sábado, 23 de janeiro de 2016


O PRIMEIRO

MUSICAL

A GENTE

NUNCA ESQUECE

 

(PENSAVA QUE ESTE FOSSE

PARA SER ESQUECIDO,

MAS NÃO O É.)

 

 


 

 

 

 

Assisti ao espetáculo “O PRIMEIRO MUSICAL A GENTE NUNCA ESQUECE”, no Theatro (acho tão charmoso o H) NET Rio, e confesso que fui com muitas reservas. Motivos não me faltavam (não vale a pena entrar em detalhes), mas, com certeza, não era nada relativo ao elenco, já que conheço o trabalho de todos, de longas datas, profissionais competentes e respeitados no universo dos musicais. O fato é que não esperava ver o que vi. Surpresa agradável!

 

Não é um “supermusical”, mas merece ser recomendado, por ser uma brincadeira, bem despretensiosa, porém feita com seriedade e profissionalismo, a partir de uma ideia interessante.

 

 


O sonho de Dora.

 


Amanda Acosta e Bia Montez.

 

Diria que se trata de uma deliciosa “bobagem”, sem nenhum caráter pejorativo, que diverte e tira, de nossas costas, um pouco do peso, que, sem querer, estamos sendo obrigados a carregar, no dia a dia.

 

Utilizarei, de início, informações extraídas, e adaptadas, do “release”, que me foi passado pela assessoria de imprensa (Bruna Tenório - MNiemeyer Assessoria de Comunicação), para, depois, expor minha impressão, mais detalhada, sobre o espetáculo.

 

 


Dora e Franco, dançando com os personagens de “O Mágico de Oz”.

 

 

 
Clássicos musicais, como “O Mágico de Oz” e “A Noviça Rebelde”, e 15 jingles fazem parte do novo musical da Aventura Entretenimento, em projeto inédito, com roteiro e direção de RODRIGO NOGUEIRA e músicas escritas especialmente para a produção.
  
A solução para a feitura de um espetáculo que mesclasse a criação publicitária com o TEATRO MUSICAL foi da agência CUBOCC
 
Um dos nomes mais importantes da publicidade, WASHINGTON OLIVETTO, assina a consultoria criativa do espetáculo, que leva, no título, uma homenagem a uma de suas criações mais premiadas e lembradas da história, a propaganda, da Valisère, “O primeiro sutiã a gente nunca esquece”, lançada em 1987, com Luciana Vendramini no papel da adolescente que se orgulha do primeiro “porta-seios”, como se dizia no tempo de minha avó.
 
Um dos destaques desta produção é a mistura das canções. A trilha sonora pode ser dividida em três segmentos: grandes clássicos de musicais, como “O Mágico de Oz”“A Noviça Rebelde” e Sweet Charity”; inéditas – três novas músicas, compostas por RODRIGO NOGUEIRA e TONY LUCCHESI, compositor e pianista, este, também, assinando a direção musical e os arranjos da peça; e jingles históricos.
 

 

 

 


Bia Montez, Amanda Acosta e Hugo Kerth.

 

 


 
SINOPSE:
 
“O PRIMEIRO MUSICAL A GENTE NUNCA ESQUECE” é um espetáculo tratado com muito humor e ironia. 
 
O texto, de RODRIGO NOGUEIRA, conta a história de DORA (AMANDA ACOSTA) e FRANCO (MARCELO VÁRZEA), um casal em crise, com quase vinte anos de casamento.
 
Ele é um executivo, dono de uma grande agência de publicidade, viciado em propaganda, e ela, uma exemplar dona de casa, viciada em musicais.
 
Perto de completarem 20 anos de casados, a relação deles está desgastada e FRANCO já não dispensa a mesma atenção a DORA. A vida dele é do trabalho para frente da TV, enquanto DORA vive em um mundo de fantasias, sempre pensando nos grandes musicais de que gosta tanto.
 
Vivem em mundos distintos. Ela, cada vez mais, sentindo um vazio maior dentro de si, tem uma grande amiga e vizinha, MADALENA (BIA MONTEZ), mulher mais velha, que vive com seu neto, LEONARDO (HUGO KERTH).
 
FRANCO, que mal percebe que tem um problema em casa, tem, em ELISEO (REINER TENENTE), seu sócio, um grande amigo.
 
