AUÊ
(POESIA, MÚSICA
E BRASILIDADE
A SERVIÇO DO TEATRO.)
- É um homem?
- ?
- É um pássaro?
- ?
- É um avião?
...
- É TEATRO?
- ?
- É um “show” musical?
- ?
- É uma “performance”?
- NÃO!!! É a BARCA DOS
CORAÇÕES PARTIDOS, fazendo um “AUÊ”!!!
Não
sei que nome atribuir a uma das melhores coisas que, até hoje, já vi acontecer
num palco. Simples, como o título: “AUÊ”,
em cartaz na Arena do Espaço SESC
(Copacabana), até o dia 31 de
janeiro (2016) – (VER SERVIÇO).
São
sete rapazes, atores/cantores/músicos, de invejável talento, os quais, durante
80 minutos, conseguem tirar qualquer um da inércia - de movimentos e
pensamentos -, atraindo-nos, como ímãs, para aquela arena. Cada um dos
espectadores, sem querer, se sente no meio deles, numa celebração, antes de
tudo, da vida, da graça de viver, do prazer do contato com o outro, do desejo
de criar um universo mais harmonioso, de alegria, de paz, de amor, de
fraternidade... Uma celebração do amor, cantado, em versos e melodias, em todas
as suas implicações e momentos: de prazer, de dor, de sofrimento, de gozo...
O
ESPETÁCULO, com todas maiúsculas –
receba ele a classificação que cada um quiser lhe atribuir – é dirigido por DUDA MAIA, que, no ano passado, se
destacou, no cenário teatral carioca, com excelentes trabalhos de direção de movimento. Ela rege um
seleto grupo, formado por gente que atuou em dois marcantes espetáculos
recentes: “Gonzagão – A Lenda” e “Ópera do Malandro”, mesclando TEATRO, música, dança e “performance”,
com 21 canções autorais do grupo.
De
acordo com o “release” do ESPETÁCULO,
enviado pela assessoria de imprensa
(Factoria Comunicação – Pedro Neves),
“no dicionário, ‘AUÊ’ significa farra, tumulto, confusão ou barulho causado por uma algazarra”. Certamente, depois deste
ESPETÁCULO, os dicionários terão de agregar outro significado ao vocábulo.
Como? Eu não sei. Ainda bem que não sou filólogo, porque há muita coisa para
cujas definições não encontramos palavras.
SINOPSE:
Em cena, a companhia BARCA DOS CORAÇÕES PARTIDOS, nascida
durante as montagens de “Gonzagão – A
Lenda” e “Ópera do Malandro”, apresenta
21 canções autorais e inéditas, em
um ESPETÁCULO, que reúne TEATRO,
dança, “performance” e, é claro, música.
Criada, em processo
coletivo, com a diretora, DUDA MAIA,
a encenação utiliza as letras como dramaturgia e os sete atores/cantores ainda
são responsáveis por tocar todos os instrumentos, ao vivo, nesta verdadeira “farra teatral”.
A idealização do projeto é
fruto da parceria do grupo com a Sarau
Agência, da produtora Andréa Alves,
também responsável pela produção dos dois espetáculos anteriormente citados,
ambos dirigidos por João Falcão.
O repertório faz jus ao
nome da companhia e traz uma leva de canções, cujo tema principal é o amor e todas as suas dores e
delícias. As músicas foram compostas
pelos atores da BARCA DOS CORAÇÕES
PARTIDOS (ADRÉN ALVES, ALFREDO DEL-PENHO, BETO LEMOS, EDUARDO RIOS, FÁBIO
ENRIQUEZ, RENATO LUCIANO E RICCA BARROS) e alguns colaboradores, como o
cantor e compositor Moyseis Marques,
que protagonizou “Ópera do Malandro”,
com eles; Laila Garin, atriz de “Gonzagão – A Lenda”; Bena Lobo e Geraldo Júnior.
As composições, todas
belíssimas e alegres, em letra e música, foram produzidas nas muitas excursões
da trupe, por todo o Brasil, e “apresentadas” em ônibus, vans e camarins.
