“A VELA”
ou
(COLANDO
OS CACOS.)
ou
(DORMINDO COM O PRECONCEITO.)
Desde quando se deu, pela Organização Mundial de Saúde,
o anúncio oficial da pandemia de COVID-19, há dois anos (13 de março
de 2020), levando os Teatros a parar suas atividades e fechar suas portas ao público, até o presente momento, assisti a mais de 600
trabalhos, pelas telas, que, absolutamente, não podem ser
chamados de TEATRO, ou assim considerados, em que pesem os hercúleos
esforços de quem os realizou/realiza e a sua importância, por vários motivos.
Ninguém sabia como chamar aquilo e eu, modestamente, batizei-os de “experimentos
cênicos virtuais”, que achei bastante aplicável ao que me ofereciam para
ver. Não era TEATRO, repito, e já me cansei de explicar esse meu ponto
de vista. E, exatamente por esse motivo, por não ser TEATRO, não escrevi
sobre nenhum deles, à exceção, por um motivo muito íntimo e especial, de (IN)CONFESSÁVEIS,
reagindo a uma quase provocação do meu amigo Marcelo Varzea, idealizador
do projeto e sua mola-mestra, embora não considere o que escrevi uma
crítica, tecnicamente falando.
Desse “tsunâmi” de “experimentos”, a
maciça maioria era de qualidade muito duvidosa, infelizmente, e eu até
compreendo as razões, o que não creio ser necessário abordar agora. Tenho o
hábito de classificar os espetáculos teatrais a que assisto em cinco
categorias: RUIM, REGULAR, BOM,
MUITO BOM e ÓTIMO,
e só escrevo sobre aqueles que considero de BOM para
cima. Há, ainda dois extremos. Quando a peça “teria de se esforçar
muito, para poder ser considerada RUIM”, só lhe resta um PÉSSIMO.
Quando, por outro lado, o espetáculo é perfeito, irretocável, em todos os
aspectos, merece um OBRA-PRIMA.
Voltando
aos já referidos mais de 600 “experimentos”, só ganhariam, de minha
parte, classificações positivas (de BOM em
diante) menos de 20%, e a minha humilde chancela de OBRA-PRIMA reservei a, talvez, uma meia dúzia
deles, dentre os quais “A VELA”, motivo desta crítica. Assisti à montagem,
pela tela, transmitida diretamente do palco do Theatro Claro Rio, no Rio
de Janeiro, três vezes, e quase me desidratei, de tanto chorar, diante de
um espetáculo tão lindo, comovente, que mexe com a sensibilidade até de um
ogro, à exceção, é claro, de um único, que habita um palácio, na capital
federal do Brasil. Logo, veio-me aquele impulso de escrever sobre o que
vi, desde a primeira vez em que assisti à peça, porque queria que o
mundo inteiro visse aquilo, além de tudo, tão necessário, com relação ao
momento atual que vivemos. É assim que costumo agir, quando vejo algo fabuloso,
que me leva às lágrimas. Quero que todos a quem amo e/ou prezo tomem
conhecimento daquilo que tanto me agradou. Mas não escrevi, porque não era
TEATRO, e eu não saberia como fazê-lo. Não sei
escrever sob a ótica de um telespectador; há quem o consiga, e
mereça meus aplausos, mas só sei pôr no papel o que senti, sobre um espetáculo
teatral, sentado numa poltrona, num Teatro, dividindo o oxigênio que
respiro com os atores, os técnicos, os funcionários e,
obviamente, o restante do público. O TEATRO só pode ser feito, como
TEATRO, e assim considerado, quando atores e plateia trocam energia e emoção,
ao vivo. “É assim que voto.”.
