domingo, 25 de agosto de 2024

 

“O QUE SÓ

SABEMOS JUNTOS”

ou

(UM SÉCULO DE TALENTO.)

ou

(UMA GRANDE CELEBRAÇÃO.)

 

 

          Motivos não nos faltam para ir a um Teatro, com o objetivo de ver, atuando, TONY RAMOS e DENISE FRAGA, dois dos nossos mais festejados e conhecidos artistas. Ela, muito identificada pela TV e, para mim, especialmente, mais pelo TEATRO; ele, tão mais que uma presença “bissexta” nos palcos, uma unanimidade na telinha. Ambos se reuniram para montar um espetáculo, juntos, que fez um estrondoso sucesso de público em São Paulo, estando, agora, em cartaz, por apenas três finais de semana, no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro. Não tive a oportunidade de assistir à montagem na capital paulista, numa das vezes em que lá estive, por algum motivo do qual não me lembro, e, quando me programei, em outra ocasião, para fazê-lo, fui surpreendido, como toda uma legião de admiradores dos atores, com a notícia de que a peça teria que ser suspensa, por um sério problema de saúde “do”* TONY (*Como se amigos íntimos fôssemos. Momento descontração!)), felizmente contornado. Restou-me a esperança de assistir a “O QUE SÓ SABEMOS JUNTOS” no Rio, para o que me agarrei aos DEUSES DO TEATRO.

 

 

           Convidado pela assessoria de imprensa da peça (Barata Comunicação), acedi ao gentil convite, com uma expectativa que não foi correspondida “in totum”. “O quê?! Você não gostou da peça?” E eu disse isso?! É CLARO QUE GOSTEI!!! Só não sei se assisti a uma peça de Teatro ou a uma “CELEBRAÇÃO NUM TEATRO”, que são coisas bem diferentes. Valeu a pena ter ido ao Casa Grande, porém, sem ter lido qualquer SINOPSE ou crítica ao espetáculo, tinha uma ideia diferente do que iria encontrar naquele palco. Sabia apenas que a motivação maior para a concretização do projeto seria comemorar os 60 anos de uma carreira artística, de TONY, brilhante e de nos dar muito orgulho. As seis décadas, somadas aos 40 anos, como atriz, de DENISE, somam um século de talento, a favor da ARTE DRAMÁTICA BRASILEIRA. Pensava, então, que veria uma espécie de “colagem” de momentos da vida artística de ambos, na forma de esquetes ou reprodução de cenas de espetáculos, novelas ou filmes, feitos pelos dois, juntos ou individualmente, mas, agora, acho que isso seria uma ideia, talvez, muito “chinfrim”, muito aquém do que eles merecem e têm capacidade de apresentar. Sei lá! Mas, também, poderia ter sido uma boa ideia. Quem sabe? E o que foi que vi?

 

 



 


SINOPSE:

Primeiro encontro, nos palcos, do ator TONY RAMOS e da atriz DENISE FRAGAO QUE SÓ SABEMOS JUNTOS” é um chamado urgente.

Uma convocação, para que cada pessoa saia de sua bolha de isolamento e seja capaz de, genuinamente, se colocar no lugar do outro, sentir suas dores e compreender suas angústias, mas também suas alegrias, transformações e conquistas.

Está em jogo a difícil e necessária arte de ser empático.

Um encontro de dois atores, um homem e uma mulher, com uma multidão de pessoas na plateia.

Suas memórias.

Suas próprias histórias e outras tantas que ouviram por aí.

E o que só saberão juntos esses dois atores e esse público?

Uma sala cheia de gente que escolheu estar ali, na companhia umas das outras.

Há algo a celebrar, juntos?

TUDO!!!


 

 

 



 

           Existe, sim, no palco, um pouco do que eu esperava ver: há um desfile de memórias, mas de momentos da vida dos dois atores, além de pequenos diálogos especialmente escritos para o espetáculo. Acho que, desta vez, conseguirei ser bem sucinto na minha explanação sobre o que vi. Não pela falta do que escrever, não por não haver o que ser elogiado, e, sim, para não ser prolixo e redundante. Indiscutivelmente, o casal de atores faz parte de uma seleta casta de artistas brasileiros, por seu talento no ofício que escolheram, pelo profissionalismo e pelo carisma de ambos, não desprezando “sua consciência cidadã e sua necessidade de estar sempre em diálogo artístico com temas urgentes da vida do país e do mundo”, que isto é uma das principais funções dos artistas, em geral, muito mais dos atores, como formadores de opinião.

