sexta-feira, 20 de outubro de 2023

 

“VOZ DE VÓ”

ou

(UMA AVÓ DE TODOS NÓS,

PARA TODA A FAMÍLIA.)



            Sempre que vou a São Paulo, procuro assistir ao espetáculo para crianças que esteja em cartaz no Teatro do SESI – SP, dentro do Centro Cultural FIESP, e nunca me arrependo. Na minha estada mais recente na capital paulista, tirei o final da manhã de uma sexta-feira, dia 29 de setembro, para assistir a “VOZ DE VÓ”, um lindo e delicioso espetáculo, que me ganhou já pelo título. Além disso, tratava de um assunto muito importante e trazia, na FICHA TÉCNICA, nomes de grandes artistas que se dedicam ao fazer teatral.





         “VOZ DE VÓ” é um espetáculo direcionado à família, como acho que deveriam ser todas as chamadas “peças infantis”. Sim, porque são divertidos e transmitem notáveis ensinamentos, os quais ganham mais robustez quando reforçados pelos pais ou responsáveis, adultos, que acompanham os pequenos. Assim é esta peça, cheia de momentos de beleza, ternura, bom humor e ensinamentos.






 SINOPSE:

VOZ DE VÓ” é uma criação poética que aborda a perda da memória, mas também a fabulação.

Um projeto que reúne uma equipe comprometida com a narrativa de uma história repleta de emoção, afetos, humor, amor e descobertas.

Uma avó, acometida da doença de Alzheimer, perde a memória mais recente e foge de casa.

Ela entra no “labirinto do deslembrar” e é seguida pelos netos, na tentativa de trazerem-na ao “plano do real”.

O livro em branco da avó é a chance de uma nova história.

Em decorrência disso, mistérios e aventuras são seus desdobramentos.

 


 




A “Doença de Alzheimer” (DA), um “transtorno neurodegenerativo, progressivo e fatal, que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais”, serve de pano de fundo para chamar a atenção das pessoas para como lidar com as vítimas desse mal, para o qual não há cura, mas pode “machucar” menos, o enfermo e os que estão à sua volta, quando estes não economizam amor, no trato com o paciente.





Infelizmente, a cada dia, aumenta o número de pessoas que sofrem dessa doença, o que, via de regra, quando diagnosticada, faz com que “o chão desapareça” para a família do doente. Raras são as pessoas que não tenham, ou tiveram, algum portador de Alzheiemer na família ou, pelo menos, conheçam alguém com a doença. SARA ANTUNES, atriz, não é exceção a isso e idealizou este espetáculo, sendo, também, responsável pela dramaturgia, baseada nas suas experiências com sua própria avó, Dona Genuína. Segundo a autora do texto, ‘VOZ DE VÓ’ é para a minha avó, que queria ser atriz e, quando teve Alzheimer, lembrava do TEATRO e pedia para os atores, em conversa com a televisão, esperarem por ela para o ensaio”. Que imagem mais poética! Trata-se de uma peça que fala sobre memória, família, relações, afetos, perdas e, principalmente, amor. Tudo com muita delicadeza, cuidado e bom gosto. Ainda que o tema seja bem triste e “pesado”, SARA disse tudo o que desejava da forma mais clara possível, numa linguagem acessível aos pequenos, e tudo com muita beleza, poesia e bom humor. “Mais do que fazer um espetáculo para crianças, queremos proporcionar uma experiência dentro do sentir da infância a todo público, experimentar o mundo através da brincadeira, da canção, do jogo lúdico. É neste desenrolar da narrativa oral que queremos fazer viver a ‘VOZ DE VÓ’, diz SARA.