Mas eu tinha a mais plena de todas as certezas (Não abro
mão, aqui, do pleonasmo.) de que uma montagem como aquela, tão logo
o TEATRO voltasse a poder ser feito presencialmente, estaria num palco,
para que milhares de pessoas pudessem, durante uma ou mais temporadas,
aplaudi-la e se emocionar, da mesma maneira como ela me tocou. Aguardei, com
bastante ansiedade, e, vez por outra, depois que vi algumas montagens a
que assisti, anteriormente, “on-line”, se concretizarem num
palco, serem oferecidas presencialmente, pensava: E “A VELA”. Será que falta
muito, para que eu possa aplaudir, da forma mais intensa, HERSON CAPRI e
LEANDRO LUNA, como o fiz, em casa, como um louco, deitado numa cama, sozinho,
num quarto, olhando para uma telona, gritando “BRAVI!!!”, aplaudindo, de doer
as palmas das mãos, e chorando, como um desesperado? Finalmente, esse dia
chegou.
Assisti, anteontem, a convite do próprio LEANDO LUNA e
de JULYANA CALDAS (JC ASSESSORIA DE IMPRENSA), a essa imperdível
montagem, em noite para convidados, no Teatro das Artes (VER SERVIÇO).
Por que “A VELA” é uma OBRA-PRIMA?
Em primeiro lugar, pelo texto, o primeiro sustentáculo
do espetáculo. Escrito por RAPHAEL GAMA, ele é lindo e, ao mesmo
tempo, pungente, além de tratar, com muita delicadeza e dose ideal de realismo,
um tema que, infelizmente, ainda é um grande tabu e motivo de dor, para muita
gente. Um texto que vai, como um arco de pua ou uma furadeira elétrica
(E por que não uma britadeira?), furando e dilacerando dois corações, dos
protagonistas, e os nossos; nós que assistimos àquele minucioso trabalho de
juntar e colar cacos, na esperança de um resgate, da recuperação de um elo que
jamais poderia ter sido quebrado, mas que o foi, por conta da intolerÂNCIA e da ignorÂNCIA,
uma rima perfeita, na forma, mas imperfeita e indesejável, além de inaceitável,
no que os dois vocábulos significam. É um texto que leva o espectador a
se identificar com um dos personagens; ou com os dois. Não,
obrigatoriamente, por se ver espelhado num deles, mas por conhecer ou saber da
existência de vários “professores GRACINDO”, o pai,
personagem de HERSON CAPRI, e uma infinidade de filhos como CARLOS
EDUARDO, CADU, ou EMMA BOVARY, interpretado por LEANDRO
LUNA.
SINOPSE:
Em princípio, pode-se dizer, “A VELA” é uma peça
sobre uma “reconciliação familiar”, entretanto, parodiando o
velho bardo, nela, “há muito mais do que julga a nossa vã filosofia”.
O velho professor GRACINDO (HERSON CAPRI)
decide se mudar para um asilo, por conta própria, depois de se ver muito
sozinho, após o falecimento de sua esposa.
Rompera relações com o filho há muito tempo, quando
descobriu sobre sua orientação sexual, expulsando-o, praticamente, de casa.
Prestes a se mudar, GRACINDO
precisa empacotar suas coisas e acaba revirando seu passado, enquanto uma falta de luz temporária o
obriga a usar uma vela, para iluminar o ambiente e continuar sua tarefa.
Quem chega, nesse exato momento, vinte anos depois,
para ajudá-lo nessa mudança, é CADU, ou melhor, EMMA BOVARY, seu
filho “drag queen”, que retorna, para tentar as pazes com seu
velho pai e entender o que fez um homem tão culto agir de forma tão violenta.
Mas, CADU, ou EMMA, é categórico: eles
têm apenas o tempo da vela, que o pai acendeu, se consumir, para essa
conversa se resolver, ainda que a energia elétrica fosse, em pouco tempo,
restabelecida.
Vai daí, “uma saraivada de flechas envenenadas”
vara o espaço, na direção dos dois, atiradas de lado a lado, até que a peça
chega a seu final, com um desenlace totalmente imprevisível e profundamente
emocionante.
Na SINOPSE supra, encontramos algumas simbologias,
mensagens implícitas, metaforicamente, e uma, no mínimo, grande contradição.
