O ANJO
DO
APOCALIPSE
(EXISTEM ANJOS E
“ANJOS”.
O DO APOCALIPSE É UM
PERIGO.
LÚCIFER FOI UM ANJO.)
Por mais atarefado que eu esteja, consegui tirar um
tempo, para escrever, não da forma aprofundada, como gosto de fazer, e é meu
hábito, sobre a peça “O ANJO DO APOCALIPSE”, em cartaz no Teatro
Ipanema. (VER SERVIÇO.). Não ficaria em paz com a minha consciência, se não
o fizesse, uma vez que muito me agradou a montagem.
A peça, já editada, em livro, publicado pela Editora
Scortecci, foi escrita por CLÓVIS LEVI e conta a “história de um amor impossível, que atravessa um casal, ao longo de
várias vidas”, tratando de questões tão atuais, como
a intolerância e a violência, “cada vez mais radicais, entre os que
pensam diferente, tendo como pano de fundo os conflitos no Oriente Médio”.
Como para quem, como eu, não
conseguiu, até hoje, entender muito bem a mecânica e o porquê dos conflitos
entre judeus e palestinos (defeito meu), fica um pouco difícil compreender
certos detalhes da trama, ainda mais que a narrativa atravessa muitas
encarnações, nas quais os protagonistas, ZAHAR (JULIANE ARAÚJO) e
ELIAKIM (DANIEL DALCIN) se reencontram, mas é possível acompanhar a
trama e se interessar bastante por ela.
SINOPSE:
ZAHRA (JULIANE ARAÚJO) e ELIAKIM (DANIEL
DALCIN) formam um casal apaixonado, que vem atravessando os tempos,
morrendo e renascendo, um em busca do outro.
Esse amor atravessou as vidas de ambos,
ao longo dos séculos, e fez com que se reencontrassem, mais uma vez, no tempo
atual.
Agora, no século XXI, ZAHRA
é uma árabe da Palestina e ELIAKIM, um judeu.
Vivem conflitos particulares, querem
transformar as suas realidades, mas acabam sendo movidos por suas respectivas
obsessões: a criação do Estado Palestino (para ZAHRA) e a
permanência e segurança do Estado de Israel (para ELIAKIM).
O ANJO GUERREIRO (MARCELLO ESCOREL),
que vive numa dimensão diferente da que se encontram ZAHRA e ELIAKIM,
acompanha e comenta a saga do casal, fazendo paralelos com histórias passadas
em diferentes momentos da humanidade.
Trata-se de uma produção
bem simples, em termos técnicos e de criação, porém se sustenta num tripé,
com firmeza, num texto de boa qualidade, numa direção inteligente
e num trabalho de interpretação de bom nível, no qual se destacam MARCELLO
ESCOREL e JULIANE ARAÚJO.
Recebi,
generosamente, de presente, um exemplar do livro, por intermédio do autor, e comecei a lê-lo, achando, porém, um pouco difícil acompanhar a leitura e
imaginar aquilo encenado. Parei na metade e decidi reiniciá-la, após ter
assistido ao espetáculo, o que já fiz, e as coisas mudaram. Aí, tudo
ficou diferente e essa leitura reforçou a minha admiração pelo espetáculo,
dirigido por MARCUS ALVISI, de forma inteligente, como já disse, e
criativa, trabalhando com os parcos recursos de que dispunha, o que já se
tornou uma constante no atual panorama do TEATRO BRASILEIRO. A falta de dinheiro
e de patrocínios tem de ser compensada por inteligência, criatividade, mangas
arregaçadas, além de cumplicidade de um grupo de profissionais, com o firme
propósito de erguer um espetáculo de TEATRO, como ocorre aqui.
Todos dando o máximo de seu sangue, para nos proporcionar um bom espetáculo
teatral.
O
tema é mais do que atual, o que motiva o interesse do público, desde a primeira
cena. Repito que, de início, também no palco, sente-se (Eu, pelo menos, senti.)
um pouco de dificuldade para se entender em torno do que gira a trama; mas é
por pouco tempo. Paulatinamente, vamos nos inteirando dela, compreendendo a
relação daquele casal, tudo isso se tornando mais plausível, a cada aparição e
interferência do ANJO GUERREIRO, ou seja, o do APOCALIPSE.
Um
detalhe interessante, e importante, do texto é que o autor não
toma partido de nenhum dos lados, deixando os espectadores livres para fazê-lo,
contudo não deixa de “levantar questões, como a influência do
fundamentalismo religioso na sociedade, investigar as origens do conflito
e refletir sobre o futuro do Oriente Médio”; e, também, por analogia e
extensão, “refletir um pouco, ou muito, sobre o Brasil”. Talvez,
o interesse maior de CLÓVIS LEVI tenha sido este mote dos conflitos no Oriente
Médio, usando-o como uma espécie de “cortina de fumaça”, para poder falar
das nossas próprias mazelas, do momento político-social difícil por que passa o
Brasil. Ou eu estaria exagerando e vendo chifre em cabeça de burro? Mas
a ARTE não existe para uma única leitura, não é mesmo?
