quinta-feira, 5 de maio de 2016


O MAMBEMBE

 

(“O QUE FALTA, NO BRASIL, O TEATRO PODE ENSINAR”.

 

ou

 

“O TEATRO VAI ESTAR SEMPRE PRONTO, PARA QUEM QUISER

SE APAIXONAR POR ELE”.

– ARTHUR AZEVEDO / JOSÉ PIZA.)

 

 

 


 

 

 

            Falar do vitorioso Projeto de Pesquisa em TEATRO MUSICADO, do professor RUBENS LIMA JÚNIOR, que vem sendo desenvolvido, desde 2009, na UNIRIO, torna-se totalmente desnecessário, em função de seu grande sucesso e de já fazer parte da vida e da rotina dos amantes do TEATRO MUSICAL, os quais ficam ávidos de curiosidade, para saber, e ver, qual será o próximo projeto do RUBINHO, no ano seguinte, mal se encerra a sequência de temporadas de um sucesso em cartaz.

 

            Depois de “O Jovem Frankenstein”, que marcou o ano de 2015, e dos anteriores, com destaque para o fenômeno “The Book of Mormon” (55.000 espectadores), o espetáculo mais discutido e elogiado em 2014, no Rio de Janeiro, agora, é a vez de “O MAMBEMBE”, um clássico da dramaturgia brasileira, de ARTHUR AZEVEDO, tendo como coautor JOSÉ PIZA, peça que já era um musical, mas que foi transformado em outro, dentro da concepção moderna desse gênero teatral, tendo estreado no último dia 28 de abril e que já me levou a querer revê-lo.

 

            É o primeiro musical brasileiro a ser montado pelo RUBINHO, dentro do Projeto já mencionado. Trata-se de mais um imperdível e irretocável espetáculo, dirigido pelo mestre da UNIRIO, tendo, como matéria-prima, alunos dos cursos de Teatro e Música da própria universidade, alguns já se encaminhando para o profissionalismo. Aqui, utilizo o termo “profissionalismo”, reportando-me a uma atividade remunerada, exercida em teatro, cinema e TV. Para mim, tecnicamente falando, vejo, no palco da Sala Paschoal Carlos Magno (o “Palcão”), dentro da própria UNIRIO, muitos jovens talentos, praticamente, prontos para o exercício, com profissionalismo e dignidade, do nobre ofício de representar, mormente em musicais, sendo que alguns, até, já o fazem, e muito bem.

 

            A maioria dos que formam o elenco é constituída por alunos da UNIRIO, mas, como ocorreu nas últimas montagens, dentro do Projeto, foram dadas oportunidades para que alunos de outras universidades federais participassem das audições e também pudessem trabalhar na peça. Assim, em cena, também há alunos da Universidade Federal Fluminense, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e, até mesmo, da Universidade Federal da Bahia.

 

            Para conseguir erguer este espetáculo, mais uma vez, RUBINHO e sua produção tiveram de contar com o luxuoso e indispensável patrocínio da Fundação Cesgranrio, na figura do grande mecenas das artes, o Professor Carlos Alberto Serpa, sem cujo apoio e colaboração, tenho lá minhas dúvidas de que poderíamos nos deliciar com esta montagem universitária.

           

 

 


No armazém.

 

 

 

 
SINOPSE:
 
Pode-se dizer que a trama de "O MAMBEMBE", escrita em 1904, é centrada em três figuras: LAUDELINA, a mocinha da história, que deseja ser atriz; um ator fracassado, FRAZÃO, que resolveu virar empresário (Grande Companhia Dramática Frazão); e o “coronel” PANTALEÃO, que financia as despesas de viagem da trupe, com o objetivo de ganhar o coração da jovem atriz, por quem se encantara.
 
Como o grande objetivo da personagem central é ser uma atriz consagrada, ela acaba por se envolver com um grupo teatral mambembe, que faz paródias de melodramas e crítica às relações sociais.
 
Uma das principais críticas verificadas na peça diz respeito ao descaso dos governantes, para com as artes, em geral, principalmente com relação à arte dramática, e conta, ainda, as dificuldades e contrariedades de um grupo de artistas, para atrair público às suas apresentações.
Uma verdadeira sátira dos costumes interioranos, o espetáculo traz, ao palco, tipos cômicos irresistíveis e números musicais, dentro de uma linguagem circense, culminando com um final surpreendente, para poucos, e, ao mesmo tempo, não, para a maioria.
 