Comecemos por esta, tentando entender como um homem culto, um educador,
possa ter uma visão tão retrógrada e não ter acompanhado o desenvolvimento das
relações humanas e o comportamento do homem de hoje. Sim, porque a história se
passa nos dias atuais, não é coisa do passado, de uma outra época; a
problemática ainda é, infelizmente, contemporânea. Trata de uma temática viva,
real, que bate à nossa porta, está na frente do nosso nariz, vinte e quatro
horas por dia. E não há como fugir dela.
No
país que é “campeão” no assassinato de seres humanos inseridos no
universo LGBTQI+, mormente as travestis, a expulsão, de casa, pelos próprios
pais, de pessoas que não se identificam com o gênero como vieram ao mundo,
sendo obrigadas, boa parte desse universo, a cair na prostituição e, também, a
procurar casas que as abriguem, que as acolham e lhes deem o amor e o carinho
que lhes foram negados em família, esta peça tem um valor e uma
importância especiais. Há, espalhadas, Brasil afora, dezenas desse tipo
de casas, para atender a centenas ou milhares, sei lá, de “cadus”.
O
fato de GRACINDO ser um homem instruído, um acadêmico, nos mostra
que condição cultural, social, posicionamento político, religião, raça, nada
livra alguém de ser homofóbico, intolerante e um não praticante da empatia, nem
mesmo quando o que incomoda essas pessoas é a condição sexual de seu próprio filho, ou
filha, também. A “cegueira” predomina sobre a visão. A prova de
que a aceitação do outro, na sua orientação sexual, só depende de um querer ser
empático e tolerante está no momento em que CADU conta a GRACINDO
que o pai de um de seus “ficantes”, um homem que conseguira frequentar
uma escola apenas até a 4ª série, um dia, surpreendeu-o, perguntando-lhe se ele
era namorado de seu filho. CADU se viu numa “saia justa”,
até vir o alívio, quando o homem, de poucas letras, lhe disse que só queria
convidá-lo, para um almoço dominical em família. Ele se sentiu acolhido.
CADU
também se vale de um forte argumento, para questionar o comportamento do pai,
ao lhe perguntar por que ele, um professor, tratava seus alunos homossexuais
com a dignidade de que são merecedores e apenas sobre ele, seu filho, sangue de
seu sangue, eram dirigidos todos os xingamentos e, até, pode-se dizer, uma dose
de ódio e total desprezo.
A
“falta de luz” teria sido providencial e representa a escuridão
interior do personagem ou uma espécie de “cegueira”, para
não enxergar e compreender um outro ser humano. E cabe, exatamente, a ele GRACINDO,
“acender a vela”, que vai produzir uma luz fraca, tênue, porém
suficiente para que pai e filho possam “organizar os pertences que serão
levados numa “mudança”, levar o que deve ser levado e deixar para trás
o que é “erva daninha”.
“Prestes
a se mudar, GRACINDO precisa empacotar suas coisas e acaba revirando seu
passado...”. Dois verbos bem semelhantes,
denotativamente falando, diferentes por um detalhe: a condição de um ser
pronominal. “Mudar-se” implica sair de um lugar e passar a viver
em outro; há uma “mudança”, de verdade. “Mudar”
implica uma transformação, exterior ou interior, assumir uma postura diferente
de outra, anteriormente assumida; também há uma “mudança”. A
mudança de uma casa para um asilo é, portanto, simbólica, na peça.
A julgar pelo fato de que fora expulso de casa, o que levou a
um rompimento na comunicação entre os dois, por que, logo naquele momento, a “drag”
tinha que ter voltado? Vinte anos haviam se passado e a angústia do filho
levou-o a a se submeter a uma iminente humilhação, mas era preciso tirar o pó
que fora varrido para debaixo do tapete e aspirá-lo de vez. Nenhum vestígio de
poeira do passado poderia resistir naquele relacionamento entre pai e filho. CADU
e EMMA BOVARY eram uma só pessoa, mas, naquele momento, era a
identificação civil que estava dialogando com GRACINDO; filho e pai. Uma
coincidência? Um chamado, não revelado, um pedido de ajuda, da parte do pai,
que havia começado a perceber que precisava do filho e que, sozinho, não daria
conta da “mudança”, que, nele, já começava a se instaurar? Será?