No dia de comemorar o aniversário de 20 anos de casados, DORA prepara uma noite romântica, porém FRANCO se esquece da data. Em um surto explosivo, DORA destrói a televisão do marido. Um choque! Ela “entra em estado catatônico” e passa a “não escutar” mais o que falam. Ou melhor, só escuta quando cantam.
 

 

 

 


Dora consegue, por pouco tempo,
trazer Franco para “O Mágico de Oz”.

 

 

Que ninguém saia de suas casas, na expectativa de ver uma superprodução, que vá acrescentar muito à sua vida, mas programem uma ida ao Theatro Net Rio, com a certeza de que assistirão a um espetáculo “honesto” e bem divertido, no qual o mérito maior vai para a interpretação dos cinco atores, que formam o núcleo da trama (?), e dos atores/bailarinos, os quais executam uma das melhores coreografias, das que tenho visto, ultimamente, em musicais, a cargo de RODRIGO NEGRI e PRISCILLA MOTA. Meus aplausos foram direcionados a estes profissionais: atores, músicos e coreógrafos.

 

Gosto muito do trabalho de MARCELO VÁRZEA, na pele de FRANCO, um verdadeiro “workaholic”, que, em seus “momentos de descanso”, continua fissurado em comerciais, sempre com o rosto colado na tela da TV. Ele só pensa, 24 horas por dia, em propagandas e jingles. Completamente voltado para o que é de seu maior interesse, ignora a vida conjugal e o faz de tal forma, que “chega a parecer” cínico ou fora da realidade. MARCELO não é o que se pode chamar de um ator cômico, porém obtém um ótimo rendimento neste papel, quando o humor está presente no seu texto, da mesma forma como, em situação totalmente oposta, interpretou, muito bem, João Araújo, pai de Cazuza, no musical de grande sucesso “Cazuza, O Musical – Pro dia Nascer Feliz”. É um ator muito versátil, requisitado pelos diretores e produtores. É muito boa a química entre VÁRZEA e AMANDA ACOSTA.

 

 


Marcelo Várzea.

 

 

Sou meio suspeito para falar de AMANDA ACOSTA, cuja carreira, como atriz, acompanho desde seu início, sempre com destaque em musicais. Dona de uma bela voz e de uma ótima presença de palco, AMANDA, mais uma vez, ratifica seu talento de profissional do ramo. Tendo iniciado sua carreira artística como cantora, ainda criança, AMANDA encontrou, no TEATRO MUSICAL, o espaço para mostrar seu enorme talento vocal, ampliado com boas interpretações e total desenvoltura nas coreografias, o que, nesta peça, é um grande desafio, pela complexidade delas. Sua DORA é bem interessante e engraçada, nos momentos em que o texto o exige, além de irônica, nas cobranças que faz ao marido. É uma mulher muito romântica, sonhadora, que ambiciona viver em um musical. Ela escolheu ser dona de casa e viver para o marido, mas chegou ao ponto em que o casamento só existia no papel e ela se vê obrigada a mudar a situação. Aí vem a grande virada da personagem. Faço questão de ratificar o excelente entrosamento entre AMANDA e MARCELO VÁRZEA.

 

 


Amanda Acosta.

 

 

Cabe a BIA MONTEZ, no papel de MADALENA, vizinha, amiga e confidente de DORA, a tarefa de fazer o público rir o tempo inteiro. A cada sua nova aparição, a plateia já se prepara para dar boas risadas, graças à boa interpretação da atriz, valorizando alguns bons momentos do texto. MADALENA é aquela vizinha “entrona”, que alerta a amiga sobre os problemas de seu casamento. É uma mulher mais velha, mas que tem uma cabeça muito moderna, “vanguarda” até demais, bem distante da idade cronológica da personagem. Vive conectada às redes sociais e aplicativos de “paquera”. Suas tentativas de conquistar ELISEO, de quem falarei adiante, são hilárias. Ela tenta acordar DORA para a realidade da vida. O escancarado contraste entre a idade da personagem e seu comportamento bizarro constitui o mote do seu humor. A atriz, afastada há muito tempo, dos musicas, faz um bom trabalho, talvez um pouco exagerado e caricatural, em alguns momentos, o que não prejudica o brilho de sua atuação.

 

 

 


Bia Montez e Reiner Tenente.

