MEU
SERIDÓ
(O SERIDÓ É NOSSO.
ou
SOMOS TODOS SERIDÓ!!!)
Em abril deste ano (2019), mais uma vez,
fui convidado, pelo SESC, para participar dos eventos de abertura do Projeto
Palco Giratório, o que acontece, a cada ano, numa capital diferente. Neste,
foi em Natal, Rio Grande do Norte. Quem estiver interessado em detalhes,
acesse o seguinte “link”, que contém um artigo que escrevi
sobre o Projeto, à época, no meu blogue: http://oteatromerepresenta.blogspot.com/2019/04/projeto-palco-giratorio-2019-sesc.html.
Uma
das atrações, talvez a mais aguardada de todas, é, no último dia do evento, a
apresentação de um espetáculo teatral, escolhido dentre os que foram
selecionados para “girar”, pelo Brasil, graças ao Projeto. A peça
com que nos brindaram, fechando, com chave de ouro, a festa de encerramento,
foi “MEU SERIDÓ”, uma produção da CIA. CASA DE ZOÉ, sediada
na cidadã anfitriã. O espetáculo fez, em agosto, dos dias 8 a 11,
no seu “giro”, apenas quatro apresentações no Rio de Janeiro, em
unidades diferentes do SESC (SESC Ginástico, SESC São João de Meriti, SESC
Tijuca e SESC Nova Iguaçu, respectivamente), e, infelizmente, embora muito
desejasse, não consegui disponibilidade, na agenda, para revê-lo. Torci muito
para que conseguissem fazer uma temporada por estas bandas, até que, para a
minha surpresa e imensa alegria, recebi convite para uma curtíssima temporada de
“MEU SERIDÓ”, no Teatro de Arena da Caixa Cultural. Não pude
deixar de ir no dia da estreia (VER SERVIÇO.), mesmo sob forte temporal,
que não me impediu de matar meu incomensurável desejo. E voltei três dias depois, num domingo.
Trata-se de um espetáculo de
refinadíssima qualidade e bom gosto, uma montagem muito bem cuidada, que
vem arrancando, como naquela noite, em Natal, muitos aplausos, em todas
as praças que tem percorrido. E não poderia ser diferente, no Rio. Um
grande sucesso, de público e de crítica.
No artigo acima referido, prometi que,
quando, e se, a peça viesse para o Rio, eu escreveria a crítica
que ela merecia, o que faço agora, ainda que de forma um tanto superficial, em
função dos atropelos de final de ano, quando o tempo cronológico parece
aumentar sua velocidade e o psicológico nos atormenta, uma vez que não
conseguimos dar conta de tudo o que temos para fazer. Creio, porém, que vou
conseguir condensar, em palavras, o que esse espetáculo desperta em mim
e me provoca a vontade de revê-lo todos os dias.
SINOPSE:
Você conhece
o Seridó?
Fica no sertão
do Rio Grande do Norte, e um espetáculo teatral resolveu
trazê-lo até as pessoas, pelos palcos da vida.
"MEU
SERIDÓ" proporciona um passeio imaginário e delirante por
esse lugar arcaico e mítico.
Um território
nostálgico, de arengas e amores.
Em apenas 65
minutos, dez mil anos passarão diante de seus olhos.
Universal, ao
falar da própria aldeia, "MEU SERIDÓ" versa, acima
de tudo, sobre o mais atual (e eterno) dos temas.
Trata da relação
do Homem com a Terra – que, nos últimos tempos, infelizmente, vive um
grave impasse.
Tudo, é claro,
com muito humor, música e boas doses de reflexão.
A peça apresenta
um olhar poético e divertido sobre a origem e os costumes da região do SERIDÓ,
terra natal da atriz TITINA MEDEIROS, idealizadora da montagem.
A CASA DE ZOÉ é uma produtora,
idealizada pela atriz TITINA MEDEIROS, em Natal, Rio
Grande do Norte, com o intuito de promover encontros artísticos e suas
derivações criativas. Tendo como seu primeiro grande projeto o espetáculo “MEU
SERIDÓ”, essa realizadora de arte e cultura tem sua ênfase
voltada para o TEATRO, mas já vem despontando com projetos em
diversas outras áreas de expressão artístico-cultural.