Obra do destino, um “aviso” de que estava na hora de “pôr
tudo em pratos limpos”? Não cobrem, do dramaturgo, qualquer
explicação! Aceitem, apenas, aquelas duas presenças, frente a frente, tentando
explicar, um ao outro, o inexplicável. O final da peça deixa bem claro que
ninguém devia pedir desculpas, um ao outro. Ou ambos deveriam “se
perdoar”.
Para um resgate tão importante, e necessário, e um apagar das
cicatrizes do passado, presentes até aquele momento, o tempo de duração da
queima de uma vela é demasiadamente curto, mas CADU, que sofreu, na pele,
toda a dor da rejeição, de tanta humilhação, mas está disposto a abrir seu
coração e ver, de novo, um fino vaso de porcelana chinesa, de uma dinastia
muito importante, de pé e sem aparentar fraturas ou marcas visíveis, soube se
impor e exigir premência, celeridade, no trabalho dos dois “restauradores”.
Um bom dramaturgo precisa valer-se de uma boa ideia,
de um bom “plot”, para dar partida a seu texto. Quando o
tema lhe é familiar, vivido na pele ou chegado a ele por meio de observações da
realidade, via de regra, o produto final de sua dramaturgia sai bem
melhor. Foi o que se deu, com RAPHAEL GAMA, quando se sentiu impelido a
dar forma à “A VELA”. Valendo-me de informações contidas no “release”
já citado, “RAPHAEL partiu da percepção que teve, ao constatar a
dificuldade em dialogar com sua avó, uma mulher tradicional, com resistência em
entender as mudanças que aconteciam na sociedade, e o quanto a incompreensão
familiar afetava as escolhas de vida das ‘drag queens’ em geral”.
Palvras do autor: “Eu convivo com diversos artistas ‘queers’ de
São Paulo. Conheço pessoas que foram expulsas de casa e o fato dessa comunidade
seguir sendo tão negligenciada e odiada, mesmo em meio à tanta informação, me
fez querer falar do assunto no ambiente familiar e sobre a importância do
diálogo como ferramenta de cura”.
RAPAHEL também, a meu juízo, leva uma certa vantagem,
ao escrever para os outros, porque também é ator e, certamente, pratica
a empatia, quando está escrevendo um texto. Naturalmente, a dramaturgia
deve ter surgindo da maneira como ele gostaria de dizer as falas de cada personagem,
da forma como pretende que as palavras sejam decodificadas pelo público e o
emocionem, ou o façam rir. São dele, também, dois recentes sucessos, de público
e de crítica: “Araca”, um musical sobre a famosa e irreverente
cantora Aracy de Almeida, e “Uma Lágrima para Alfredo”,
que já foi assistido por um batalhão de espectadores e que, ainda, está
correndo o país, em turnê ou apresentações esparsas. Gosto muito de seus textos
e, em especial de “A VELA”, que merece ser premiado. Poucas vezes, em
mais de cinquenta anos de “rato de Teatro”, vi um autor,
com um poder de concisão, dizer tanto, mas tanto mesmo, em tão pouco tempo de
duração de um espetáculo. No caso, aqui, em cerca de uma hora. O que
aconteceu comigo deve ser o que passa pelas cabeças de todos os que assistem a “A
VELA”. O espetáculo termina e, depois da interminável ovação da
plateia, eu me deixei ficar, na minha poltrona, totalmente impactado e
emocionado com o que vira. Fui o último a deixar o Teatro.
