VOLTA
SECA
(UMA HISTÓRIA INTERESSANTE
E
MUITO BEM CONTADA.)
(ATENÇÃO: A TEMPORADA FOI PRORROGADA
ATÉ 06 DE AGOSTO/2018!!!)
Não
sei explicar por que, mas sempre fui meio fascinado pela história de Lampião e seu bando. Sempre quis saber
até onde iria a imagem, criada pela mídia (?), do bandido sanguinário e vingativo,
sem escrúpulos, e se havia algo de benemérito, de ilustre, que fosse digno de
elogios e admiração, em algumas de suas atitudes, relatadas por aí. Confesso, porém,
que, infelizmente, li pouco sobre eles, apesar de ter assistido, praticamente,
a tudo o que se filmou sobre o bando e a peças de TEATRO com a mesma temática. Sabia da existência de um membro do
grupo de cangaceiros, vulgo VOLTA SECA,
de nome ANTÔNIO DOS SANTOS, de
batismo, mas nada conhecia sobre ele, a não ser que era autor de alguns
sucessos da música nordestina. “Acorda,
Maria Bonita” é um deles (“Acorda, Maria Bonita / Acorda e vai fazer
o café / O dia já vem raiando / E a Polícia já tá de pé”).
Eis
que, com o convite de dois queridos amigos, CHRISTOVAM CHEVALIER (assessor
de imprensa) e ALAN PELLEGRINO, idealizador do projeto, autor do texto e intérprete de um monólogo,
em cartaz no Espaço Cultural Municipal
Sérgio Porto (VER SERVIÇO.), fui conhecer a participação de ANTÔNIO DOS SANTOS/VOLTA SECA, na
vida de Virgulino Ferreira da Silva,
o Lampião, e seus seguidores,
convívio que durou apenas quatro anos.
O solo se chama “VOLTA SECA”.
SINOPSE:
O monólogo conta a história do mais
jovem cangaceiro do bando de Lampião. VOLTA
SECA, cujo nome verdadeiro era ANTÔNIO
DOS SANTOS, carrega uma história muito interessante.
Preso aos 14 anos, ficou encarcerado, durante 20, e a história desse “cabra” está
sendo encenada, pela primeira vez, no Rio
de Janeiro.
A ação se passa numa cela,
ocupada pelo protagonista, no dia de
sua libertação.
VOLTA SECA fugiu de casa, aos 11
anos, quando, no intuito de proteger suas irmãs, da violência que sofriam
da madrasta, acabou por ferir-lhe, violentamente, o rosto.
O menino vagueou, sem rumo,
até ser descoberto por dois componentes do bando de Lampião, os quais seguiam o rastro do seu cavalo. Eles o raptaram e
o levaram para o bando. Encontraram um ajudante perfeito. Justamente por não
levantar suspeitas, a criança seria usada como “olheira”, verificando se “a
barra estava limpa”, antes de o bando assaltar vilarejos e fazendas.
Incorporado ao grupo, ANTONIO DOS SANTOS passou a ser chamado
de VOLTA SECA. “Aqui é todo mundo vulgo.”,
diz-lhe o próprio Lampião, ao
rebatizá-lo.
A regra do cangaço era
clara: ou se matava ou morria. Era prudente ficar com a primeira opção.
VOLTA SECA permaneceu no bando até os 14 anos, quando abandonou o grupo, após, corajosamente, ter tido
uma séria desavença com Lampião. O
rapaz teve a vida salva por Maria Bonita,
mulher do chefe do bando.
A sorte lhe sorria, mas o
destino lhe pregaria uma peça: preso pela polícia do Estado Novo, foi mandado para Salvador,
onde ficou preso por 20 anos, o
único do bando a ser condenado. Na verdade, sua pena era muito superior ao
tempo em que esteve preso, mas foi solto, graças a um indulto do, então,
presidente Getúlio Vargas, de cuja
intimidade veio a privar futuramente.
O fato de ter abandonado o
grupo e ter sido preso o poupou de morrer numa emboscada, que liquidou o bando
de Lampião, anos depois, na chamada
chacina de Angicos.
As visitas recebidas na
prisão – fossem da imprensa ou de pessoas famosas – possibilitaram que sua
história e seu cancioneiro ficassem conhecidos e preservados, história essa que
a magia do TEATRO leva à cena.
Além
de “Acorda, Maria Bonita”, já
mencionada, VOLTA SECA também é autor de um dos clássicos da música
nordestina: “Mulher Rendeira” (Olê,
muié redera / Olê, muié rendá / Tu me ensina a fazê renda / Que eu te ensino a
namorá”). As cantigas criadas por VOLTA
SECA ficariam mais conhecidas, registradas no disco “Cantigas de Lampião”, depois que ele foi libertado, em 1952, e foram gravadas por grandes
artistas brasileiros.
O
personagem é muito interessante e,
durante as duas décadas na prisão, recebia visitas frequentes, de pessoas
ilustres, como a Irmã Dulce, que lhe
deu a imagem de uma santa, de presente, e gostava de ouvi-lo cantando, e o
célebre escritor baiano Jorge Amado,
dentre tantos nomes, como conhecidos da imprensa, todos desejosos de conhecer e
decifrar a figura, que se autointitulava “sanguinária”.
