terça-feira, 31 de julho de 2018


VOLTA
SECA

(UMA HISTÓRIA INTERESSANTE
E
MUITO BEM CONTADA.)


(ATENÇÃO: A TEMPORADA FOI PRORROGADA 
ATÉ 06 DE AGOSTO/2018!!!)

            Não sei explicar por que, mas sempre fui meio fascinado pela história de Lampião e seu bando. Sempre quis saber até onde iria a imagem, criada pela mídia (?), do bandido sanguinário e vingativo, sem escrúpulos, e se havia algo de benemérito, de ilustre, que fosse digno de elogios e admiração, em algumas de suas atitudes, relatadas por aí. Confesso, porém, que, infelizmente, li pouco sobre eles, apesar de ter assistido, praticamente, a tudo o que se filmou sobre o bando e a peças de TEATRO com a mesma temática. Sabia da existência de um membro do grupo de cangaceiros, vulgo VOLTA SECA, de nome ANTÔNIO DOS SANTOS, de batismo, mas nada conhecia sobre ele, a não ser que era autor de alguns sucessos da música nordestina. “Acorda, Maria Bonita” é um deles (“Acorda, Maria Bonita / Acorda e vai fazer o café / O dia já vem raiando / E a Polícia já tá de pé”).

            Eis que, com o convite de dois queridos amigos, CHRISTOVAM CHEVALIER (assessor de imprensa) e ALAN PELLEGRINO, idealizador do projeto, autor do texto e intérprete de um monólogo, em cartaz no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto (VER SERVIÇO.), fui conhecer a participação de ANTÔNIO DOS SANTOS/VOLTA SECA, na vida de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e seus seguidores, convívio que durou apenas quatro anos. O solo se chama “VOLTA SECA”.




           



SINOPSE:

O monólogo conta a história do mais jovem cangaceiro do bando de Lampião. VOLTA SECA, cujo nome verdadeiro era ANTÔNIO DOS SANTOS, carrega uma história muito interessante.

Preso aos 14 anos, ficou encarcerado, durante 20, e a história desse “cabra” está sendo encenada, pela primeira vez, no Rio de Janeiro.

A ação se passa numa cela, ocupada pelo protagonista, no dia de sua libertação.

VOLTA SECA fugiu de casa, aos 11 anos, quando, no intuito de proteger suas irmãs, da violência que sofriam da madrasta, acabou por ferir-lhe, violentamente, o rosto.

O menino vagueou, sem rumo, até ser descoberto por dois componentes do bando de Lampião, os quais seguiam o rastro do seu cavalo. Eles o raptaram e o levaram para o bando. Encontraram um ajudante perfeito. Justamente por não levantar suspeitas, a criança seria usada como “olheira”, verificando se “a barra estava limpa”, antes de o bando assaltar vilarejos e fazendas.

Incorporado ao grupo, ANTONIO DOS SANTOS passou a ser chamado de VOLTA SECA. “Aqui é todo mundo vulgo.”, diz-lhe o próprio Lampião, ao rebatizá-lo.

A regra do cangaço era clara: ou se matava ou morria. Era prudente ficar com a primeira opção.

VOLTA SECA permaneceu no bando até os 14 anos, quando abandonou o grupo, após, corajosamente, ter tido uma séria desavença com Lampião. O rapaz teve a vida salva por Maria Bonita, mulher do chefe do bando.

A sorte lhe sorria, mas o destino lhe pregaria uma peça: preso pela polícia do Estado Novo, foi mandado para Salvador, onde ficou preso por 20 anos, o único do bando a ser condenado. Na verdade, sua pena era muito superior ao tempo em que esteve preso, mas foi solto, graças a um indulto do, então, presidente Getúlio Vargas, de cuja intimidade veio a privar futuramente.

O fato de ter abandonado o grupo e ter sido preso o poupou de morrer numa emboscada, que liquidou o bando de Lampião, anos depois, na chamada chacina de Angicos. 

As visitas recebidas na prisão – fossem da imprensa ou de pessoas famosas – possibilitaram que sua história e seu cancioneiro ficassem conhecidos e preservados, história essa que a magia do TEATRO leva à cena.








            Além de “Acorda, Maria Bonita”, já mencionada, VOLTA SECA também é autor de um dos clássicos da música nordestina: “Mulher Rendeira” (Olê, muié redera / Olê, muié rendá / Tu me ensina a fazê renda / Que eu te ensino a namorá”). As cantigas criadas por VOLTA SECA ficariam mais conhecidas, registradas no disco “Cantigas de Lampião”, depois que ele foi libertado, em 1952, e foram gravadas por grandes artistas brasileiros.

          O personagem é muito interessante e, durante as duas décadas na prisão, recebia visitas frequentes, de pessoas ilustres, como a Irmã Dulce, que lhe deu a imagem de uma santa, de presente, e gostava de ouvi-lo cantando, e o célebre escritor baiano Jorge Amado, dentre tantos nomes, como conhecidos da imprensa, todos desejosos de conhecer e decifrar a figura, que se autointitulava “sanguinária”.




