sábado, 31 de agosto de 2024

 “JANDIRA –

EM BUSCA DO

BONDE PERDIDO”

ou

(UMA ODE À VIDA,

VIA MORTE.)

ou

(A CAMINHO

DO PONTO FINAL

DO BONDE.


 

           Em 29 de janeiro do ano em curso (2024), o Brasil perdia, aos 78 anos de idade, vítima de um câncer de pulmão, uma grande representante das Artes Cênicas, JANDIRA MARTINI, atriz, dramaturga, diretora e produtora teatral. Durante quase quatro décadas, formou uma dupla com o amigo MARCOS CARUSO, com quem escreveu, a quatro mãos, cerca de 20 peças, as quais renderam, aos dois, muito prêmios de TEATRO, como os mais cobiçados: Moilière, MambembeApca e Shell. O maior sucesso da dupla, como dramaturgos, é a COMÉDIA “Sua Excelência, o Candidato”, que mostra os bastidores da "politicagem" brasileira, e que, por isso mesmo, está cada vez mais atual e merecia uma nova montagem (Fica a dica.), além do que se tornou um dos clássicos da dramaturgia brasileira. JANDIRA trabalhou em TEATRO, cinema e televisão. Para os paulistanos, sempre foi muito conhecida, pelo trabalho sobre as tábuas, porém, para os cariocas e demais brasileiros, sua fama chegou, de verdade, por meio de suas atuações na TV, principalmente na Rede Globo de Televisão. JANDIRA era paulista, de Santos, onde nasceu em 10 de julho de 1945. Seu último trabalho como atriz de TEATRO foi, exatamente, numa primeira montagem do monólogo ora comentado, em 2020, com o título, então, de Em Busca do Bonde Perdido”, que narra a descoberta de uma doença e as mudanças de perspectivas de vida, após esse acontecimento.


JANDIRA MARTINI.


SINOPSE:

A peça convida o público a um passeio pelas memórias mais marcantes da autora, através de um texto direto, enxuto e coloquial, evocando os blocos carnavalescos da cidade de Santos, sua terra natal, as descobertas da infância, momentos dramáticos, a vida dedicada ao TEATRO.

Um diagnóstico inesperado desencadeia o maior dos dramas humanos, que a todos iguala: a tomada de consciência da finitude, da fragilidade humana e do inevitável confronto com a morte.

Mas, se o tema é transitoriedade e vulnerabilidade, para além disso, há uma narrativa de paixão pelo próprio ofício, pelas pessoas, vivências e, sobretudo, uma declaração de amor à vida.

O último texto da atriz e dramaturga JANDIRA MARTINI (1945-2024) é um relato autobiográfico bem-humorado e poético sobre a tomada de consciência da finitude.

 

[

 

 

         Seria JANDIRA MARTINI, assim como MARCOS CARUSO, atores que escrevem ou dramaturgos que atuam? A meu juízo, trata-se de uma preocupação desnecessária, já que ambos demonstram talentos nas duas vertentes. JANDIRA se considerava uma atriz que escreve, uma das primeiras falas da personagem, na peça, quando ISABEL TEIXEIRA quebra a quarta parede e se dirigir, diretamente, ao público.

 

Marcos Caruso e Jandira Martini

(Foto extraída da internet.)

         A dramaturgia é inspirada em sua própria jornada pessoal, seus últimos anos, lutando contra um câncer, e dedicação ao TEATRO. Em sua própria definição, o texto é “Um monólogo sobre uma situação imprevista, surpreendente. Uma atriz que se revela, diante de seu público, ao narrar, com humor, sua inesperada e assustadora experiência. Auto ficção? Sem dúvida. Um ‘stand-up’? Seria, se fosse cômico. E cômico não chega a ser. Nem trágico. Apenas dramático.”. Nada melhor do que a própria autora para dizer o que o espectador verá no palco, durante 70 minutos de muita ação, emoção e divertimento. Por que não? É como se a autora debochasse da morte, produzindo humor e tirando partido de um assunto “pesado”, tornando-o mais leve e natural, para ser aceito, visto ser uma questão inevitável. Na verdade, não se trata der um lamento pela aproximação da morte, mas um canto e um preito de louvor e agradecimento à vida.

  

 

         Confesso que, em alguns momentos – poucos, é verdade -, senti-me incomodado, não por qualquer defeito na encenação - muito pelo contrário -,mas pelo tema abordado. Até algum tempo atrás, eu pensava como o saudoso Chico Anysio, que dizia não temer a morte, mas seu sentimento, diante dela, seria de "pena", por deixar de viver, deixar de aproveitar as coisas boas que a vida nos proporciona. Hoje, não tenho nenhuma dúvida em dizer que tenho, sim, medo de morrer, e isso me perturba um pouco, vez por outra. Mas, para isso, há um bom terapeuta à minha disposição. Não pensem, porém, que deixei o Teatro das Artes, no Shopping da Gávea (VER SERV IÇO.) mal, “pra baixo”, triste e arrependido de ter aceitado o convite de STELLA STEPHANY, assessora de imprensa do espetáculo. Não! Muito pelo contrário!

