terça-feira, 7 de julho de 2020


NA COXIA, COM... ...ALEXANDRE LINO.


Foto: Annelize Tozetto/Clix (Blogue do Arcanjo)


            Logo que iniciei o blogue, em 25 de agosto de 2013, tive a ideia de incluir, além das críticas, uma espécie de “sessão”, a qual batizei com o nome de “NA COXIA, COM...”, que não era nada diferente de uma entrevista com personalidades ligadas ao universo do TEATRO, com o único objetivo de saber um pouco de sua formação, vida profissional, curiosidades de admirador e crítico, além de planos e novos projetos, embora eu não tenha formação em jornalismo.

            Assim, cheguei a pôr em pratica a ideia, com nomes importantíssimos, dos palcos. Foram apenas cinco: PAULO CESAR MEDEIROS, NELLO MARRESE, CACÁ MOURTHÉ, GOTTSHA e JULIA SPADACCINI, não exatamente nessa ordem, todas as entrevistas publicadas em outubro e novembro de 2013. Depois, sem nenhum motivo especial, interrompi-as e, agora, em tempos de isolamento social, há, exatamente, 121 dias, 4 meses, sem ir ao TEATRO, para quem ia todos os dias, sem espetáculos para assistir e poder escrever sobre eles, decidi retomar a "sessão" e já tenho mais de 20 nomes que toparam fazer parte da proposta. E outros convites serão feitos.

            Para iniciar esta nova fase de “NA COXIA, COM..., escolhi um grande e querido amigo; uma unanimidade, como artista e como pessoa, no mundo teatral, o que não é muito comum acontecer: ALEXANDRE LINO.






Foto: Janderson Pires

            LINO é aquele que joga nas onze posições. É ator, diretor, produtor, empreendedor, com formação em cinema e especialização em TEATRO. Embora em casa, em isolamento social, sei que não está parado, porque isso não combina com ele. Na “Documental Cia”, de cujo repertório, constam vários espetáculos, todos sucessos de público e crítica, além de outros, que ele fez como convidado: “DOMÉSTICAS” (2012), “O PASTOR” (2013), “ACABOU O PÓ” (2014), “NORDESTINOS” (2015), “VOLÚPIA DA CEGUEIRA” (2016 – como diretor), “LADY CHRISTINY” (2016), “ ELES ERAM MUITOS CAVALOS” (2017 – como diretor), "ESTES FANTASMAS" (2017), “O PORTEIRO” (2017), “CAFONA SIM, E DAÍ? (2018 - como diretor), “O CEGO E O LUCO” (2019), “O SUBSTITUTO” (2019) e “O MARIDO DO DANIEL” (2019/2020), dentre outros, em 20 anos de carreira, comemorados no ano em curso.

            Há cerca de 10 anos, fundou a “Cineteatro Produções”, uma das mais ativas produtoras do Rio de Janeiro.






Foto: Janderson Pires


Foto: Janderson Pires


            O TEATRO ME REPRESENTA (OTMR): LINO, você nasceu em Gravatá, interior de Pernambuco, uma cidade cujos habitantes pouco contato devem ter com o TEATRO, apesar de ficar a menos de 90 km da capital, Recife. Como é que você o descobriu, em que circunstâncias e quando decidiu que o TEATRO era o que você queria, para a sua vida profissional?

            ALEXANDRE LINO (AL): Minha cidade, até hoje, não tem Teatros e nem cinemas, mas, quando criança, existia uma pequena sala de projeção, onde exibiam os filmes dos “Trapalhões”, e o circo era atração frequente na minha região. Aquilo me encantava imensamente, assim como as telenovelas. Minha inclinação foi natural. Sempre gostei do lúdico, da abstração e de arte em geral. Fui, desde cedo, me envolvendo com atividades artísticas, na escola, na igreja e em casa; era meu lugar de fuga. Aos 18 anos, decidi estudar e fazer carreira no Rio de Janeiro.





