terça-feira, 10 de dezembro de 2019



CABARET

AUTOFÁGICO

(O TÍTULO É AUTOEXPLICATIVO.
ou
O BOM TEATRO DE REVISTA
NÃO MORREU.)






            Uma das características das minhas críticas é o fato de serem muito detalhistas, o que acaba por torná-las longas. Recebo, vez por outra, críticas negativas, com relação a esse detalhe, entretanto é assim que sei escrever e é dessa maneira que me satisfaço. E não pretendo mudar. Às vezes, porém, não preciso de muitas palavras, para avaliar um espetáculo, sempre lembrando que, se decidi escrever sobre ele, foi porque me agradou, uma vez que ignoro, em termos de críticas, o que vejo de “regular”, “ruim” ou “péssimo”. Não perco o meu tempo nem, de certa forma, prejudico aqueles que, sempre, se empenham, para fazer “o seu” melhor.




            Confesso, e jamais terei vergonha de dizer, que fui assistir ao espetáculo aqui analisado, bastante cético; fui mais por curiosidade, pensando, porém, que iria encontrar um determinado tipo de espetáculo, no gênero (Teatro de Revista), que, na quase total maioria das vezes, não me agrada nem um pouco. Achei até que poderia voltar para casa aborrecido, uma vez que, nesse tipo de peça, os atores costumam, quase, exigir a participação da plateia, em números interativos, que eu detesto, uma vez que não vou ao Teatro para servir de chacota nem de vitrina para “sarros alheios”. O espectador merece e tem de ser respeitado.




            Sei que é difícil pensar num espetáculo, cujo título é “CABARET AUTOFÁGICO”, sem achar que não vai acontecer aquele tipo desagradável de invasão de privacidade, de molestação; mas isso é possível, sim. No “CABARET AUTOFÁGICO”. Há a participação do público? Sim. Os atores, uma vez ou outra, fazem convites e não obrigam ninguém a se expor. O espectador é respeitado. E o resultado é que todos embarcam na proposta, porque, nela, existem respeito, empatia e bom gosto, nas brincadeiras. É assim “CABARET AUTOFÁGICO”. Acho até que quero rever o espetáculo, se tiver disponibilidade na agenda, porque estou precisando me divertir muito, para não surtar, por conta do que nos mostram, todos os dias, os noticiários, em todas as mídias.




            Como disse, num dos subtítulos desta crítica, o título é autoexplicativo. É um cabaré, na sua forma. O adjetivo “autofágico” se justifica pelo fato de, “ao pé da letra”, “autofagia” significar “o ato de o homem ou animal nutrir-se da própria carne”. Aplicado o conceito à peça, os atores, e também o público, se alimentam das críticas a tudo de mal por que passam, culpa da “otoridades” governamentais. Essa “autoalimentação” é o que nos fortalece, para que o nosso grito seja cada vez mais alto e se faça ouvir.









SINOPSE:

Mediante a necessidade de repensar o Brasil atual, o espetáculo “CABARET AUTOFÁGICO” propõe uma tentativa / convite de despertar a sensibilidade existente nas relações humanas, a partir das nossas raízes e origens, valorizando textos, músicas e poesias nacionais, explorando a potência do coletivo e reagindo a este momento conturbado com ARTE, alegria e ironia.







            O espetáculo não é inédito, no Rio de Janeiro, já que foi encenado na CAL (Casa de Artes das Laranjeiras), em 2016, com direção de ADRIANA MAIA, inspirado no movimento dadaísta que, no início do século XX, reagiu, com arte, alegria e ironia, às brutalidades da época. Em vista da situação em que estamos vivendo, no Brasil de hoje, ela volta com 'CABARET AUTOFÁGICO'”. (Trecho extraído do “release”, enviado por FERNANDO MENDONÇA, um dos produtores do espetáculo, ao lado de ELOISE YAMASHITA, ambos, também, no elenco.






