EU,
MOBY DICK
(ESTE É DAQUELES
ESPETÁCULOS TEATRAIS
QUE NOS MARCAM
PARA A VIDA INTEIRA.
ou
“UM BARCO DESGOVERNADO,
COMANDADO POR UM LOUCO”.
ou
SOMOS TODOS
MOBY DICK OU AHAB,
MOBY DICK OU AHAB,
NUM FRÁGIL PEQUOD,
NUM MAR INÓSPITO?)
Escrevo sobre um daqueles espetáculos
teatrais que nos marcam para a vida inteira e nos dão a mais perfeita
dimensão de quão profissional, criativo e tecnicamente perfeito é o TEATRO
BRASILEIRO, quando feito por gente que entende do riscado. Na verdade, são
os artistas e técnicos brasileiros.
A peça de que falo é “EU, MOBY DICK”, com dramaturgia
de PEDRO KOSOVSKI, ancorada no clássico “MOBY DICk”, do escritor
norte-americano HERMAN MELVILLE, uma verdadeira obra-prima,
que vem atravessando inúmeras gerações, desde que foi publicado, pela primeira
vez, em três fascículos (A obra completa, num volume só, ultrapassa a casa das 600
páginas, dependendo da edição.), em 1851, em Londres. O espetáculo
está em cartaz no Centro Cultural Oi Futuro (VER SERVIÇO.).
A origem do romance, revolucionário, para a época, remonta a dois fatos, segundo os entendidos no assunto. Um deles seria o naufrágio do navio baleeiro Essex, em 1820, comandado pelo capitão George Pollard, que perseguiu, teimosamente, uma baleia e, ao tentar destruí-la, afundou; e a outra fonte de inspiração teria sido o cachalote albino Mocha Dick, supostamente morta na década de 1830, ao largo da ilha chilena de Mocha, a qual, pobrezinha, se defendia dos navios que a perturbavam com premeditada ferocidade.
Mas
não pensem que o espetáculo sobre o qual escrevo, simplesmente, seja um
romance dramatizado, uma adaptação, para os palcos, de uma narrativa épica.
Trata-se de outra proposta, sobre a qual dissertarei, tentando guardar alguns
segredos e emoções, para surpreender os futuros espectadores.
Desde que tomei conhecimento de que estava em curso o projeto
de uma montagem teatral, cujo título seria “EU, MOBY DICK”,
imaginei, sim, ser mais uma versão teatralizada da obra literária e, com
relação ao título, achei que o acréscimo, no início, do pronome pessoal reto,
de primeira pessoa do singular, “EU”, teria sido usado para que não se
confundisse esta peça com outra, simplesmente chamada de “Moby Dick”,
também grande e inesquecível montagem – essa, sim, o romance
teatralizado, numa excepcional adaptação -, dirigida, em 2013, por Aderbal
Freire-Filho, no Teatro Poeira, com um elenco estelar: Chico
Diaz, Isio Ghelman, Orã Figeiredo e André Matos. Mas
não é nada disso. O pronome, seguido de uma vírgula, para separar um aposto, é
totalmente necessário ao espetáculo, uma vez que a proposta metafórica
do dramaturgo faz, de cada um de nós, o violento cachalote branco,
terror dos mares, porém vítima da obsessão, da compulsão, da animalidade, da
bestialidade e do instinto de vingança do Homem, o dito "ser racional".
Somos caças ou caçadores? Por que não somos, também, o ensandecido e vingativo CAPITÃO
AHAB, o verdadeiro predador? A baleia branca mata por instinto de defesa ou
para se alimentar, puro mecanismo de preservação de sua espécie; o Homem mata por
prazer, para alimentar o seu ódio, para colecionar troféus; mata por competição
com outros de sua espécie. Triste espécie!!!
SINOPSE:
Na cidade de New
Bedford, em Massachusetts, o marinheiro ISMAEL conhece o
arpoador QUEEQUEG e, juntos, partem para a ilha de Nantucket, em
busca de trabalho no mercado de caça às baleias.
Lá, eles embarcam
no baleeiro Pequod, para uma viagem, de três anos, aos gelados mares do
sul.
Entre eles,
tripulantes de diversas nacionalidades: os imediatos STARBUCK, Stubb
e Flask; os arpoadores Tashtego e Daggoo, além de AHAB,
o sombrio CAPITÃO, que ostenta uma enorme cicatriz do rosto ao pescoço e
uma perna artificial, feita do osso de cachalote.