Foto: Janderson Pires

OTMR: Antes de se tornar ator, você teve alguma formação acadêmica em outra área e como foi sua formação no campo da Arte Dramática?

AL: Tenho formação técnica em contabilidade e diversos cursos preparatórios em TEATRO. Sou graduado em cinema e pós-graduado em Artes Cênicas.





Foto: Janderson Pires

OTMR: Você chegou a fazer TEATRO, antes de vir para o Rio?

AL: Só TEATRO amador, na igreja. Era o único espaço possível para um adolescente que frequentava muito pouco a capital. Morávamos próximos a Recife, mas minha família, muito conservadora, não proporcionava esse intercâmbio. Sem internet, as informações e contatos eram permitidos apenas nos períodos de férias escolares. Meus pais me autorizavam a viajar para a casa dos meus tios e, assim, descobri o TEATRO profissional, como espectador.






Foto: Janderson Pires

 OTMR: Como foram os primeiros passos, no Rio, em se tratando de TEATRO?

 AL: Cheguei ao Rio em 1993. Fui direto à procura de cursos. Nos anos 90, fiz diversos, na Escola Martins Penna e na FUNARTE. Naqueles anos, ofereciam, também, oficinas e “workshops”. Assim, tive a sorte de começar ouvindo Gilberto Gawronski, Suzana Saldanha, Nara Keiserman e Richard Riguetti. Naqueles anos, a UFRJ (curso de direção teatral) e a UNIRIO convidam ou aceitavam a participação de atores de fora da instituição, em montagens de final de curso de seus alunos. Também vivi experiências ótimas. Fiz 5 peças de Nelson Rodrigues, nesse formato, nos anos 90.






Foto: Janderson Pires

OTMR: Você tem explorado bastante, e bem, inclusive durante o isolamento social, nas mídias digitais, o delicioso personagem Waldisney, de “O PORTEIRO”, o que, aliás, daria um bom longa-metragem (Você, com sua formação em cinema, já deve ter pensado nisso muito antes de mim). Não tem medo de que possa haver um desgaste em função dessa exposição do personagem ou isso pode abrir portas para futuras aventuras de Waldisney? (Eu tenho muitas ideias para ele. Risos.)

AL: Tudo, nesta pandemia, é um risco imenso. Estamos navegando em terreno pantanoso e redescobrindo muito de nós mesmos e de nossa atividade. O resultado disso tudo não sabemos ainda, mas acredito que, entre acertos e erros, será muito bom. A utilização das mídias digitais é a maneira de deixarmos em evidência nosso trabalho e seguir dialogando com o público. Faço as “lives” com o Waldisney, atendendo a inúmeros pedidos de amigos e, especialmente, dos espectadores da peça, de vários lugares do Brasil. Acredito que isso tem sido bom para o personagem. Tenho dosado o tempo de exposição gratuita. Esse acontecimento me gerou trabalho remunerado para empresas, a publicidade começou a acenar e as outras possibilidades para “O PORTEIRO” só crescem. Ele tem muita história para contar ainda, e em diversos formatos.





Foto: Desirée do Valle

OTMR: Por meio do TEATRO, você se tornou uma espécie de “embaixador do nordeste”, no Rio de Janeiro, assumindo projetos e campanhas muito bonitas, que eu aplaudo de pé. Que tipo de retorno você percebe que vem recebendo, em função disso, e como se sente, assumindo esse papel?

AL: Depois da minha trilogia nordestina: “DOMÉSTICAS” (2012), “NORDESTINOS” (2015) e “O PORTEIRO” (2017), meu diálogo com os migrantes aumentou muito e foi natural que meu envolvimento também crescesse. Percebi que minha contribuição artística tinha muita importância, porque os meus conterrâneos se sentiam pertencentes e respeitados nesses trabalhos. Mas, agora, acometidos por essa tragédia, vi que tinha que fazer algo no campo social. Surgiu a campanha “NORDESTINOS CONTRA A PANDEMIA”. Outros amigos nordestinos se juntaram à causa e essa comunidade só se amplia. O poder público começa a notar e a querer diálogo conosco. Minha proposta será só uma: A EMBAIXADA NORDESTINA. Um local para orientação, encaminhamento e suporte ao migrante, especialmente, aos que acabam de chegar à cidade. Essas pessoas precisam se sentir acolhidas e saber como, onde e qual a melhor maneira de começar suas vidas na cidade que escolheram para viver.