Além de nos brindar com a beleza e importância de seu delicioso texto, SARA ANTUNES assume a direção do espetáculo e o faz de forma brilhante. Em TEATRO, nada que funcione bem deve ser considerado “repetitivo e ultrapassado”, como alguns insistem em dizer. O “velho e bom truque” de fazer com que algum(ns) personagem(ns) entre(m) pela plateia, esta iluminada, com o objetivo de “ganhar o público”, conquistar e prender a atenção da assistência, mormente quando esta é formada, na sua grande maioria, por crianças, sempre funciona, quando bem executado. O espetáculo tem início com CLARISSE DERZIÉ LUZ, atriz que vive a personagem da  entrando pela plateia, à procura de um banheiro, a fim de “se aliviar”, dialogando, no texto e no improviso, com os pequenos. Ali já começa a se desenhar a “magia do TEATRO”. Além desse detalhe, SARA encontrou, com a colaboração de seus pares, artistas de criação, excelentes soluções para todas as cenas, o que é totalmente positivo, a julgar pela reação e interação das crianças. A diretora do espetáculo contou, ainda, com a luxuosa colaboração de VERA HOLTZ numa supervisão artística.





É necessário destacar a importância, nesta montagem, de dois atores / músicos, DEMIAN PINTO e GUI CALZAVARA, os quais interpretam os dois netos da , na idade adulta e acompanham, ao vivo, as canções que fazem parte da trilha sonora da peça. No início, propriamente dito, da peça, a dupla também interage com a plateia, propondo cantarem, juntos, alguns trechos de canções infantis. A propósito, nesse momento, fiquei bastante triste, quando convidados, os pequenos, a cantar com eles uma canção infantil, de domínio público, a qual fez parte da minha infância, eles não o fizeram, por total desconhecimento dela. Certamente, porque seus inocentes ouvidos devem estar entupidos de tanto “lixo musical”, imposto pela mídia.





O elenco é formado por cinco elementos: a  e seus dois netos, Tito e Bento, quando crianças e na idade adulta. A grande protagonista de tudo é CLARISSE DERZIÉ LUZ, a qual interpreta a idosa que está com Alzheimer, a Vó Genuína, mesmo nome da avó da autora do texto. Ela vai, com a ajuda de seus netos, em busca das suas memórias perdidas. O último sobrenome da atriz lhe cai como uma luva, visto que se trata de uma pessoa e uma profissional “iluminada”, que, como intérprete, com muitos anos de experiência nos palcos, transita muito bem na COMÉDIA e no drama, e, agora, atuando, de forma irretocável, no universo do TEATRO INFANTIL, muito difícil de ser feito, ao contrário do que possam pensar os leigos. CLARISSE compôs uma personagem que nos provoca a vontade de sair do mundo real e levar para casa aquela doce, e também espevitada, vovozinha. Eu, que muito pouco convivi com as minhas duas avós, queria ganhar da Vó Genuína o carinho e o amor que me faltaram, por parte das minhas, Dona Leonor e Dona Maricota.





Ser pai e mãe é uma delícia; ser avô ou avó corresponde a essa delícia elevada à infinita potência. Tendo CLARISSE a “conduzir o barco”, estamos diante de uma viagem, num jogo lúdico, que “leva a plateia a emoções afetivas e muitos desses sentimentos podem remeter à casa de cada um dos espectadores”. Surgiu uma forte candidata a indicações a prêmios e prováveis conquistas.





Quanto ao desempenho dos netos, ótimo, no geral, este deve ser avaliado sob duas óticas, voltado para as duplas de Tito e Bento, adultos e crianças. Quanto a DEMIAN PINTO e GUI CALZAVARA, os adultos, os quais também assinam a excelente direção musical do espetáculo, pautada na “construção de uma sonoridade afetiva, fragmentos sonoros, que se unem em um mosaico de lembranças”, só tenho a acrescentar que ambos se conduzem com perfeita correção em seus trabalhos, destacando a facilidade com que interagem com a plateia. Reservo, porém, um espaço maior para avaliar as atuações dos meninos que interpretam os personagens quando crianças. Na FICHA TÉCNICA, aparecem cinco nomes, uma vez que, atendendo à legislação em vigor, sempre que há crianças e adolescentes em cena, a produção é obrigada a contar com eventuais substitutos / alternantes para os papéis interpretados por eles. Na referida FICHA, dois, dos cinco nomes, estão destacados, em vermelho, o que corresponde à dupla de atores mirins que atuaram na sessão que contou com a minha presença. São eles NICK ARAÚJO (Bento), 10 anos, e PIETRO LEITE (Tito), 11. Ambos deixam bem claro, por suas atuações, que já definiram seus futuros profissionais: têm tudo para serem atores. São dois “azougues” no palco, como dizia minha mãe, quando queria se referir a uma criança que não para quieta, nem durante um minuto.







