terça-feira, 3 de setembro de 2019


EU, MÃE

(“SER MÃE É 
PADECER NO PARAÍSO”
OU
SERÁ QUE É DELEITAR 
UM PÚBLICO DE TEATRO?)






          Eu sabia que uma peça, um monólogo, em que uma mãe (atriz/personagem) abria seu coração, para falar sobre a experiência da maternidade, e que se tratava de um espetáculo muito bonito, emocionante, também divertido, e, mais, que merecia ser visto, estava em cartaz. (Recebi convite, para a estreia, mas não pude ir.). Era a opinião de amigos leigos, mas que adoram um BOM TEATRO, e de alguns colegas, críticos e jurados de prêmios de TEATRO, como eu, que se manifestavam, estes, sob um olhar, também, ou principalmente, técnico. A peça, “EU, MÃE”, estava fazendo sucesso com o público, que a indicava, bastante, por meio do velho e simples, e muito eficiente, processo do “de boca em boca”. Por estar envolvido com uma cirurgia de coluna, infelizmente, não conseguia assistir à montagem, porém, em menos de um mês pós-cirurgia (Na verdade, 23 dias, depois dela, e 8, da alta médica.), não resisti, reuni força e coragem, sob um desejo enorme de ver o espetáculo, e fui à Casa Rio, um simpático e aconchegante lugar, em Botafogo (Em frente ao, também, aprazível, conjunto Teatro Poeira/Teatro Poeirinha.). Fui na penúltima semana da temporada. Só haveria mais duas sessões, na semana seguinte. Atentem para o detalhe: a peça estava atraindo grande público (lotações esgotadas), em horário alternativo, às 4ªs e 5ªs feiras, o que é mais difícil, geralmente.





            Sem condições físicas, na época, de ficar um longo tempo sentado, diante de um computador, para escrever uma crítica, porém, por ter gostado muito da peça, limitei-me, no dia 23 de agosto (2019), a fazer uma postagem, numa rede social, recomendando-a e me desculpando, por não ter condições de escrever sobre ela, sob o título “TEXTÃO, que vale a pena ser lido até o final.”: “E já vou adiantando que É UMA PENA QUE NÃO TEREI TEMPO PARA ESCREVER UMA CRÍTICA SOBRE ESTE ESPETÁCULO, o qual encerra a temporada na próxima semana. Se houver outra, porém, já me comprometo a escrever sobre ele, que bem o merece!!!”. Era um texto muito grande mesmo, quase um “ensaio de crítica”, e, como se pôde ver, nele, eu estava me propondo a escrever uma apreciação crítica sobre a peça, caso houvesse outra temporada. É certo que, naquele mesmo dia, 22 de agosto, quando tive o prazer, a alegria de comprovar tudo o que já ouvira ou lera sobre “EU, MÃE”, lá mesmo, na Casa Rio, após a apresentação, fiquei sabendo que havia grandes possibilidades de a temporada ser prorrogada, mas não seria conveniente falar de algo que ainda não estava “fechado”. Graças ao grande sucesso, de público e de crítica, os DEUSES DO TEATRO “deram uma forcinha” e a temporada foi prorrogada até o dia 10 de outubro de 2019 (VER SERVIÇO.).





            Para continuar escrevendo sobre a peça, vou repetir muita coisa do que escrevi naquele “TEXTÃO”.








SINOPSE:

Criando uma espécie de peça-cápsula-do-tempo, a atriz (CRISTINA FAGUNDES) encena e registra, para suas duas filhas, por meio de uma câmera, todo seu assombro com a passagem do tempo e com a maternidade recente, para que elas assistam, no futuro, e compreendam como a mãe delas se sentia aos 43 anos de idade.

Em diversos momentos da peça, a intérprete se dirige à câmera, como se conversasse com as filhas do outro lado da tela.







            Pela sinopse, curta e bem “enxuta”, enviada pela própria atriz, fica um pouco distante a dimensão do espetáculo, entretanto, na verdade, por outro lado, esse resumo acaba por despertar o interesse dos pretendidos espectadores, uma vez que os leva a imaginar tanta coisa que uma mãe tem a dizer sobre o seu relacionamento com as duas filhas, as suas expectativas e, também, embora não esteja no texto da sinopse, a importância da cumplicidade do marido nesse processo todo. O espetáculo, embalado por muito amor, verdade, singeleza e emoção, é um preito de amor e agradecimento, escrito e interpretado pela CRIS, uma confissão, mais que explícita, de amor às filhas, Nina (5 anos) e Bruna (3 nos), e ao marido, Marcelo. E isso é muito bonito e emocionante de se ver e ouvir.





Durante 60 minutos, participamos de uma “peça-legado-de-amor”, para mim, e uma “peça-cápsula-do-tempo”, para ela,  durante os quais a ótima atriz alterna momentos em que se dirige ao público com outros, quando se volta para uma câmera, gravando depoimentos para as suas filhotas, o que seria o ponto de vista das duas meninas.