Foto: Janderson Pires

OTMR: Sua parceria com o talentosíssimo DANIEL PORTO, um dos próximos entrevistados, já dura cerca de uma década. Acertei? Um casamento perfeito: pessoal - uma bela e sólida amizade - e profissional. Que relação precedeu a outra? Foi você quem descobriu o DANI dramaturgo?

AL: Conheci o DANIEL quando estreamos “DOMÉSTICAS” (2012) no Teatro FIRJAN SESI Centro. Ele era técnico no Teatro. Percebi nele o mesmo encantamento, o desejo de aprender e a seriedade que eu nutro, até hoje, pelo meu ofício. Vi nele o jovem que fui outrora. Toda equipe ficou apaixonada por ele e era natural falarmos muito sobre Teatro, em geral. Ele já tinha escrito alguns contos e me apresentou a eles. Gostei muito de sua escrita e sugeri que ele escrevesse, a partir de um argumento meu, “O PASTOR”. Deixei claro que não havia o compromisso de montar a peça. Para isso, eu teria que gostar da obra. O resto da história você sabe bem. Nasceu, ali, um autor, uma grande amizade e meu melhor parceiro no Teatro. Já somamos 14 peças juntos e uma relação que desejo pra vida toda.





Foto: Janderson Pires

OTMR: Você é dos raros atores que dominam, com facilidade e naturalidade, três mídias totalmente diferentes de se atuar: TEATRO, TV e cinema. A pergunta é bastante “batida”, mas eu não sou jornalista e o que me interessa aqui é a justificativa: Em qual das três prefere atuar e por quê? E, aproveitando, acoplo outra pergunta relacionada à anterior? Em qual das três se sente menos confortável e por quê?

AL: Minha formação é em cinema e Artes Cênicas. Mas o palco é o lugar onde estabeleci minha carreira e onde me sinto mais em casa. A transposição para a TV foi natural. Apenas nos primeiros trabalhos, você sente mais a diferença de tempos e temperaturas na atuação. No TEATRO, o corpo fala muito mais e tudo é mais largo. No audiovisual, buscamos a economia sem perder a emoção e intensidade. É natural que se leve um tempo, para que essas diferenças se tornem orgânicas. Depois se torna um prazer imenso transitar pelo TEATRO, TV e cinema, justamente por essas diferenças. Hoje me sinto igualmente confortável nos três veículos e vivendo, do mesmo modo, as dificuldades que cada um apresenta, em cada novo trabalho.





Foto: zero8onze Photo Cine (aguinaldo Flor / Fernando Cunha Jr.

OTMR: Apesar de seus projetos, em TEATRO, serem sempre vitoriosos, você já deve ter recebido alguma crítica negativa que lhe tenha desagradado, não por ela, em si, mas por não a achar pertinente. Sim ou não? Em caso afirmativo, sem citar nomes, evidentemente, poderia nos dizer qual?

AL: Já tenho no currículo 20 peças como ator profissional. Sou um homem de sorte no diálogo com o público e com os críticos. Ambos gostam bastante do meu trabalho e isso é uma honra e privilégio. Tive, em alguns trabalhos, tropeços, que eu mesmo entendo que, hoje, faria melhor, mas houve um episódio em “LADY CHRISTINY”, em que um crítico disse que a peça era um “desserviço”. Isso, unicamente, por discordar da visão conservadora da travesti (personagem real) e não analisar a amplitude daquela provocação. Talvez tenha esquecido, naquele impulso, de analisar o TEATRO, a função da arte, e não trocar isso por imprimir, na sua crítica, uma opinião estritamente pessoal.