Essa
personalidade complexa, por vezes, doce, capaz de produzir belas cantigas e que
precisou usar da agressividade, para se fazer respeitar, intrigou e instigou o
ator ALAN PELLEGRINO, baiano,
nordestino, portanto, como o personagem,
a uma profunda pesquisa, que acabou num texto
muito bem elaborado, no qual, durante apenas 60 minutos, a história do protagonista
é dissecada, em detalhes, de forma clara e bem ilustrada, contando com o
talento do ator, que vive o personagem e, em determinados momentos,
também se presta a encarnar outros, como Lampião,
o também cangaceiro Corisco e um médico criminalista, que investiga as
características de VOLTA SECA, na
cadeia, dentre outros.
Em dois
momentos da trama, ALAN, pondo à
parte o personagem, relembra a
própria infância, vivida em Salvador
(BA), chamando a atenção dos espectadores para a violência que,
infelizmente, grassa no país.
Esta é a primeira
experiência de ALAN como dramaturgo, e o bom resultado de seu texto o credencia a continuar no ofício,
sem, no entanto – espero – abandonar os palcos como ator. O espetáculo é muito agradável de ser visto, por um conjunto
de fatores, tais como o texto, já comentado,
o trabalho do ator, que sabe
explorar a voz, o corpo e se permite fazer pausas que enriquecem a interpretação,
e os demais elementos necessários para se fazer algo, que só faz em equipe, chamado
TEATRO.
O acanhado
espaço em que se dá a encenação é bastante aconchegante e ajuda na assimilação
do que autor, diretor e ator pretendem
passar, por causa da proximidade entre ator
e público, o que é reforçado por uma
bela cenografia instalação, a cargo
de JOELSON GUSSON, o qual
distribuiu, pelas paredes, objetos, ícones do universo nordestino e do cangaço.
Par isso, ele contou com a luxuosa colaboração da grande atriz e artista plástica
ANALU PRESTES, que pintou, no piso
da sala, máscaras rendadas, cujo
conjunto é de raro bom gosto e beleza. Além dela, contribuíram, para o citado cenário instalação, com suas obras, o escultor PEDRO GRAPIPÚNA, com uma belíssima escultura de lampião, feita com
sucatas e que bem poderia estar decorando algum canto da minha sala (momento descontração), e MÁRIO COUTINHO, com outro belo
trabalho, a escultura “Flor de Mandacaru”.
Além da
correta iluminação, de BERNARDO LORGA, a montagem conta, ainda, com projeções
de imagens de cangaceiros e da família de VOLTA SECA, assim como pequenos
trechos de filmes originais, imagens captadas por BENJAMIN ABRAÃO, apresentando a intimidade de Lampião e seu bando. São muito bem explorados os recursos audiovisuais, pela direção.
Há de ser
mencionado, também, o bom trabalho de preparação
vocal, creditado ao grande ator
e fonoaudiólogo JORGE MAYA.
FICHA TÉCNICA:
Idealização,
Dramaturgia e Atuação: Alan Pellegrino
Direção e
Figurino: Joelson Gusson
Cenário
Instalação: Joelson Gusson - Artista Convidada: Analu Prestes; Escultura
Lampião: Pedro Grapiúna; Escultura Flor de Mandacaru: Mário Coutinho
Assistência de
Direção: Luísa Friese
Iluminação:
Bernardo Lorga
Preparação
Vocal: Jorge Maya
Direção de
Produção: Luísa Friese
Assessoria de
Imprensa: Christovam Chevalier
Fotografia
Peças Gráficas: Carol Nunes
Fotografia de
Cena e Divulgação: Luísa Friese e Alberto Maurício
SERVIÇO:
Temporada:
De 09 de julho a 06 de agosto de 2018.
Local:
Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto (Galeria Marcantônio Villaça).
Endereço:
Rua Visconde Silva s/nº, Humaitá – Rio de Janeiro.
Dias
e Horários: De sábado a 2ª feira, às 20h30min.
Valor
dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).
Capacidade:
30 pessoas.
Duração:
60 minutos.
Classificação
Etária: 12 anos.
Gênero:
Monólogo Dramático.
Quando
se vai ao TEATRO com uma boa
expectativa e, ao final do espetáculo,
percebe-se que ele atingiu um patamar de aprovação superior ao esperado,
gerando uma grande alegria, não se pode lamentar qualquer sacrifício pessoal,
para se assistir a ele. O produto final
nos recompensa. Assim eu me senti,
vendo “VOLTA SECA”. Assim, você, que aceitar a minha sugestão de assistir à
peça, também se sentirá. Tenho certeza disso.
E VAMOS AO TEATRO!!!
VAMOS OCUPAR TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O BOM TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: LUÍSA FRIESE
e
ALBERTO MAURÍCIO)
GALERIA PARTICULAR
(FOTO: ALAN PELLEGRINO.)
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