A peça é um drama, e disso não resta a menor
dúvida, entretanto, embora trate de uma temática bastante “pesada”,
boa parte desse “peso” é aliviada, descartada, pelo meio do caminho, graças ao humor ácido que sai
da boca do professor GRACINDO. Num trecho da conversa, em que CADU
tenta explicar ao pai o que significa ser uma “drag queen”, RAPHAEL
GAMA aproveita para explicar o que pouca gente sabe, ou seja, o que
significa “drag”. Embora a origem do termo seja
incerta, sabe-se que ele passou a ser usado, com mais frequência, no início do século
XX. O primeiro registro, no entanto, data do ano de 1870, para se
referir a atores (homens) que se vestiam como mulheres, prática bastante
antiga, no TEATRO, que não permitia que mulheres atuassem. Acredita-se
que, antes mesmo, no século XVIII, “drag” designava
homens que se vestiam como mulheres, não necessariamente para fins teatrais. “Drag”,
que, em inglês, significa “arrastar”, era uma alusão às longas
saias usadas na época, que se arrastavam pelo chão. Popularmente, “drag” se tornou, ainda, um acrônimo
para “DRessed As Girl”, ou seja, “vestido
como garota”. Dizem que Shakespeare, no período
elisabetano, já fazia anotações, em suas peças, para indicar o ator que
fazia o papel feminino, como “Dr.A.G.”, mas parece não haver
comprovação disso. Para chegar a essas ultimas informações, vali-me de
uma consulta à Wikipédia.
ELIAS ANDREATO dirige o espetáculo, como o fez
em “ARACA”, escrito por ele e RAPHAEL GAMA, no qual este atua no
solo, que ainda está em cartaz, em São Paulo. É um parceiro de RAPHAEL,
e uma prova daquele ditado que diz que “não se mexe em time que está
ganhando”. ELIAS imprime, à montagem, um ritmo,
alternando momentos frenéticos com outros mais pausados, creio que para
proporcionar, ao espectador, a oportunidade de recuperar o fôlego, após cada "batalha" entre os dois personagens. São suas estas palavras: “O
nosso objetivo é mergulhar numa relação verdadeiramente teatral e humana. O TEATRO
sempre será a arena necessária para debater todas as formas de preconceitos”.
Concordando com ELIAS, digo que o TEATRO é um grande “vetor”,
que nos orienta a reflexões, principalmente quando é utilizado de forma sutil e
conotativa. ANDREATO faz uso de “vetores” múltiplos, nesta
montagem, da forma mais simples possível, mas com detalhes que provocam
emoções e profundas reações no público. Oxalá também leve alguns, ainda, “sem-visão”
e de corações empedernidos a transformações; para melhor. É uma história
contada com delicadeza, para que o espectador possa se identificar, de
uma forma ou de outra, com os personagens.
No mesmo grau de importância do texto, destacam-se as
atuações de HERSON CAPRI e LEANDRO LUNA, dois grandes atores,
que, de há muito, não precisam provar a ninguém a que vieram. Estão na
profissão certa.
O personagem de HERSON é um homem ranzinza,
rabugento ao extremo. Não se sabe se sempre agiu daquela forma ou se passou a assumir
tal comportamento motivado por alguma coisa, além da idade, que nem é tão
expressiva assim: à porta dos 70 anos. Com o desenrolar da peça, cada espectador
pode ir formulando e traçando o perfil do personagem e, com o fechar das
cortinas, pode encontrar uma explicação para todo o seu comportamento e o
tratamento dedicado ao filho. (Meu esforço é hercúleo, para não deixar
escapar qualquer “spoiler”.)
Sente-se,
na plateia, um certo interesse maior pela narrativa, e muita curiosidade, a partir
de um determinado momento, quando o rumo da conversa é desviado para uma
determinada gaveta “proibida para crianças”. HERSON CAPRI
tem um desempenho irretocável, digno de todos os nossos elogios e, certamente,
é um forte candidato a premiações. Ele ressalta a atualidade do tema. “A
peça discute preconceito, acolhimento e a relação familiar de uma forma
inteligente e sensível. Os preconceitos estão por aí, à nossa volta, o tempo todo.
