GRITOS
(DA ARTE DA PERFEIÇÃO.
ou
DA ARTE DE EMOCIONAR.
ou
DA ARTE DE SABER FAZER
TEATRO GESTUAL.
TEATRO GESTUAL.
ou
DA ARTE DE SER ARTISTA.
ou
DA ARTE, SIMPLESMENTE.)
Estou,
agora, humildemente, me redimindo de um grave erro, cometido, sem a menor
intenção, há cerca de um ano e meio. Não sei, realmente, o que teria acontecido,
naquela época, mas o fato é que escrevi uma crítica sobre uma das maiores OBRAS-PRIMAS a que já assisti, no TEATRO, e, não sei por qual motivo, não
cheguei a publicá-la, o que faço agora, valendo-me do fato de que o espetáculo,
felizmente, continua em cartaz.
Há
determinadas companhias de TEATRO
que nos instigam a querer conferir, imediatamente, um seu novo trabalho, tão
logo este é anunciado. É o caso da CIA.
(franco-brasileira) DOS À DEUX, com
base em Paris e no Rio de Janeiro, criada em 1997,
na França, por ANDRÉ CURTI e ARTUR LUANDA RIBEIRO, atores e
dançarinos, os quais se propõem a desenvolver uma pesquisa sobre o teatro gestual, unindo as duas artes, o
TEATRO e a dança.
A partir de lá,
a CIA. vem criando vários trabalhos,
todos espetáculos aclamados pelo público e pela crítica, tendo sido, a meu
juízo, “Irmãos de Sangue” sua obra
de máxima beleza e repercussão, até hoje, vencedora de vários prêmios e
indicada a outros tantos. Esses espetáculos percorreram o Brasil e vários outros países.
“Essa
pesquisa sobre o gesto se distingue pela singularidade de um universo repleto
de uma rara poesia e de uma grande fineza. Esses artistas, dançarinos do TEATRO,
não param de nos surpreender com a grande inventividade, precisão e onirismo
presente nos espetáculos”. (Extraído do “site” da CIA..)
O fascinante espetáculo “GRITOS”, que fez uma brilhante carreira, no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro,
em 2016 e 2017, passando por todas
as unidades do CCBB (TURNÊ GRITOS: CCBB
Rio de Janeiro, de 17 de novembro a 16 de
janeiro de 2017; CCBB Brasília, de 8 de fevereiro a 5 de março de 2017;
CCBB São Paulo, de 10 de março a 24 de abril de 2017; CCBB Belo Horizonte, de 4 de
maio a 12 de junho de 2017), já viajou, também, por outros países e,
recentemente, encerrou uma vitoriosa temporada popular, no Teatro Dulcina, no Rio de
Janeiro.
Mas não param por aí.
Atualmente, voltaram ao cartaz, no Teatro
da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema,
Rio de Janeiro, onde ficarão em cena
até o dia 15 de abril (2018) (VER SERVIÇO).
A estrutura do
espetáculo está dividida em três segmentos numerados e com títulos distintos: “GRITO 1: LOUISE E A VELHA MÃE”; “GRITO 2: O MURO”; e “GRITO 3: AMOR EM TEMPO DE GUERRA”. Tudo
se apoia em três poemas gestuais metafóricos, tendo como tema o amor, visto e desenvolvido sob
diferentes formas de manifestação.
SINOPSE:
GRITO 1: LOUISE (E A VELHA MÃE)
LOUISE nasceu num corpo de
homem, um corpo que ela não quer. O masculino e o feminino habitam o mesmo
corpo, um sendo o fantasma do outro. São quatro pernas, duas cabeças e um jogo
de ilusão, como se ela fosse uma marionete dela mesma. Ator e personagem,
jogando dentro de um labirinto de espelho e reflexo. Ela deseja ser invisível
aos olhares dos outros, mas se choca sempre num turbilhão de preconceitos,
intolerância e homofobia.
A mãe de LOUISE, uma velha senhora doente, também
invisível perante a sociedade, depende, totalmente, de seu(sua) filho(a),
para existir, como uma marionete prisioneira de sua
cadeira. E, apesar dessa dependência, ela o/a rejeita, movida pelo puro
preconceito e não aceitação do outro.
GRITO 2: O HOMEM (E O MURO)
Um poema metafórico sobre o homem que
perdeu a cabeça. Um muro os divide. A cabeça de um lado, dentro de uma gaiola,
o corpo de outro. Sem saber se esse muro é real ou se imaginado por eles
mesmos, o corpo e a cabeça executam uma dança onírica, em busca de sua outra
parte. Um poema gestual entre o sonho, o onírico e o absurdo.
GRITO 3: KALSUN (E O AMOR EM TEMPOS DE GUERRA
Numa atmosfera surrealista, uma mulher, vestida de negro, surge,
revelando sua beleza e seus gestos lentos. Ela é do Extremo Oriente. Partes do corpo de um homem, que está envolto com
ela num mar negro de tecido, aparece lentamente. Uma dança de amor, misteriosa,
começa, com som de bombas ao longe. Uma bomba interrompe a noite de amor e
acaba com a vida do amante. Sozinha, num mundo hostil de guerra, escondida da
sociedade, dá vida a uma criança e continua a luta pela sobrevivência.
