O PRIMEIRO
MUSICAL
A GENTE
NUNCA ESQUECE
(PENSAVA QUE ESTE FOSSE
PARA SER ESQUECIDO,
MAS NÃO O É.)
Assisti
ao espetáculo “O PRIMEIRO MUSICAL A
GENTE NUNCA ESQUECE”, no Theatro
(acho tão charmoso o H) NET Rio,
e confesso que fui com muitas reservas. Motivos não me faltavam (não vale a
pena entrar em detalhes), mas, com certeza, não era nada relativo ao elenco, já
que conheço o trabalho de todos, de longas datas, profissionais competentes e
respeitados no universo dos musicais. O fato é que não esperava ver o que vi.
Surpresa agradável!
Não
é um “supermusical”, mas merece ser
recomendado, por ser uma brincadeira, bem despretensiosa, porém feita com
seriedade e profissionalismo, a partir de uma ideia interessante.
O sonho de Dora.
Amanda Acosta e Bia
Montez.
Diria
que se trata de uma deliciosa “bobagem”, sem nenhum caráter pejorativo, que diverte e
tira, de nossas costas, um pouco do peso, que, sem querer, estamos sendo
obrigados a carregar, no dia a dia.
Utilizarei,
de início, informações extraídas, e
adaptadas, do “release”, que me
foi passado pela assessoria de imprensa
(Bruna Tenório - MNiemeyer Assessoria de
Comunicação), para, depois, expor minha impressão, mais detalhada, sobre o
espetáculo.
Dora e Franco,
dançando com os personagens de “O Mágico de Oz”.
Clássicos musicais, como “O Mágico de Oz” e “A Noviça Rebelde”, e 15 jingles fazem parte do novo musical
da Aventura Entretenimento, em
projeto inédito, com roteiro e direção de RODRIGO NOGUEIRA e músicas escritas especialmente para a produção.
A solução para a feitura
de um espetáculo que mesclasse a criação publicitária com o TEATRO MUSICAL foi da agência CUBOCC.
Um dos nomes mais
importantes da publicidade, WASHINGTON
OLIVETTO, assina a consultoria
criativa do espetáculo, que leva, no título, uma homenagem a uma de suas
criações mais premiadas e lembradas da história, a propaganda, da Valisère, “O primeiro sutiã a gente nunca esquece”, lançada em 1987, com Luciana Vendramini no papel da
adolescente que se orgulha do primeiro “porta-seios”, como se dizia no tempo de
minha avó.
Um dos destaques desta
produção é a mistura das canções. A trilha
sonora pode ser dividida em três segmentos: grandes clássicos de musicais, como “O Mágico
de Oz”, “A Noviça Rebelde” e “Sweet Charity”; inéditas – três novas músicas, compostas
por RODRIGO NOGUEIRA e TONY LUCCHESI, compositor e pianista,
este, também, assinando a direção
musical e os arranjos da peça; e
jingles históricos.
Bia Montez, Amanda
Acosta e Hugo Kerth.
SINOPSE:
“O PRIMEIRO MUSICAL A GENTE NUNCA ESQUECE” é um espetáculo tratado
com muito humor e ironia.
O texto, de RODRIGO NOGUEIRA,
conta a história de DORA (AMANDA ACOSTA)
e FRANCO (MARCELO VÁRZEA), um casal
em crise, com quase vinte anos de casamento.
Ele é um executivo, dono
de uma grande agência de publicidade, viciado em propaganda, e ela, uma
exemplar dona de casa, viciada em musicais.
Perto de completarem 20
anos de casados, a relação deles está desgastada e FRANCO já não dispensa a mesma atenção a DORA. A vida dele é do trabalho para frente da TV, enquanto DORA vive em um mundo de fantasias,
sempre pensando nos grandes musicais de que gosta tanto.
Vivem em mundos distintos.
Ela, cada vez mais, sentindo um vazio maior dentro de si, tem uma grande amiga
e vizinha, MADALENA (BIA MONTEZ),
mulher mais velha, que vive com seu neto, LEONARDO
(HUGO KERTH).
FRANCO, que mal percebe que tem um problema em casa, tem, em ELISEO (REINER TENENTE), seu sócio, um
grande amigo.