            O Teatro Poeira teve seu espaço transformado – refiro-me à sua configuração de plateia -, para que pudesse se dar uma necessidade, ou exigência, da montagem, qual seja a de que fosse criado um espaço integrado, onde se fundem palco e plateia, considerando a pluralidade e autonomia de cada artista. O TEATRO mantém os fundamentos da democracia, de forma essencial e pura, visto que é o lugar do encontro e da personificação do poder coletivo.” (Também extraído do referido “release”.).




O TEATRO salva e é um dos melhores veículos para se criticar, também, além de divertir. Principalmente, criticar, no caso do momento atual, de trevas, pelo qual passa o Brasil, nas mãos de uma “ignorantalha” (É um neologismo.), inimiga, declarada, das ARTES, dos ARTISTAS e da CULTURA, em geral, nas três esferas “administrativas”.






            Nós e o pessoal do “CABARET...” não somos ingênuos, a ponto de acharmos que podemos mudar o mundo com um espetáculo tetaral, no qual desfilam todas as críticas, ABSOLUTAMENTE VERDADEIRAS, contra os (DES)governos vigentes, porém sabemos que, com as gotas d’água que cada uma companhia de TEATRO vai pingando no copo, um dia, ele vai transbordar.  (Trechos de “VAI PASSAR”, de Chico Buarque de Holanda: “Num tempo / Página infeliz da nossa história / Passagem desbotada na memória / Das nossas novas gerações / Dormia a nossa pátria mãe tão distraída / Sem perceber que era subtraída / Em tenebrosas transações (...) /  Palmas pra ala dos barões famintos / O bloco dos napoleões retintos / E os pigmeus do bulevar / Meu Deus, vem olhar / Vem ver de perto uma cidade a cantar / A evolução da liberdade / Até o dia clarear (...) Vai passar”).






            Não assisti à já referida encenação na CAL, mas tenho a certeza de que foi uma montagem mais modesta. Não que a atual seja de luxo; muito pelo contrário: tudo foi feito franciscanamente, sem dinheiro, com a ajuda de muitos amigos, mas com muito bom gosto e cuidado. Passados três anos, da CAL até o Poeira, XANDO GRAÇA, responsável pela dramaturgia, fez, sem a menor dúvida, muitas alterações no texto, porque “eles” nos oferecem, TODOS OS DIAS, “pratos transbordando” de erros, mazelas, burrices e perversidades a serem criticados. O texto é bem atual e, de certa forma, muito combativo e corajoso, na linha dos esquetes (Não entendo por que tanta gente insiste em usar o vocábulo como se feminino fosse.), que caracterizam o Teatro de Revista, alternando-se com números musicais.


            O elenco é bastante homogêneo e todos têm seus momentos de solo, espaços e tempos reservados a cada um, para que possam se destacar, com sua ARTE. E todos sabem aproveitar, muito bem, os seus momentos e marcam o seu terreno. Comportam-se com correção, de acordo com a proposta da peça, AMANDA ISMAIL, BRUNO DORNELAS, CAIO BRITO, CAMILA BOER, ELOISE YAMASHITA, FERNANDO MENDONÇA e RICARDO BAGGIO. Também estão em cena, ao fundo do espaço cênico, três músicos, os quais fazem todos os acompanhamentos ao vivo: CLARISSA WALDECK, DENIS SEFFER e GABRIEL ERICSSON.


            Ao dizer, acima, que “O elenco é bastante homogêneo”, tudo leva a crer que não pretendo atribuir nenhum destaque, a quem quer que seja, no entanto, sinto vontade de aplicar um pouco mais de purpurina em ANANDA ISMAIL, pela bela e possante voz, quando canta, a CAMILA BOER, pelo seu carisma e facilidade de interagir com a plateia, e ELOISE YAMASHITA, pela bela presença de palco, além de seu talento artístico. Nessa altura, os “meninos” devem estar querendo fazer churrasquinho de mim (Ainda mais com o preço da carne nas alturas.), mas vocês também estão ótimos, rapazes. Todos.


