GRANDE SERTÃO: VEREDAS
(DAS PÁGINAS DE UM CLÁSSICO
DA LITERATURA MUNDIAL
DA LITERATURA MUNDIAL
AO PALCO,
UMA MAGNÍFICA ADAPTAÇÃO
E
Estando em São Paulo, no final do ano passado, não
consegui assistir a um espetáculo indicado por todos os meus amigos paulistanos
e pela crítica local, tão grande era a procura por um lugar para vê-lo.
Finalmente, há
alguns dias, matei o meu grande desejo a saciei a minha imensa curiosidade. É
uma OBRA-PRIMA!!! Basta esse único
adjetivo composto, para uma classificação justa!!!
OBRA-PRIMA!!! É como qualifico o
espetáculo “GRANDE SERTÃO: VEREDAS”,
uma leitura cênica, ou uma “instalação
cênica”, de um dos melhores livros da literatura brasileira, mundialmente
consagrado, de autoria de um gênio, JOÃO
GUIMARÃES ROSA, idealizada e realizada por uma das nossas grandes
encenadoras, BIA LESSA, em cartaz no
Centro Cultural Banco do Brasil do Rio
de Janeiro (CCBB - RJ) (VER SERVIÇO.).
No
detalhadíssimo e cuidadoso “release”
da peça, enviado pela assessoria de imprensa
(SAULO CAMPOS - APRROACH COMUNICAÇÃO),
o espetáculo é “vendido” como uma “instalação/espetáculo”,
e a designação está muito bem aplicada à obra, já que se trata de um trabalho
multimídia, que extrapola os limites de um palco e a linguagem única do TEATRO.
A
começar pelo espaço em que se dá a ação, qual seja a rotunda do CCBB-RJ, na qual foi montada uma estrutura retangular,
com andaimes metálicos, de maneira a formar um teatro de arena, em dois níveis. Tudo parece se passar dentro de
uma gaiola ou uma cela, que, ao mesmo tempo que aprisiona, liberta. E, aqui, o
vocábulo “arena” quase que pode ser
decodificado com o seu valor denotativo:
“parte
central dos anfiteatros romanos, coberta de areia, onde se realizavam
combates entre gladiadores e feras”; ou “espaço circular, fechado, para
touradas e outros espetáculos”. É que o se vê, durante os 160 minutos de duração do espetáculo,
embora a areia só seja “vista” pelos
olhos se quem deseja vê-la: uma sangrenta batalha entre homens, jagunços, em
busca de vingança ou lavagem da honra, seguindo-se os ditames de uma cultura
primitiva, rudimentar, mas na qual cabe espaço para a descoberta do amor e uma
luta contra, e por, ele. A tentativa da não-aceitação e o arrependimento por
não tê-lo vivido, na sua plenitude.
O
espetáculo impacta o espectador, desde que este adentra o CCBB, e se deixa embevecer por uma instalação, que ocupa a rotunda
daquele espaço cultural, um pouco mais concentrada nas proximidades do Teatro I, desativado, enquanto durar a
temporada de “GRANDE SERTÃO...”. A
obra de arte, assinada por BIA LESSA,
que envolve, também, iluminação,
pode ser admirada e “sentida” por quem transitar por aquele espaço, durante o
dia e a noite.
SINOPSE:
Em montagem inédita, na
rotunda do CCBB Rio de Janeiro, BIA LESSA propõe, a um só tempo, uma peça de TEATRO e uma instalação, em sua adaptação do livro “GRANDE SERTÃO: VEREDAS” – matriz do moderno
romance brasileiro e obra-prima de JOÃO
GUIMARÃES ROSA.
A peça traz, para o palco, a saga do jagunço RIOBALDO (CAIO BLAT), que atravessa o
sertão, para combater seu maior inimigo, HERMÓGENES (LEON GÓES), fazer um pacto com o
diabo e viver seu amor por DIADORIM
(LUIZA LEMMERTZ).
SINOPSE
(AMPLIADA) DO TEXTO ORIGINAL:
A peça se inicia com o narrador, em
primeira pessoa, RIOBALDO, contando
fatos diversos e de difícil compreensão, desconexos, acerca de suas
inquietações sobre a vida. Ele parece não ter domínio do seu juízo.
Aborda, de forma meio alienada, e alienante,
questões complexas, dentre as quais há espaço para a origem do homem, reflexões
sobre a vida, com destaque para digressões sobre o bem e o mal, Deus e o diabo...
Tudo isso, repito, sem obedecer a uma organização de suas ideias, o que não as
torna muito claras, para o leitor/público.