Quando começaram a pensar
no próximo espetáculo, foi percebido o rico material autoral que tinham em
mãos. Em um processo, que durou cerca de seis meses, o grupo selecionou algumas
músicas, compôs outras e contou com o retorno de DUDA MAIA, diretora de movimento de ‘Gonzagão’, que, agora, assume a direção geral deste ESPETÁCULO.
Seguindo o conceito
principal do trabalho, os atores promovem uma verdadeira celebração musical –
ou um “AUÊ”, como preferir – no
palco. Ao longo dos números, a diversidade musical e rítmica das canções fica
explícita nos excelentes arranjos, assinados por ALFREDO DEL-PENHO e BETO
LEMOS. Desfilam samba de roda, baião, rock, valsa, ijexá, maracatu e coco.
Da esquerda para a direita: (em pé) Beto Lemos, Eduardo Rios,
Ricca Barros e Alfredo Del-Penho;
(agachados) Renato Luciano, Fábio Enriquez e Adrén Alves.
“As
canções são altamente teatrais e a companhia já tem uma ligação muito forte,
uma identidade. O desafio foi potencializar este encontro e integrar os
instrumentos ao que acontece em cena. Brincamos, ao falar que eles ‘vestem’ os
instrumentos. Não é, simplesmente, pegar o instrumento e tocar; não, é um
‘show’. A ideia é que tudo aconteça de forma natural, integrada à cena”,
explica DUDA, que ressalta o intenso
trabalho corporal (“não se deve
confundir com força ou vigor”) do grupo. “A musicalidade da peça é uma
grande homenagem à cultura musical brasileira. Os ritmos dialogam com dança e
teatro o tempo todo”, resume a diretora.
Não
há muito o que dizer sobre este trabalho, porque faltam palavras precisas
para descrevê-lo. O que vale, mesmo, é assistir a ele, entregar-se, de corpo e
alma, e se deixar levar por uma “horda ordeira”, com perdão do trocadilho, e
viajar na proposta do grupo.
Levei
meu tradicional caderninho, para as anotações, entretanto, desde a primeira
cena, entrei em transe e... E quem diz que consegui anotar alguma coisa? Não
conseguia desviar o olhar daquela arena e daqueles grandes artistas.
Sobre o que
vi, e do que me lembro (reassistirei esta semana), farei algumas considerações:
1)
Trata-se de um ESPETÁCULO feito para ser apresentado numa arena, a fim de que melhor seja
trocada uma energia com o público. Num palco italiano, certamente, perderá
muito em qualidade e comunicação com a plateia.
2)
Não há, praticamente, cenário, elemento
totalmente dispensável, a não ser um tapete vermelho, muito felpudo, que
circunda a arena e sobre o qual ficam dispostos os instrumentos musicais utilizados
em cena. A direção de arte é de KIKA LOPES, incluindo aí os figurinos, que são lindos, práticos, confeccionados
com tecidos leves e bastante maleáveis, gerando um movimento leve, num balé
onírico. Uma verdadeira incógnita os trajes, que servem para vestir seres
humanos, não importa se são homens ou não. Com eles, a masculinidade dos sete atores também
cede espaço a uma deliciosa brincadeira, uma androgenia visual. Grande trabalho da KIKA!
3)
O número de abertura, “A BARCA DOS
CORAÇÕES PARTIDOS” (“Queira Dionísio nos valer / Antes de Narciso se afogar /
Clamem as sereias pra cantar / Que Yemanjá virá nos proteger / Que auê que a
Barca faz no coração...”) já é suficiente para sacudir a plateia, sendo
altamente impactante. Uma invocação e uma convocação. Uma apresentação. É o
sinal de que muito mais coisas boas estão por vir.
4)
Embora não esteja presente, no programa
da peça (excelente, por sinal, com todas as letras das 21 canções) o
nome de quem é responsável pelas coreografias, as quais exigem bastante
esforço físico e concentração do grupo, não creio que pairem dúvidas sobre
isso: são de DUDA MAIA, responsável
por tudo o que se relaciona a movimento
de corpo, no ESPETÁCULO, à exceção de uma coreografia aérea, executada, lindamente, por FÁBIO ENRIQUEZ. Esta é assinada por LEONARDO SENNA. As
coreografias são um achado.