Foto: Janderson Pires

OTMR: Como é seu método de trabalho, quando está na pele do diretor, nas experiências que já teve nessa função?

AL: Sempre gostei de ser dirigido por diretores que também fossem atores ou que já tivessem atuado. Nunca gostei dos encenadores ou arrumadores de cena. O ator está para o TEATRO assim como o TEATRO está para o ator. Não precisamos de mais nada, no palco, além de um ator. Isso é o belo maior das Artes Cênicas. Uma herança milenar e definitiva. Então, quando dirijo, coloco-me como um colega, que está ali para descobrir algo novo com seus amigos. Tenho conceito, linguagem e método dos quais não abro mão, mas me projeto nos atores todo tempo, para entender suas dores, dificuldades e, daí, poder resgatar deles o essencial e mais precioso para o trabalho.




Foto: Cristina Granato

OTMR: Pode nos falar sobre algum(ns) projeto(s) que está/estão sendo pensado(s) e/ou já desenvolvido(s) durante o atual confinamento?

AL: Tenho um projeto intitulado “FILMES CURTÍSSIMOS”. São obras de curta duração (de até 3 minutos), que são observações sobre o dia a dia na pandemia. Arte no isolamento. Sou o próprio objeto de estudo. Já temos 15 títulos prontos e os filmes começaram a circular. O IMS (Instituto Moreira Salles) e a Mídia Ninja selecionaram-nos, para projetá-los em 10 cidades do Brasil, e outro projeto similar, na Argentina, também agregou alguns dos meus curtíssimos para um longa. Além disso, estou, regularmente, experimentando conteúdos e formas, para plataformas diversas. Vou dirigir “LA PARESSE”, de DANIEL PORTO, no Teatro, quando reabrirmos, e farei alguma nova obra como ator, certamente.



Fotos: Janderson Pires

OTMR: O nosso futuro, como Humanidade, é completamente uma incógnita, pós-pandemia. Disso, acho que ninguém tem dúvidas. No que concerne ao TEATRO, quais as suas previsões com relação a quando teremos sessões “normais” ou como deve ser essa volta à “normalidade”?

AL: Neste momento, é observar como o mundo se comporta e tentar absorver as melhores soluções. A Europa já está dando ótimos exemplos. Claro que nossa realidade cultural e disciplinar não é compatível, mas, no que depender de nós, artistas, só iremos nos expor com segurança e nos espaços que garantam proteção a nós e ao público. Infelizmente, este está sendo um ano triste para o nosso TEATRO. Talvez, só voltemos, de fato, em 2021, mas é tentar fazer, da tragédia, oportunidade. E, disso, gerar novos experimentos a serem apresentados, ao vivo, ao grande público. A volta será lenta, mas o impacto será grande. Torço!



Lino e eu - 1
Foto: Marisa Sá

OTMR: O ator consciente tem uma grande importância como agente transformador de uma sociedade, uma vez que essa é uma das mais importantes funções do TEATRO. Como você se situa quanto a isso? Em outras palavras, até que ponto você tem consciência da sua importância como agente transformador, por meio da arte e da cultura?

AL: Acredito que somos agentes transformadores, quando executamos, com dignidade, nossa profissão e nos preocupamos com o outro.  Isso vale para qualquer profissão. No meu TEATRO, tenho o compromisso em transpor a realidade para os palcos, sem agredi-la ou romantizá-la, e, sobretudo, não criar uma arte intimidadora. Acredito no TEATRO DO PERTENCIMENTO, que dialogue com a educação e inclua o público como personagens. Somos todos transformadores e passíveis de transformação a vida inteira.   



Lino e eu - 2
Foto: Marisa Sá





  E VAMOS AO TEATRO (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!


OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!


A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!


RESISTAMOS!!!


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O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!
















































































Um comentário:

  1. Amei matar saudades de Lino❤️ Muito maravilhoso 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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