 

 

REINER TENENTE garante, para ELISEO, seu personagem, um papel de coadjuvante com destaque. ELISEO também é publicitário, sócio e grande amigo de FRANCO. O personagem já daria, a qualquer ator que o representasse, a oportunidade de aparecer, na peça. Nas mãos de REINER, isso é potencializado, graças ao seu grande talento e à sua maneira peculiar de interpretar um personagem cômico, fazendo uso de ótimas expressões faciais e corporais, além de falas entrecortadas ou interrompidas e entonações especiais, a cada situação de embaraço em que se vê envolvido, principalmente diante das provocações de MADALENA.

 

 


Reiner Tenente.

 

 

HUGO KERTH é LEONARDO, neto de MADALENA. Criado pela avó, ele traz muito humor à história, com seu jeito meio “estranho” de ser. O mérito do ator vai para a boa interpretação de um personagem estereotipado, que tinha tudo para ser ridículo, em cena, pelos clichês que carrega. Nas mãos de um profissional de grandes recursos de interpretação, como HUGO, porém, isso não acontece, já que ele, apesar de bem jovem, traz uma boa bagagem, em seu currículo, e sabe dosar as inseguranças de seu personagem, advindo daí um bom trabalho.

 

 


Bia Montez e Hugo Kerth.

 

 

Os demais atores/bailarinos cumprem, com correção, suas funções, executando, com perfeição, as danças e fazendo pequenas participações em algumas cenas. Aqui, destaco PEDRO ARRAIS, ao fazer um médico “trilíngue”, chamado a examinar DORA.

 

Quanto à dramaturgia, via de regra, em musicais, não é o forte. Aqui, não é diferente, embora, para o que o espetáculo se propõe, parece-me razoável. Nenhuma novidade, ainda que a ideia seja interessante e o texto apresente alguns momentos de ótimo humor, valorizado pela interpretação dos atores, como já disse. Há muita previsibilidade nas ações. Qualquer pessoa que vá, pela primeira vez, ao teatro, pode esperar a “virada de mesa” de DORA e a revelação, no final da peça, do personagem LEONARDO. Sim, o texto é uma bobagem, uma brincadeira, ao mesmo tempo que considero uma bela e justa homenagem aos profissionais do TEATRO MUSICAL e da propaganda, dois segmentos que, ainda, no Brasil, não são reconhecidos e reverenciados como deveriam ser. O Brasil – dizem – é o terceiro maior produtor de musicais no mundo. Há controvérsias, com as quais não estou nem um pouco preocupado; o importante é que já somos bastante respeitados na área. Quanto às propagandas, além dos inúmeros prêmios, que nossos publicitários vêm conquistando, nos mais importantes festivais mundiais, é sabido que muitos bons profissionais brasileiros, do ramo, trabalham no exterior e são disputados no mercado externo. Agradam-me a utilização da metalinguagem, em poucos momentos, e a brincadeira do autor com os musicais, através de críticas leves e de bom humor (“Em musical, até bambu fala”, ou coisa parecida, referência feita a uma planta, cultivada por DORA, na sala de sua casa, com a qual ela "conversa", tratando-a como um humano, dividindo a sua “solidão a dois”). Em outro momento, com relação a essa brincadeira com os musicais, é a vez de PEDRO ARRAIS despir-se do personagem e dizer que precisa sair de cena, para voltar a fazer parte do coro.

 

 

 


“Em musical, até bambu fala”.

 

 

A direção não apresenta nada que mereça grande destaques, mas também não atrapalha. Um detalhe negativo vai, na minha modesta apreciação, à longa duração da cena em que DORA fica perdida, na sala de sua casa, segurando um enorme bolo, que seria para comemorar os 20 anos de casamento, com um repetitivo, e cansativo, entra-e-sai, no melhor estilo “vaudeville”, que funciona, quando não é excessivo. Aqui, cansou um pouco. Poderia ser encurtado esse momento.

 

Os cenários (direção de arte), de JACKSON TINOCO, são muito interessantes e práticos, detalhe este importante, nos dias de hoje, quando se pensa em viajar com um espetáculo teatral, diminuindo os custos e as dificuldades nesses deslocamentos, montagens e desmontagens.