5)
É ótima a iluminação, de RENATO MACHADO, com destaque para umas
projeções de arabescos, voltadas para o chão da arena, da mesma forma como
funciona muito bem, e não poderia ser de outra forma, o “design” de som, a cargo de GABRIEL
D’ÂNGELO.
Mosaico, com destaque para a iluminação.
No quadro inferior, à direita, detalhe de Rick De La Torre, na bateria.
6)
Alguns dos atores já sabiam tocar instrumentos musicais; outros não. E o que se
vê é um grupo de multi-instrumentistas, revezando-se em vários instrumentos,
fruto de um aprendizado disciplinado, durante o processo, a partir de muito
empenho e determinação. O resultado é brilhante. Tocam e cantam com a alma,
mais do que com as mãos e a garganta. Não restam dúvidas de que o grande mago
dos instrumentos, o mais eclético de todos, é BETO LEMOS, que já havia se destacado bastante em “Gonzagão” e que, aqui, assina a direção musical, ao lado de outro
grande músico, e também tripulante da BARCA,
ALFREDO DEL-PENHO.
7)
A porção TEATRO está representada,
neste ESPETÁCULO, não por uma dramaturgia, propriamente dita, embora possam ser
identificados traços dela, nas letras das canções, mas pelo aspecto dramático
como são interpretadas, com emoção, humor, lirismo, de acordo com o teor de
cada letra.
8)
Em grupo ou em solos, todos têm a oportunidade de mostrar seus talentos. O
surpreendente é que, quando a gente acha que o ESPETÁCULO atingiu seu clímax,
percebe que aquele momento não passa de um anticlímax, ou falso clímax, porque
algo mais surpreendente e impactante surge em seguida.
9)
EDUARDO RIOS, um furacão em forma
humana, protagoniza um dos melhores momentos do ESPETÁCULO, ao interpretar, de
forma impecável, “DOIDEIRA DE AMOR –
CORDEL”. EDUARDO, arrancando
demorados, e merecidos, aplausos da plateia, que se emociona e se diverte com o
teor dos versos desse cordel. Pura cultura
de raiz brasileira!
Eduardo Rios.
10)
FÁBIO ENRIQUEZ é outro que brilha,
fazendo evoluções num tecido pendente, interpretando a canção “DOM DE UM AMOR SÓ”, cuja letra fala da
incapacidade de expressar seu sentimento de amor a uma “dulcineia” perdida.
Isso é feito, acompanhado pelos companheiros de cena, todos deitados na arena,
formando uma espécie de mandala (LINDO!),
executando seus instrumentos musicais. Obra-prima!
11)
RICCA BARROS, solando, com uma
parcimoniosa participação, em segundo plano, dos demais elementos, encanta, ao
interpretar “PRECEITO”, à capela.
12)
Novidade, para quem não o conhecia – não para mim, que o conheço e admiro faz
tempo – ADRÉN ALVES surpreende os
desprevenidos, passeando, com sua voz, que vai dos timbres mais agudos aos mais
graves, sem o menor esforço e com muita perfeição.
13)
Citei, nominalmente, quatro dos sete intérpretes, mas é impossível - e seria uma injustiça - destacar qualquer um dos integrantes do elenco, pois todos
esbanjam talento, assim como não se pode ampliar o foco para nenhuma das 21 canções, pois
todas, sem exceção, são de uma qualidade impressionante, independentemente do
ritmo e das letras. O lirismo, em “VERSIM
DE AMOR”, é inebriante. O tom erótico, de “REMÉDIO” excita. Em “SAUDADE”,
a definição para um sentimento “indefinível” é emprenhada de metáforas lindas. “VIDA DOIDA”, composição que conta com
a parceria de Laila Garin,
representa um dos momentos de maior descontração do espetáculo. Enfim, todas as canções são sensacionais!
14)
Embora não faça parte do grupo, RICK DE
LA TORRE, com seu trabalho, na bateria, é indispensável no espetáculo. É o
quarto dos Três Mosqueteiros. É o oitavo elemento do grupo. Certamente, é dos
melhores profissionais, em seu instrumento, e participa em todas as canções, praticamente.
