MARLENE
DIETRICH – AS PERNAS DO SÉCULO
(AS PERNAS QUE FAZEM TREMER
AS NOSSAS.)
Em
outubro de 2010, há quase quatro anos, assisti a um espetáculo, no Centro
Cultural Solar de Botafogo, que prometia: MARLENE
DIETRICH - AS PERNAS DO SÉCULO.
Na ocasião, a
grande expectativa não foi alcançada totalmente. Não pelos muitos méritos do espetáculo, em
si, mas por ter percebido, claramente, que ele poderia ter rendido muito mais,
se encenado num outro espaço, bem maior que o daquele acanhado palco do Solar.
Gostei do que
vi, mas saí de lá um pouco frustrado, com a certeza de que MARLENE DIETRICH era muito mais do que eu vira.
Essa
certeza, eu a tive, na noite do último dia 14, graças a uma remontagem, com o
elenco original, só que, agora, num palco próprio para receber um espetáculo
daquele porte, o do Teatro Maison de
France.
O elenco.
E
o que vi foi um belo espetáculo, uma interessante e merecida homenagem a uma
das grandes divas do cinema e do “show business” de todos os tempos: MARIE MAGDELENE DIETRICH VON LOSCH, nascida em
Berlim, em 1901, e falecida em Paris, aos 91 anos, em 1992; ou, simplesmente,
MARLENE DIETRICH.
O bom texto, escrito por
AIMAR LABAKI, é uma biografia musicada sobre a mulher cujas
pernas eram cultuadas como as mais belas do mundo, a despeito de seu talento
artístico.
Pode-se falar
de uma peça sobre o amor e o tempo, que conta a trajetória de uma mulher de
vanguarda e bastante inteligente, que viveu, à frente do sua época, quase um
século de amor e liberdade. No palco,
trava-se contato com a vida de uma grande artista, mas, principalmente, de uma
mulher destemida, que nunca abriu mão de suas convicções e do prazer, que nunca
fugiu aos desafios.
Marlene Dietrich – a real.
Marlene Dietrich – a ficcional.
Mulher de uma
coragem invejável, cursou a escola
de artes cênicas e participou de filmes mudos,
até 1930. Em 1921, casou-se com um
assistente de direção, chamado Rudolf
Sieber, com quem teve uma única filha, Maria,
nascida em 1924.
Estreou no teatro aos
vinte e três anos de idade, fazendo cinco anos de carreira apagada, até ser
descoberta pelo diretor austríaco Josef von Sternberg, que a convidou para
protagonizar o filme Der Blaue
Engel (1930), lançado no Brasil como O
Anjo Azul, que a notabilizou.
Foi convidada, por Hitler, para
protagonizar filmes pró-nazistas, mas recusou o convite e tornou-se cidadã
estadunidense, o que Führer tomou como um desrespeito à pátria alemã,
atribuindo a DIETRICH o rótulo de
traidora.
Marlene no fronte.
Durante a Segunda Guerra Mundial, MARLENE foi ao encontro das tropas
aliadas, onde cantava para divertir e aliviar a dor dos soldados. Condecorada com medalha após a guerra,
descobriu um dom que poderia explorar: sua voz. Assim, ela começou a cantar, além de
atuar. A partir de 1952, começou a se
apresentar em espetáculos em Las Vegas, no Sahara Hotel.
Grandes nomes
de compositores escreveram canções especialmente para ela, que cantava, com
igual desenvoltura, em alemão, inglês e francês. Foi um dos maiores símbolos sexuais do
cinema. Seu rosto, pernas e voz já fazem
parte do imaginário de gerações.
Celebridades, como Eric Maria
Remarque, Jean Gabin, Yul Bryner, Ernest Hemingway, Burt
Bacharach, Frank Sinatra, Cole Porter, em algum momento, viveram
romances com a musa.
Marlene e seu atento ouvinte.
Passou o final
de sua vida reclusa em seu
apartamento, em Paris, onde morreu, de causas naturais, embora não faltem
comentários de que se matara, com calmantes,
por não suportar o fato de envelhecer. Outros
dizem que ela tinha Mal de Alzheimer e, por isso, se matou, mas
tudo sem comprovação.
No texto da
peça (dramaturgia), MARLENE, já no
final de sua vida, bem idosa, conhece um jovem entregador (JOSÉ MAURO BRANT), que não faz a menor ideia de quem ela seja e
sequer ouvira falar do mito das pernas encantadoras. Já às vésperas de completar 90 anos, ela,
praticamente, “seduz” o jovem entregador, não como ele estava entendendo; ou seja,
não era sexo ou algum envolvimento afetivo o que ela buscava, e sim uma
companhia, a quem pudesse contar a sua interessante passagem por este planeta.
Facilmente,
com seu carisma, ela o fascina com as narrativas dos fatos fantásticos que
marcaram sua longeva vida, sem um tom nostálgico, mas sempre feliz, apesar de
todas as dificuldades por que passara, por ter vivido todos aqueles anos, por
ter sido uma das mais marcantes personalidades do século XX. São seu charme e inteligência que o encantam
e despertam, no jovem, o interesse por conhecer, a fundo, a história daquela
mulher.
Nas suas
narrativas, fica patente o orgulho de ter sido, ao mesmo tempo, testemunha e
personagem de acontecimentos marcantes do século, que se findava, desde o desabrochar
e ameaça de domínio do nazismo, na Alemanha dos anos 20, passando por todo o
glamour da Meca do Cinema, a Hollywood dos tempos áureos, das décadas de 30 a 50, incluindo a sua marcante
experiência entre os soldados aliados, no fronte da II Guerra Mundial, até o já
quase declínio de sua carreira, nos anos 70, pelos palcos do mundo, incluindo o
Rio de Janeiro, onde cantou, até em português (Luar do Sertão, de Catulo da Paixão Cearense), em memorável
apresentação no Copacabana Palace.