O espetáculo é fabuloso, porque, de forma lúdica, porém provocando
muitas reflexões a respeito do nosso passado histórico, refletido e projetado
no presente que, infelizmente, ainda vivemos, diverte e nos proporciona o
prazer de ver um trabalho de interpretação tão correto, feito por
um quinteto de admiráveis atores / músicos – TITINA MEDEIROS,
NARA KELLY, CAIO PADILHA, MANU AZEVEDO (substituta eventual),
MARCÍLIO AMORIM e IGOR FORTUNADO -, sob uma criativa e
enriquecedora direção, de CÉSAR FERRARIO, para um rico
e bem escrito texto, de FILIPE MIGUEZ, que partiu de
uma profunda e profícua pesquisa, de LEUSA ARAÚJO.
É bem possível que aqueles que não
assistirem a “MEU SERIDÓ” continuarão com uma imagem embaçada,
distorcida, falsa e incompleta do nosso passado histórico, da formação da nossa
cultura e de nossa gente, tudo muito parecido, guardadas as devidas proporções,
em todo o território nacional, aqui representado por um pedaço de Brasil,
situado no sertão da região nordeste brasileiro, abrangendo dois
estados, Rio Grande do Norte e Paraíba, uma localização interestadual,
portanto, oriunda da antiga região da Ribeira do Seridó, abrangendo
vários municípios daqueles dois estados.
“Há
divergências quanto à origem do topônimo ‘Seridó’. Segundo o folclorista e
historiador Luís da Câmara Cascudo, vem do linguajar dos tapuias, transcrito como ‘ceri-toh’, que
quer dizer ‘pouca folhagem e pouca sombra’, em referência às características da
região. No entanto, existe o fato de que os colonizadores eram cristãos-novos, descendentes de judeus, os termos "sarid" e
"serid", seriam oriundos do hebraico, que significaria ‘sobrevivente’ ou ‘o
que escapou’. Ou, ainda, ‘she'erit’, no sentido de ‘refúgio dEle’ ou ‘refúgio de Deus’”. (Wikipédia).
Essa questão, inclusive, está inserida no texto da peça. Qualquer hipótese etimológica do nome da
região, dentre as três apresentadas, poderia ser aceita, entretanto,
considerando as características climatológicas do lugar e um quase “oásis’, que
ele representa, com relação à totalidade do nordeste brasileiro, embora também
com temperaturas elevadas e sofrendo os impactos da seca, eu ficaria com as
duas primeiras. Mas isso não vem tanto ao caso, com relação à peça;
apenas como uma ilustração. Ou não?!
Sobre a montagem, extraído do “release”,
enviado por CATHARINA ROCHA (MÁQUINA DE ESCREVER COMUNICAÇÃO), assessora
de imprensa, “‘MEU SERIDÓ’ nasceu de um desejo da atriz TITINA
MEDEIROS, de falar sobre o seu lugar de origem, a região do Seridó, no sertão
do Rio Grande do Norte. Pensado, inicialmente, como um espetáculo solo, o
projeto ganhou maiores proporções, com a chegada do dramaturgo FILIPE MIGUEZ e
do diretor CÉSAR FERRARIO. Em cena, TITINA passou a ter a companhia dos atores NARA
KELLY, IGOR FORTUNATO, CAIO PADILHA – assinando, também, a trilha sonora – e MARCÍLIO
AMORIM. A pesquisadora LEUSA ARAÚJO conduziu a equipe, numa árdua pesquisa
histórica, com imersões no próprio Seridó. Foram oito meses de montagem, com 25
profissionais envolvidos (...).”.
Pegando carona nas palavras de TITINA, “O
espetáculo conduz o público, em um passeio imaginário e delirante, por um lugar
arcaico e mítico, no sertão potiguar, com um tom nostálgico de arengas e amores.”.
Mas não é que é isso mesmo o que se vê em cena?! E muito mais! Parodiando Shakespeare,
com o máximo atrevimento, posso afirmar que há mais coisas entre o céu e a terra do Seridó do que
pode imaginar nosso vão conhecimento. E ficarão, mesmo, sem conhecer os que não
assistirem à peça. E vale tanto a pena conhecer tudo sobre o Seridó!!!