Estamos
diante de um ESPETÁCULO, digno de
representar o Brasil em qualquer festival no exterior, produto final de uma
linda e profunda pesquisa, que enobrece a ARTE
BRASILEIRA. Num momento político em que o país se vê imerso, num lamaçal que
parece não ter mais fim, “AUÊ” chega
como um sinal de esperança, provocando e resgatando o orgulho de ser
brasileiro.
Gente,
é uma experiência deliciosa, uma das melhores coisas que vi, nos últimos
tempos! Poesia e brasilidade.
IM-PER-DÍ-VEL
l!!!
Ricca Barros (baixo) e Adrén Alves (percussão).
FICHA TÉCNICA:
“AUÊ” - Um espetáculo da BARCA DOS CORAÇÕES PARTIDOS
Criação: A Barca dos Corações Partidos e Duda Maia
Direção: Duda Maia
Direção Musical e Arranjos: Alfredo Del-Penho e Beto Lemos
Direção Musical e Arranjos: Alfredo Del-Penho e Beto Lemos
Elenco:
Adrén Alves (percussão, sax soprano e vocais)
Alfredo Del-Penho (violão, guitarra, baixo, cavaquinho, flauta, percussão e vocais)
Beto Lemos (guitarra, violão, rabeca, sanfona e percussão)
Eduardo Rios (sanfona, sax tenor e vocais)
Fábio Enriquez (trompete, percussão e vocais)
Renato Luciano (violão, trombone e vocais)
Ricca Barros (baixo, sax alto e vocais)
Músico convidado: Rick de La Torre (bateria)
Alfredo Del-Penho (violão, guitarra, baixo, cavaquinho, flauta, percussão e vocais)
Beto Lemos (guitarra, violão, rabeca, sanfona e percussão)
Eduardo Rios (sanfona, sax tenor e vocais)
Fábio Enriquez (trompete, percussão e vocais)
Renato Luciano (violão, trombone e vocais)
Ricca Barros (baixo, sax alto e vocais)
Músico convidado: Rick de La Torre (bateria)
Iluminação: Renato Machado
Direção de Arte: Kika Lopes
Design de Som: Gabriel D’Ângelo
Coreografia Aérea: Leonardo Senna
Visagismo: Uirandê de Holanda
Direção de Produção: Andréa Alves
Diretor Assistente: Eduardo Rios
Direção de Produção: Andréa Alves
Diretor Assistente: Eduardo Rios
Coordenação de Produção: Leila Maria Moreno
Produção Executiva: Monna Carneiro
Assistente de Iluminação: Rodrigo Maciel
Assistente de Direção de Arte: Rocio Moure
Preparação dos Instrumentos de Sopro: Gilson Santos
Fotografia: Silvana Marques
Programação Visual: Beto Martins e Gabriela Rocha
Assessoria de Imprensa: Factoria Comunicação
Produção Executiva: Monna Carneiro
Assistente de Iluminação: Rodrigo Maciel
Assistente de Direção de Arte: Rocio Moure
Preparação dos Instrumentos de Sopro: Gilson Santos
Fotografia: Silvana Marques
Programação Visual: Beto Martins e Gabriela Rocha
Assessoria de Imprensa: Factoria Comunicação
SERVIÇO:
Temporada: De 7 a
31 de janeiro de 2016.
Dias e Horários: De 3ª feira a sábado, às 20h30min; aos domingos, às 19h.
Dias e Horários: De 3ª feira a sábado, às 20h30min; aos domingos, às 19h.
Local: Espaço Sesc (Arena).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana.
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana.
Tel: 2547-0156.
Ingressos: R$5,00 (associados do Sesc), R$10,00 (meia-entrada), R$20,00
(inteira).
Duração: 80 minutos.
Classificação etária: Livre.
Bilheteria: De 3ª feira a domingo, das 15h às 21h.
Classificação etária: Livre.
Bilheteria: De 3ª feira a domingo, das 15h às 21h.
Vendas antecipadas no local.
(FOTOS: SILVANA MARQUES.)
Maravilhoso!
ResponderExcluirHá muitos anos não vejo um espetáculo tão simples (palco) e tão complexo (melodias, harmonias, letras, cenas e interpretações), de quase não conseguir piscar os olhos para não perder nenhum segundo. Este é para ganhar prêmios.
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