Obcecado por
encontrar a fera responsável por seus ferimentos e que nenhum arpoador jamais
conseguiu abater - a temível MOBY DICK -, o CAPITÃO AHAB conduz o
baleeiro e toda a sua tripulação por uma rota de perigos e incertezas.
Embarcar no navio Pequod
é embarcar numa batalha entre a razão humana e o instinto animal, e
confrontar-se com MOBY DICK acaba sendo confrontar-se com os fantasmas
que nós mesmos criamos, confrontar a si mesmo, com a simples possibilidade de
se estar vivo ou ter que deparar-se com a própria morte.
Logo, a encenação
de “EU, MOBY DICK”, proposta por RENATO ROCHA não tem a intenção
de ser fiel à história original, da perseguição à baleia branca, descrita por HERMAN MELVILLE, mas, sim, se apropriar de seus personagens, de seus
conflitos e suas reflexões, para criar uma dramaturgia aberta e subjetiva,
que utiliza, como pontos de partida, questões fundamentais do próprio livro,
levantadas pelo autor, como: Quais são as nossas obsessões? Quais
os monstros que nós mesmo criamos? Até que ponto ficamos cegos, em uma
busca por algo que pode custar tudo o que construímos; no caso, nossa própria
vida? Como nos relacionamos com os mistérios de um mundo que não
conhecemos; nesse caso, esse oceano que se apresenta em nossa jornada? Qual
é a relação entre o percurso do navio Pequod e as escolhas que determinam nosso
próprio caminho?
Exercitem suas reflexões! Com a palavra, o
público!
Nesta versão, em que a plasticidade e a sensorialidade
são os grandes destaques, ao lado, evidentemente, das magníficas
interpretações do quarteto de atores, da esplêndida direção e de
todos os fascinantes elementos técnicos e de criação, que
agasalham e potencializam a montagem, a dramaturgia permite que
cada ator possa viver mais de um personagem (ISMAEL,
CAPITÃO AHAB, QUEENQUEG, MOBY DICK e o próprio navio
PEQUOD, personalizado), num revezamento, nunca perdendo a
oportunidade de inserir, em determinados momentos, falas em que se apresentam em
suas identidades verdadeiras. “Podem me chamar de KELZY”. “Podem
me chamar de MÁRCIO VITO”. “Podem me chamar de NOEMIA”. “Podem
me chamar de GABRIEL”. Porque somos todos “MOBY DICK”. O dramaturgo
seguiu a linha da narrativa, em primeira pessoa do singular, abrindo mão dos
diálogos, praticamente. Há um texto declamado, dito, verbalmente, e
outro, muito expressivo, codificado em silêncios e muita, muita, mesmo,
excelente expressão corporal.
O comando do navio baleeiro está sob as rédeas do CAPITÃO
AHAB, um louco, que só tem um grande objetivo na viagem: caçar e abater MOBY
DICK (A “comunista do mar” – grifo, assumidamente, meu, já preparando o
leitor para o que ainda virá, em termos metafóricos.), a baleia branca, do tipo
cachalote, “o maior animal do globo; a mais formidável, para enfrentar,
de todas as baleias”, que lhe arrancara a perna, num encontro anterior
dos dois. Para envolver e estimular todos a ajudá-lo naquela ideia obsessiva,
AHAB prendeu um dobrão de ouro, no mastro principal da embarcação, que seria
conquistado por aquele que avistasse, primeiro, a baleia.
Durante toda a viagem, STARBUCK, o primeiro
imediato, se apresenta como um grande opositor às ideias do CAPITÃO,
surgindo, daí, algumas divergências entre os dois. Na verdade, mais pragmático
e “pé no chão”, STARBRUCK sabia do risco que todos corriam e desejava,
apenas, salvaguardar a integridade física de sua tripulação e evitar que o Pequod
naufragasse. (“Lá vem o Brasil, descendo a ladeira!” - Moraes Moreira e
Pepeu Gomes – outro grifo meu, no mesmo sentido do anterior.).
Durante a navegação, o baleeiro mata várias baleias, mas
nenhuma delas era o troféu tão desejado por AHAB.
Num
belo dia, o CAPITÃO fareja o inimigo; sobe ao mastro e avista MOBY
DICK. Reivindica o dobrão de ouro, a recompensa, para si próprio (O CAPITÃO
era “esperto” e “experto”, em trapaças. – Tomei gosto pelos grifos.) e ordena
que todos os botes sejam arriados, exceto o de STARBUCK. A baleia, com
uma mordida, parte o bote de AHAB pela metade (Não foi com uma facada. Chega
de grifos "spoilerizantes"!!!), lançando o CAPITÃO para fora e dispersando a tripulação.
No outro dia da caça, AHAB deixa STARBUCK no comando do Pequod.
MOBY DICK estraçalha os três barcos que lhe vão ao encalço e emaranha
suas arpoeiras (cabos que prendem os arpões ao barco). AHAB é salvo, mas
sua perna de marfim se perde. STARBUCK implora que AHAB desista
de seu pensamento fixo, mas este promete que, no dia seguinte, o cachalote “esguichará
seu último jato”.
No
terceiro dia da caça, AHAB avista MOBY DICK, ao meio-dia, e
tubarões também aparecem. Ele arria seu barco, pela última vez, deixando STARBUCK,
novamente, a bordo. MOBY DICK salta sobre dois barcos, destruindo-os. AHAB
lança seu arpão, junto com uma praga, contra o odiado cetáceo. MOBY golpeia o barco, lançando seus homens ao mar. Somente ISMAEL não
consegue retornar ao navio. Deixado para trás, no mar, é o único tripulante do Pequod
que sobrevive ao embate final. O cachalote, agora, ataca, fatalmente, o Pequod.
A baleia retorna para AHAB, que a arpoa de novo. O cabo do arpão se
enrola no pescoço de AHAB, o qual, “calado, como os mudos turcos
estrangulam sua vítima, foi arremessado do bote, antes que a equipagem
percebesse que ele se tinha ido”. Por um dia inteiro, ISMAEL
flutua nas águas, até que o outro baleeiro, o Raquel, o resgata, para
contar a saga.
Para
escrever os cinco parágrafos anteriores, o resumo da história original, vali-me
das informações da Wikipédia, com omissões e adaptações, incluindo os
grifos meus.
O espetáculo, como já disse, não é uma
representação teatral de um romance, mas, sim uma “versão cênica” de um
diretor, RENATO ROCHA, num de seus mais felizes momentos
profissionais, seguindo a metodologia e filosofia do trabalho / pesquisa,
inicialmente em seus espetáculos na Europa e, mais recentemente,
no Brasil com o NAI – Núcleo de Artes Integradas, contando com as
memórias e experiências de vida dos espectadores, como parte final da obra,
“uma obra de dramaturgia aberta, de extrema poesia visual, que leva o
público a uma experiência imersiva, multimídia e sensorial”, como
consta no completo “release” que me foi enviado por NEY MOTTA
(CONTEMPORÂNEA COMUNICAÇÃO ASSESSORIA DE IMPRENSA).
Quem vai assistir a “EU, MOBY DICK” não pode sair
do Teatro, dizendo que viu, apenas, uma peça teatral. Na verdade,
o espectador vive, junto com os atores, uma inesquecível experiência sensorial
e de vida, que pode acontecer de duas formas: na plateia ou no próprio palco,
se optar pelas filas A e B. Por falar em palco, ele foi ampliado, para a
frente, e transformado numa gigantesca plataforma, num convés, reproduzindo o
baleeiro Pequod. Acho que isso me provoca a, fugindo à regra, começar
meus comentários pelo que alguns chamam de cenário - inclusive, é como
aparece na ficha técnica -, mas que prefiro reconhecer como uma fantástica
instalação de BIA JUNQUEIRA, uma artista plástica de nos causar orgulho. BIA,
na verdade, criou uma ambientação, que começa no palco e se estende à
plateia, para que o espectador se sinta dentro da ação. No espaço cênico,
propriamente dito, além de poucas cadeiras, nas laterais, para acomodar os
espectadores que optarem por elas, apenas mais quatro, inicialmente colocadas ao
fundo, brancas, de plástico. Tudo é branco, inclusive o linóleo que forra o
piso. Das laterais do palco e da plateia, do alto delas, até o chão, pendem
panos brancos, finos, para serem esvoaçantes, propícios às projeções, sobre as
quais falarei adiante, e para as quais o piso também é utilizado. O grande
destaque desta cenografia / instalação é o esqueleto de uma baleia, preso no teto, que
começa num dos cantos de fundo do palco e vai até o final do auditório. Uma
obra de arte gigantesca. Era um “spoiler” que tentei evitar, mas
não consegui me segurar. Uma alusão ao esqueleto que havia no Museu Nacional
do Rio de Janeiro, destruído, recentemente, por um incêndio e que é citado na peça.