 

 

          Embora sem a certeza de que o espetáculo desembarcaria em águas da Baía de Guanabara, no fundo, esperava que meu desejo seria concretizado, pelo fato de TONY, ainda que paulistano, ser um morador do Rio, praticamente, de uma vida inteira, enquanto DENISE, fez o caminho contrário: nascida e residente, por muito tempo, no bairro suburbano carioca de Lins de Vasconcelos, migrou para São Paulo, onde construiu sua vida no Teatro. Acontece que, embora seus espetáculos teatrais tenham suas estreias na capital paulista, DENISE sempre, rompendo e transpondo os maiores obstáculos, de forma muito corajosa e amorosa, consegue trazer à sua cidade natal o que ela e seus companheiros de cena fazem no palco. Pode demorar um pouco, mas ela chega aqui. E nos encanta com suas montagens. Jamais assisti a alguma que não me tenha agradado muito, o que as fez merecer minhas críticas, sempre apenas sobre o que me agrada.

 

 


 

 

           Quando o espectador adentra o auditório do Teatro, já encontra, nas duas laterais do palco, nas coxias, mais propriamente, porém à vista do público, uma ótima banda, formada por cinco mulheres, duas de um lado e três do outro, executando ritmos caribenhos, que eu adoro. São elas:  ANA RODRIGUES (piano), CLARA BASTOS (baixo), GRAZI PISANI (trompete), PRISCILA BRIGANTE (bateria) e TAÍS CAVALCANTI (sax), sob a direção musical de FERNANDA MAIA. É um excelente “esquenta”. Na entrada do salão, recebendo o público, os dois atores – uma marca registrada de DENISE –, o que, além de ser um gesto muito simpático, quebra a austeridade entre idolatrados e “idolatrantes” (Eu e minha mania de criar neologismos.) Cria-se, então, uma intimidade entre palco e plateia, que é muito favorável ao espetáculo. Desta vez, nesses contatos dos atores com o público, em algumas abordagens, num “papo” rápido e objetivo, na verdade, o casal vai coletando informações, as quais serão utilizadas, posteriormente, pelos dois, na representação.

 

 

 

 

             Ao longo de 90 minutos de ação, por várias vezes, depois de já terem rompido a quarta parede, em intervenções, ora não tão interessantes, compensadas por outras, a maioria, muito pertinentes e agradabilíssimas, a dupla, desce à plateia e interage com o público, de uma forma muito espontânea e respeitosa. Neste espetáculo, as pessoas se emocionam e se divertem; riem, ainda que não seja um espetáculo de COMÉDIA. 

 

     

 

  Embora, já algumas vezes, eu venha fazendo referência a “O QUE SÓ SABEMOS JUNTOS”, pelos substantivos, “peça” e “espetáculo”, sinto que aquilo transpõe os limites do TEATRO, se é que este tem alguma limitação, e enxergo mais do que uma encenação, e, sim, um “encontro marcado”, no qual todos os presentes quiseram estar; uma grande festa de celebração, muito mais, propriamente, dos dois atores, a qual eles, generosamente, dividem conosco. Não fosse a calorosa e afetuosa recepção que nos reservam, à entrada, poderia até me considerar um “penetra” naquele “rega-bofe”. E o que celebram? TONY e DENISE celebram, exatamente, aquilo que só sabem fazer juntos: o TEATRO, uma arte coletiva, que envolve um sem-número de profissionais, para que, ao final de tudo, possa parecer que só os atores têm importância sobre o palco. É, sim, uma celebração do encontro de dois grandes artistas das ARTES CÊNICAS, de suas brilhantes trajetórias profissionais e da primazia de estar vivo, esta, para TONY, com muito mais sentido, após o susto pelo qual passou, relacionado à sua saúde.   

 

 

 

 


 

   “Empatia” é um substantivo evocado durante toda a peça. O espetáculo se propões a fazer uso dela para tirar o espectador de sua zona de conforto e a se permitir experimentar o novo e entender, definitivamente, que homens e mulheres, artistas e plateia, famosos e anônimos, pretos e brancos, judeus e palestinos, héteros e homos, adultos e crianças, sábios e ignorantes, todos dependemos uns dos outros, para a nossa sobrevivência, e precisamos nos enxergar no outro semelhante, para que possamos viver em harmonia. Também se pode dizer que “memórias” é outro nome que está muito presente neste trabalho. 