As coisas só começam a ser ditas de
forma compreensível, com o surgimento de um personagem, QUELEMÉN DE GÓIS, que o ajuda, em parte, e o protagonista dá início à narrativa, propriamente dita, o corpo
principal da obra.
Uma vez com os pensamentos mais
organizados, inicia por trazer à luz memórias de seu passado, contando fatos
sobre sua mãe e como conheceu o menino REINALDO,
que se declarava ser “diferente” e
de quem admirava a bravura.
Com a morte de sua mãe, RIOBALDO é levado, para viver com o
padrinho, SOLORICO MENDES, na
fazenda São Gregório, onde tem a
oportunidade de conhecer JOCA RAMIRO,
grande chefe dos jagunços.
SELORICO
ocupa-se de que o rapaz estude e, após um tempo, RIOBALDO chega a ensinar as letras e outros conhecimentos a ZÉ BEBELO, um fazendeiro local. Este,
que objetivava acabar com a atuação dos jagunços na região, convida RIOBALDO, para fazer parte de seu
bando, o que o jovem, prontamente, aceita.
E, assim, começa a história da primeira
guerra, narrada no romance.
HERMÓGENES
liderava um bando de jagunços. Ele e seus homens, por um pouco tempo, assumem
uma contenda contra ZÉ BEBELO e os soldados
do governo, entretanto resolve desistir da batalha.
Após isso, RIOBALDO decide deixar o bando de ZÉ BEBELO e é quando se dá o seu encontro com REINALDO, um rapaz, como já disse, “diferente”, muito valente e corajoso, que integrava o bando de JOCA RAMIRO, mas decidiu, então,
juntar-se ao grupo do qual RIOBALDO
fazia parte.
A amizade entre os dois se fortalece,
assim como a confiança de um no outro, paulatinamente, até que REINALDO decide confidenciar, a RIOBALDO, seu nome verdadeiro: DIADORIM.
Num determinado momento, ocorre uma
batalha entre o bando de ZÉ BEBELO e
o de JOCA RAMIRO, quando aquele é
capturado e julgado por um “tribunal”, composto pelos líderes dos jagunços, dos
quais JOCA RAMIRO é o chefe supremo.
HERMÓGENES e RICARDÃO são favoráveis à morte do prisioneiro. No fim do
julgamento, porém, JOCA RAMIRO
decide-se pela liberdade de ZÉ BEBELO,
com uma condição: a de que ele “se exilasse”, para Goiás, e não voltasse, até segunda ordem.
Após o julgamento, RIOBALDO e REINALDO juntam-se a um outro bando, o de TITÃO PASSOS, que também lutou ao lado de HERMÓGENES.
Dá-se um longo período de paz e
prosperidade no sertão, até que um jagunço, chamado GAVIÃO-CUJO, procura o grupo de TITÃO, para informá-lo de que JOCA
RAMIRO fora traído e morto por HERMÓGENES
e RICARDÃO, os quais passam a
ser considerados como “os judas”,
assim denominados dali em diante.
Quando se dá tal revelação, RIOBALDO estava tendo um caso amoroso
com a prostituta NHORINHÁ e,
posteriormente, envolve-se, amorosamente, com OTACÍLIA, por quem se apaixona. Isso, curiosa e estranhamente,
provoca ciúme em DIADORIM, que fica
com raiva e, durante uma discussão com RIOBALDO,
perde o domínio da razão e chega a ameaçá-lo, com um punhal.
Os jagunços se reúnem, para combater “os judas”, e, assim, começa a segunda guerra, organizada sob novas
lideranças: de um lado, HERMÓGENES e
RICARDÃO, assassinos de JOCA RAMIRO e traidores do bando; do
outro, os jagunços liderados por ZÉ
BEBELO, que retorna, para vingar a morte de seu salvador. Em certo momento
da narrativa, os dois bandos se unem, para tentar fugir do cerco armado pelos
soldados do governo, mas o bando de ZÉ
BEBELO foge, na surdina, do local, e deixa HERMÓGENES e seus homens lutando, sozinhos, contra os soldados.
RIOBALDO
entrega um topázio a DIADORIM, o
que simbolizaria a união entre os dois, numa metáfora, ainda que não intencional, de um anel de compromisso, que
os prenderia, como um casal, mas DIADORIM
o recusa, dizendo que deveriam esperar o final da batalha.
Quando o grupo de ZÉ BEBELO chega às Veredas-Mortas,
em dado momento, RIOBALDO faz um
pacto com o diabo, sob o pretexto de conseguir vencer o bando de HERMÓGENES. Assumindo uma fictícia
identidade, com o nome de URUTU-BRANCO,
ele toma a si a chefia do bando e ZÉ
BEBELO deserta do grupo. Não conformado com a recusa de DIADORIM, em receber o topázio, RIOBALDO pede a um jagunço que o
entregue, então, a OTACÍLIA, o que
firma o compromisso de casamento entre os dois.