Não bastassem, para garantir a boa qualidade desta produção, um texto “enxuto”, uma direção acertada e um excelente e homogêneo elenco, a montagem foi toda construída cuidadosamente, visando a levar o máximo de beleza e poesia aos olhos dos espectadores, de todas as idades, para o que têm muito peso os elementos de criação relacionados à plasticidade da obra, principalmente a cenografia, o figurino e a iluminação. Reunidos sob a rubrica de direção de arte, os cenários e os figurinos são assinados por ANALU PRESTES, a qual, além de grande atriz, também se destaca como uma aplaudida artista plástica. Doçura e suavidade são marcas registradas em seus trabalhos nessa área.  Nos meus mais de 50 anos de muita dedicação ao TEATRO, convivendo, diariamente, com uma multidão de artistas, poucos conheço que possam ser comparados, em delicadeza, sensibilidade e bom gosto à ANALU, principalmente quando ela se expressa por meio de seus desenhos, colagens e bordados. Esse trabalho está presente na cenografia e nos trajes criados e desenhados pela artista. Dos figurinos, muito criativos, lúdicos e carregados de cores vibrantes e alegres, grande “cereja do bolo” corresponde à roupa da Vó Genuína. Quem, como eu, da primeira fila, tem, como tive, a oportunidade de ver bem de perto essa indumentária pode perceber e identificar mínimos detalhes que embelezam e valorizam a roupa (Vejam detalhes nas ilustrações abaixo.).












Voltando à cenografia, excluindo-se um conjunto de instrumentos musicais, colocados num dos cantos do palco (Uma "usina de sons".), não há, praticamente, elementos concretos, palpáveis, no conjunto cenográfico, o qual explora, de forma bem ajustada e, tecnicamente falando, sem falhas, muitas encantadoras projeções, que sempre entram na hora certa, um magnífico trabalho de videografismo, criado por VIC VON POSER. No meio de tantas belas imagens projetadas, há duas participações afetivas especiais, de ANALU PRESTES e VERA HOLTZ.





Toda a encantadora beleza da cenografia e dos figurinos, assim como as expressões, faciais e corporais, dos atores não saltariam tanto aos olhos da plateia, não as superlativassem as cores e intensidades presentes na onírica iluminação de WAGNER PINTO. Seu desenho de luz valoriza, minuto a minuto, cada momento desta montagem.








Aproveito o “gancho” para fazer alusão ao trabalho de direção de movimento e preparação corporal, conduzido por VICTORIA ARIANTE, preocupada, naturalmente, em ocupar, com bastante movimentação adequada a cada cena, o amplo espaço cênico, vazio de elementos concretos, a não ser os próprios atores. O espetáculo, como deveria mesmo ser, é bastante dinâmico.




 

 

 


 FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Sara Nunes

Direção: Sara Antunes

Assistência de Direção: Henrique Landulfo

Supervisão Artística: Vera Holtz

Direção Musical: Demian Pinto e Gui Calzavara

 

Elenco: Adultos: Clarisse Derzié Luz, Demian Pinto e Gui Calzavara -  Crianças: Antônio de Oliveira (Tito), Benjamim de Oliveira (Bento), Nick Araújo (Bento), Pietro Leite (Tito) e Rodrigo Viegas (Bento)

Participação afetiva: Analu Prestes e Vera Holtz

 