Sobre o processo de
criação do espetáculo, eis o que dizem seus criadores, no “site” da CIA.: “No
começo, dois corpos adultos, aparentemente humanos, lado a lado, sentados cada
um em sua cadeira, permaneceram ali, no palco vazio, por várias semanas.
Dia após dia, ficávamos, em nossa sala de
ensaio, em silêncio, frente a esses dois personagens. Era como se estivéssemos
diante de dois atores, que, ali, sentados, exerciam o mais difícil do nosso
ofício: a imobilidade. Não sabíamos o que nos intrigava. Não chegávamos perto,
não mudávamos a posição deles. Ficávamos, simplesmente, observando seus corpos
imóveis e seus olhares enigmáticos. Algo invisível, misterioso e poético estava
escondido ali.
Depois de semanas, contemplando as duas
marionetes, entramos palco adentro, sem nenhuma indicação precisa do que
iríamos fazer.
Nesse primeiro contato, nesse primeiro
toque, cada um de nós se debruçou e mergulhou no abismo desses dois seres. Foi
como se houvéssemos escorregado e penetrado no outro lado de um espelho. Uma
vez dentro desse novo universo, não havia mais saída. O jogo tinha começado, o
início de tudo, a montagem de um complexo quebra-cabeça…
Primeiramente, nós os separamos, não somente
um do outro, mas de seus próprios membros. Uma cabeça foi para um lado, um pé
para o outro, um braço para lá, outro para cá, uma mão segurando uma mala, um
pé atrás da cortina, como espiando ou aguardando a hora de sua entrada em cena.
Uma bela instalação plástica e cênica se
instaurou no palco, antes vazio.
Descobrimos, então, que o que havia de realmente
misterioso nisso tudo era que não existiam somente dois personagens naquelas
duas marionetes, mas, sim, vários: a LOUISE, a MÃE, o HOMEM, a KALSUN, a MULHER…
Assim, surgiu ‘GRITOS’, a partir de dois corpos-bonecos,
que por ‘AMOR’, tema de nosso espetáculo, doaram partes de seus corpos e se
multiplicaram, para dar à luz três poemas gestuais”.
Lendo esse
depoimento, mais, ainda, valorizamos o produto final deste processo de criação,
que surgiu, praticamente, do “nada”, para atingir o “tudo”. É extremamente
inspirador saber que, apenas, com o desejo de se explorar temas da atualidade,
todos girando em torno do amor, ou
da ausência e carência dele, como o preconceito, a homofobia, a xenofobia, os
refugiados de guerra, a invisibilidade do outro, o não (re)conhecimento do
altruísmo, se pôde chegar a um resultado tão pleno, explorado, em combinação
com outros elementos, num universo onírico, até surrealista, se nos permitirmos
identificá-lo nos três “GRITOS”.
A dramaturgia verbal cede espaço à do gesto. Este se sobrepõe a qualquer
outro tipo de tentativa de comunicação. As três histórias, “independentes”, são
contadas num silêncio de palavras, com um único momento de exceção, contado nos
dedos de uma das mãos; um silêncio apenas não total, porque o espetáculo é, do
princípio ao fim, acomodado sobre uma nuvem tangível de sons, produzidos por
uma das mais brilhantes trilhas sonoras
que já tive a oportunidade de ouvir em TEATRO,
criada pelo talento de FERNANDO MOTA, BETO LEMOS e MARCELO H. Mas o silêncio, a total ausência de som, também faz
parte dessa trilha fantástica, para que cada espectador acrescente o seu.
Este espetáculo se
apoia num tripé, que garante todo o seu sucesso: o trabalho corporal e facial dos atores / dançarinos, a trilha sonora e a iluminação, este elemento é uma marca registrada dos trabalhos da CIA. e fator
da maior importância nesta montagem, por ser capaz de criar todas as ilusões e
nos transportar para um mundo mágico, de sonhos, no qual não há espaço para uma
grande visibilidade daquilo que, de tão feio, condenável e abjeto, na
sociedade, deveria, mesmo, ficar nas sombras. Além disso, a técnica de iluminação, utilizada por ARTUR LUANDA RIBEIRO e HUGO MERCIER não é comum no TEATRO tradicional, pois tem uma função
a mais: ela funciona como um ser actante, contracenando com os atores.
A cenografia, também, de ANDRÉ e ARTUR, é de suma importância no trabalho. Além de vários objetos de
cena, indispensáveis, que vão sendo introduzidos no cenário, de acordo com as necessidades, ocupam o espaço cênico, de forma admirável, sete
estruturas vazadas de colchões de mola (apenas as esquadrias e as molas),
permitindo que se aviste o que está por trás delas e que servem de limites, de
“paredes”, para os diversos ambientes, sem o sentido do confinamento. Tudo se
mistura, tudo está presente, em qualquer espaço geográfico do planeta.