 

 

 

  Nesse “brincar de fazer TEATRO”, no melhor sentido possível, cabe tudo, como as recordações de TONY, cuja infância e adolescência, como ocorreu comigo, foram marcadas pela presença de um velho cinema de bairro, de cuja cabine de projeção ele assistia a “filmes proibidos para menores”. Talvez ele, como acontecia comigo, por conta daquela “clandestinidade permitida e permissível”, tenha passado por noites “perturbadoras”, sonhando com a nudez de Brigitte Bardot, em suas sensuais e picantes “fitas” (Agora, deixei escapar um arcaísmo e entreguei a idade. A minha e a “do”** TONY (**Olha a intimidade de novo, pela presença do artigo definido! Será que Freud explica? Outro momento descontração!): ele, completando, hoje, 76 anos e eu, daqui a duas semanas, 75). TONY e eu, como na grande OBRA-PRIMA da “sétima arte”, “Cinema Paradiso”, também tivemos um Alfredo na nossa vida. Não me recordo do nome do dele; o meu era o Seu Matias, um amigo de infância do meu pai. Nessa passagem sobre o cinema, o ator revela toda a sua paixão por ele e homenageia, muito merecidamente, o seu ídolo, Oscarito, também meu. Éramos apaixonados pelas chanchadas da Atântida, só que TONY queria ser Oscarito; eu, Cyll Farney, o galã. Quanta pretensão a minha!!!

 

 


 

 

 

   Também DENISE se reporta às suas memórias de estimação e valoriza, por exemplo, o dia em que conseguiu driblar os vigilantes e entrar, também clandestinamente, num estúdio de televisão, na qual ela era, ainda, uma incipiente atriz, quase uma figurante, para, à espreita, se encantar e emocionar com a gravação de uma cena, envolvendo o protagonista de uma novela, que não era outro, senão TONY RAMOS. Isso sem imaginar que, um dia, dividiria o palco com o seu ídolo de então. E, nessa “sessão nostalgia” são lembrados os seus passeios no carro de um tio e imagens muito significativas da sua casa de subúrbio carioca. 

 

 


 Mas também cabem outras coisas: passagens que aludem a problemas como o aquecimento global, a crise climática, o machismo, o etarismo, as catástrofes ambientais, provocadas pela Natureza, por culpa do próprio Homem, e outros. Também cabe um espaço para que TONY leia um pequeno trecho de uma das obras geniais de Anton Tchékhov, Tio “Vânia”... “Naquela festa, vale tudo. Vale ser alguém como eu, como você.” – “Dancin’ Days – Nelson Motta e Ruban.). Alguém já imagino ver o "Seu" TONY cantando e dançando num palco? "Meninos, eu vi!" Não era um mocinho nem um vilão de algum folhetim global; era um ator, dando tudo de si, permitindo-se.

 

 

   Apenas dois artistas num palco, porém um batalhão de pessoas colocando um dedinho, que seja, para que nos seja oferecido um grande banquete, a ser degustado, com calma e apreciação. Bom texto (DENISE FRAGA, LUIZ VILLAÇA e VINICIUS CALDERONI); boa dramaturgia (KENIA DIAS, DENISE FRAGA, LUIZ VILLAÇA, VINICIUS CALDERONI, TONY RAMOS e JOSÉ MARIA); ótima direção geral (LUIZ VILLAÇA); cenografia (DUDA ARRUK), cuja proposta não entendi bem; figurinos (VERÔNICA JULIAN); iluminação (WAGNER ANTÔNIO); direção musical (FERNANDA MAIA); e tantos outros artistas e técnicos.

  

 

   A “cereja do bolo”, metáfora que significa o detalhe que faltava, o toque final ou o algo a mais, que torna alguma coisa perfeita, sem a menor sombra de dúvida, aquilo que atrai e leva as pessoas ao Teatro, neste trabalho, na verdade, não é uma só cereja; são duas: TONY e DENISE. Os seus nomes e as suas presenças no palco despertam, no expectador, a expectativa de uma determinada entrega, contudo eles entregam muito mais, talvez, do que merecíamos. São dois artistas que sabem tudo, na arte de representar e se dirigir a uma plateia, inclusive com uma extremíssima dose de paciência e educação, para suportar intervenções desnecessárias e desagradáveis, vindas da plateia, sempre da parte de alguém que não sabe se comportar como espectador, num Teatro, como ocorreu na sessão em que estive presente. Uma senhora pediu para ser inconveniente e entrou na fila trocentas vezes e, dentro de uma câmara de eco. (Mais um momento descontração.). Os atores têm que estar muito preparados para as surpresas, quando o espetáculo comporta a interatividade. Parabéns a TONY e DENISE! Parabéns e obrigado; por tudo!  