Com o público, que ocupa a cozinha da Casa Rio (são poucos lugares) – não poderia ter sido mas bem escolhido o espaço para a representação da peçaCRIS, “mãe velha”, como ela mesma se assume, abre seu coração e divide suas experiências com a maternidade e o relacionamento com as duas filhas e o “maridão”. E nos acolhe e encanta, a todos.





No espetáculo, como já disse, o texto foi escrito pela própria intérprete, é muito bem dirigido, com soluções admiráveis, a seis mãos: por ela mesma e por ALEXANDRE BARROS e DANIEL LEUBACK. Como dizem que “duas cabeças pensam melhor do que apenas uma”, pela lógica, três funcionam melhor do que duas. Pela lógica; mas, às vezes, muitas cabeças pensantes acabam se atrapalhando. Não é o caso aqui. Muito pelo contrário, a direção é excelente. Sabendo bem o que pretende passar ao público, a participação da autora e intérprete é de grande valia nessa direção. Somam-se a isso, a criatividade e a sensibilidade dos seus dois companheiros de direção. E o espetáculo ganhou um formato tão agradável, em que o público se sente transformado em “amigos de infância” da personagem.  Há cenas ou curtos momentos que marcam o espectador, como a oportunidade de ver um copo d´água transbordar, na mão da atriz, porque esta, propositalmente, não fecha o registro do filtro, no momento em que o texto fala de uma tempestade de verão.





Na época em que assisti à peça, havia mais duas, em cartaz, abordando o mesmo tema, todas tratando  das delícias e das dores que a maternidade faz uma mulher conhecer: “Mãe Fora da Caixa”, que consegui ver, e “Vale Night”, à qual não tive a oportunidade de assistir, ambas ainda em cartaz. Embora só conheça o teor daquela, e não o desta, posso afirmar que “EU, MÃE” apresenta um diferencial, pois vai muito além de mais uma peça sobre maternidade. É, acima de tudo, uma peça que fala da família, do amor, dentro de uma família; um registro, para o futuro, representado da forma mais simples, natural e deliciosa possível, numa constante troca com o público, o qual se sente na sua própria casa.





CRISTINA FAGUNDES está excelente, como atriz e anfitriã, em “sua” Casa (Rio), inclusive servindo um chazinho de capim-limão aos seus “convidados”, enquanto conversa, natural e espontaneamente, com todos, antes de assumir a personagem e dar início, propriamente, à peça. Por falar de si mesma, na primeira pessoa, e pela proposta do espetáculo, o público não enxerga uma interpretação teatral, já que a naturalidade, a espontaneidade e, acima de tudo, a verdade estão ali, a, no máximo, cinco metros dos espectadores que ocupam a última fileira de cadeiras. Isso dá margem a uma cumplicidade ímpar, a uma troca de energia, à criação de uma atmosfera intimista. É TEATRO, sim, todavia, acima de tudo, é um TEATRO-VERDADE, uma conversa, praticamente, entre uma pessoa, que a conduz, e outras - acho que menos de trinta -, que interagem com a atriz, quando essa oportunidade lhes é dada.







Um dos momentos de maior emoção, na peça, é quando, numa mensagem direcionada às filhas, a atriz nos brinda com esta maravilha de texto, olhando, fixamente, para a câmera: “Eu quero que você, Nina, que, hoje, está com cinco anos, e que você, Bruna, que, hoje, está com três anos, possam, aí no futuro, me ver como eu sou hoje, no auge da saúde, da vitalidade. No auge da minha vida. E quero que assistam a essa gravação, também, quando tiverem quarenta e três anos de idade, cada uma, para que possamos, por, pelo menos, uma vez na vida, num encontro único no tempo, ter a mesma idade. Eu queria ser amiga de vocês, ir caminhando junto com vocês, mas não posso, meu tempo é outro, eu vim primeiro. Então vamos fazer esse registro está bem? Esta cápsula do tempo.”. Esse é um gatilho puxado, para provocar lágrimas. E não foi só em mim.





O texto flui com muita beleza, leveza, poesia, naturalidade e até um pouco de humor leve, e vai levando a plateia a se sentir hipnotizada pela atriz/personagem. Além de falar do universo em que a maternidade está inserida, a dramaturgia ainda aborda outras “facetas”, como momentos indeléveis da vida pessoal de CRIS, marcados por vários “eus”, próprios de cada faixa etária, que vão ficando para trás, à medida que o tempo vai passando; as experiências e emoções vividas com os amigos; o próprio ciclo vital do ser humano, do nascimento à velhice, passando pelo amadurecimento; a dor que representa a perda dos pais, para um filho, por mais natural e certo que isso vai acontecer um dia... 