Fica, para os leitores, uma surpresa: de que material, ou objetos, é feito esse
esqueleto. É de arrepiar!!!
PEDRO KOSOVSKI, num momento de extrema felicidade
criativa, em acordo com o diretor, durante o processo de criação do
espetáculo, foi gerando um texto inquietante, inteligente, mesclando
trechos do livro com uma escrita própria, por meio da qual, metaforicamente,
faz alusão a um certo CAPITÃO (Precisa desenhar?) e o momento político
atual do Brasil. Extraído do já citado “release”: “Associando (...)
passagens da história, trechos de narrações e cenas do livro, é construída uma
plataforma, que serve de base, para improvisações e composições cênicas do
elenco e da equipe de criação. Assim, a partir de como cada artista se
relaciona com o material proposto, durante o processo criativo, novos textos,
movimentos corporais, cenas imagéticas, gestos, passagens audiovisuais,
coreografias, além de trechos de texto e cenas extraídos do próprio livro serão
(foram) entrelaçados, para a criação da dramaturgia de PEDRO
KOSOVSKI e da encenação de RENATO ROCHA”.
Nesta montagem, o diretor pôs em prática
toda a bagagem aprendida e desenvolvida em muitos anos de experiência no
exterior, com os seguintes destaques: “Em Londres, criou espetáculos para
a Royal Shakespeare Company, The Roundhouse, LIFT (London International
Festival of Theatre) e Circolombia. Criou espetáculos, também, para a Bienal
Internacional de Artes de Marselha, National Theatre of Scotland, o Festival
Internacional de Dança de Leicester, União Européia e Unicef, além de ter
dirigido e colaborado em projetos na Índia, Berlim, Tanzânia, Quênia, Egito,
Paris, Nova Iorque, Edimburgo, Estocolmo, Budapeste e Colômbia. Desde de seu
retorno ao Brasil, RENATO vem trazendo sua pesquisa internacional para o
cenário artístico nacional. Assim, em 2016, fundou o NAI – Núcleo de Artes Integradas,
no qual aprofunda sua pesquisa artística multidisciplinar, que vem chamando de ‘processo
criativo antropofágico’, e vem ministrando residências artísticas ao redor do
mundo. O primeiro espetáculo com o NAI, ‘Antes Que Tudo Acabe’ (‘Before Everything
Ends’), de 2016, foi criado a convite do National Theatre of Scotland,
especialmente para o Festival Home Away, em Glasgow. Antes do festival, o
espetáculo fez temporada na Arena do Sesc Copacabana. O segundo trabalho, ‘S’Blood’,
de 2018, transformou a Casa Rio, em Botafogo, num ‘site specific’, numa
instalação performativa. Esse espetáculo foi indicado ao Prêmio Shell-RJ 2018,
na categoria Inovação. Em outubro de 2019, uma nova pesquisa, o projeto ‘Escombros’,
uma experiência imersiva, interdisciplinar e intercultural, transformará a Casa
da Glória, num “site specifc”. Foi, também, o diretor artístico da organização
Street Child United, que cria projetos com jovens em situação de rua, em 20
países, e um dos diretores artísticos da Circus Incubator, uma plataforma de
pesquisa de circo, criada em colaboração entre La Grainerie (França), Circus
Info e Cirko (Finlândia), Subtopia (Suécia), La Central del Circ (Espanha), La
TOHU (Canadá) e Luni Produções (Brasil). Recentemente dirigiu (no
Brasil) os musicais ‘Ayrton Senna – o Musical’ e ‘O Meu Destino é Ser Star’.
Além disso, colabora com projetos, em diversos lugares do mundo, no uso da
arte, como poderosa ferramenta na transformação social e no engajamento de
comunidades e indivíduos em situação de vulnerabilidade, criando intercâmbios
de metodologias e treinamentos para professores, facilitadores e agentes
comunitários. Atualmente, RENATO está negociando uma nova produção teatral nos
EUA, em Nova Iorque.”.