O bando liderado por RIOBALDO (ou URUTU-BRANCO) segue em caça por HERMÓGENES, chegando até sua fazenda, já em terras baianas. Lá,
eles aprisionam a mulher do “judas” e,
não o encontrando, voltam para Minas Gerais.
Em um primeiro momento, dão de cara com o bando de RICARDÃO, e URUTU-BRANCO o mata. Por fim, chegam ao
grupo de HERMÓGENES, no Paredão, e há uma grande e sangrenta
batalha.
DIADORIM
enfrenta HERMÓGENES, em
confronto direto, e ambos morrem. RIOBALDO
descobre, então, que DIADORIM é, na
realidade, a filha de JOCA RAMIRO e
se chama MARIA DEODORINA DA FÉ
BITTANCOURT MARINS.
OBSERVAÇÃO: À
exceção de CAIO BLAT, LUIZA LEMMERTZ e LEON GÓES, que assumem um único papel, os
nomes dos demais atores não aparecem ao lado dos seus respectivos personagens,
pois eles se revezam em vários e, por vezes, o mesmo personagem é vivido por
mais de um ator/atriz.
Sabe-se
que o espaço físico em que se dão as ações, no romance, é o sertão brasileiro, centrado em partes
dos estados da Bahia e de Minas Gerais. Algumas referências
geográficas correspondem à realidade; outras, porém, são frutos da fertilíssima
imaginação de ROSA. O sertão é,
incrivelmente, transposto para o espaço cênico, desprovido de elementos de cena
desnecessários. O pouco que lá existe é
muito, é tudo.
Antes de qualquer
comentário sobre esta inesquecível
montagem, faz-se necessário exaltar o trabalho de BIA LESSA, na adaptação
e direção da peça, a sua coragem, a
sua determinação e o seu talento. ROSA
escreveu: “Contar é muito, muito dificultoso.”. “Carece de ter coragem...”. Mais “dificultoso”,
ainda, foi o irretocável tratamento que BIA deu ao texto, que é
longo (mais de 600 páginas), mantendo todas as situações e sendo fiel à singular
linguagem de ROSA, sua marca registrada, como o maior neologista
brasileiro de todos os tempos. Acrescente-se a isso a fusão de linguagens
que BIA utilizou nesta montagem, mesclando o TEATRO com outras
formas de expressão artística, como, a dança, as artes plásticas a
música. Os 250 bonecos, em tamanho de um adulto, confeccionados
pelo artista plástico, aderecista, cenógrafo e diretor
FERNANDO MELLO DA COSTA, feitos de um material rústico, que se
assemelha ao feltro e, ao mesmo tempo, lembra aqueles cobertores de baixíssima qualidade,
é algo que impressiona o espectador, à primeira vista, e já colabora para que
ele seja transportado ao universo pretendido pela encenadora. O conjunto compõe
“uma
imagem permanente: a cena da morte de DIADORIM, como um presépio, passível
da participação do público,
não só como espectador, mas também como agente da ação, ocupando o lugar da personagem”.
No original, o livro, único romance
escrito por GUIMARÃES ROSA, publicado em 1956, não é marcado por divisões. O personagem-narrador conta a história a um
interlocutor desconhecido, que nunca se pronuncia, a quem ele chama "Senhor", "Moço" ou "Doutor". Esse passa a ser
cada um dos espectadores.
O romance constrói-se como uma
longa narrativa oral. As histórias vão sendo emendadas, articulando-se com a
preocupação do narrador de discutir a existência ou não do diabo, do que
depende a salvação de sua alma. Isso, na adaptação para o TEATRO, faz com que o espetáculo ganhe bastante dinamismo.
O que nos é
oferecido, fisicamente, atinge a nossa visão, a audição e, pode-se dizer, o
tato; apenas o paladar e o olfato não são aguçados, provocados, se bem que,
confesso, em alguns momentos, pareceu-me sentir um cheiro áspero de terra seca,
aquela que o espectador “vê”, em cena, sem que ela lá esteja fisicamente. Uma
obra-de-arte!!!