 

 

 


Bruno Nunes, Giuliana Farias e Flora Menezes.

 

 

O texto é construído sobre uma grande alegoria em forma de metalinguagem, já que tudo gira em torno do TEATRO, e o que vemos é o TEATRO dentro do próprio TEATRO. E, pelo que se pode observar, nos dias de hoje, muito pouco mudou, em termos de falta de incentivo, por parte das “autoridades” responsáveis pela cultura, e das “pedreiras” que os que se dedicam a tão nobre arte têm de carregar, todos os dias, “matando um leão”, a cada minuto, até ver o pano abrir e um novo espetáculo surgir.

 

Não se pode negar que, sob esse aspecto, o texto é bem atual. Vejamos, por exemplo, uma fala do personagem FRAZÃO, quando tenta convencer a jovem LAUDELINA a fazer parte de sua trupe: “Como a senhora sabe, a vida do ator, no Rio de Janeiro, é cheia de incertezas e vicissitudes. Nenhuma garantia oferece. Por isso, resolvi fazer-me, como antigamente, empresário de uma companhia ambulante, ou, para falar com toda franqueza, de um mambembe”. Eu apenas ampliaria a geografia, dentro da fala: em vez de “Rio de Janeiro”, diria “Brasil”. Infelizmente!

 

Quem, como eu, viveu a feliz oportunidade de estudar um pouco, na universidade, no curso de Letras da UFRJ, a obra de ARTHUR AZEVEDO sabe que, em “O MAMBEMBE”, o dramaturgo presta uma singela homenagem a um de seus mais queridos amigos, um ator/empresário, chamado, simplesmente, de Brandão, que, no texto, teve seu nome trocado para FRAZÃO, retratado como um homem de ilibado comportamento, no campo pessoal e empresarial, capaz de enfrentar e suportar os maiores sacrifícios, para manter acesa a chama do TEATRO e não deixar de pagar aos seus atores. Ele convida uma jovem e sonhadora amadora, para ser sua “primeira dama”, como eram chamadas as atrizes principais das companhias, fato que pode ser decodificado como já o início de uma crise na área artística da representação. Deve vir de lá a já tão “batida” frase “O TEATRO está morrendo”. Na falta de uma boa atriz profissional, o jeito era investir numa jovem amadora, na esperança de que seu talento pudesse salvar as finanças da empresa, a Grande Companhia Dramática Frazão.

 

Para quem ainda não sabe (Será que ainda há alguém?!), “mambembe” é o termo empregado a um tipo de TEATRO em que as companhias, quase sem recursos financeiros, viajavam - e ainda o fazem - em carroças ou trens, pelo interior do Brasil (raramente, passavam por capitais ou cidades mais prósperas), apresentando espetáculos, em sua maioria, bem populares, quase sempre pertencentes a um repertório. Uma das marcas desses grupos é a paixão comum pela arte de representar, que os une, como se uma família fosse; não a de sangue, mas a que se escolhe.

 

 

 


Flora Menezes (no chão),

Giuliana Farias e Rodrigo Naice.

 

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Arthur Azevedo e José Piza
Adaptação e Letras: Alexandre Amorim
Direção: Rubens Lima Júnior.
Assistência de Direção: Júlio Ângelo
Direção Musical: Guilherme Menezes
Assistência de Direção Musical: Maíra Garrido
Elenco (por ordem de entrada):
Dona Rita: Flora Menezes
Eduardo: Robson Lima
Laudelina: Giuliana Farias / Roberta Monção
Frazão: Rodrigo Naice
Dona Vidinha / Dona Bertoleza: Ingrid Klug
Pantaleão: Joaz Perez
Chico Inácio: João Saraiva
Madama: Talita Silveira
Coro: Adriana Dehoul, Alessandra Quintes, Alexandre Neves, Bárbara Sut, Bruno Nunes, César Viggiani, Diego Bastos, Edmundo Vítor, Felipe Carreiro, Guilherme Neto, Isabela Quadros, João Dabul, Júlia Nogueira, Lucas Baptista, Maicon Lima, Maria Penna Firme, Marina Paiva, Pedro Ruivo, Rayza Noia, Victor Zott.
BANDA:
Bateria: Raphael Dias e Pedro Prata
Piano: Victor Brum e Victor Camelo
Baixo: Fabio Rocco e Guilherme Ashton
Guitarra: Guilherme Menezes
Flauta: Erick Soares e Gabriel Ferrante
 