 

 



 


FICHA TÉCNICA:

Idealização e Criação: Denise Fraga, José Maria e Luiz Villaça 

Texto: Denise Fraga, Luiz Villaça e Vinicius Calderoni

Dramaturgia: Kenia Dias, Denise Fraga, Luiz Villaça, Vinicius Calderoni, Tony Ramos e José Maria

Direção Geral: Luiz Villaça

 

Elenco: Denise Fraga e Tony Ramos

 

Cenografia: Duda Arruk

Figurinos: Verônica Julian


Iluminação: Wagner Antônio


“Sound Designer”: João Baracho


Direção de Movimento: Kenia Dias

Direção Musical, Arranjos e Preparação Vocal: Fernanda Maia

Musicistas: Ana Rodrigues, Clara Bastos, Priscila Brigante, Grazi Pizani e Taís Cavalcanti

Direção de Produção: José Maria


Assistência de Dramaturgia e de Direção: Fluiz e Luiza Aron

Contrarregra e Camareira: Cristiane Ferreira

Assistência de Produção: Leonardo Shammah 

“Sound Designer” Associado e Operador de Som: Carlos Henrique

Técnicos de Som: Luca Moreli e Gabriel Fernandes da Silva

Assistência de Iluminação e Programação de Luz: Dimitri Luppi e Ricardo Barbosa 

Operação de Luz: Ricardo Barbosa e Michelle Bezerra


Assistência de Cenografia: Olívia Chimenti


Cenotécnicos: Alexander Peixoto, Douglas André Caldas, Diego Tadeu Caldas, Victor Santos Silva, Eduardo da Cruz Ferreira, Gonçalo Severino Neres


Técnico de Palco e Maquinaria: Alexander Peixoto e Gonçalo Severino Neres

Transporte: Edmilson Ferreira da Silva

Desenvolvimento e Modelagem: Edson Honda 

Assistência de Figurino: Alice Leão

Costureiras: Salete André e Judite Lima


Programação Visual: Guime Davidson e Phillipe Marks


Fotos de Cena: Cacá Bernardes | Bruta Flor


Assessoria de Imprensa RJ: Barata Comunicação 


Roteiro de Audiodescrição: Márcia Caspary e Bell Machado 


Consultoria Audiodescrição: Aline Borges


Intérpretes em Libras: Maísa Ferreira Buldrini, Alice Stephanie Ramos, Karoline Amparo Fernandes e Camila Ramos Milan | Libras sem Fronteiras


Produção Executiva: Adriana Tavares e Juliana Borges


Diretora de Fotografia: Elisa Mendes


Operadora de Câmera: Giovanna Gil


Assistente de Câmera: Gabriel Henrique


Técnico de Som: Vicente Lacerda


Montador: Guili Minkovicius


Administração Financeira: Evandro Fernandes 


Apoio Institucional: Teatro Tuca – PUC SP


Coprodução: Café Royal


Realização: NIA Teatro

 

ESTE ESPETÁCULO É APRESENTADO PELO MINISTÉRIO DA CULTURA E BRADESCO SEGUROS.

 

“O QUE SÓ SABEMOS JUNTOS” foi realizado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura e Governo Federal.









 

 

 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 22 de agosto a 08 de setembro de 2024.

Local: Teatro Casa Grande.

Endereço: Rua Afrânio de Melo Franco, nº 290, Leblon – Rio de Janeiro.

Informações: (21) 2511-0800.

Dias e Horários: 5ªs e 6ªs feiras, e sábados, às 20h; domingos, às 18h.

Valor dos Ingressos: De R$ 21 a R$ 200, a depender do setor e do dia.

Venda dos ingressos: Bilheteria Física (no endereço do Teatro e sem cobrança de taxa de conveniência) ou pela plataforma Eventim (com cobrança de taxa de coneviência).

Funcionamento da Bilheteria Física: 4ª feira, das 12h às 18h; de 5ª feira a domingo, das 15h até 30 minutos após o início da última sessão.
Em dias de espetáculo, mesmo durante a semana, sempre a partir das 15h. (Para dúvidas e informações, no email 
contato@teatrocasagrande.com.br).

Capacidade: 900 lugares

ACESSIBILIDADE: O Teatro possui áreas para cadeiras de rodas, assentos especiais para obesos, rampas, elevadores e toda acessibilidade arquitetônica.

Em todas as sessões, haverá Intérprete em LIBRAS e Audiodescrição. Se precisar desse serviço, entre em contato com a produção pelo 

e-mail comunicacao@niafilmes.com.br ou diretamente na bilheteria,

Duração: 90 minutos.

Classificação Indicativa: 12 anos.

Gênero: Dramédia (?)


 


 

 


 


            O espetáculo, que RECOMENDO TANTO, teve sua estreia em 26 de abril de 2024, no Teatro Tuca, em São Paulo, está fazendo a presente parada no Rio de Janeiro e, depois, a produção segue para as cidades de Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília, sempre por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet.

 

 

 

FOTOS: CACÁ BERNARDES

 

 

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