No dia de comemorar o
aniversário de 20 anos de casados, DORA
prepara uma noite romântica, porém FRANCO
se esquece da data. Em um surto explosivo, DORA
destrói a televisão do marido. Um choque! Ela “entra em estado catatônico” e
passa a “não escutar” mais o que falam. Ou melhor, só escuta quando cantam.
Dora consegue, por
pouco tempo,
trazer Franco para “O Mágico de Oz”.
Que ninguém saia de suas casas, na expectativa de ver uma superprodução,
que vá acrescentar muito à sua vida, mas programem uma ida ao Theatro Net Rio, com a certeza de que
assistirão a um espetáculo “honesto” e bem divertido, no qual o mérito maior
vai para a interpretação dos cinco atores, que formam o núcleo da trama (?), e
dos atores/bailarinos, os quais executam uma das melhores coreografias, das que tenho visto, ultimamente, em musicais, a cargo
de RODRIGO NEGRI e PRISCILLA MOTA. Meus aplausos foram
direcionados a estes profissionais: atores,
músicos e coreógrafos.
Gosto muito do trabalho de MARCELO
VÁRZEA, na pele de FRANCO, um
verdadeiro “workaholic”, que, em seus “momentos de descanso”, continua
fissurado em comerciais, sempre com o rosto colado na tela da TV. Ele só pensa,
24 horas por dia, em propagandas e jingles. Completamente voltado para o que é
de seu maior interesse, ignora a vida conjugal e o faz de tal forma, que “chega
a parecer” cínico ou fora da realidade. MARCELO
não é o que se pode chamar de um ator cômico, porém obtém um ótimo rendimento
neste papel, quando o humor está presente no seu texto, da mesma forma como, em
situação totalmente oposta, interpretou, muito bem, João Araújo, pai de Cazuza,
no musical de grande sucesso “Cazuza, O
Musical – Pro dia Nascer Feliz”. É um ator muito versátil, requisitado
pelos diretores e produtores. É muito boa a química entre VÁRZEA e AMANDA ACOSTA.
Marcelo Várzea.
Sou meio suspeito para falar de AMANDA
ACOSTA, cuja carreira, como atriz, acompanho desde seu início, sempre com
destaque em musicais. Dona de uma bela voz e de uma ótima presença de palco, AMANDA, mais uma vez, ratifica seu
talento de profissional do ramo. Tendo iniciado sua carreira artística como
cantora, ainda criança, AMANDA
encontrou, no TEATRO MUSICAL, o
espaço para mostrar seu enorme talento vocal, ampliado com boas interpretações
e total desenvoltura nas coreografias, o que, nesta peça, é um grande desafio,
pela complexidade delas. Sua DORA é
bem interessante e engraçada, nos momentos em que o texto o exige, além de irônica,
nas cobranças que faz ao marido. É uma mulher muito romântica, sonhadora, que
ambiciona viver em um musical. Ela escolheu ser dona de casa e viver para o
marido, mas chegou ao ponto em que o casamento só existia no papel e ela se vê
obrigada a mudar a situação. Aí vem a grande virada da personagem. Faço questão
de ratificar o excelente entrosamento entre AMANDA e MARCELO VÁRZEA.
Amanda Acosta.
Cabe a BIA MONTEZ, no papel
de MADALENA, vizinha, amiga e confidente
de DORA, a tarefa de fazer o público
rir o tempo inteiro. A cada sua nova aparição, a plateia já se prepara para dar
boas risadas, graças à boa interpretação da atriz, valorizando alguns bons
momentos do texto. MADALENA é aquela vizinha “entrona”, que
alerta a amiga sobre os problemas de seu casamento. É uma mulher mais velha,
mas que tem uma cabeça muito moderna, “vanguarda” até demais, bem distante da
idade cronológica da personagem. Vive conectada às redes sociais e aplicativos
de “paquera”. Suas tentativas de conquistar ELISEO, de quem falarei adiante, são hilárias. Ela tenta acordar DORA para a realidade da vida. O
escancarado contraste entre a idade da personagem e seu comportamento bizarro
constitui o mote do seu humor. A atriz, afastada há muito tempo, dos musicas, faz
um bom trabalho, talvez um pouco exagerado e caricatural, em alguns momentos, o
que não prejudica o brilho de sua atuação.
Bia Montez e Reiner
Tenente.