Coreografia: Gabriel Demartine
Assistência de Coreografia: Isabela Vieira
Direção de Arte e Cenografia: Cris de Lamare
Assistentes de Cenografia: Camilla Camu Muniz e Silas Pinto
Figurino: Rick Barboza
Assistente de Figurinos: Nanda Gomides
Caracterização / Visagismo: Vítor Martinez
Assistente de Caracterização: Lucas Drigues
Iluminação: Paulo César Medeiros
Desenho de Som: Leandro Lobo e André Breda
Produção Musical: Gabriel Gravina
Assistência de Produção Musical: Alexandre Seabra
Arranjos: Guilherme Menezes
Músicas originais: Gabriel Gravina, Guilherme Menezes e Guilherme Ashton*
(*As canções “O Armazém”, “Festa de Pantaleão” e “Laudelina e Pantaleão”)
Preparação Vocal: Doriana Mendes
Assistência de Preparação Vocal: Alessandra Quintes
Orientadora de Caracterização: Mona Magalhães
Assessoria Técnica: Prof. Ângela Reis
Direção de Produção: Marcus Brandão
 
Equipe:
Adereços de Cenário: Fernanda Correia, Pedro Luiz de Azevedo e Silas Pinto
Adereços de Figurinos: Edjane Guimas
Ilustrações: Camilla Camu Muniz
 
Produção Executiva (UNIRIO): Clara Costa, Giovana Abreu, Stephany Lins e Thayana Blois
 
Produção Executiva (Fundação Cesgranrio): Bruno Torquato e Urbano Lopes
 
Assessora de Imprensa: Amanda Barros
Programação Visual: Gabriella da Rocha
Fotografia: Bianca Oliveira
 
Equipe de caracterização: Adriana Dehoul, Bárbara Sut, Carolina Coimbra, Ingrid Klug, Lucas BaptistaMarianna Chaves
Postiços / Barbas: Vicente Baptista
Perucas da Abertura: Rick Barboza
Cabeleireira: Kátia Marques
Operador de Som: Alexandre Seabra e Filipe Cretton
Técnico de Som: Leo Maia, Jorginho e Nathan dos Santos Nascimento
Sonorização: Quintal da Ideia e MDM Sonorizações
 
Estagiários de Produção: Luiz Felipe Manso, Marianna Chaves e Tadeu Fernandes
Estagiários de Som: Alex Faria, Amanda Brasil, Eugênio Moreira, Gabriella Adami e Júlia Drummond
Estagiário de Recepção: João Manoel
Estagiários de Cenografia: Fernanda Correia e Pedro Luiz de Azevedo
Estagiários de Iluminação: Caroline Dias, Paulo Coquito e Victor Bueno
 
 

 

 

 


 

 

 

            Passemos, então, aos comentários específicos sobre esta montagem.

 

            O primeiro impacto que o espectador tem, ao adentrar a Sala Paschoal Carlos Magno, se dá com relação ao imponente cenário, de CRIS DE LAMARE, até então, parcial, visto que muitas surpresas cenográficas ficam reservadas para o decorrer da peça. Guardadas as devidas proporções, lembrou-me o cenário de “Ralé”, um clássico texto de Máximo Gorki, na montagem que inaugurou o extinto Teatro Novo, onde, hoje, funcionam as instalações da TV-Brasil, na Rua Gomes Freire. Aquele cenário era obra de um dos mais geniais artistas da cenografia: Gianni Ratto, a quem o TEATRO BRASILEIRO muito deve.

 

 

 


Parte do cenário.

 

 

            Ao contrário do cenário de Ratto, que era fixo, aqui, temos andaimes, em dois níveis, de madeira e ferro, sobre rodinhas, para que possam dar origem a diferentes configurações, com muitas escadas. Depois, com o acréscimo de alguns móveis, vão sendo formados outros espaços, como uma sala de visita, um armazém, o “hall” de um hotel... Predomina, em todo o cenário, o tom bege, neutro, que combina com todas as mudanças de luz, do mago PAULO CÉSAR MEDEIROS, ex-aluno da UNIRIO, que, num gesto de extrema generosidade, participou do Projeto, com seu invejável trabalho. Sobre ele, falaremos mais tarde.