 

 

 

           Não fazia ideia do que iria encontrar, na noite de ontem, naquele Teatro, e fique surpreso e “cabreiro”, não vou negar; cético, é verdade, quando as cortinas se abriram e me deparei com um palco totalmente vazio e uma atriz entrando em cena, trazendo uma cadeira de praia, que seria – Pasmem! – o único "elemento cênico" em todo o espetáculo. Como assim?! Cadê o cenário?! Temi pelo que viria, mas ainda tinha a esperança de que tudo daria certo, porque não era qualquer atriz que estava em cena. Era ISABEL TEIXEIRA, outra grande intérprete, como foi JANDIRA, e que também se tornou conhecida, pelo grande público brasileiro, por seus recentes papéis na televisão, a despeito de já ter uma considerável carreira construída no TEATRO, em São Paulo. Sua atuação é intensa e memorável. A atriz demonstra ter ido fundo numa pesquisa sobre a homenageada e, como diz MARCOS CARUSO, diretor do solo, “BEL respira e transpira TEATRO. BEL é JANDIRA.”. Não há como discordar. Que atriz de grandes possibilidades! Que talento intenso, vigoroso! Monólogos, em geral, são apresentados em palcos pequenos, em ambientes acanhados, porém a atriz domina o espaço, apodera-se de todo o grande palco do Teatro das Artes e atrai todas as atenções de uma plateia que a aplaude, frenética e merecidamente, ao final do solo.

 

 


 

           E, já que falei em CARUSO, creio que, como maior amigo de JANDIRA, conhecendo-a bastante, consequentemente, não havia ninguém mais indicado para dirigir o espetáculo. Acertaram os produtores ao lhe fazer o convite para segurar as rédeas do monólogo. De comum, entre eles, além do talento, o bom humor, que o diretor, com muita felicidade transferiu para a encenação, contando com o potencial de atriz de ISABEL TEIXEIRA. A ideia de optar por um cenário minimalista e bastante econômico, além de forçá-lo a buscar ótimas soluções de marcações para a atriz, ainda facilita a locomoção da peça para outros Teatros. Bom texto, boa direção e boa atuação são capazes de, até mesmo, nos fazer esquecer os elementos de criação, como a cenografia, o figurino e a iluminação.

 

 

           O figurino e a iluminação, dois importantes elementos de suporte numa produção teatral, são assinados por dois de seus melhores e mais premiados artistas, FABIO NAMATAME e BETO BRUEL, respectivamente. Na linha do “menos é mais”, “comme il fault”, NAMATAME desenhou um traje elegante, mas sem sofisticação e bastante prático, que combina uma calça comprida, larga, uma espécie de camiseta e um tipo de casaco, sobretudo, confeccionados em tecidos leves e em tons pastéis. Acompanha o figurino, um complemento importantíssimo, para a personagem: uma enorme bolsa, de onde ela retira objetos incorporados à representação. Ao contrário do “cinto de inutilidades” do Batman, é uma verdadeira “bolsa de utilidades”, quase um “personagem coadjuvante”, na peça; “até a página 5”. BETO, um profissional acostumado a criar desenhos de luz bastante requintados, acompanhou a proposta da direção e ilumina o palco de forma comedida e precisa, utilizando apenas uma cor, diferente da branca, o verde, numa única cena em que a tonalidade se faz totalmente necessária.

  


 

           Concordo, plenamente, com MARCOS CARUSO, quando utiliza três frases para definir a montagem: “Uma corajosa exposição. Uma improvável abertura de sentimentos de uma das pessoas mais fechadas que conheci. Uma peça que fala de uma dor de todos nós, com um grau elevado de bom humor e poesia.”. Causou-me um sentimento que não sei como codificar a atitude de JANDIRA, de se sentar para escrever um texto para o TEATRO, sobre a sua caminhada para os últimos tempos de vida, isso com tanta placidez, aceitação, resiliência e bom humor, zombando da “indesejada das gentes”, eufemismo criado pelo “Príncipe dos Poetas”, Manuel Bandeira. Em seus momentos mais difíceis, a personagem/narradora busca socorro nas palavras e pensamentos de Molière, Machado de Assis, Oscar Wilde, Shakespeare, (a quem chama de "tio") e outros deuses da escrita, sua grande paixão.”

  

 

 

FICHA TÉCNICA:

Texto: Jandira Martini

Direção: Marcos Caruso


Elenco: Isabel Teixeira

 

Cenografia: (Não há referência.)

Figurino: Fabio Namatame

Iluminação: Beto Bruel

Trilha Sonora: Aline Meyer

Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

Fotos: Roberto Setton

Produção Executiva: Silvia Rezende

Direção de Produção: Roberto Monteiro e Fernando Cardoso

Realização: Mesa2 Produções


 

 

 


 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 09 de agosto a 01 de setembro de 2024.

Local: Teatro das Artes RJ (Shopping da Gávea).

Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 - 2º piso – Gávea - Rio de Janeiro.  

Telefone: (21) 2540-6004.

Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às 18h.

Valor dos Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada).

Vendas: https://divertix.com.br/rio-de-janeiro/home (com taxa de conveniência) ou na bilheteria do Teatro, de 3ª feira a dom, das 15h até as 20h.

Capacidade: 417 pessoas.

Duração: 70 minutos.

Classificação Etária: 12 anos.

Gênero: Monólogo (Biográfico).

 

 

 

           Sem querer dar palpite no trabalho de direção, muito menos diminuí-lo ou criticá-lo negativamente, eu colocaria, no final do espetáculo, a projeção de alguma(s) foto(s) de JANDIRA MARTINI, ao fundo. Acham que ficaria "cafona"? Seria um forma de trazer à lembrança de muita gente o rosto da querida e consagrada artista, já que somos um "país sem memória"


JANDIRA MARTINI. 

(Foto encontrada nas redes sociais.)


           É uma pena que o solo tenha tenha sido apresentado em curta temporada no Rio de Janeiro. Merece outras e já está com a agenda comprometida, para ser apresentado em algumas cidades brasileiras, nas quais, certamente, alcançará o mesmo sucesso feito por aqui. RECOMENDO O ESPETÁCULO.

 


 


 

 

 

 FOTOS: ROBERTO SETTON.

 

 

 

 

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