“A
nossa narrativa não tem um compromisso histórico. Ela tem seu início através de
uma menção ao plano mítico do Seridó, onde o Sol e a Terra disputam o amor de
Chuva.”, explica o diretor da peça,
CÉSAR FERRARIO. A intenção de mostrar uma evolução, do ponto de vista
histórico, da região, a constituição de seu povo e sua cultura, é de
suma importância, no espetáculo, entretanto isso não é apresentado num formato
didático, que, certamente, não agradaria tanto ao público. Há um toque de poesia
e de misticismo, os quais dão o pontapé inicial para a narrativa, mais
do que imprescindíveis e super enriquecedores, sem que nos esqueçamos do bom
humor e da música, dois grandes atrativos da montagem. E a teatralidade, é óbvio!
“Para
FERRARIO, essa é uma fábula muito coerente com as questões que atravessam toda
a história de qualquer lugar sertanejo e seu imaginário. ‘A partir disso, ela
transita pela história do Seridó em seus espelhamentos terrenos, desde a
chegada do homem andino até a vinda do vaqueiro e do português. O
entrelaçamento dessas raças perpassa as histórias que vão sendo contadas ao
longo do espetáculo’”., completa.
Ignorante
confesso, até ter conhecido a peça, das particularidades do Seridó,
posso assegurar que a pesquisa, de LEUSA ARAÚJO foi bastante
profunda e merece nossos aplausos, do mesmo modo como o texto, de FILIPE
MIGUEZ, escrito com muito critério, esmero e cuidado formal, procurando
deixar bem explícitos todos os fatos, mantendo um nível popular, no melhor
sentido do adjetivo, de “ao alcance de todos”, sem erudição nem
rebuscamentos.
A
pesquisa “mergulhou à profundidade” de dez milênios, para
encontrar provas dos primeiros seres humanos que habitaram a região.
Felizmente, LEUSA não é “terraplanista” e aceitou as
evidências científicas encontradas em seu árduo trabalho. (Momento
descontração.) Há, no texto – não poderia deixar de fora o registro
-, uma brincadeira, abordando a passagem, pela região, de um certo “homo
seridoenses”, representado por um pequeno boneco. Depois, é a vez da
chegada de um povo andino, de indígenas, do vaqueiro anônimo e dos portugueses,
em dez mil anos. Quanto aos lusos, considerando-se a presença,
até hoje, de costumes judaicos, ou a eles semelhantes, na cultura seridoense,
não é possível determinar, parece-me, se, realmente, os d’além-mar que,
primeiro, lá se estabeleceram foram os portugueses cristãos ou os judeus
convertidos ao cristianismo. O fato é que, como em todo o território nacional,
formou-se uma grande miscigenação.
Considero uma tarefa bastante difícil, para qualquer dramaturgo,
reunir dados, coletados numa pesquisa científica, como foi o caso de FILIPE
MIGUEZ, e transformá-los em histórias, em forma de dramaturgia,
ou melhor, uma excelente dramaturgia, no que resultou “MEU SERIDÓ”,
preservando, o autor, todas as informações e dando vida e ação a vários personagens,
como JOSÉ DE AZEVEDO DANTAS, PAJÉ CUÓ, o português RODRIGO DE
MEDEIROS, MARIA PARAIBANA, JOSEFA MENINA e tantos outros, vividos
por apenas cinco atores, os quais seguem um texto escrito em versos,
na sua maior parte, outro detalhe importante e difícil de ser atingido em bom
nível, como ocorre aqui, alguns com rimas ricas ou, até, preciosas. A ideia de
juntar, aos fatos históricos, o tom poético e mítico, que dá início à peça,
com bastante ênfase, e reaparece, no seu final, de forma mais meteórica,
parece-me um grande achado, assim como todas as metáforas que o texto
encerra. Ele diz, com todas as letras, e, também, sugere, com todas as
entrelinhas. A contenda entre o Sol e a Terra, na disputa pela Chuva,
tão importante para o Chão, contando com um pouco de participação do Vento
é um dos melhores momentos do espetáculo e serve para dar o seu tom e
prender a atenção do espectador, até a última cena. Também encontramos, no texto,
detalhes que podem sugerir relação com o atual momento político e sociocultural
por que passa o Brasil. E como é fácil, para MIGUEZ, inserir o humor,
no seu texto, com o objetivo de fazer críticas e dizer coisas sérias! Podemos
afirmar, creio eu, que, para atingir a todos, FILIPE se utiliza de uma linguagem
universal, muito expressiva pelo gestual, também, porém não abre mão – e, se
o fizesse, o texto seria “falso” – de palavras e termos regionais,
“certeiras”, no dizer de TITINA MEDEIROS, como como “arenga, acauã, caatinga,
chocalhos, juremas, ribeiras e curimatã, o peixe (...)”, além de abestado,
apois, bolacha seca, carecer, caritó, eita,
cabra da peste, mainha, oxente, vixe...