 

            O ponto alto do cenário está na cena final, quando se presta uma grande e merecida homenagem aos artistas brasileiros, representados, em painéis, por algumas de nossas mais representativas atrizes, como Fernanda Montenegro, Dercy Gonçalves, Marília Pêra, Eva Tudor, Bibi Ferreira, Suely Franco, Dina Sfat, Tônia Carrero, Alda Garrido, Cacilda Becker, Dulcina de Moraes e Cleyde Yáconis.

 

            As canções da peça, belíssimas e com letras muito interessantes, foram todas compostas, exclusivamente, para esta montagem, por GABRIEL GRAVINA (produção musical) e GUILHERME MENEZES (direção musical), uma vez que, segundo consta, muito das partituras originais se perderam no tempo. Das letras, muito pouco foi aproveitado. Apenas a de uma valsa, sobre a personagem LAUDELINA, que é cantada pela atriz FLORA MENEZES, foi mantida na íntegra, por ser um clássico dentro da peça. GUILHERME ASHTON colaborou na composição de três das canções que estão na trilha do espetáculo: “O Armazém” “Festa de Pantaleão” e “Laudelina e Pantaleão”.

 

Com relação à parte musical, destaco a canção inicial, que, de uma certa forma, apresenta o espetáculo, e uma outra, em que o personagem FRAZÃO explica o que significa “MAMBEMBE”. Mas não há uma, sequer, que não seja de ótima qualidade. Aqui, pode ser encaixado um elogio ao ótimo trabalho da banda.

 

Quanto ao texto, folgo em ver um clássico da dramaturgia brasileira, com mais de cem anos, tão bem adaptado para os dias de hoje, sem perder sua essência, resguardado em suas formas clássicas, tornado, ligeiramente, mais acessível ao público comum, pelo ótimo trabalho de ALEXANDRE AMORIM, que fez questão de manter, na íntegra, um belo “bife” (uma fala muito longa), dito pelo personagem FRAZÃO, por meio do qual ele exalta o ofício de representar. O texto é muito bonito, comovente e de fazer umedecer os olhos.

 

Mas é claro que não faltam referências (críticas) a fatos recentes. O personagem FRAZÃO, por exemplo, em certo momento, sai-se com um “NÃO SOU CAPAZ DE OPINAR!”, fazendo lembrar a atuação de uma famosa atriz de TV, ao tentar “comentar” a mais recente cerimônia do Oscar, sem ter conhecimento de causa para fazê-lo.

 

Muito pouco há para ser dito, sobre a direção de RUBENS LIMA JÚNIOR, nada diferente dos comentários sobre as montagens anteriores, todos elogiosos e justos, para um homem que se dedica ao TEATRO, como diretor e professor, como poucos profissionais, principalmente ao Projeto que criou na UNIRIO.

 

 

 


 

 

 

Lutando contra um turbilhão de adversidades, ele consegue, com uma equipe fiel, amiga e competente, tomar um desafio e levá-lo até o fim, resultando num espetáculo digno de ser apresentado em qualquer palco.

 

Dirigir um musical é uma tarefa especial, para um diretor, pois, por mais que conte com auxiliares no campo da música e da dança, é dele a responsabilidade maior pelo produto final. E trabalhar com muita gente, cerca de 30 atores, fora os técnicos, não é para qualquer amador.

 

O espetáculo é muito movimentado e, apesar de um pouco longo (não para os padrões dos musicais), não dá a oportunidade de um cochilo, pois o que não falta é ação, movimento, mudanças de cenários, deslocamentos dos atores, excelentes marcações, sem falar na direção de atores, que RUBINHO sabe fazer como ninguém. Percebe-se o dedo do diretor em cada composição de personagem.

 

A direção optou por uma interpretação voltada para as tintas do farsesco, às vezes com um certo exagero, o que é muito bom e combina muito bem com o texto. As soluções para as cenas são bem simples e inteligentes, como, por exemplo, as sombras utilizadas, para mostrar as viagens da trupe, num trem e numa carroça, e a hilária cena que inicia o 2º ato, quando a tosca e bizarra população do vilarejo de Tocos entra no teatro e se acomoda, na primeira fila, interagindo com a plateia, todos prontos para assistir à encenação da peça “A Passagem do Mar Amarelo”, escrita pelo CORONEL PANTALEÃO, um verdadeiro fracasso em 12 atos.