Essa personalidade complexa, por vezes, doce, capaz de produzir belas cantigas e que precisou usar da agressividade, para se fazer respeitar, intrigou e instigou o ator ALAN PELLEGRINO, baiano, nordestino, portanto, como o personagem, a uma profunda pesquisa, que acabou num texto muito bem elaborado, no qual, durante apenas 60 minutos, a história do protagonista é dissecada, em detalhes, de forma clara e bem ilustrada, contando com o talento do ator, que vive o personagem e, em determinados momentos, também se presta a encarnar outros, como Lampião, o também cangaceiro Corisco e um médico criminalista, que investiga as características de VOLTA SECA, na cadeia, dentre outros.

Em dois momentos da trama, ALAN, pondo à parte o personagem, relembra a própria infância, vivida em Salvador (BA), chamando a atenção dos espectadores para a violência que, infelizmente, grassa no país.

Esta é a primeira experiência de ALAN como dramaturgo, e o bom resultado de seu texto o credencia a continuar no ofício, sem, no entanto – espero – abandonar os palcos como ator. O espetáculo é muito agradável de ser visto, por um conjunto de fatores, tais como o texto, já comentado, o trabalho do ator, que sabe explorar a voz, o corpo e se permite fazer pausas que enriquecem a interpretação, e os demais elementos necessários para se fazer algo, que só faz em equipe, chamado TEATRO.

O acanhado espaço em que se dá a encenação é bastante aconchegante e ajuda na assimilação do que autor, diretor e ator pretendem passar, por causa da proximidade entre ator e público, o que é reforçado por uma bela cenografia instalação, a cargo de JOELSON GUSSON, o qual distribuiu, pelas paredes, objetos, ícones do universo nordestino e do cangaço. Par isso, ele contou com a luxuosa colaboração da grande atriz e artista plástica ANALU PRESTES, que pintou, no piso da sala, máscaras rendadas, cujo conjunto é de raro bom gosto e beleza. Além dela, contribuíram, para o citado cenário instalação, com suas obras, o escultor PEDRO GRAPIPÚNA, com uma belíssima escultura de lampião, feita com sucatas e que bem poderia estar decorando algum canto da minha sala (momento descontração), e MÁRIO COUTINHO, com outro belo trabalho, a escultura “Flor de Mandacaru”.















Além da correta iluminação, de BERNARDO LORGA, a montagem conta, ainda, com projeções de imagens de cangaceiros e da família de VOLTA SECA, assim como pequenos trechos de filmes originais, imagens captadas por BENJAMIN ABRAÃO, apresentando a intimidade de Lampião e seu bando. São muito bem explorados os recursos audiovisuais, pela direção.






            Há de ser mencionado, também, o bom trabalho de preparação vocal, creditado ao grande ator e fonoaudiólogo JORGE MAYA.



 




FICHA TÉCNICA:

Idealização, Dramaturgia e Atuação: Alan Pellegrino

Direção e Figurino: Joelson Gusson
Cenário Instalação: Joelson Gusson - Artista Convidada: Analu Prestes; Escultura Lampião: Pedro Grapiúna; Escultura Flor de Mandacaru: Mário Coutinho
Assistência de Direção: Luísa Friese
Iluminação: Bernardo Lorga
Preparação Vocal: Jorge Maya
Direção de Produção: Luísa Friese
Assessoria de Imprensa: Christovam Chevalier
Fotografia Peças Gráficas: Carol Nunes
Fotografia de Cena e Divulgação: Luísa Friese e Alberto Maurício
Realização: Alan Pellegrino e Dragão Voador Teatro Contemporâneo





 








SERVIÇO:

Temporada: De 09 de julho a 06 de agosto de 2018.
Local: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto (Galeria Marcantônio Villaça).
Endereço: Rua Visconde Silva s/nº, Humaitá – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De sábado a 2ª feira, às 20h30min.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).
Capacidade: 30 pessoas.
Duração: 60 minutos.
Classificação Etária: 12 anos.
Gênero: Monólogo Dramático.







            Quando se vai ao TEATRO com uma boa expectativa e, ao final do espetáculo, percebe-se que ele atingiu um patamar de aprovação superior ao esperado, gerando uma grande alegria, não se pode lamentar qualquer sacrifício pessoal, para se assistir a ele. O produto final nos recompensa. Assim eu me senti, vendo “VOLTA SECA”. Assim, você, que aceitar a minha sugestão de assistir à peça, também se sentirá. Tenho certeza disso.


E VAMOS AO TEATRO!!!
VAMOS OCUPAR TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO 
DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O BOM TEATRO BRASILEIRO!!!


(FOTOS: LUÍSA FRIESE
e
ALBERTO MAURÍCIO)


 GALERIA PARTICULAR
(FOTO: ALAN PELLEGRINO.)





































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