Filipe Miguez, o dramaturgo.
CÉSAR
FERRARIO, a partir de um excelente texto, ergueu o espetáculo
com uma proposta lúdica e dinâmica, dentro da seriedade que há, no
fundo, na temática abordada. Apesar de, na ficha técnica, o gênero
do espetáculo aparecer como “drama”, eu diria que se trata de uma
comédia dramática; acho mais adequado, mais apropriado. Não que o
objetivo primeiro da peça seja fazer rir,;longe disso -, entretanto FERRARIO encontrou
ótimas soluções para as cenas, ou a maior parte delas, engraçadas, de modo a
deixar a narrativa leve, solta, jocosa e, ao mesmo tempo, profunda, provocando
reflexões, por trás dos risos. É certo que o material humano à sua disposição deve ter-lhe
facilitado bastante o trabalho, entretanto, é incontestável a excelente
qualidade de “maestro” do grupo, com marcações exatas, tirando, de cada ator,
o tom na medida para cada personagem, valorizando todos os aspectos do texto
já aqui citados (história, humor, poesia e misticismo). A direção nos
surpreende, a cada cena, com uma novidade, cada uma mais interessante que a
outra, em termos de criatividade.
César Ferrrio, o diretor.
Sinto pena de quem não consegue ter acesso ao TEATRO,
fixando-se na TV e, raramente, no cinema, e fica achando que
sabe o que é ser um bom ator. Nada contra os dois últimos veículos de mídia - muito pelo contrário - nem estou querendo dizer que, neles, não haja bons e, até mesmo, ótimos
profissionais da representação –, mas é porque, antes, sabem fazer bem TEATRO -, entretanto é
indiscutível – e já perdi a conta de quantas vezes já disse isso – que é no TEATRO
que se identifica quem tem, verdadeiramente, talento para a atuação. Porque
é real, não dá para repetir, enganar; não há como regravar; é preciso ter “jogo de cintura”, para
enfrentar o que não estava previsto nem ensaiado; saber improvisar, quando
necessário. É preciso ter muita garra e determinação, além de um desapego ao
“glamour”. Também
tenho piedade dos que acham que só no eixo Rio/São Paulo se faz TEATRO de
excelente qualidade. O elenco de “MEU SERIDÓ” é constituído por atores de TEATRO, da melhor
estirpe, sem exceções: TITINA MEDEIROS, NARA KELLY, CAIO PADILHA, MANU AZEVEDO ("stand-in"), MARCÍLIO AMORIM e IGOR FORTUNATO. Há um perfeito nivelamento de talento entre o quinteto, um entrosamento total, e
cada um, a seu modo e à sua hora, destaca-se dos demais, formando o todo, um
dos elencos mais coesos que já vi atuando. Não farei nenhum destaque, pois não
teria como proceder a isso. Além de grandes atores, ainda se defendem, bem, cantando e
tocando instrumentos musicais. Na primeira vez em que assisti à peça, no Rio, TITINA MEDEIROS foi muito bem substituída por MANU AZEVEDO.
Como
é talentoso JOÃO MARCELINO, responsável pela plasticidade do
espetáculo, como artista criador do que, na ficha técnica, é
identificado como direção de arte, abrangendo cenografia, figurinos
e iluminação (Apenas a que faz parte do cenário.)! São três
trabalhos bem distintos, via de regra, executados por profissionais diferentes,
cada um na sua área, mas, indubitavelmente, são três elementos que dialogam
entre si, e nem poderia ser de outra forma. Como, no caso, cenografia e figurinos foram idealizados
por um só grande artista de criação, tudo é ótimo e não há como
se atribuir um destaque maior a um deles. Temos, sim, que reservar, a
MARCELINO, um aplauso múltiplo.