Convivemos, de uma forma ou outra, com pessoas conservadoras e até
negacionistas. Acho que a arte tem o dever de abordar os temas que tocam e
afligem a sociedade. Acolher as diferenças é um deles. E negá-las também é
preciso ser discutido.”. Eu não acrescentaria uma vírgula a esse
excelente depoimento.
LEANDRO
LUNA,
assim como HERSON, é um ator generoso, que sabe dividir o protagonismo
com outro colega de cena. Com uma carreira bem alicerçada e um currículo muito
especial, é um ator que nos acostumamos, mais, a ver atuando em musicais.
De repente, surge uma outra face de LEANDRO LUNA: a do ator dramático,
que sabe defender, com a maior dignidade e competência, um papel de difícil
interpretação, que poderia descambar para o artificialismo ou para o caricato,
o que, de forma alguma, acontece. E ele o faz dentro de todos os limites do que
seria aceitável para aquele personagem sério, cônscio do que queria, para
ser feliz. Ele é um homossexual, que descobriu que poderia se divertir, encontrar
a felicidade, no final de uma “estrada de tijolos amarelos” (“Over The
Rainbow”), e garantir seu sustento, valendo-se de um trabalho,
infelizmente tão mal visto e não compreendido por muitas pessoas, que não sabem distinguir uma
condição ou orientação sexual de um profissional, um artista. Além de ter que
lutar contra todos os preconceituosos, com relação à sua homossexualidade, as “drag
queens” ainda precisam de mais armas, para lutar e provar que, por trás
de um ser humano, há uma personagem, “montada”. São duas
coisas distintas, que, aos poucos, durante o diálogo entre pai e filho, CADU
consegue fazer com que o pai entenda. E GRACINDO aceita? Deixo a pergunta no ar, sem resposta, para instigar os que
me leem a assistir à peça.
LEANDRO
LUNA
também é de opinião de que o espetáculo aborda as relações humanas e as
feridas familiares que todos temos e com as quais nos identificamos. “É
muito importante, principalmente nos dias de hoje, estarmos em constante discussão
sobre as diferenças e estimularmos a tolerância e o respeito ao próximo.
Vivemos tempos muito polarizados, quando o conceito de moral e conservadorismo
tem alimentado a sociedade com discursos odiosos, segregacionistas, em vez de
criar o diálogo respeitoso e democrático. Precisamos, através da ARTE, propor o
discurso de temáticas que incentivem o respeito entre os indivíduos, principalmente,
a partir do ponto de vista da educação familiar.”.
Extraído do “release”, enviado pela assessoria
de imprensa, “Entre álbuns de fotos, livros clássicos, música e
poesia, os personagens vão revirando o passado, para entender o presente e
enfrentar o futuro. Ambientada em uma casa com poucos móveis e algumas caixas,
o elemento central, em cena, é uma janela, onde o tempo e os segredos são
discutidos. A peça é entremeada por trechos de famosos escritores e pensadores,
com músicas que definiram gerações, como Carpenters, Edith Piaf e Dalva de
Oliveira. O drama, vivido entre pai e filho, pretende aproximar as questões
pertinentes da sociedade contemporânea, levando o espectador a entrar em contato,
de maneira sensível, com temáticas extremamente relevantes: as relações humanas
e os preconceitos instaurados na estrutura social e familiar.
Segundo
o dramaturgo, RAPHAEL GOMES, “A VELA” não é sobre mocinhos
e bandidos, não é sobre vítimas e vilões. É sobre algo que todos nós conhecemos
intimamente. É sobre família e amor. Sobre erros humanos. Sobre conflito de
gerações e de identidades. E a importância do diálogo em tempos tão odiosos.
Mais do que falar sobre quaisquer tabus ou polêmicas, quando falamos sobre amor,
falamos sobre reflexão e cura.”.
Num
espetáculo em que o texto ganha o maior destaque, os demais elementos
da montagem, precisam acompanhar tal grau de grandeza, no sentido de que
tudo fique harmonioso. Isso é o que se vê em “A VELA”.
O
cenário representa uma sala de estar simples, modesta, com uma janela ao
fundo, ladeada por duas estantes; um sofá antigo, carcomido; uma velha vitrola;
uma mesa e uma cadeira; e muitas caixas de papelão, espalhadas pelo espaço cênico,
para “empacotar”, quando “deveria ser ‘encaixotar’, porque ‘encaixar’
não faria sentido”, os pertences a serem transportados para a nova moradia. O
mais importante, porém, nesse cenário, o que mais chama a atenção, é a
riqueza e variedade dos objetos de cena. Riqueza, não no sentido
material: muitos livros e discos antigos e alguns objetos pessoais, tudo remontando
ao passado. Como o próprio CADU diz, parece que nada mudou ali, enquanto
ele permaneceu fora da família. Passaram-se vinte anos, mas aquele ambiente
parou no tempo. Excelente trabalho de ELIAS ANDREATO, na caracterização
e concepção da cenografia.
Como,
na ficha técnica, não consta o nome de quem, especificamente, assina os figurinos
da peça, creio que tal função deva ter ficado com MÁRCIO MERIGHI,
que consta como o visagista. Os figurinos caem como uma luva nos personagens.
Até mesmo os trajes da “drag queen” são bem discretos, assim como
seus acessórios.
CLEBER
ELI
desenhou uma luz sem muitas novidades ou variações, que se adequa à
proposta do espetáculo. Quando falta energia elétrica, e uma vela passa
iluminar o ambiente, achei que poderia ser um pouco menor a intensidade dos
refletores que permanecem acesos. Talvez – é apenas uma ideia -,
considerando-se que a falta de energia não se dá por tanto tempo, ficasse mais
interessante manter apenas a luminosidade da vela acesa. Não sei se isso teria
sido testado. Gostaria de ter visto isso. Penso que o público também.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Raphael Gama
Direção: Elias Andreato
Assistência de Direção e Produção: Rodrigo Frampton
Elenco: Herson Capri (Gracindo) e Leandro Luna (Cadu /
Emma Bovary)
Caracterização e Concepção de Cenário: Elias Andreato
Iluminação: Cleber Eli
Visagismo: Márcio Merighi
Operação de Luz e Som: Marcelo Andrade
Contraregragem e Camarim: Renato Valente.
Fotos: Caio Gallucci.
Designer Gráfico: Luciano Angelotti.
Produtora de Vídeo: Trapézio Produções Culturais.
Assessoria Jurídica: Diego A. Coutinho.
Assessoria de Imprensa: JC Assessoria de Imprensa.
Gestão de Marketing: R+Marketing.
Produtores: Leandro Luna e Priscilla Squeff.
Produção: VIVA Cultural e Luna Produções Artísticas.
Realização: Ministério do Turismo, Secretaria
Especial da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
SERVIÇO:
Temporada: De 04 de março a 24 de abril de 2022
Local: Teatro das Artes
Endereço: Rua Marquês de São Vicente,
52, loja 264 – Shopping da Gávea – 2º piso – Gávea – Rio de Janeiro
Dias e Horários: Em março: às 6ªs feiras e sábados,
às 21h, e, aos domingos, às 20h. Em abril: às 6ªs feiras e sábados, às 19h e,
aos domingos, às 18h.
Valor dos Ingressos: 6ªs feiras e domingos, R$80,00
(inteira) e R$40,00 (meia entrada); sábados: R$100,00 (inteira) e R$50,00 (meia
entrada)
Contato Bilheteria por telefone.: (21) 2540-6004 – de
segunda-feira a domingo, das 15:00 às 20:00 - Após as 20:00, apenas para peças
do dia.
Ingressos “on-line”: www.divertix.com.br
Duração: 70 minutos
Classificação etária: 12 anos
Gênero: Drama
Se eu fosse você, não perderia tempo e
iria, logo, garantir seu lugar na plateia do Teatro das Artes, para
assistir a esta OBRA-PRIMA do TEATRO BRASILEIRO.
FOTOS: CAIO GALLUCCI
GALERIA PARTICULAR:
Com Leandro Luna.
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!
Concordo com tudo!
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