 

Das cenas mais belas ou hilárias e, tecnicamente, interessantes, por difíceis de serem feitas, destaco a da tentativa de sedução de PANTALEÃO, sobre LAUDELINA; toda a sequência do armazém, principalmente pela coreografia; a do solo musical da dona do armazém (INGRID KLUG); a da Festa do Divino, com o número da mulher do Rei do Divino, uma “ex-atriz”, que resolve relembrar os velhos tempos e mostrar, aos presentes, seus “predicados artísticos”. Tudo isso, sem falar na genial ideia de introduzir, no espetáculo um toque de “Stomp”, com batuques nas mesas e produção de sons, incrivelmente sincronizados.

 

A cena final é apoteótica e muito emocionante, quando se presta uma grande reverência ao TEATRO, como veículo de cultura e entretenimento.

 

RUBINHO faz milagres, num palco tão pequeno e com poucos recursos técnicos. Quando os espetáculos são levados para outros teatros, como aconteceu nas duas últimas montagens, ganham, ainda, mais brilho, por serem representados em palcos de maior área e mais bem equipados, tecnicamente falando.

 

Mais um dos grandes acertos de direção de RUBENS LIMA JÚNIOR!

 

 

 


 

 

 

Mas a grande atração dessas montagens universitárias são os atores, pelo que surpreendem o público, com suas atuações, quando se sabe que ainda estão em fase de conclusão de seus cursos. A cada ano, surpresas novas e deliciosas. Acho que seria difícil, ou impossível, falar de todos, até porque não os conheço, à exceção de uma meia dúzia. Então, para fazer justiça, digo que todos, sem a menor exceção, cumprem, com perfeição, a tarefa que lhes foi confiada, inclusive os que fazem “apenas” parte do coro. Mas não posso deixar de tecer comentários a alguns trabalhos, dos atores que representam os principais personagens.

 

            O papel de LAUDELINA é dividido, em revezamento, entre as atrizes GIULIANA FARIAS e ROBERTA MONÇÃO. Na sessão em que estive presente, foi GIULIANA quem atuou. Muito bem, aliás! A moça não deixa a desejar na interpretação, nem no canto, nem na dança. Sua personagem não demanda muita dificuldade, em sua composição, mas, não sendo representada por alguém de comprovada competência, poderia levar a uma caricatura, o que não ocorre em cena; mérito da atriz. Gostaria muito, também, de poder ver a personagem representada pela ROBERTA.

 

 

 


Giuliana Farias.

 

 

            Que bela e acertada escolha de RODRIGO NAICE, para o papel de FRAZÃO! Além de ótimo ator, o rapaz é dono de um potencial vocal esplêndido, tanto no alcance das notas quanto na afinação, sem falar no seu belo timbre. Brilha em todos os seus solos e é aplaudido em cena aberta, principalmente naquela em que faz um discurso, emocionado, sobre a importância do ofício de ator, que vale por todo o espetáculo.

 

 


Rodrigo Naice.

 

 

            FLORA MENEZES, DONA RITA, a madrinha que criou LAUDELINA, já está mais que formada. Brilhou, na montagem passada (“O Jovem Frankenstein”) e não faz nada diferente agora. Seu papel não tem um grande destaque, mas sua personagem cresce, no decorrer do espetáculo, graças ao talento de FLORA, que tem uma voz belíssima e emociona, sempre que sola, com especial destaque numa valsa, cuja letra fala de sua relação com a afilhada.

 

            Para mim, uma das maiores surpresas deste ano cabe ao jovem ROBSON LIMA (não sei a sua idade, mas deve ser um dos mais jovens do grupo), que interpreta EDUARDO, um ator apaixonado por LAUDELINA e que sofre por ver o assédio de outros homens sobre a pretendida.

 

 

 


Flora Menezes e Robson Lima.

 

 

            ROBSON sabe, como ninguém, trabalhar as máscaras faciais, por meio das quais fala mais, muitas vezes, do que pelas falas que lhe cabem. Logo no início do espetáculo, o rapaz tem um solo muito bom, no qual atinge uma nota altíssima e a sustenta, por um longo tempo, abusando do fôlego. A cena provoca agitação na plateia.

 

            Há uma atriz, no elenco, INGRID KLUG, responsável por duas personagens, DONA VIDINHA e DONA BERTOLEZA, ambas excelentes composições. Encantou-me o trabalho de INGRID. Como DONA VIDINHA, a dona do armazém, tem um ótimo solo, um “jazz”, marcante, no espetáculo. Na pele de DONA BERTOLEZA, esposa de PANTALEÃO, é responsável por muitas gargalhadas, em função dos tiques nervosos de sua personagem e da voz que a atriz encontrou para ela. Domina o “timing” da comédia, assim como outros do elenco.