Há
um “mito” acerca da leitura da obra, considerada hermética em demasia, de
difícil compreensão, por boa parte das pessoas, principalmente pela linguagem rosiana, entretanto é inacreditável a capacidade que BIA
LESSA teve de fazer uma leitura do romance e uma adaptação dramatúrgica, capaz
de atingir a quem leu o livro e aos que não o fizeram, da forma mais simples e
descomplicada possível. Para conseguir isso, é preciso ter uma convivência profunda com
a obra de GUIMARÃES ROSA e um conhecimento pleno de seu SERTÃO, o
que BIA tira de letra. Basta lembrar o grande sucesso que fez, na inauguração do Museu da Língua Portuguesa (São Paulo), em 2006, com uma exposição
sobre o SERTÃO do grande mestre,
aclamada, pelo público e pela crítica, por onde passou.
Não
é por acaso que o espetáculo foi vencedor do Prêmio APCA, como Melhor
Direção (BIA LESSA) e indicado ao Prêmio
Shell de Teatro (São Paulo), nas categorias Direção (BIA LESSA), Ator (CAIO
BLAT) e Música (EGBERTO GISMONTI),
após uma longa temporada, de casa lotada, na capital paulista, no SESC
Consolação.
Segundo
BIA, “O TEATRO, para mim, é sagrado. Me dedico a ele, de tempos em tempos, não me sinto com capacidade
de realizar espetáculos, um após o outro. Me deparei com o ‘GRANDE SERTÃO’ e ele se apoderou de mim mais uma vez. Quando montei a exposição,
algumas questões se apresentavam: a principal delas era como utilizar imagens,
sem que o significado do SERTÃO de GUIMARÃES ficasse reduzido a um único lugar.
A opção, na época, foi trabalhar apenas com palavras. No TEATRO, essa questão
volta a se impor: 'o sertão está dentro da gente'. Nosso caminho foi realizar
um trabalho em que homens, animais e vegetais estabelecessem uma relação de
diálogo, sem supremacia entre eles. Não estamos, exatamente, no sertão, mas em
um espaço “ecológico” e metafísico, onde tudo cabe. Um espaço, uma imagem, que
nos possibilita a experiência proposta pelo romance, sem, obviamente, realizar
o romance, tal como é – fidelidade absoluta (todas as palavras ditas são de GUIMARÃES
ROSA), mas liberdade infinita, visto que é apenas uma das leituras possíveis da
riquíssima obra de GUIMARÃES. Escolhemos não utilizar grandes efeitos ou
recursos, a não ser a valorização do universo sonoro dos espaços propostos pelo
romance, apenas os próprios atores”.
A diretora
tem a intenção de abrir nossos olhos para o fato de que há um “GRANDE SERTÃO” dento de cada um de nós,
uma aridez que nos desafia a vencer nossos inimigos, surjam eles da forma como
surgirem.
De forma alguma, para criar o clima de sertão, do
agreste, poderia faltar a colaboração preciosíssima de EGBERTO GISMONTI, na parte musical. EGBERTO, um dos mais completos e competentes músicos brasileiros,
com carreira internacional, assina a trilha
sonora, composta por três “camadas”, as quais, por vezes, se sobrepõem: os
ruídos e sons ambientes, de animais, principalmente; a música original,
composta pelo próprio; e canções que mexem com a nossa memória emotiva/afetiva,
com músicas que fazem parte do imaginário popular. A utilização de fones de
ouvido, distribuídos a cada espectador, leva cada um, do atento público, a se
fixar mais em um ou outro som, cada um vivendo o que se pode chamar de uma
experiência única.
Como a acústica, para TEATRO, no espaço em que se dá a encenação, praticamente, não
existe, a direção, muito
inteligentemente, houve por bem espalhar, estrategicamente, microfones,
direcionais ou não, muito possantes, por todo o espaço cênico, além de pôr à
disposição de cada espectador, como já disse, um fone de ouvido, com tratamento
higienizado, de forma que não se perde, absolutamente, nada das falas dos
atores e dos sons de pássaros e outros animais, além de ruídos diversos, tais
como vento, chuva e carros de boi, por exemplo, com a maior nitidez de som, o
que ajuda o público a se deixar levar por aquela viagem e “participar”, de
certa forma, das ações. Contribui, para isso, o impecável desenho de som, de FERNANDO HENNA e DANIEL
TURINI. É algo extraordinário!!! Uma experiência inenarrável e inesquecível!!!
Vale o registro de que a plateia tem um
comportamento exemplar e fica, durante quase três horas, sem intervalos, presa
ao espetáculo, atenta e interessada, “sorvendo” cada palavra, alimentando-se de
cada gesto... Ninguém se lembra, sequer, do maldito celular, ninguém conversa, à
exceção, no dia em que assisti à peça, de um grupo de senhoras, ao meu lado,
que não deviam nem saber por que estavam ali, as quais sorriam e trocavam
comentários jocosos, a cada vez que um ator ou atriz se despia em cena, o que me
fez pedir-lhes, mais de uma vez, que se comportassem como pessoas educadas, civilizadas.
