no conto “Vesperal Com Chuva”, de Lúcia
Benedetti
Idealização: Rogéria Gomes
Texto: Rogéria Gomes e Rômulo Rodrigues
Direção: Rogéria Gomes
Supervisão Geral: Cláudio Lins
Elenco: (DONA) SUELY FRANCO
Direção Musical: Cláudio Lins
Assistente de Direção Musical e Trilha Sonora
Original: Rodrigo Parcias
Cenografia: José Dias
Figurino: Patrícia Muniz
Iluminação: Djalma Amaral
Visagismo: Válter Rocha
Direção de Produção: Rômulo Rodrigues
Direção de Movimento/Coreografia: Sueli Guerra
Assistente de Coreografia: Marcus Anoli
Fotografia: Luciana Mesquita
Produção Executiva: Rogéria Gomes e Rômulo Rodrigues
Coordenação Administrativa Financeira: Lourisinha
Fernandes
Realização: PRAMA COMUNICAÇÃO
SERVIÇO:
Temporada: De 07 a 28 de agosto/21
Local: Teatro PetraGold
Endereço: Rua Conde de Bernadotte, 26 - Leblon,
Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2529-7700
https://www.teatropetragold.com.br
Dias e Horários: Somente aos sábados, às 19h
Classificação: Livre
Duração: 50 minutos
TEMPORADA
PRESENCIAL E “ON-LINE”, COM TRANSMISSÃO AO VIVO.
Ver SUELY FRANCO, aos 81 anos
de idade, lépida e fagueira, deslocando-se, sozinha, em cena, de lá para cá,
daqui para lá, dançando num palco, numa excelente atuação, é, para mim e para todos os
que seguirem a minha recomendação de assistir ao espetáculo “ELA & EU – VESPERAL
COM CHUVA”, por cinquenta minutos, presencialmente ou via “on-line”,
um grande privilégio e uma experiência muito encantadora para os espectadores.
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
GALERIA PARTICULAR (FOTOS "AFETIVAS E DOMÉSTICAS")
Com a divina SUELY FRANCO.
Adorei a crítica. Pena que não estou no Rio nesse período? Como faço para assistir on line?
ResponderExcluir