Direção de Arte (Cenário e figurino): Analu Prestes

Assistência de Direção de Arte: Camila Landulfo

Desenho de Luz: Wagner Pinto

Direção de Movimento e Preparação Corporal: Victoria Ariante

Programação Visual: Analu Prestes e Camila Landulfo

Desenhos, Colagens e Bordados: Analu Prestes

Videografismo: Vic Von Poser

Preparação Vocal: Patricia Antoniazi  

Produção Executiva e Administração da Temporada: Roberta Viana

Assistência de Produção RJ: Gabriela Newlands

Assistência de Produção SP e Contrarregragem: Paolo Oliveira

Produção de Luz: Carina Tavares

Assistência de Iluminação: Gabriel Greghi e Gabriela Cezário

Visagismo: Kazuo Hair Design

Pesquisa de Figurino: Maura Begliomini

Peruca: Malonna

Fotógrafa: Alessandra Nohvais

Criação, Captação e Mídias Sociais: gaTú Filmes / Gabriel Metzner e Arthur Bronzato

“Making Of”: Pietra Baraldi

Assistência de Videografismo: Ana Lopes

Operação de Vídeo: André Voulgaris

Direção de Produção: Bianca De Felippes


 


 







 SERVIÇO: 

Temporada: De 28 de setembro a 17 de dezembro de 2023.

Local: Centro Cultural FIESP – Teatro do SESI-SP.

Endereço: Avenida Paulista, nº 1313 (Em frente à estação Trianon - MASP do metrô.).

Dias e Horários: 5ª e 6ª feira, às 11h e 15h (sessões exclusivas para escolas e grupos), e sábados e domingos, às 15h (público em geral).

Sessões com tradução e interpretação em Libras e audiodescrição: 29/10, 26/11 e 3/12.

Ingressos: Gratuitos. Reservas antecipadas, pelo “site”: sesisp.org.br/eventos (As reservas abrem todas as segundas-feiras, a partir das 8h, para as apresentações que acontecem na mesma semana.).

Reservas para grupos e escolas pelo e-mail: ccfagendamentos@sesisp.org.br (.)

Duração: 60 minutos.

Classificação: Livre.

Gênero: Teatro Infantil.

 





Como, de uma forma geral, infelizmente, as produções direcionadas a crianças e adolescentes ficam muito a desejar, em se tratando de qualidade, embora esse quadro venha se modificando, para melhor, nos últimos tempos, quando surge uma temporada de um espetáculo, nesse nicho, “mais ou menos bom”, isso deve ser festejado. Quando estamos diante de uma produção tão linda e bem cuidada, como a de “VOZ DE VÓ”, a comemoração deve ser muito mais ampliada, pois temos a certeza de que uma rena do Papai Noel, escapou de “morrer de frio na Lapônia”. Numa premiação de TEATRO, voltada para o TEATRO INFANTIL, eu não ficaria nem um pouco surpreso se “VOZ DE VÓ” recebesse indicações a muitas das categorias, logrando êxito nelas. Se eu recomendo o espetáculo? Você chegou até aqui e ainda não entendeu? Quer que eu desenhe? Não! Se isso for necessário, chamo a ANALU PRESTES. Oxalá a peça venha para o Rio! Os carioquinhas também merecem esse mimo. Quase já ia me esquecendo: Vendo a "arte" (cartaz) da peça, que aparece logo no início desta crítica, existiria alguém que não desejasse logo assistir à peça, por tanto de beleza e poesia que há no trabalho de programação visual, assinado, a quatro mãos, por ANALU PRESTES e CAMILA LANDULFO?



 



 


FOTOS: ALESSANDRA NOHVAIS

  

GALERIA PARTICULAR

(Fotos: Tony Coimbra.)

 

 

Com Nick Araújo (direita) 

e Pietro Leite (esquerda).


Com Clarisse Derzié Luz, Stela Freitas 

(prestigiando as amigas) e Sara Antunes.


Com Stela Freitas.



Com Tony Coimbra.



VAMOS AO TEATRO!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!

RESISTAMOS SEMPRE MAIS!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS, POSSAAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!

 

 

 

 



































































































































































































































































































































































































































Nenhum comentário:

Postar um comentário