Acho
muito importante situar o responsável pela direção do espetáculo, para mostrar que não se trata de nenhum insipiente ou incipiente profissional. Com um
currículo desse porte, não me sinto, nem um pouco, à vontade, até por julgar desnecessário, para tecer qualquer comentário particular sobre seu trabalho de direção, em “EU,
MOBY DICK”, criativo e inventivo, elevado à mais alta potência. Imaginem o que quiserem e, lá, no 7º andar
do Centro Cultural OI Futuro, verão o que imaginaram; e mais alguma
coisa. Um único adjetivo resume todo o se trabalho: GENIAL!!!
O pequeno palco do Centro Cultural Oi Futuro
cresce, literalmente, e parece se agigantar, “numa plataforma
multidisciplinar, inspirada num grande universo de destroços, onde são
projetadas, por “video mapping”, os subconscientes dos personagens, suas
reflexões, medos, anseios e ambições”.
E, por falar nisso, já passo a tecer comentários sobre um
elemento da maior importância para a montagem, sem o qual seria
inconcebível esta encenação, que é tudo o que se refere a videografismo,
o uso do “video mapping”, trabalho esplendoroso, feito por dois
irmãos, considerados, indiscutivelmente, os melhores profissionais no ramo, no Brasil,
a despeito da existência de outros, que também são “craques” no assunto: RICO
VILAROUCA e RENATO VILAROUCA, os quais, já de há muito, merecem
premiações especiais por sua riquíssima e perfeita produção artística.
Dos 80 minutos de espetáculo, tenho a impressão, se a memória não
me trai, de que, em nenhum momento, ficamos um minuto sem a presença das projeções,
sensacionais, em todos os sentidos, e que entram na hora exata, totalmente
sincronizadas com as cenas, ajudando – E como! – a criar a ambientação e
a contar a história. Já vi inúmeros trabalhos de videografismo, elemento
cada vez mais presente nas montagens teatrais atuais, a maioria da
melhor qualidade, porém penso jamais ter visto algo tão impactante e
tecnicamente perfeito como o que esta montagem nos apresenta. Todas as
imagens se relacionam com o que se vê em cena, por parte dos atores, e
revela seus interiores, as emoções dos personagens. Mérito, também, para
quem opera os projetores.
Voltando ao texto, e, até, sendo um pouco
repetitivo, antes que eu me esqueça, quem já leu o clássico de MELVILLE,
reconhece nele muitas metáforas. PEDRO KOSOVSKI não abriu mão
desse rico e provocativo recurso. Mas é preciso estar atento a todas as falas e
cenas, pois são muito sutis, a não ser numa cena em que uma das atrizes, KELZY ECARD, totalmente dentro do contexto da peça, repete, algumas
vezes, a frase nominal “Ele não!”. O fato de AHAB, o louco e
incompetente, ser chamado, várias vezes, de CAPITÃO nem precisa ser
explicado, não é mesmo? Neste caso, é mais uma analogia que uma metáfora.
A visão metafórica de KOSOVSKI se apoia em “temas
relevantes da contemporaneidade” e traça um olhar profundo sobre o
sujeito contemporâneo. Cada um espectador irá se identificar, ou se reconhecer,
no “mocinho” ou no “bandido”, caso consiga diferençar um do outro.
Assim como não me senti à vontade para falar muito do trabalho
da direção, confesso que me custa encontrar palavras para traduzir a excepcional
interpretação do quarteto de atores, do qual se destacam dois com mais
experiência de palco, mais conhecidos do público do TEATRO e da TV, KELZY ECARD e MÁRCIO VÍTOR, aos quais se
juntou outra dupla, NOEMIA OLIVEIRA e GABRIEL SALABERT, que não
ficam em segundo plano. Mas não ficam mesmo! Todos se entregam, com tenacidade e visceralidade, a
cada personagem que representam e conseguem passar toda a angústia, medo
e coragem, sensatez e insanidade daqueles que representam, por meio de suas
falas e, em grande parte, do brilhante trabalho corporal, o que muito
exige dos quatro. A verbalização, por vezes, fica em segundo plano, diante da
expressão corporal. São interpretações, por mim, já consagradas, pelo alto
nível de complexidade que exigem dos profissionais. Eu diria que, mais do que
quatro ótimos atores, estamos diante de um quarteto de excelentes
“performers”.