            Com mais de 50 anos de lida no TEATRO, conhecendo um pouco do Teatro de Revista, que meus pais tanto amavam e viam, com muita frequência (EVOÉ, Virgínia Lane, Eva Todor, Carmen Verônica, Zélia Hoffman, Mara Rúbia, Dercy Gonçalves, Oscarito, Grande Otelo, Walter Pinto, Aracy Cortes, Mesquitinha, Carlos Machado, Ilza Carla, Rose Rondelli, Elvira Pagã, Luz Del Fuego, Ankito, Sônia Mamede, Costinha, Maria Pompeu e tantos outros ícones - vedetes, atores e atrizes, comediantes, autores, redatores, diretores e produtores!!!), cheguei a pegar, já na sua, infelizmente, decadência, o final da era de ouro desse tipo de TEATRO, que, vez por outra, para nossa alegria, alguém se lembra de homenagear e faz uma montagem no gênero. Algumas vezes, desastrosas, o que não é o caso de “CABARET AUTOFÁGICO”; muito pelo contrário. Esse algum conhecimento na área, creio, me capacita a dizer que é bom o trabalho de direção de ADRIANA MAIA e XANDO GRAÇA, que não largam as rédeas, mas sabem que precisam dar, aos atores, liberdade de criação e improvisação, até porque isso depende muito da reação do público. No Teatro de Revista, cada sessão é diferente da outra.


            NELLO MARRESE, criou uma excelente ambientação para o espetáculo, uma direção de arte bastante criativa e bem cuidada, misturando o profano com o sagrado, inclusive, quando utiliza um altar, dentro de um cabaré, com uma imagem de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, o qual, em momento algum, é desrespeitado.
            Sem grandes rebuscamentos, na parte musical, esta é conduzida com acerto, graças ao talento do elenco e dos músicos e à direção musical, a cargo de CARLOS CAFÉ.


                Os figurinos estão bem de acordo com o universo do Teatro de Revista, sem abusar dos “nudes’, o que só ocorre numa cena, bem inserida no contexto.
            Para dar o tom de um cabaré, criar o universo desse ambiente, ANDERSON RATTO projetou uma iluminação bem alegre, colorida, brincando com uma sortida paleta de cores.   

  



FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Xando Graça
Direção: Adriana Maia e Xando Graça
Direção Musical: Carlos Café

Elenco: Ananda Ismail, Bruno Dornelas, Caio Brito, Camila Boer, Eloise Yamashita, Fernando Mendonça e Ricardo Baggio

Músicos: Clarissa Waldeck, Denis Saffer e Gabriel Ericsson

Direção de Arte: Nello Marrese
Figurinos: Acervo FARM (por empréstimo) 
Iluminação: Anderson Ratto
Preparação Corporal: Soraya Bastos
Preparação Vocal: Cosme Motta
Produção: Eloise Yamashita e Fernando Mendonça 
Mídias Sociais: Ricardo Baggio
Fotografia: Manu Tasca
Realização: Coletivo Peixe Oxigênio





 





SERVIÇO:

Temporada: De 12 de novembro a 18 de dezembro de 2019.
Local: Teatro Poeira.
Endereço: Rua São João Batista, 104, Botafogo – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2537-8053.
Dias e Horários: 3ªs e 4ªs feiras, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Duração: 90 minutos.
Classificação Indicativa: 18 anos.
Gênero: Teatro de Revista.





 


            Como sempre vivo repetindo, adoro ir aos Teatros com uma expectativa e voltar de lá surpreendido, sentindo-me recompensado pelo sacrifício que é o meu deslocamento, diário, de casa aos locais em que as peças são apresentadas. Quando vale a pena, de verdade, como aconteceu, quando vi “CABARET AUTOFÁGICO”, que recomendo a quem deseja se divertir e fazer sua catarse, consigo até me esquecer das coisas ruins a que tenho assistido ultimamente, sobre as quais não faço comentários.



(Foto: Gilberto Bartholo.)



(FOTOS: MANU TASCA.)





E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

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PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!




CENSURA NUNCA MAIS!!!



































































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