O
texto apresenta-se, visivelmente, como bastante atual, na medida em que “provoca
reflexões sobre a conscientização do valor da vida e sobre o direito que cada
cidadão tem de acreditar em seus princípios e em lutar, civilizadamente, na
defesa deles”. Não teria a polarização entre o casal ligação com o
que vem acontecendo, em “terras brasilis”, e no mundo também, de uns anos para
cá e, mais acirradamente, no último ano, por aqui?
O trio de atores
apresenta-se num bom nível de interpretação. Além de ESCOREL, só conhecia o trabalho de JULIANE
na peça “A Reunificação das Duas Coreias” e fiquei bastante bem
impressionado com o rendimento da moça, principalmente na cena em que ela narra
(Não darei “spoiler”.) um triste fato, acontecido com sua mãe,
numa de suas encarnações. Na sessão a que assisti, a atriz foi
aplaudida, muito merecidamente, em cena aberta. Quanto a DANIEL, jamais
o vi num palco e nem sei se é sua estreia no TEATRO; fui informado,
contudo, de que já atuou em vários trabalhos na TV. Ele alterna momentos
bons, de interpretação, com outros, simplesmente, “normais”, ficando, na média,
com um saldo positivo. Além dos personagens, a dupla intercala breves
momentos de narração, quebrando a quarta parede.
Apesar da temática,
girando sempre em torno de contendas, guerras, sangue derramado, mortes de
inocentes, o dramaturgo houve por bem pincelar o texto com ótimos
momentos de humor, sempre trazido pelas asas do ANJO GUERREIRO, vivido,
de modo formidável (Um dos adjetivos preferidos de Nelson Rodrigues,
que Dona Fernandona usa muito. Uma homenagem aos dois.) por um ator
de grandes recursos, para o drama e a comédia, com larga
experiência no campo da representação: MARCELLO ESCOREL. O deboche é a
marca do personagem. Seus ensinamentos são pontuados por ironia e soam
como “parábolas jocosas”, se isto fosse possível e admissível. Ele sempre entra
em cena para quebrar a tensão e aliviar, um pouco, o espírito do espectador, aquele que se deixa envolver, emocionalmente, pelos diálogos de ZAHRA e ELIAKIM.
O personagem estabelece um ótimo contraponto entre o sério e o
engraçado. No “release”, enviado por JSPONTES COMUNICAÇÃO,
assim está escrito, sobre o personagem: “Carreirista e
imprevisível, debochado e irreverente, o ANJO é um dos mais próximos
auxiliares de Deus. Com frequência, discorda de seu superior, mas, dono de um
caráter duvidoso, jamais o confronta ou revela o que, verdadeiramente, pensa.
Como um antigo Bobo da Corte, ele expõe as verdades ‘inconvenientes’,
evitadas pelos outros.”.
Para lá de um espetáculo
simples, no quesito elementos técnicos e de suporte, apresenta um palco
vazio, com rotundas pretas à volta. O cenário, de JOSÉ DIAS, se
resume a três cadeiras, as quais estão em cena poucas vezes. Os figurinos,
de MARIA DUARTE, não têm nada de especial a ser comentado, mas atendem
às exigências da montagem. MARCUS ALVISI assina uma boa trilha
sonora, e o mestre AURÉLIO DE SIMONI é responsável por uma iluminação
bem simples e descomplicada, já que o texto e a proposta da direção,
a meu juízo, não pedem muito da iluminação.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Clovis Levi
Direção: Marcus Alvisi
Assistente de Direção: Joel Tavares
Elenco: Marcello Escorel, Juliane
Araújo e Daniel Dalcin
Cenografia: José Dias
Figurinos: Maria Duarte
Trilha Sonora: Marcus Alvisi
Iluminação: Aurélio de Simoni
Fotografia: Pablo Henriques
Programação Visual: Rita Ariani
Assistente de Produção: André Julião
Direção de Produção: Humberto Braga
Coordenação Geral: Gustavo Ariani
Produção: 3Tempos Produções Culturais
Ltda
Assessoria de Imprensa: JSPontes
Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 07 de setembro a 07 de
outubro.
Local: Teatro Ipanema.
Endereço: Rua Prudente de Morais, 824,
Ipanema – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2267-3750.
Dias e Horários: 6ª feira, sábado e 2ª
feira, às 20h; domingo às 19h.
Valor dos ingressos: R$60,00 (inteira)
e R$30,00 (meia entrada).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De
5ªfeira a 2ªfeira, sempre uma hora antes do espetáculo.
Vendas Online: https://riocultura.superingresso.com.br
Classificação Indicativa: 14 anos.
Duração: 90 minutos.
Gênero: Drama.
Confesso, apoiando-me na transparência
e na sinceridade, das quais muito me orgulho, que fui ao Teatro Ipanema
bastante cético. Mas sempre vou, sem preferências de gêneros e independentemente
das distâncias ou de que, no elenco, haja “globais” ou não. Vou pelo TEATRO.
Vou, sempre que convidado, primeiramente, pelo prazer de ser um compulsivo
espectador de TEATRO e também pela minha função de crítico e jurado
de Prêmios de TEATRO. O ceticismo leva a duas vertentes, sempre, ambas
marcadas pela surpresa: ou se gosta do espetáculo, ele nos surpreende
positivamente; ou não se gosta dele e se volta, para casa, frustrado. Se querem
saber, voltei para a minha casa muito feliz. Assim, recomendo o espetáculo.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: PABLO HENRIQUES.)
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