FELIPE HABIB e DANIEL CASTANHEIRA, ambos corretíssimos,
sempre, no que fazem, a meu ver, se superaram na criação de uma trilha
sonora (Os dois são responsáveis pela direção musical.), que
abre e encerra o espetáculo, com “sonoridades relacionadas ao
universo aquático e baleeiro”. Destarte, estão presentes, na trilha
sonora original, “o canto das baleias; o barulho da água, batendo nos
cascos das embarcações; o vento; a gritaria, no convés, quando se avista uma
baleia; o som de um arpão, perfurando uma baleia; o sibilar das cordas,
enquanto a baleia tenta fugir etc.”. Tudo nos seus mínimos detalhes e
muitos desses sons, além dos naturais, criados, artificialmente, pela
tecnologia musical, dos “samples”, por exemplo. Aliada à cenografia
e à iluminação, a trilha sonora também colabora, em muito, para
classificarmos o espetáculo como “sensorial”, provocando e
aguçando os nossos cinco sentidos, com destaque para a visão e a audição. Mas
podemos imaginar texturas, por meio do tato; cheiros do mar, do sangue; e, com
um pouco mais de imaginação, provar do sal da água marinha, que “respinga” no
convés do Pequod. “Viajar” também me dá muito prazer.
Quanto aos interessantes figurinos, criados por TARSILA
TAKAHASHI, segundo o “release”, “seguem a ideia da
direção, de ‘trabalhar com o universo imaginário da alta costura, que busca o
conceito por trás da vestimenta e a eterna busca pelo belo e provocador. Mas
também diferentes materiais que remetam ao universo baleeiro, como aplicações
com cordas e redes, pedaços de metais, anzóis, arpões etc..’”. Talvez
pelo fato de eu não entender, absolutamente, nada de alta costura, ainda que
aprecie o seu componente “belo”, confesso que não entendi, ou melhor, não
consegui enxergar o tal “conceito”, mas posso afirmar que são, os
figurinos, bonitos, adequados à situação e salta aos olhos o
interessante da predominância total dos tons em branco, neve, gelo e creme. Além
de ajudar na composição do ambiente gelado, de onde se dão as ações, também servem
de superfícies para as projeções, o que provoca um belo efeito plástico.
A iluminação, de RENATO MACHADO, é uma de
suas mais brilhantes criações do artista, e funciona dramatúrgica e poeticamente. Melhor
explicando: acompanhando, de perto, as ações dos personagens, emoldura,
na medida do necessário, cada cena e utiliza, para isso, uma paleta de cores
que tornam, lindas, plasticamente, cada uma delas, mesmo as que estão relacionadas
a situações de luta, dor e morte. A iluminação ajusta-se, no ponto, com
as projeções, formando um diálogo lindo e surpreendente.
Jamais poderia ficar de fora destes comentários, o competentíssimo
trabalho de PAULO MANTUANO, à frente da direção de movimento, um
elemento que, nesta montagem, se reveste da maior importância. Aplauso
para a preparação corporal dos atores, a sua postura em cena, com um
navio em pleno alto mar revolto. O que pode parecer gratuito, em ternos de
movimentos e expressão corporal, em todas as cenas, não o é. A movimentação dos
atores, em cena, transporta o público para o convés do Pequod, ao
sabor dos aterrorizantes vagalhões, num mar furioso, ameaçador e assassino,
muito mais que a baleia perseguida. E se o labor de MANTUANO é
excelente, também o é, por parte do elenco, a sua execução, resultado de um profundo trabalho
de pesquisa de corpo e preparação corporal.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia: Pedro Kosovski, a partir da obra-prima de Herman Melville.
Direção: Renato
Rocha
Assistência de Direção:
Rafaela Amodeo
Elenco: Kelzy
Ecard, Márcio Vito, Noemia Oliveira e Gabriel Salabert
Cenário: Bia
Junqueira
Figurinos: Tarsila
Takahashi
Iluminação: Renato
Machado
Videografismo:
Rico Vilarouca e Renato Vilarouca
Direção Musical:
Felipe Habib e Daniel Castanheira
Direção de
Movimento: Paulo Mantuano
Programação Visual
e Marketing Digital: Raquel Alvarenga
Registro
Fotográfico e Videográfico: Caio Gallucci (Fotos oficiais) e Ricardo Brajterman (Fotos gentilmente cedidas.)