Esses colchões vão
sendo deslocados, pelos próprios atores, contando com a colaboração valiosíssima
de JESSÉ NATAN e LEANDRO BRANDER (um ou outro, ou os
dois, salvo engano), construindo estruturas físicas, como paredes e muros
diáfanos.
Para
completar os elementos cenográficos, merecem um grande destaque os bonecos,
criados e construídos por uma marionetista russa, de nome NATACHA BELOVA, e por um artista plástico brasileiro, BRUNO DANTE. São peças que chamam a
nossa atenção, pela sensação de estarem vivas e pela maneira como são
manipuladas pelos atores, contracenando com eles, com seus “GRITOS”, silenciosos
e interiores.
THANARA SCHONARDIE é uma figurinista
que "brinca" com os materiais que emprega nos seus figurinos. Considero-a uma “artista
plástica do TEATRO”. Cada peça por ela criada é uma joia, que merecia ser
exposta num “Museu dos Figurinos”,
se alguém viesse a pensar nele, para serem apreciadas pelas futuras gerações. É
assim que ela trabalha suas criações para “GRITOS”,
um trabalho digno de todos os aplausos.
Falar da atuação de ARTUR CURTI e ANDRÉ LUANDA RIBEIRO é uma função quase impossível, pois ainda não foi inventada uma fórmula, para se descrever o indescritível. Só mesmo vendo, para aquilatar o belíssimo trabalho de corpo e de expressão facial dessa dupla, invencível, naquilo a que se propõe fazer: DIZER, SEM FALAR.
Falar da atuação de ARTUR CURTI e ANDRÉ LUANDA RIBEIRO é uma função quase impossível, pois ainda não foi inventada uma fórmula, para se descrever o indescritível. Só mesmo vendo, para aquilatar o belíssimo trabalho de corpo e de expressão facial dessa dupla, invencível, naquilo a que se propõe fazer: DIZER, SEM FALAR.
FICHA TÉCNICA:
Concepção, Dramaturgia, Cenografia e Direção: André Curti e Artur Luanda Ribeiro
Interpretação: André Curti e Artur Luanda Ribeiro
Pesquisa e Realização Objetos / Bonecos: Natacha Belova e Bruno Dante
Assistente de Realização Objetos / Bonecos: Cleyton Diirr
Criação Musical Grito 1: Fernando Mota
Colaboração: Beto Lemos e Marcelo H
Direção Musical Gritos 2 e 3: Beto Lemos
Criação Musical Gritos 2 e 3: Marcelo H
Cenotécnico: Jessé Natan
Iluminação: Artur Luanda Ribeiro e Hugo Mercier
Figurinos: Thanara Schonardie
Contramestra: Maria Madalena Oliveira
Comunicação Visual: Bruno Dante
Técnico de Luz : PH
Técnico de Som: Gabriel Reis
Contrarregra: Jessé Natan e Leandro Brander
Direção de Produção: Sérgio Saboya E Sílvio Batistela
Produção Executiva: Ártemis
Assistente de Realização Objetos / Bonecos: Cleyton Diirr
Criação Musical Grito 1: Fernando Mota
Colaboração: Beto Lemos e Marcelo H
Direção Musical Gritos 2 e 3: Beto Lemos
Criação Musical Gritos 2 e 3: Marcelo H
Cenotécnico: Jessé Natan
Iluminação: Artur Luanda Ribeiro e Hugo Mercier
Figurinos: Thanara Schonardie
Contramestra: Maria Madalena Oliveira
Comunicação Visual: Bruno Dante
Técnico de Luz : PH
Técnico de Som: Gabriel Reis
Contrarregra: Jessé Natan e Leandro Brander
Direção de Produção: Sérgio Saboya E Sílvio Batistela
Produção Executiva: Ártemis
Equipe de produção: Alex Nunes e Patrícia Basílio
Realização próteses: Dra. Rita Guimarães de
Freitas
Fotos: Renato
Mangolin
Produção: Cia Dos à Deux e Galharufa Produções
Culturais
Assessoria de Imprensa: Paula Catunda e Bianca Senna
Assessoria de Imprensa: Paula Catunda e Bianca Senna
SERVIÇO:
Temporada: De 23/3 a 15/4 de 2018
Local: Casa de Cultura Laura
Alvim
Endereço: Avenida Vieira Souto, 176 – Ipanema – Rio de Janeiro
Informações: (21) 2332-2015
Dias e Horários: 6ª feira e
sábado, às 20h; domingo, às 19h
Valor do Ingressos: R$50,00
(inteira); R$25,00 (meia entrada)
Horário de Funcionamento da
Bilheteria: De 3ª a 6ª feira, das 16h às 21h; sábado, das 15h às 21h; domingo,
das 15h às 20h
Capacidade: 190 lugares
Classificação
Indicativa: 14
anos.
Gênero: Drama
Duração: 1h15min
(FOTOS: RENATO MANGOLIN.)
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