A
cenografia pode ser considerada simples, sem muitos elementos fixos, no espaço
cênico, entretanto o que há de adereços – aí já entra, também, a mão
do figurinista – é de uma riqueza a toda prova. Cada objeto
acrescentado a uma cena traz consigo uma carga significativa incrível. As
molduras, que ficam ao fundo, fixas, nas quais os personagens se
enquadram, são um elemento muito importante no conjunto da obra. Lembram aqueles
retratos na parede, dos velhos patriarcas das famílias, mormente do interior.
As gerações perpetuadas.
Um
elemento de cena, que eu não saberia descrever, precisamente, uma grande “engenhoca amorfa”, também é bastante bem explorado, em
várias cenas, desdobrando-se em muitas utilidades, assumindo diversas posições em cena, reservando-nos ótimas surpresas.
Os
figurinos, os quais vão sendo montados sobre uma base, de acordo com cada um dos vários personagens, com o acréscimo
de outras peças e de muitos adereços, são alegres, coloridos,
criativos e lúdicos, além de apresentarem detalhes que provocam risos, por sua
exuberância e “ousadia”.
A
iluminação, propriamente dita, o desenho de luz, da lavra de RONALDO COSTA, independentemente das variações de intensidade e de cores,
de acordo com cada cena, traz um detalhe muito interessante, representado por
muitas gambiarras, que fazem parte do cenário, como já foi dito, idealizadas por JOÃO MARCELINO, cruzando o alto do espaço cênico, com pequenas
lâmpadas coloridas, as quais ficam acesas a maior parte do tempo, lembrando as
festas da roça, dos quintais do interior, ou quermesses de igrejas interioranas.
Muito bonito e ótima ideia! Afora isso, é muito variada a paleta de cores empregada, criando imagens de raro encanto e beleza, servindo para realçar detalhes de cada cena.
E
o que dizer da corretíssima direção musical, assinada por CAIO
PADILHA, com trilha sonora original, com raríssimas adaptações,
executada ao vivo, apoiada em vários ritmos sertanejos, como o xote, o baião, o
forró pé de serra, a ciranda, havendo espaço, também, para um “vira” ou “fado português”? Nada,
além de excelente! Melodias que ficam retidas nos nossos ouvidos e letras
muito bem construídas; as sérias e as cômicas. CAIO também vive,
paralelamente, da música, tendo iniciado sua vida artística como compositor, participando de festivais de música, além de ministrar aulas de rabeca, um
dos instrumentos que toca na peça. Ele também já se apresentou, diversas
vezes, no exterior e tem discos gravados.
Há
certos detalhes, nesta montagem, que ficam marcados, para os
espectadores, por seu nível de criatividade, beleza e poesia, como, por
exemplo, o fato de os atores entrarem em cena e permanecerem
completamente mudos e estáticos, por um longo tempo, dois de um lado e três do
outro, olhares fixos, um no olho do outro, como se ignorassem o público. Soa
como uma provocação, que, na verdade, incomoda um pouco, mas se trata de uma
excelente estratégia da direção, para captar a atenção do público,
podendo, também, como decodifiquei, significar o silêncio do sertão, quebrado,
vez ou outra, pelo som emitido por um animal ou, talvez, pelo sino que os bois
carregam ao pescoço.
Nem
tanto original, mas muito significativo é o fato de um dos atores, logo
na abertura do espetáculo, quando começa a descrever o Seridó,
num belo e simples ritual, despejar, sobre o círculo de linóleo, que cobre o
piso do Teatro, um punhadinho de terra, que diz ser ter vindo do Seridó.
Ele, representando todos os colegas de cena, leva, literalmente, o Seridó
a qualquer parte em que a peça esteja sendo encenada.
O emprego do recurso de utilizar a linguagem de
radionovela também é muito bem inserido, no espetáculo, e
excepcionalmente executado, com alguns atores dando, ao fundo, as falas
dos personagens, os quais, representados por outros atores, só fazem mímica, à frente. A trama envolve JOSEFA
ARAÚJO PEREIRA, filha do fundador, e CAETANO DANTAS CORREIA. Aqui,
entra a provocativa questão do papel da mulher dentro da sociedade seridoense,
representando, na verdade, um microcosmo de um Brasil da época. (Eu
disse “da época”?).
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia:
Filipe Miguez
Pesquisadora:
Leusa Araújo
Direção: César
Ferrario
Elenco: Titina
Medeiros, Nara Kelly, Caio Padilha, Manu Azevedo ("stand-in"), Marcílio Amorim e Igor
Fortunato.