Coordenação de
Projeto: MS Arte e Cultura
Direção de
Produção: Aline Mohamad e Carla Torrez Azevedo
Produção
Executiva: Fernanda Alencar e Gabriel Salabert
Assistência de
Produção: Renan Fidalgo e Naomi Savage
Administração
Financeira: Natália Simonete
Idealização: Aline Mohamad, Gabriel Salabert e Renato Rocha
Idealização: Aline Mohamad, Gabriel Salabert e Renato Rocha
Assessoria de
Imprensa: Ney Motta
SERVIÇO:
Temporada: De 06 de junho a 28 de julho.
Local: Centro
Cultural Oi Futuro.
Endereço: Rua Dois
de Dezembro, 63, Flamengo, Rio de Janeiro (próximo ao Metrô Largo do Machado).
Dias e Horários: De 5ª feira a domingo, às 20h.
Informações:
Telefone: (21) 3131-3060.
Valor dos Ingressos:
R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia entrada).
Vendas, na
bilheteria, de 3ª feira a domingo, das 14h às 20h, ou pelo “site”
www.ticketplanet.com.br
Lotação do Teatro:
63 pessoas.
Classificação Indicativa:
14 anos.
Duração: 80
minutos.
Gênero: Drama.
Atendimento à
Imprensa: Ney Motta (Contemporânea Comunicação Assessoria de Imprensa).
Telefone celular /
whatsapp: (21) 98718-1965.
neymotta@gmail.com
Nestas
observações finais, digo que, “pelo andar da carruagem”, é bastante previsível
o final da história, o que, em nada, lhe tira o valor, uma vez que o mais
interessante é como se chega a ele e a mensagem que fica para o leitor /
espectador. Não era de se esperar que o insano AHAB terminasse flutuando
num “mar de rosas”, é claro! O insano e irresponsável CAPITÃO teve o
final que merecia. “A lição filosófica da obra é que o homem, quando se dá
por, extremamente, ambicioso, acaba perdendo tudo o que mais preza; no caso da
metáfora construída, o Pequod e a vida”.
Com
a morte de seu melhor amigo, QUEEQUEG, ISMAEL estava sozinho, em
meio aos escombros e aos corpos (todos mortos). Fazendo uso de um caixão, que
flutuava, “o marinheiro é levado para casa. Tempos depois de ter vivido o
sabor da sua amarga aventura e ter visto o quanto o homem pode ser tolo por
razões tão naturais, como o instinto animal, e criar seus fantasmas, justamente
por sua pretensão, ISMAEL não tem mais vontade de voltar para o mar. Deveras,
já vira de tudo.”.
Para mim, a grande sensação deste ano, até agora, em termos
de TEATRO, no Rio de Janeiro, embora ainda estejamos apenas fechando
o primeiro semestre, é “EU, MOBY DICK”, correspondendo, na minha
avaliação, àquilo que representou, em 2017, “Tom na Fazenda” e,
em 2018, “Tebas Land”, ainda que sejam três temas totalmente
diferente e igualmente geniais, em termos de concepção e realização teatral.
Mas ainda temos um semestre inteiro pela frente, e que venham mais produções
à altura deste grandioso espetáculo.
Sempre é bom lembrar que, para existir, um espetáculo - e de tal envergadura - precisa de um pontapé inicial e de quem garante a infraestrutura, para que ele venha à luz. Neste caso, a idealização de "EU, MOBY DICK", se deve a ALINE MOHAMAD, GABRIEL SALABERT e RENATO ROCHA.
Sempre é bom lembrar que, para existir, um espetáculo - e de tal envergadura - precisa de um pontapé inicial e de quem garante a infraestrutura, para que ele venha à luz. Neste caso, a idealização de "EU, MOBY DICK", se deve a ALINE MOHAMAD, GABRIEL SALABERT e RENATO ROCHA.
Não só recomendo a peça como já estou providenciando
um outro dia, para revê-la.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
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PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
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(FOTOS: CAIO
GALLUCCI - FOTOS OFICIAIS -
e
RICARDO BRAJTERMAN - FOTOS
GENTILMENTE CEDIDAS.)
e
RICARDO BRAJTERMAN - FOTOS
GENTILMENTE CEDIDAS.)
GALERIA PARTICULAR
(FOTOS: JOÃO PEDRO
BARTHOLO.)
Com Márcio Vito.
Com Gabriel Salabert.
Com Noemia Oliveira.
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