REINER TENENTE garante, para ELISEO, seu personagem, um papel de
coadjuvante com destaque. ELISEO
também é publicitário, sócio e grande amigo de FRANCO. O personagem já daria, a qualquer ator que o representasse,
a oportunidade de aparecer, na peça. Nas mãos de REINER, isso é potencializado, graças ao seu grande talento e à
sua maneira peculiar de interpretar um personagem cômico, fazendo uso de ótimas
expressões faciais e corporais, além de falas entrecortadas ou interrompidas e entonações especiais, a
cada situação de embaraço em que se vê envolvido, principalmente diante das
provocações de MADALENA.
Reiner Tenente.
HUGO KERTH é LEONARDO, neto de MADALENA. Criado pela avó, ele traz muito humor à história, com seu
jeito meio “estranho” de ser. O mérito do ator vai para a boa interpretação de
um personagem estereotipado, que tinha tudo para ser ridículo, em cena, pelos
clichês que carrega. Nas mãos de um profissional de grandes recursos de interpretação,
como HUGO, porém, isso não acontece,
já que ele, apesar de bem jovem, traz uma boa bagagem, em seu currículo, e sabe
dosar as inseguranças de seu personagem, advindo daí um bom trabalho.
Bia Montez e Hugo
Kerth.
Os demais atores/bailarinos
cumprem, com correção, suas funções, executando, com perfeição, as danças e fazendo
pequenas participações em algumas cenas. Aqui, destaco PEDRO ARRAIS, ao fazer um médico “trilíngue”, chamado a examinar DORA.
Quanto à dramaturgia, via de
regra, em musicais, não é o forte. Aqui, não é diferente, embora, para o que o
espetáculo se propõe, parece-me razoável. Nenhuma novidade, ainda que a ideia
seja interessante e o texto
apresente alguns momentos de ótimo humor, valorizado pela interpretação dos
atores, como já disse. Há muita previsibilidade nas ações. Qualquer pessoa que vá, pela
primeira vez, ao teatro, pode esperar a “virada de mesa” de DORA e a revelação, no final da peça,
do personagem LEONARDO. Sim, o texto é uma bobagem, uma brincadeira,
ao mesmo tempo que considero uma bela e justa homenagem aos profissionais do TEATRO MUSICAL e da propaganda, dois
segmentos que, ainda, no Brasil, não são reconhecidos e reverenciados como
deveriam ser. O Brasil – dizem – é o terceiro maior produtor de musicais no
mundo. Há controvérsias, com as quais não estou nem um pouco preocupado; o
importante é que já somos bastante respeitados na área. Quanto às propagandas,
além dos inúmeros prêmios, que nossos publicitários vêm conquistando, nos mais
importantes festivais mundiais, é sabido que muitos bons profissionais brasileiros,
do ramo, trabalham no exterior e são disputados no mercado externo. Agradam-me
a utilização da metalinguagem, em poucos momentos, e a brincadeira do autor com
os musicais, através de críticas leves e de bom humor (“Em musical, até bambu fala”, ou coisa parecida, referência feita
a uma planta, cultivada por DORA, na
sala de sua casa, com a qual ela "conversa", tratando-a como um humano, dividindo
a sua “solidão a dois”). Em outro momento, com relação a essa brincadeira com
os musicais, é a vez de PEDRO ARRAIS
despir-se do personagem e dizer que precisa sair de cena, para voltar a fazer
parte do coro.
“Em musical, até bambu
fala”.
A direção não apresenta nada
que mereça grande destaques, mas também não atrapalha. Um detalhe negativo vai,
na minha modesta apreciação, à longa duração da cena em que DORA fica perdida, na sala de sua casa,
segurando um enorme bolo, que seria para comemorar os 20 anos de casamento, com um
repetitivo, e cansativo, entra-e-sai, no melhor estilo “vaudeville”, que
funciona, quando não é excessivo. Aqui, cansou um pouco. Poderia ser encurtado
esse momento.
Os cenários (direção de arte), de JACKSON TINOCO, são muito interessantes
e práticos, detalhe este importante, nos dias de hoje, quando se pensa em
viajar com um espetáculo teatral, diminuindo os custos e as dificuldades nesses
deslocamentos, montagens e desmontagens.