Todas essas
histórias e experiências vão sendo contadas e “revividas”, em “flashbacks”,
fora do sombrio apartamento, contando com as participações de mais dois
atores/cantores, além de JOSÉ MAURO BRANT.
Considero um
dos pontos altos do texto, além da fidelidade aos fatos, a maneira como ele foi
construído. Em outras palavras, a narrativa
de uma vida, uma biografia, vai sendo contada por meio de interessantes e ágeis
diálogos entre MARLENE e o jovem, o
que imprime bastante dinamismo às cenas entre os dois, afastando-se do que
poderia ser um tom professoral.
Creio que
outra atriz poderia interpretar a protagonista no mesmo nível, excelente, em que o faz SYLVIA BANDEIRA; melhor, não. A atriz, de uma plástica invejável,
dedicou-se, de corpo e alma, à criação da personagem, e o resultado final é um
excelente trabalho de interpretação, incluindo os dotes musicais. Tenho a impressão de que, nos últimos quatro
anos, ela deve ter trabalhado bastante sua voz, a ponto de se sair melhor ainda,
nos números musicais, agora, do que na primeira versão do espetáculo. É muito prazeroso vê-la interpretando e
cantando em cena.
Marlene (só rosto; pernas ocultas).
JOSÉ MAURO BRANT é um grande e tarimbado
ator, principalmente de musicais, sempre envolvido em produções de excelência, e,
mais uma vez, brilha no palco. Curioso é
que, ao contrário de SYLVIA, que
representa uma mulher muito mais velha que ela, o ZÉ, como é, carinhosamente, tratado pelos amigos, vive um jovem com,
certamente, menos idade que a dele, ambos, SYLVIA e JOSÉ MAURO, sem recursos de maquiagem. Apenas com sua competência de ator e cantor,
passa toda a jovialidade do personagem e convence no papel. Dono de uma ótima voz, JOSÉ MAURO e seu personagem sabem se comportar impecavelmente, em
cena, para pôr em evidência o destaque da protagonista. Excelente trabalho!
José Mauro Brant.
O outro ator
que faz parte do elenco, e que se multiplica em vários papéis, é o ótimo SÍLVIO FERRARI, que tanto destaque já
obteve em outros musicais e que, aqui, mais uma vez, empresta sua potente e bela
voz à interpretação de várias canções e se destaca quando representa o “chansonnier”
Maurice Chevalier, a quem, tive a
honra e o prazer de conhecer pessoalmente, no final dos anos 60. SÍLVIO
é um ótimo ator e cantor e se sai muito bem em todos os vários pequenos papéis
que representa na peça.
Sílvio Ferrari ou Maurice Chevalier?
Para fechar o
elenco, ainda há a participação de MARCIAH
LUNA CABRAL, também muito versátil, desdobrando-se em vários personagens. MARCIAH também é a responsável pela preparação vocal do espetáculo.
A direção, muito correta, é de WILLIAM PEREIRA, que também assina a
bela cenografia. São excelentes e muito oportunas todas as
projeções que são agregadas à encenação e uma delas, em especial, a de Berlim
destruída, vista por MARLENE, quando
para lá volta, após a guerra, é bastante comovente.
A boa direção musical e os ótimos arranjos são de responsabilidade de ROBERTO BAHAL, que também é um dos
músicos da banda que acompanha os atores/cantores, ao lado de MAURÍCIO SILVA e FLÁVIA CHAGAS, todos muito competentes.
Maurício, Roberto e Flávia.
São ótimos e
variados os figurinos de MARCELO MARQUES, tanto no que diz
respeito a reproduzir detalhes da estética da época, como também na qualidade
do material empregado e nas cores, sóbrias ou quentes, de acordo com a
exigência de cada situação.
PAULO CÉSAR MEDEIROS ilumina as cenas,
sempre com a sensibilidade e o bom gosto que lhe são peculiares.
O ótimo visagismo é do mestre BETO CARRAMANHOS, que caprichou na
caracterização de cada um dos vários personagens.
A boa direção
de movimento é de MÁRCIA RUBIN.
MARLENE DIETRICH – AS PERNAS DO SÉCULO
é um espetáculo que dignifica a ARTE
TEATRAL, motivo pelo qual deve ser visto pelo maior número de espectadores
possível, atingindo mais o público da chamada terceira idade, mas, certamente,
também será do agrado dos mais jovens, desde que apreciem um bom espetáculo de TEATRO.
Marciah Luna
Cabral e Sylvia Bandeira.
Sylvia e
Sílvio.
José Mauro e
Sylvia.
Sylvia e
Sílvio.
José Mauro e
Sylvia.
SERVIÇO:
Teatro: Maison de France
Dias e
horários:
Quinta às 19:30 - R$
60,00
Sexta às 19:30 - R$
60,00
Sábado às 20:00 - R$
80,00
Domingo às 18:00 - R$
70,00
Temporada:
De 17/07/2014 Até 21/09/2014
Classificação:
14 anos
Gênero: Musical
O espetáculo é "pra cima" apesar de tratar do últimos anos da DIVA. Gostei muito. Vale a pena ver o espetáculo, não sem antes ler sua resenha.
ResponderExcluirParabéns a todos!