 

Os figurinos, de PAULA ACIOLY, também atendem à proposta da peça, entretanto um detalhe, mais relacionado ao visagismo, me aborreceu e incomodou sobremaneira, que é a peruca que resolveram colocar, em BIA MONTEZ, para envelhecê-la. Uma das coisas mais ridículas que já vi, em termos de caracterização de personagem. Por que, então, não escolheram uma atriz mais velha, a despeito do ótimo trabalho de BIA, que não aparenta sua verdadeira idade, ou não utilizaram um acessório de melhor qualidade e acabamento, para a composição da personagem? Truques simples de maquiagem também poderiam resolver o problema. Não sei qual foi a intenção do visagista, cujo nome não aparece na ficha técnica, mas, se pretenderam se aproximar do ridículo, lograram total êxito.

 

 


Mosaico.

 

 

Acho que o “design” de som, sob a responsabilidade de CARLOS ESTEVES, necessita de alguns reparos. Pode ter sido um fato pontual, no dia em que assisti ao espetáculo, porém, em alguns momentos, notei falhas no som, o que prejudicou o entendimento de alguns trechos das falas e das letras das canções. É preciso ajustar o volume dos microfones e regular vozes e instrumentos musicais. Nada que não possa ser, facilmente, corrigido. Talvez seja mais uma falha do operador de som ou do microfonista. É para ser apurado e sanado o problema.

 

ADRIANA ORTIZ já realizou muitos trabalhos melhores que este, porém sua iluminação também se encaixa no padrão do espetáculo.

 

A banda que acompanha os artistas, nas canções, cujos nomes (é uma pena) não constam na ficha técnica, também se sai muito bem, sob a correta condução de TONY LUCHESI, um jovem, porém muito experiente e competente, profissional.

 

 Pensei que este musical fosse para ser esquecido, como já esqueci tantos, os quais, para merecerem ser chamados de “MUSICAL”, teriam de se esforçar e melhorar bastante, mas, felizmente, e para a minha surpresa, não é o caso desta peça. Também não é para ser lembrado com tanta frequência.

 

Vale a pena conferir, exercitar o seu lado saudosista e se divertir com um espetáculo leve, despretensioso, engraçado. Um programa-família.

 

Está nos meus planos voltar ao Theatro Net Rio.

 

 

 

 


Dora catatônica. (Será?)

 

 

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Consultoria Criativa – Washington Olivetto
Texto e Direção – Rodrigo Nogueira
 
Elenco – Marcelo Várzea, Amanda Acosta, Bia Montez, Reiner Tenente, Hugo Kerth, Marcelo Ferrari, Leandro Melo, Júnior Zagotto, Pedro Arrais, Leilane Teles, Fabiana Tolentino, Debora Polistchuck e Carol Botelho.
 
Coreografia – Rodrigo Negri e Priscilla Mota
Direção Musical e Arranjos – Tony Lucchesi
Direção de Arte e Cenografia – Jackson Tinoco
Figurino – Paula Acioly
Design de Som – Carlos Esteves
Iluminação – Adriana Ortiz
Casting – Marcela Altberg
Consultoria Publicitária – Lula Vieira
Realização – Aventura Entretenimento
 

 

 

 


 

 

 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 8 de janeiro a 6 de março (2016).
Local: Theatro NET Rio – Rua Siqueira Campos, 145 – Copacabana – Rio de Janeiro – RJ.
Dias e Horários: 6ªs feiras, às 21h; sábados, às 21h30min; domingos, às 18h30min.
Funcionamento da Bilheteria: De 2ª feira a domingo, das 10h às 22h, inclusive feriados.
Vendas pela internet: www.ingressorapido.com.br
Vendas pelo telefone: (21) 4003-1212.
Formas de pagamento: Todos os cartões de crédito e débito.
Preços: 6ªs feiras = plateia e frisa: R$ 120,00; balcão I: R$ 80,00; balcão II: R$ 50,00
              sábados e domingos = plateia e frisa: R$ 130,00; balcão I: R$ 100,00; balcão II: R$ 50,00
Capacidade: 644 lugares
Duração: 100 minutos
Classificação Etária: Livre
 

 

 

 

 


 

 


 

 


 

 


 

 

 

 

 

(FOTOS: CAIO GALLUCCI.)

 

 

 

 

 

 

 

GALERIA PESSOAL

(FOTOS: MARISA SÁ.)

 

 

 


Com Amanda Acosta.

 

 


Com Fabiana Tolentino.

 

 


Com Marcelo Várzea e Marcelo Ferrari.

 

 


Com Leandro Melo.

 

 


Com Hugo Kerth.

 

 


Com Pedro Arrais.

 

 


Com Reiner Tenente.

 

 


 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário