NA COXIA,...
...COM VANESSA DANTAS.
Vanessa Dantas
O
TEATRO INFANTOJUVENIL é uma atividade de grande responsabilidade, uma
vez que representa os primeiros contatos das crianças e pré-adolescentes com
essa divina arte e, se os espetáculos não forem de boa qualidade, no mínimo, a
ponto de servirem de incentivo, para que os pequenos peçam a seus responsáveis
que os levem outras vezes ao encontro daquela experiência, acabarão por não
gostar do que viram, com toda razão, e, certamente, chegarão à idade adulta sem
querer voltar ao TEATRO.
É preciso, portanto, que todos os esforços sejam
empregados, na procura da excelência, quando o assunto é TEATRO
INFANTOJUVENIL. Várias são as referências a ele atreladas, e, quando o
assunto é texto, um dos principais nomes lembrados é o de VANESSA
DANTAS, que também se sai bem em cima do palco, como atriz, assistente de
direção e, até mesmo, como diretora. Seu currículo profissional é extenso e,
aqui, vão apenas algumas gotas dele.
De 2001
a 2008, sob direção de Daniel Herz e Susana Kruger,
foi atriz da “Cia. Atores de Laura”, uma das companhias de TEATRO
mais sólidas do Rio de Janeiro. Durante o período em que
esteve na “Cia.”, atuou em todas as produções: “As Artimanhas de
Scapino”, “Decote”, “O Conto do Inverno” e “N.I.S.E”. Esses
espetáculos, todos premiados, circularam por diversos estados brasileiros e no
exterior. Fora da “Cia.”, atuou em “O
Nariz de Prata”, “Verdade Verdadeira”, “O
Barbeiro de Ervilha”, “A Borralheira, Uma Opereta Brasileira”, e “O
Elixir do Amor”.
Entre 2004 e 2008, foi
assistente de direção, de Daniel Herz, em premiados musicais, no Rio de Janeiro
e em São Paulo: “Geraldo Pereira, Um Escurinho Brasileiro”, texto
de Ricardo Hofstetter; “Otelo da Mangueira”, texto de Gustavo Gasparani;
“Tom & Vinícius, o Musical”, texto de Daniela Pereira de Carvalho
e Eucanaã Ferraz; e
“A Glória De Nelson”, texto de Nelson Rodrigues.
Em 2007, fundou a “Marcatto
Produções Artísticas” e vem desenvolvendo um trabalho, para crianças,
de introdução às óperas, no qual o clássico e o popular brasileiro se
misturam na cena. Foi idealizadora, autora, produtora e atriz das
premiadas operetas para crianças: “O Barbeiro de Ervilha”, adaptação nordestina
da ópera “Il Barbieri di Sevilha”, de Gioacchino Rossini, em 2010,
no Teatro do Jockey-RJ, atual Teatro XP Investimentos, sob a
direção de Daniel Herz; “A Borralheira - Uma Opereta Brasileira”,
adaptação mineira da ópera “La Cenerentola”, de Gioacchno
Rossini, em 2012, no Teatro OI Casa Grande, dirigida por Fabianna
de Mello e Souza; “O Elixir do Amor”, adaptação gaúcha da
ópera “Le Elisir d’Amore”, de Gaetano Donizetti, em 2014,
no Teatro do Jockey, tendo como diretor Daniel Herz. Ainda
escreveu “O
Nariz de Prata”, em 2006, uma adaptação, a partir do conto “Il Diávolo del Naso D’Argento”,
de D. Carraroli; “Verdade Verdadeira”, texto original, em 2007; “Tra
Lá Lá”, também original, em 2017, um musical
infantojuvenil sobre a vida e obra de Lamartine Babo, que fez temporada
no extinto Teatro Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro; e “Thomas e as
Mil e Uma Invenções”, idem, o meu preferido, em 2018, outro
musical infantojuvenil, com músicas de Tim Rescala e direção de Fabianna
de Mello e Souza, espetáculo que ficou em cartaz no Teatro Oi Futuro
Flamengo, atual Centro Cultural OI Futuro.
Ao
longo desses anos de realizações, seus espetáculos circularam por diversas
cidades do Brasil e somam 28 indicações e 09 prêmios nas principais
premiações de TEATRO INFANTOJUVENIL do Rio de Janeiro.
De 2012 a 2013, em
parceria com Tim Rescala, escreveu o programa de música clássica, para crianças,
“Blim Blem Blom”, da Rádio MEC FM. Em 2014, o
programa recebeu Menção Honrosa, na “Bienal de Rádio do México”.
"Blim Blem Blom" (Foto de Arquivo)
E
VANESSA DANTAS topou uma conversa conosco.
Blim Blem Blom (Foto de Arquivo.)
1) O TEATRO ME
REPRESENTA: Como o TEATRO entrou na sua vida?
VANESSA DANTAS: Meu
primeiro contato foi na escola primária, em sala de aula. Minha mãe é
professora aposentada, dava aulas para crianças do ensino do primeiro grau. Ela
incluía o TEATRO nas suas aulas, como ferramenta de alfabetização.
Tínhamos um teatrinho de madeira, azul, com cortinas vermelhas e marionetes.
Ela o levava para a escola e, quando isso acontecia, sempre me levava junto.
Foi, também, por essa idade, de alfabetização, que eu assisti à minha primeira
peça: “Chapeuzinho Vermelho”. Na minha cidade natal, São Vivente (SP),
não havia Teatro. Então, pela primeira vez, houve uma peça, para
crianças, num cinema antigo, perto da minha casa. Ali, eu entendi, de verdade,
que pessoas também podiam “ser” no palco, que pessoas também podiam
contar uma história, através das suas próprias ferramentas.
2) OTMR:
Antes de se tornar uma referência na dramaturgia infantojuvenil, você iniciou,
no universo teatral, como atriz. Fala da sua formação acadêmica, nessa área.
VD:
Eu me formei, em 1993, pelo Teatro Escola Célia Helena, em São Paulo.
Fiz inúmeros cursos, mas uma escola é fundamental. Um ator precisa da vivência
do palco, da vivência de um processo de criação com a equipe, da vivência da
coxia e, principalmente, da experiência com o público. Por isso, acho que as
escolas são fundamentais. Elas são como mentores. Vão guiando as pessoas por
esses processos essenciais, mostrando os caminhos de uma postura profissional,
não apenas técnico, de construção de histórias e personagens, mas também de
postura humana.
"A Borralheira.. "Foto: Renato Mangolin.)
3) OTMR:
E quando você descobriu a VANESSA dramaturga?
VD: Quando
comecei a ler e escrever, eu já mudava as histórias por conta própria.
Inventava outros finais, recontava, para as pessoas, do meu jeito. Logo,
comecei a escrever essas histórias, recontadas por mim, e não demorou para que
eu começasse a inventá-las. Outro dia, achei uma história sobre uma margarida,
que eu escrevi aos 9 anos.
4) OTMR:
Fala um pouco da importância da “Cia. Atores de Laura” na sua vida.
VD: Os
“Atores de Laura” fazem parte da minha família, aqui, no Rio de Janeiro.
Fui atriz da “Cia.” por, aproximadamente, 8 anos. Aprendi a olhar
para o todo, a entender que uma obra só é bem sucedida, quando o todo está em
harmonia. TEATRO é o todo. É um time. Se algo não vai bem, tudo desanda.
É uma bela metáfora para a vida. Depois, senti vontade de voltar o meu trabalho
para as crianças, eu respiro histórias fantásticas. Se você me encontrar numa
livraria, vai me ver na sessão de histórias de fantasia e ficção científica.
Abri a minha produtora e senti que devia seguir por esse caminho. Não fosse por
isso, é certeza que eu estaria grudada na “Cia.”. Eu amo estar com eles.
Sabe quando você precisa sempre voltar para casa, para “recarregar a energia”?
Então, a “galera” da “Cia.” é como a minha casa. Sempre “roubo”
alguém de lá, para vir trabalhar comigo ou eles também me chamam para
participar de algum trabalho. Eu tive muita sorte de começar a fazer TEATRO
com essas pessoas tão incríveis, não só profissionalmente, mas também como
pessoas. Costumo dizer que a “Cia.” foi o meu berço. Ali, comecei a me
entender como artista e como gente, comecei a engatinhar, a andar, a correr...
até voar!
3 "O Elixir..." (Foto: Caíque Cunha.)
"O Elixir..." (Foto Caíque Cunha.)
5) OTMR:
Você já fez várias adaptações, para o público miúdo, que eu acho que também
agradam muito aos adultos, baseadas em óperas. Sendo estas uma arte,
infelizmente, de tão pequeno alcance, entre os brasileiros, e de uma certa
complexidade, uma arte, até certo ponto, hermética, sem tradição no Brasil,
você não sentiu receio de que pudesse se transformar em fracasso a sua tão boa
intenção, a primeira adaptação, ao se jogar nesse trabalho?
VD: Nunca
senti receio, não. Eu segui a minha intuição. Por ter nascido numa cidade que
nem Teatro tinha, eu nunca tive contato com as óperas. Inclusive, eu
tinha um pouco de preconceito. Achava as óperas “beeemmm” chatas! Já bem
mais velha, com uns 20 e poucos anos, é que comecei a ter um contato mais
profundo. Pensei: “Deixe-me entender direito o que é isso”. Para
ser bem sincera, eu nem sabia que óperas cantavam uma história. Quando eu
descobri isso, a sensação é de que eu tinha descoberto a “EURECA!”
Por que nunca ninguém me disse que óperas são histórias? Também fiquei bem chocada
comigo mesma. Como eu nunca tinha me dado conta de que óperas cantam histórias?
E que essas histórias são clássicos incríveis? São populares! Por que eu nunca
me dei conta disso? E a primeira resposta que me dei foi que, além do
virtuosismo das músicas, que não é familiar ao ouvido, elas ainda são cantadas
em outras línguas: alemão, italiano, russo etc.. Comecei a comprar tudo que era
libreto, alguns já traduzidos para o português, apesar de os CDs/DVDs que as
acompanham serem nas línguas originais, e outros, que acabei traduzindo, com “zilhões”
de dicionários do lado. Entendidas as histórias, os meus ouvidos entenderam,
verdadeiramente, a beleza das melodias. Não tive dúvida. Eu precisava transpor
as óperas para o palco, EM PORTUGUÊS, ora bolas! E respeitando a melodia
e as terminações de frases. Precisava dividir essa descoberta com todo mundo
que também nunca havia se interessado pelo mundo da ópera, a maioria;
provavelmente, pelos mesmos motivos que eu. Disseram-me que era quase um crime
o que eu estava cometendo, que uma ópera não se transpõe para outra língua. Mas,
na minha opinião, crime é não as facilitar, para que as pessoas possam entender
as suas histórias. Uma música com história abre a imaginação; educa o ouvido,
para que as pessoas comecem a apreciá-la mais profundamente, para que comecem a
entender os acordes, a se familiarizar com eles. São tão intensos, tão lindos,
tão cheios de sentimentos! Claro, ópera é história! É história cantada, de
maneira visceral, com o coração saltando do peito! A minha intenção sempre foi
de que esse entendimento chegasse até o público, todo tipo de público. É uma
iniciação ao mundo operístico. Ópera, no fim das contas, depois que você cria
intimidade com o mundo dela, entende que é popular. É pra todos. É para
criança, é pra adulto. Não há idade, não há classe social. E, aí, você pode
ouvir em qualquer língua - até em mandarim -, que o laço está feito.
"O Elixir..." Foto: Caíque Cunha.)
6) OTMR:
O sucesso de “O Barbeiro de Ervilha”, uma OBRA-PRIMA, na minha
opinião, a surpreendeu e, ao mesmo tempo, serviu de incentivo pra que viessem
outros trabalhos na mesma linha?
VD: Ah,
sim! A resposta do público foi o que mais me animou e me deu a certeza de que
eu estava certa. As pessoas vinham me dizer que não sabiam que se tratava de
uma história e que iriam procurar o original, em italiano, para ouvirem também.
A gente teve um público que voltava para assistir novamente. O “Barbeiro”
foi muito especial pra mim. Eu sou público também. Se você não entende algo, é
porque há muita gente que não entende também. Então, vamos entender juntos.
"O Elixir..." Foto: Caíque Cunha.)
7) OTMR:
Você tem preferência por criar histórias originais ou fazer adaptações, o que
também tem o seu aspecto de "originalidade"?
VD: A
história é minha preferência. Às vezes, eu leio uma história e sei que tenho
que adaptá-la. Às vezes, vêm-me ideias e sei que tenho que criá-las. O que
importa é a história e que ela me toque naquele momento. Quando adapto, procuro
ser o mais fiel possível, porque as pessoas querem conhecer o original.
8) OTMR:
Você abandonou a sua porção atriz ou pretende resgatá-la?
VD: Cada
vez mais, eu tenho sentido prazer em escrever. Sempre foi assim. E isso ocupa
muito o meu tempo. Eu estudo, profundamente, o universo no qual estou
envolvida, no mínimo, uns três meses, antes de começar a escrever. Mas,
dependendo do personagem, às vezes, sinto vontade de fazer. Eu preciso me
identificar, querer falar sobre aquele universo, naquele exato momento.
"As Artimanhas..." (Foto: Renato Mangolin.)
9) OTMR:
Quais são as suas referências de autores de TEATRO INFANTOJUVENIL e que
lhe serviram de inspiração?
VD: Karen
Acioly tem um tom de mistério. na escrita, com o qual eu me identifico
muito. Ela segue a linha do estranho, do inimaginável, do inquietante, que dá
aquele gelo na barriga, que dá medo... Há a alegria, a poesia e a música
misturadas, sempre. São histórias profundas e são para todos. Mas a minha maior
referência, na escrita, não vem do TEATRO. Sou estudiosa das obras de Neil
Gaiman, Diana Wynne Jones, C.S. Lewis, Phillip Pullman,
Carl Norac, Edgar Allan Poe, Christian Andersen, Oscar
Wilde...
"O Nariz..." Foto: Dalton Valério.)
10) OTMR: Uma
vez, entrevistei a Cacá Mourthé e lhe fiz uma pergunta, que vou repetir
para você, assim como outras, que virão adiante, de forma adaptada. Na década
de 70, protagonizei um grande musical infantil, uma superprodução para a época,
“Dom Chicote-Mula-Manca e Seu Fiel Escudeiro Zé Chupança”, baseado no
clássico de Cervantes, o “Quixote”, escrita por Oscar Von
Pfull, cujo diretor, Paulo Lara, tinha como lema uma frase: “TEATRO
INFANTIL NÃO É IMBECIL.”. Isso justificava a visão do grupo dirigido
por ele, com relação a buscar a melhor qualidade possível, em todos os
sentidos, na montagem de espetáculos para crianças e pré-adolescentes. Você
acha que esse lema e essa preocupação estão presentes, ainda hoje, na maioria
das montagens de TEATRO INFANTOJUVENIL?
VD: Eu
conheço muitos artistas que têm um trabalho muito profundo, muito cheio de
significados, no nosso TEATRO para crianças e adolescentes. Muitos a que
assisto são bem mais especiais do que muita peça adulta. Não vou citar nenhuma
produção, porque posso esquecer alguém, e seria muito injusto, mas eu sou fã de
muita gente. Mas, claro, também há aqueles que acham que fazem TEATRO,
mas que, na verdade, não o fazem. Os ditos “teatros comerciais”, na
minha opinião, não podem ser chamados assim, porque, simplesmente, não são TEATRO.
Não existe “teatro comercial”. Ou é TEATRO ou não é. Muitos
desses, eu os acho recuperáveis. É o tempo que os levará para o caminho certo.
Vejo gente jovem produzindo com muita vontade de acertar, mas, às vezes, não tiveram
condição para estudar; enfim... É tanta coisa em jogo... Artista de TEATRO
ganha tão pouco e precisa de tanto estudo, de tanto treino... Mas, se você
começar a produzir com afeto, o resultado, mais cedo ou mais tarde, virá. É um
processo. Mas, também, vejo alguns que não estão nem um pouco preocupados com a
qualidade do que estão fazendo. O maior problema é que o TEATRO para
crianças e adolescentes é pouco produzido, pouco apostado. São muito poucas as
produções em cartaz e com patrocínio. Então... São raras.
"O Barbeiro..." (Foto: Renato Mangolin.)
11) OTMR: É
melhor e/ou mais fácil escrever para o público infantojuvenil ou para adultos?
VD: Eu
escrevo pensando nos dois públicos. Então, posso opinar que, para criança, é
mais difícil. É preciso ser claro, simples e verdadeiro. E isso tudo não é nada
fácil. E eu ainda tenho “TOC” com as palavras, sou louca por elas.
Quando preciso usar palavras mais requintadas, procuro inseri-las em frases que
facilitem o entendimento do significado delas. É muito maravilhosa a sensação de
a gente descobrir, sozinho, o significado de alguma coisa.
12) OTMR: Levando-se
em consideração que crianças e adolescentes são as futuras plateias, em
formação, acho de uma responsabilidade enorme escrever para essa faixa etária.
Vem daí o meu grande respeito pelos ótimos dramaturgos que enveredam por esse
nicho, como é o seu caso. Como você enxerga esse panorama de “alta
rotatividade”, em certos Teatros do Rio de Janeiro, que chegam a
apresentar quatro espetáculos infantojuvenis, de qualidade duvidosa, aos sábados
e domingos?
VD: A
gente vive num mundo dual, onde não existe o positivo sem o negativo, e vice-versa.
Produções sem qualquer base do que seja o TEATRO sempre existirão. O que
temos que fazer, todos nós que nos preocupamos e que sabemos as consequências
disso, é realizar produções que compensem esse déficit. Temos que apostar, cada
vez mais, em boas produções, apesar de todo o descaso do nosso governo, com a
cultura. Também acho que as crianças, hoje em dia, sabem bem o que querem.
Tenho presenciado muito a dificuldade dos responsáveis em segurar uma criança
em um espetáculo sem conteúdo. A criança sabe, sente quando não tem conteúdo. A
internet também tem facilitado bastante. Todos podem assistir a trechos de
espetáculos e até a espetáculos inteiros, do currículo das produções, antes de
se arriscarem ao vivo.
"A Borralheira..." Foto Renato Mangolin.)
13) OTMR: Qual
a diferença básica, mais marcante, entre o público infantil e o adulto?
VD: O
sonhar. O adulto, geralmente, costuma julgar o fantástico, o impossível, o
sobrenatural, o conto de fadas. A criança não. Ela não sabe criar a
infelicidade; ela confia na vida, sem julgamentos. Ela pode descobrir a
história sobre um caramujo, como se tivesse descoberto um tesouro. Quero
continuar fazendo parte da turma delas para sempre.
"O Nariz..." Foto: Dalton Valério.)
14) OTMR: Quem,
da nova geração de dramaturgos, para o nicho infantojuvenil, você acha que se
destaca, por seu talento e por saber como se deve atingir essa faixa de público
e despertar-lhes o interesse pelo TEATRO, numa época em que as ofertas
são tantas, dentro das próprias casas, na relação dos pequenos com as telinhas,
a telas e as telonas?
VD: São
muitos. Alguns com carreira solo, outros de companhia. Eu seria muito injusta em
citar apenas um ou outro. Acho que aqui, no Rio de Janeiro, temos uma “galera”
bem boa, que, já algum tempo, vem fazendo um excelente trabalho.
15) OTMR: Você
consegue assistir aos espetáculos de outros colegas? Sobra tempo para isso?
VD: Eu
gosto de assistir mais a infantis do que adultos. Quando não estou com produção
em cartaz, assisto, sim.
"O Elixir..." (Foto: Dalton Valério.)
16) OTMR: Que
espetáculo(s) lhe chamou (chamaram) mais a atenção nos últimos tempos?
VD: “Makuru”
e “Era Uma Vez... Grimm” (Zé Mauro Brant e Tim Rescala), “Marina – A Sereiazinha” e “As Maravilhas do Fantástico Barão de
Münchausen” (Cia. Pequod), “O Moço que Casou com a Megera” e “Por
Que o Mar Tanto Chora?” (Cia. de Teatro Medieval), “Cabelos
Arrepiados” e “Ogroleto” (Karen Acioly), “Fonchito e A Lua”
(Pablo Sanábio), “Cirrano de Berinjela” (Cia. de Teatro
Artesanal), “A Viagem de Clarinha” (Cacá e Symone Strobel), “Maria Borralheira” (Augusto Pessoa), “Oikos” (Bondrés)... São muitos...
"O Barbeiro..." (Foto: Dalton Valério.)
17) OTMR: Que
“ingredientes” são necessários para se criar um bom texto
infantojuvenil?
VD: Um
tema que imanize, tema com base na vida real, que contribua para uma
convivência amorosa. As mazelas da vida não são nada fáceis de abordar, por
isso escolho contá-las através do gênero da fantasia. Opto por revelar o
ordinário, através do extraordinário. E com música, muita música e poesia.
"O Conto..." (Foto: Dalton Valério.)
18) OTMR: O
TEATRO INFANTOJUVENIL deve ser mais para entretenimento ou didático?
VD: Não
só o TEATRO INFANTOJUVENIL, mas qualquer criação, em qualquer setor,
deve servir à nossa experiência, nesse mundo, em que necessitamos de
autoconhecimento. E isso inclui o aprendizado e a leveza.
"N.I.S.E" (Foto: Dalton Valério.)
"N.I.S.E" (Foto: Dalton Valério.)
19) OTMR: Existem
temas com os quais as crianças mais se identificam ou aceitam? Quais seriam
eles?
VD: Crianças
são curiosas, são exploradas de universos. Mas descobrir mundos pode doer.
Sendo assim, eu acredito que pode ser mais convidativo explorar realidades,
através do gênero fantástico, da magia. Há uma frase de G.
K. Chesterton, de que eu gosto muito: “Contos de fadas são mais
que verdade; não porque nos dizem que dragões existem, mas porque nos dizem que
eles podem ser vencidos”.
"A Borralheira..." (Foto Dalton Valério.)
20) OTMR: A
pergunta cuja resposta já é esperada: É fácil encontrar patrocínios e apoios
para montagens de TEATRO INFANTOJUVENIIL?
VD: Editais
estão quase extintos, atualmente, e, quando há algum, você ainda precisa ser o
melhor. Precisa ter a melhor defesa, precisa que comprem a sua ideia, a sua
montagem, a sua história, o seu orçamento (Minhas montagens são sempre grandes.
Nunca consegui fazer um espetáculo pequeno.). Geralmente, os produtores têm o
prazo de 30 dias, para inscrever um projeto em um edital. Pois eu levo,
exatamente, 30 dias para entregá-lo. O meu café da manhã, meu almoço, meu
lanche da tarde, meu jantar, minha ceia, meus banhos são todos trabalhando no
projeto. Estudo, escrevo, reescrevo, reescrevo mais uma vez, mais dez vezes,
até me emocionar comigo mesma (Só para você ter uma ideia do quanto a gente tem
que aproveitar a oportunidade.). Dou a vida para um projeto inscrito em edital
sair bem pensado e escrito. Quando termino, preciso de férias; praticamente,
entro em coma.
"O Barbeiro..." Foto: Renato Mangolin.)
"O Barbeiro..." Foto: Dalton Valério.)
21) OTMR: É
preciso formar futuras plateias para o TEATRO. Você não acha que os
governos – municipal, estadual e federal - deveriam investir na área do TEATRO
INFANTOJUVENIL, ajudando nas produções e patrocinando montagens em Teatros
das redes públicas, principalmente, para que as escolas pudessem proporcionar,
a seus alunos, essa grande experiência? A grande maioria das crianças que
estudam em escolas públicas jamais foi a um Teatro. Você enxerga alguma
coisa nesse sentido?
VD: Não
enxergo. Estou bem desiludida com o governo. Esperança zero! Não vejo luz
alguma no fim do túnel. E eu não sou uma pessoa de esperar. O que eu acho é que
nós, produtores, autores, artistas em geral, neste momento, devemos vir para a
internet. Hoje em dia, uma ideia, um texto, um celular e um artista podem fazer
milagres. Temos que começar a plantar a semente da arte na internet. Acho que
estamos começando a fazer isso. E que façamos mais! Muitas crianças não têm
internet, claro, mas um enorme público que tem também nunca foi a um Teatro.
Temos que começar a agir por algum lugar. Parece-me ser o melhor, no momento.
As crianças e os jovens formam o maior público digital. Elas precisam entrar em
contato com a arte. Então, que seja pelo veículo digital também. Assim, mais
cedo ou mais tarde, elas sentirão a necessidade de experienciá-la,
pessoalmente. Incluo os responsáveis nesse pensamento, tanto crianças quanto
adolescentes e adultos. Tenho pensado assim, porque, se dependermos do governo,
abriremos mais uma igreja.
"O Barbeiro..." Arquivo Produção.)
22) OTMR: O
que você gostaria de dizer aos adultos, com relação ao TEATRO INFANTOJUVENIL
e a suas crianças?
VD: TEATRO
é conhecimento, é ganho de consciência. O que o TEATRO pode oferecer
nenhuma escola oferecerá, porque não se trata de teoria; trata-se de
humanidade. Uma escola não ensina como se comportar diante da morte. Uma escola
não ensina como levantar a cabeça, quando não acreditam em você. Não ensina a
ser pobre ou rico. Não ensina a dizer “Eu te amo!” nem a dar um
abraço em alguém que não tem mais esperança. Já o TEATRO... Sente-se em
uma poltrona de frente para o palco e você terá tudo isso e muito mais.
"Tra-Lá-Lá" (Fotos: Rafael Blasi.)
"Tra-Lá-Lá" (Fotos: Rafael Blasi.)
"Tra-Lá-Lá" (Fotos: Rafael Blasi.)
23) OTMR: Em
tempos de pandemia, como a VANESSA está se comportando, em termos de
produção e de planos para o tal do “novo normal”? Pode nos falar sobre
algum(ns) projeto(s), em mente ou já em andamento?
VD: Estou,
há quatro meses, praticamente, sem sair de casa. Minhas saídas foram em
momentos muito necessários mesmo. Estou escrevendo dois projetos. Uma nova peça
de TEATRO, adaptação de uma ópera de Tchaikovsky, chamada “Iolanta
– A Princesa de Vidro”, com patrocínio da Eletrobras Furnas (Faço questão
de falar de Furnas, porque eles são meus parceiros, desde 2012, e
são raras as empresas comandadas por uma equipe como esta, com um olhar muito
amoroso para o TEATRO e a arte). Estrearíamos em 2020, mas, agora,
por conta da pandemia, estrearemos em 2021. Fiquei pensando muito nesta
nova montagem e cheguei à conclusão de que estrearei no TEATRO, mas
darei continuidade a esse projeto na internet, logo após realizar a temporada
de dois meses. Eu escrevo, então pretendo transformá-la em uma novela para
crianças, na internet. Terei o cenário, os figurinos, a produção... Pretendo
convidar os atores para apostarem, seguindo nesse novo formato. Pretendo
misturar TEATRO com cinema. Penso que pode dar certo; pelo menos, na
minha imaginação, estou gostando bastante da ideia. Outra ideia que venho
desenvolvendo é uma série, com três temporadas, de 16 capítulos, chamada “InfinitaMente...
Crianças Inteligentes!” É uma série de fantasia, que mistura ciência e
espiritualidade. Penso que está na hora de a ciência rever muita coisa e eu
estou colocando a maior fé em que essa criançada que está chegando e que já
está por aí fará isso muito bem. Afinal, quando falamos de energia, estamos
falando de átomos. Penso que, quando essa união entre a ciência e a
espiritualidade acontecer, evoluiremos a inteligência, não só da mente, mas
também do coração. A série acabou me despertando a vontade de criar um canal no
YouTube. Estou investindo, com recursos próprios, já faz três anos.
Venho fazendo dessa maneira, porque preciso de que esse trabalho seja gratuito, na
internet, para todo o tipo de público e de todas as idades. É assim que
acredito nesse projeto. Não penso em vender para nenhum canal ou serviço de “streaming”
de vídeos. A ideia é começar a filmar em janeiro de 2021. Eu e Glauco,
meu marido, que é o cenógrafo, mais uma equipe incrível, que vem apostando
junto comigo todo esse tempo. A direção é do Daniel Herz. Estamos
trabalhando e fazendo tudo no seu devido tempo, com calma e qualidade. Essas
são as minhas próximas apostas e estou ansiosa por elas.
"Thomas..." (Foto: Dalton Valério.)
"Thomas..." (Foto: Dalton Valério.)
"Thomas..." (Foto: Dalton Valério.)
"Thomas..." (Foto: Dalton Valério.)
"Thomas..." (Foto: Dalton Valério.)
E VAMOS AO TEATRO (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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