 

 

 


Joaz Perez e Ingrid Klug.

 

 

            JOAZ PEREZ faz um CORONEL PANTALEÃO digno de todos os elogios. Irreconhecível, por trás de uma formidável caracterização, o ator jamais passaria por um neófito, na arte de representar, por passar muita experiência, que, na verdade, ainda não tem, por ser muito jovem. É inCipiente, mas não inSipiente. A despeito do asco que causa, na plateia, o seu visual, ao mesmo tempo, cada sua aparição se constitui num deleite para o espectador, que já fica aguardando uma boa cena, por conta do talento do ator, que, além de tudo, executa um ótimo trabalho de corpo, na composição do seu personagem.

 

 


Joaz Perez / Coronel Pantaleão.

 

 

            CHICO INÁCIO, o “manda-chuva” da localidade conhecida como Pito Aceso, representado por JOÃO SARAIVA, e MADAMA, sua esposa, feita por TALITA SILVEIRA, também fazem parte do grupo dos que se destacam e também executam um bom trabalho.

 

 

 


João Saraiva e Talita Silveira.

 

 

Faltou falar de BRUNO NUNES, mais que profissional, um dos principais nomes da montagem de “O Jovem Frankenstein”, agora vivendo o personagem VIEIRA, o cômico da companhia, o palhaço, que, por ironia da vida (ou do destino, sei lá), fora do palco, tem um comportamento oposto ao de quando está em cena: é triste, melancólico, macambúzio, casmurro, com um pensamento fixo na morte e nas coisas do além, talvez por já não ter mais esperança de ser feliz e reconhecido na profissão. O personagem não tem a mesma importância do seu Igor (ou “ÁIGOR”, como gostava de ser chamado), de “O Jovem Frankenstein”; em compensação, o talento de um ator amplia o brilho de seu personagem, e VIEIRA é consagrado pelo público, porque BRUNO é muito bom naquilo a que se propõe fazer. O personagem reforça, no seu texto, as dificuldades enfrentadas na vida de artista, principalmente quando este é um cômico. Também tem um belo momento de solo, quando não desperdiça a oportunidade de mostrar seu potencial para o canto.

 

 

 


Bruno Nunes.

 

 

Se o diretor “se vira nos trinta”, para pôr tanta gente em cena, num espaço reduzido, o que dizer do trabalho do coreógrafo? As coreografias de “O MAMBEMBE”, assinadas por GABRIEL DEMARTINE, a Criatura do Dr. Frankenstein, no espetáculo de 2015, são de um bom gosto indiscutível, alegres e muito criativas.

 

Um dos grandes destaques do espetáculo é uma sequência de números, baseada no trabalho do grupo inglês Stomp, que faz percussão com objetos do cotidiano e utilizando os próprios corpos. Foi uma ideia do coreógrafo, segundo ele, logo que leu a cena do armazém. Apresentou-a a GUILHERME MENEZES, o excelente diretor musical do espetáculo, o qual compôs uma canção especial para essa coreografia, baseada na variação de timbres e ritmos que a cena permitia. Um trabalho de mestres! Outra coreografia que se destaca é da dança do cateretê.   

 

Segundo informação que obtive do próprio DEMARTINE, “o processo de criação das coreografias, neste musical, foi bem diferente. Como as músicas são autorais, começamos o processo, sem saber como elas seriam. Tínhamos uma ideia do estilo e de como gostaríamos que fosse, mas não exatamente o que era. Então, como o processo seria longo, por volta de sete meses, comecei com aulas de dança, de diversos estilos. Era preciso preparar o corpo dos atores, para a minha linguagem e a linguagem do espetáculo, de forma que eles assimilassem as coreografias mais rapidamente, ao final do processo. À medida que as músicas iam chegando, as ideias iam surgindo, e com total abertura, para sugestões, com os compositores. Os números eram idealizados na minha cabeça. Quando comecei, efetivamente, a montar os números com o elenco, as cenas já estavam, praticamente, montadas. Então, eu já sabia a necessidade de cada cena, o que foi muito bom, pois prezo muito as coreografias cênicas. Para mim, todo movimento tem que estar a favor da cena e em função da história que está sendo contada; não dança por dança. Usei, também, muito dos atores, dos personagens que já estavam bem estruturados, e, junto com minha assistente, ISABELA VIEIRA, tentamos dar uma cara de Brasil, que não fosse muito óbvia. Buscamos influências, desde o clássico, no “jazz dance”, valsas e, até, em percussão corporal e danças folclóricas”.