  


            Ainda bem que o espetáculo teve a temporada prorrogada no mesmo espaço em que vinha sendo encenado. É claro que ele pode ser montado num Teatro convencional, numa sala com palco italiano, mas é bem provável que possa perder um pouco de seu brilho. E explico o porquê. Um cenário projetado, de uma cozinha, jamais será a mesma coisa que uma cozinha real, o cômodo mais importante das casas do interior e das fazendas, onde as pessoas se reúnem, à noite, perto de um fogão a lenha, geralmente, para “jogar conversa fora”. Como nessas situações, o cenário/ambiente da peça (ALICE CRUZ e TUCA BENVENUTTI, também responsáveis pelos adereços.), uma cozinha de verdade, gera muito mais realismo à encenação. Basta dizer que até um cafezinho a atriz prepara, em cena, em tempo real, desde colocar a água para ferver, passando pelo ato de coar, até degustá-lo. E o ambiente fica impregnado, positivamente, com o gostoso aroma da rubiácea. À cozinha da CASA RIO, complementando o cenário, foram agregados objetos pessoais da atriz, como porta-retratos, com fotos da família e desenhos feitos pelas duas filhas.







            É bem interessante a proposta de iluminação (FERNANDA MANTOVANI), dentro da concepção do espetáculo. Não há uma luz teatral; praticamente, tudo acontece sob uma iluminação natural, de uma cozinha, entretanto a própria atriz cuida de acender e apagar vários pontos de luz (abajures e luminárias) espalhados pela cozinha, de acordo com o texto e as cenas.





Pontua a peça uma bela e muito ajustada, além de eclética, trilha sonora (CRISTINA FAGUNDES e GUI STUTZ), com músicas que marcaram a vida da autora e intérprete, misturando Jimi Hendrix (“Little Wing”); Dominguinhos e Anastácia (“Sanfona Sentida”); Marisa Monte e Arnaldo Antunes (“Ainda Bem”); Eric Clapton (“Cocaine”); Peter Gabriel (“Mercy Street”); Astor Piazzola (“Libertango”); Amy Winehouse e Ronson (“Back To Black”); Sérgio Sampaio (“Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua”); U2 (New Year’s Day”); Zé Ramalho (“Cavalos Do Cão”); Bob Dylan (“All Along The Watchtower”); George Harrison (“While My Guitar Gently Weeps”); e Gilberto Gil e Dominguinhos (“Lamento Sertanejo”), além de outros “que tais”.






FLÁVIA ESPÍRITO SANTO não quis inventar a roda e criou um figurino simples e discreto, bem de acordo com a personagem.




Todos os demais nomes que aparecem na ficha técnica executam, profissionalmente, de forma correta, suas atribuições, colaborando para o sucesso desta montagem.








FICHA TÉCNICA:

Texto: Cristina Fagundes
Direção: Alexandre Barros, Cristina Fagundes e Daniel Leuback

Interpretação: Cristina Fagundes
Cenário e Adereços: Alice Cruz e Tuca Benvenutti
Figurino: Flávia Espírito Santo
Iluminação: Fernanda Mantovani
Trilha Sonora: Cristina Fagundes e Gui Stutz
Desenho de Som: Gui Stutz
Programação Visual: Ivison Spezani
Assessoria de Imprensa: Lyvia Rodrigues – Aquela Que Divulga
Redes Sociais: Tatiana Borges – Agência E-Plan
Fotografias: Renato Mangolin
Direção de Produção: Cristina Fagundes
Produção Executiva: Tamires Nascimento – Tem Dendê Produções
Realização: Fagundes Produções Artísticas
Idealização: Cristina Fagundes










SERVIÇO:

Temporada: De 07 de agosto a 10 de outubro de 2019.
Local: Casa Rio.
Endereço: Rua São João Batista, 105 – Botafogo – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2148-6999.
Dias e Horários: às 4ªs e 5ªs feiras, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Classificação: 14 anos.
Duração: 60 minutos.
OBSERVAÇÃO: Como o espaço é bem reduzido, só comporta poucos espectadores, convém consultar, por telefone, se há ingressos disponíveis.








Enquanto o discurso do ódio, lá fora, ocupa quase 24 horas do nosso dia, proporcionado por um bando de celerados, débeis mentais, que ocupam os mais altos postos dos governos federal, estadual e municipal, o TEATRO e CRISTINA FAGUNDES nos proporcionam, dentro de uma cozinha, o prazer de poder enxergar a pureza e a beleza da vida, que parte da maternidade e, com ela, se inicia, para o resto das nossas existências. É só a gente querer.







            Recomendo, com total empenho este espetáculo e, se tiver oportunidade, assistirei a ele novamente, como prova do quanto ele me agradou.








E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, 
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!



(Cristina Fagundes as filhas. Não se trata de uma cena da peça.) 




(FOTOS: RENATO MANGOLIN.)


(GALERIA PARTICULAR. FOTOS: GILBERTO BARTHOLO e VINÍCIUS ROBERTO.)








(Cristina Fagundes e eu.)



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