Os figurinos, de PAULA ACIOLY, também atendem à proposta
da peça, entretanto um detalhe, mais relacionado ao visagismo, me aborreceu e
incomodou sobremaneira, que é a peruca que resolveram colocar, em BIA MONTEZ, para envelhecê-la. Uma das
coisas mais ridículas que já vi, em termos de caracterização de personagem. Por
que, então, não escolheram uma atriz mais velha, a despeito do ótimo trabalho
de BIA, que não aparenta sua
verdadeira idade, ou não utilizaram um acessório de melhor qualidade e
acabamento, para a composição da personagem? Truques simples de maquiagem
também poderiam resolver o problema. Não sei qual foi a intenção do visagista,
cujo nome não aparece na ficha técnica,
mas, se pretenderam se aproximar do ridículo, lograram total êxito.
Mosaico.
Acho que o “design” de som,
sob a responsabilidade de CARLOS ESTEVES,
necessita de alguns reparos. Pode ter sido um fato pontual, no dia em que
assisti ao espetáculo, porém, em alguns momentos, notei falhas no som, o que
prejudicou o entendimento de alguns trechos das falas e das letras das canções.
É preciso ajustar o volume dos microfones e regular vozes e instrumentos
musicais. Nada que não possa ser, facilmente, corrigido. Talvez seja mais uma
falha do operador de som ou do microfonista. É para ser apurado e sanado o
problema.
ADRIANA ORTIZ já realizou
muitos trabalhos melhores que este, porém sua iluminação também se encaixa no padrão do espetáculo.
A banda que acompanha os
artistas, nas canções, cujos nomes (é
uma pena) não constam na ficha técnica,
também se sai muito bem, sob a correta condução de TONY LUCHESI, um jovem, porém muito experiente e competente,
profissional.
Pensei que este musical fosse
para ser esquecido, como já esqueci tantos, os quais, para merecerem ser
chamados de “MUSICAL”, teriam de se
esforçar e melhorar bastante, mas, felizmente, e para a minha surpresa, não é o caso desta peça.
Também não é para ser lembrado com tanta frequência.
Vale a pena conferir, exercitar o seu lado saudosista e se divertir com
um espetáculo leve, despretensioso, engraçado. Um programa-família.
Está
nos meus planos voltar ao Theatro Net Rio.
Dora catatônica. (Será?)
FICHA TÉCNICA:
Consultoria Criativa – Washington Olivetto
Texto e Direção – Rodrigo Nogueira
Elenco – Marcelo Várzea, Amanda Acosta, Bia Montez, Reiner Tenente,
Hugo Kerth, Marcelo Ferrari, Leandro Melo, Júnior Zagotto, Pedro Arrais,
Leilane Teles, Fabiana Tolentino, Debora Polistchuck e Carol Botelho.
Coreografia – Rodrigo Negri e Priscilla Mota
Direção Musical e Arranjos – Tony Lucchesi
Direção de Arte e Cenografia – Jackson Tinoco
Figurino – Paula Acioly
Design de Som – Carlos Esteves
Iluminação – Adriana Ortiz
Casting – Marcela Altberg
Consultoria Publicitária – Lula Vieira
Realização – Aventura Entretenimento
SERVIÇO:
Temporada: De 8 de janeiro a 6 de março (2016).
Local: Theatro NET Rio – Rua
Siqueira Campos, 145 – Copacabana – Rio de Janeiro – RJ.
Dias e Horários: 6ªs
feiras, às 21h; sábados, às 21h30min; domingos, às 18h30min.
Funcionamento da Bilheteria: De 2ª feira a domingo, das 10h às 22h,
inclusive feriados.
Vendas pela internet: www.ingressorapido.com.br
Vendas pelo telefone: (21) 4003-1212.
Formas de pagamento: Todos os cartões de crédito e débito.
Preços: 6ªs feiras = plateia e frisa: R$ 120,00; balcão I: R$
80,00; balcão II: R$ 50,00
sábados e domingos = plateia e frisa: R$
130,00; balcão I: R$ 100,00; balcão II: R$ 50,00
Capacidade: 644 lugares
Duração: 100 minutos
Classificação Etária: Livre
(FOTOS:
CAIO GALLUCCI.)
GALERIA
PESSOAL
(FOTOS: MARISA SÁ.)
Com Amanda Acosta.
Com Fabiana Tolentino.
Com Marcelo Várzea e Marcelo Ferrari.
Com Leandro Melo.
Com Hugo Kerth.
Com Pedro Arrais.
Com Reiner Tenente.
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