Direção de
Arte (Cenografia, Figurino e Iluminação) João Marcelino
Direção
Musical: Caio Padilha
“Design” de
Luz: Ronaldo Costa
Equipe de Cenotécnica
e Montagem: Janielson Silva e Sandro Paixão
“Designer Gráfico: Filipe Marcus
Fotografia e Vídeos: Kennel Rógis e Bruno Martins
Mídias
Sociais: Nathalia Santana
Produção
Executiva: Arlindo Bezerra
Assistência de
Produção: Talita Yohana
Produção Rio
de Janeiro: Carin Louro
Operação de
Luz: Janielson Silva
Operação de
Som: Sandro Paixão
Assessoria de Imprensa: Catharina Rocha – Máquina de Escrever Comunicação
SERVIÇO:
Temporada: De 12 a 22 de dezembro de 2019.
Local: CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Teatro de
Arena.
Endereço: Avenida Almirante Barroso, 25, Centro – Rio
de janeiro (Metrô e VLT: Estação Carioca).
Capacidade: 176 lugares (mais 4 para cadeirantes).
Dias e Horários: De 5ª feira a domingo, sempre às
19h.
Informações: (21) 3980-3815.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00
(meia entrada). Além dos casos previstos em lei, clientes CAIXA pagam meia
entrada.
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De
terça-feira a domingo, das 13h às 20h.
Duração: 65 minutos.
Classificação Indicativa: Não recomendado para
menores de 12 anos.
Gênero: Drama.
Acesso para pessoas com deficiência.
Bate-papo (Resenha para a plateia):
Dias 12 e 19 de dezembro de 2019 (quintas-feiras), após o espetáculo.
Duração: 40 minutos.
Classificação Indicativa: Não
recomendado para menores de 12 anos.
Encontro
“Prosa com quem escreveu”, com Filipe Miguez e Leusa Araújo: Dia 13 de dezembro
de 2019 (quarta-feira).
Horário:
das 16h às 18h.
Capacidade:
176 lugares.
Entrada
franca.
Classificação
Indicativa: Não recomendado para menores de 16 anos.
Oficina “Estar atento ou o exercício
da escuta, na construção do ator”, com Caio Padilha e Nara Kelly: Dia 17 de
dezembro de 2019 (terça-feira)
Horário: Das 14h às 18h.
Vagas: 25.
Inscrições: Gratuitas, pelo e-mail
contatocasadezoe@gmail.com
Classificação Indicativa: Não
recomendado para menores de 18 anos.
“MEU
SERIDÓ” carrega, no seu bojo, boas doses de humor e teatralidade,
poesia e misticismo, verdade histórica e “oniricidade”
(Acabei de criar um substantivo que se relaciona ao adjetivo “onírico”.
Adoro neologismos!), sendo “uma fábula que traz temas como a
condição da mulher no sertão, a extinção do indígena em detrimento do boi, a
desertificação e questões que atravessam a história de qualquer lugar sertanejo
e seu imaginário”.
O trabalho de todos os envolvidos neste grandioso
projeto deve ser exaltado e supervalorizado, e confesso que, desde a
primeira vez em que vi o espetáculo, realizado num local improvisado, um
salão de festas de um hotel, na orla de Natal, com tudo dando certo,
custou-me muito crer que se tratava da primeira produção da CIA. CASA
DE ZOÉ.
Só lamento que a temporada, que se encerra no
próximo domingo, 22 de dezembro (2019), tenha sido tão curta e realizada
num Teatro que comporta um pequeno público. Que os DEUSES DO TEATRO,
na sua “divina” sabedoria, possam abrir novas pautas para esta produção,
que é motivo de grande orgulho para os brasileiros!
O que estão esperando mais? Que eu RECOMENDE O
ESPETÁCULO? E precisa?! OXENTE!!!
SE AVEXA NÃO, CABRA?!
(FOTOS: KENNEL RÓGIS
e
BRUNO MARTINS.)
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS
DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
CENSURA NUNCA MAIS!!!
(GALERIA PARTICULAR.
FOTOS: MARISA SÁ.)
Com Marcílio Amorim.
Com Nara Kelly e Caio Padilha.
Com Igor Fortunato.
Com Igor Fortunato.
Com Titina Medeiros.
Com Titina Medeiros.
Com o elenco e amigos.
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