 

Pois bem, é exatamente isso o que se vê em cena, e muito bem executado. Parabéns, GABRIEL DEMARTINE!

 

 

 


 

 

 

De passagem, já falei de PAULO CÉSAR MEDEIROS, um dos melhores profissionais da iluminação do TEATRO BRASILEIRO, “cria” da UNIRIO, que assina a luz deste espetáculo. Ainda que a peça trate de um tema um tanto triste, falando de fatos relativos às dificuldades por que passam os artistas, no Brasil, a mensagem que fica é de alegria e otimismo, fé numa mudança no panorama artístico brasileiro. A peça conta, também, com grandes momentos de festa e alegria. É preciso que a luz, um dos elementos fundamentais do TEATRO, que pode elevar ou destruir um espetáculo, funcione muito bem. Aqui, ela precisa de um olhar atento de quem a desenha, para ajudar a dar veracidade às cenas. Essa dosagem, de cores e intensidades, sabe fazer o PAULINHO, como ninguém. Como, no cenário (já foi dito), predomina a cor bege, neutra, a iluminação se destaca e põe em destaque elementos cenográficos e as cores dos figurinos, matéria do próximo comentário.

 

São belíssimos e muito ajustados à época em que se passa a peça os figurinos, de RICK BARBOZA, todos muito alegres, coloridos, bem confeccionados e uma atração à parte, neste espetáculo. Variadíssimo e em grande quantidade, fico imaginando como acomodar tantas peças numa coxia acanhada, como a da Sala Paschoal Carlos Magno. Sei que tiveram de utilizar uma sala contígua ao fundo do palco, para que todos pudessem se trocar sem atropelos.

 

Um grande aplauso deve ser conferido ao criador da caracterização / visagismo, VÍTOR MARTINEZ. Ele abusou nas tintas, denotativa e conotativamente falando, e criou tipos interessantíssimos, com o auxílio de perucas e elementos postiços, além de máscaras. O resultado é impecável.

 

 

 


Um detalhe da caracterização / visagismo.

 

 

Como um competente timoneiro, guiando o barco, na direção de produção, não posso deixar de render uma homenagem a MARCUS BRANDÃO, também ator, que, desta vez, passou para os bastidores, com a árdua tarefa de fazer com que tudo possa correr bem, antes, durante e depois de cada apresentação. E é exatamente assim que acontece. E, também, devo agradecer a AMANDA BARROS, da assessoria de imprensa, que me forneceu muitas das informações aqui contidas, uma vez que o programa da peça não ficou pronto para o dia da estreia.

 

Para finalizar, quero apenas falar da minha grande alegria de estar, todos os anos, na primeira fila, prestigiando esse belíssimo trabalho, e do meu prazer de cumprimentar, um a um, os envolvidos no Projeto, além de constatar o seu amadurecimento, inquestionável, a cada nova produção.

 

 

 


SERVIÇO:
 
Temporada: De 28 de abril a 15 de maio de 2016.
Local: Teatro Paschoal Carlos Magno – Palcão - da UNIRIO.
Endereço: Avenida Pasteur, 436, Fundos – Urca - Rio de Janeiro.
Telefone: (21)2542-2205.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, e 2ª feira, às 21h; domingo, às 20h. 
Entrada Gratuita.
Senhas distribuídas uma hora antes do início do espetáculo.
Assessoria de Imprensa: Amanda Barros (amandabmatos@gmail.com
(21) 97969-1693
 

 

 

 


Lembrança da peça: cada espectador recebe um bilhete de

passagem do trem que transporta a trupe mambembe.

 

 

 


“Selfie” em dia de estreia.

 

 

 


Com o querido amigo e grande diretor

Rubens Lima Júnior (Rubinho)

– Foto: Marisa Sá.

 

 
(FOTOS: BIANCA OLIVEIRA / DIVULGAÇÃO)

Um comentário:

  1. Completamente apaixonada pelo O MAMBEMBE!
    Parabéns pela belíssima e super completa crítica!

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