A atmosfera sombria da
obra não comporta uma paleta de cores vivas e diversas, de modo que SYLVIE LEBLANC optou, acertadamente, na
confecção de todos os trajes, pela cor preta: calças, blusas, batas, camisetas,
malhas, vestidos, tudo meio amorfo, como uns andrajos, sem obedecer a formas
padronizadas de corte e feitio, provocando um excelente efeito visual, sem a
menor preocupação em desenhar trajes típicos do sertão. Isso facilita,
bastante, para ao ator, que se multiplica em vários personagens, fazendo uso,
apenas, de um ou outro adereço, e a plateia, ao mesmo tempo que parece nivelar
todos, jagunços e fazendeiros, poderosos e oprimidos, por meio desse fantástico
figurino.
Nem precisava dos números
que estão presentes, no “release”,
para se chegar à conclusão de quanto esforço físico e tempo foram necessários
durante todo o processo: mais de 600
horas com o elenco, em ensaios diários por 92 dias. Nessa faina toda, se
encaixa o incrível trabalho de movimentação
e preparação corporal, a chamada direção
de movimento, por conta de AMÁLIA
LIMA, diariamente, durante todo o tempo de ensaios.
Fiquei com uma certa
dúvida, quanto a quem assina o desenho
de luz da peça, uma vez que a ficha
técnica do espetáculo registra os nomes de BIA LESSA e, também, de BINHO
SCHAEFER. Não importa. Basta saber que funciona muito bem, na encenação.
Para encerrar esta cuidadosa análise
da peça, falta falar do magnífico elenco, outro grande acerto da direção,
que reúne atores experientes, de comprovado talento, no TEATRO e em outras mídias, e jovens incipientes, porém não
insipientes, de várias partes do Brasil.
São dez pessoas, totalmente engajadas no projeto, que, praticamente, estão
presentes, no espaço cênico, ou circulando pelas adjacências, durante toda a peça, num perene exercício de profunda
interpretação, vivendo seres humanos, animais diversos, como bois e vacas,
peixes, sapos e galinhas, além de outros elementos da natureza, tais como
pedras, árvores, plantas...
O protagonismo da peça caiu nas mãos de CAIO BLAT, que, já há muito tempo, não precisa mais provar que é um
dos melhores atores de sua geração. CAIO
se entrega ao personagem, numa interpretação visceral, muito forte, bastante
convincente, quer nos momentos de fragilidade do personagem, por suas dúvidas e
medos, quer na demonstração de seu poderio humano.
O modelo de interpretação visceral, profundo, intenso, de total entrega, aliás,
está presente no trabalho de todos.
Pela primeira vez, tive a oportunidade
de ver, em cena, a atriz LUIZA
LEMMERTZ, que vive todo o mistério envolvendo o/a personagem DIADORIM e confesso que seu trabalho muito me
encantou. A atriz, por conta de seu talento e de todo o visagismo preparado para DIADORIM, mantém uma expressão dúbia, ambígua, entre o masculino e o feminino. Belíssima interpretação!!! E ainda há quem não acredita em DNA:
LUIZA traz, no sangue, o talento de
sua mãe, Júlia Lemmertz, e de sua avó,
Lílian Lemmertz, uma das mais
importantes atrizes do TEATRO BRASILEIRO.
Em papéis mais marcantes e nos quais
brilham, podemos citar LUÍSA ARRAES,
que, apesar de bem jovem, já pode ser considerada uma grande e experiente
atriz; LEON GÓES e LEONARDO MIGGIORIN.
Completam o elenco, em ordem alfabética,
também com excelentes atuações, BALBINO
DE PAULA, CLARA LESSA, DANIEL PASSI, ELIAS DE CASTRO e LUCAS ORANMIAN.
FICHA TÉCNICA:
Concepção, Direção Geral, Adaptação e Desenho de Luz – Bia Lessa
Elenco (por
ordem alfabética): Balbino de Paula, Caio Blat, Daniel Passi, Elias de
Castro, Leon Góes, Leonardo Miggiorin, Lucas Oranmian, Luísa Arraes, Luiza
Lemmertz e Clara Lessa.
Concepção Espacial – Camila Toledo, com colaboração de Paulo Mendes da Rocha
Música – Egberto Gismonti
Colaboração – Dany
Roland
Desenho de Som – Fernando
Henna e Daniel Turini
Adereços – Fernando Mello Da Costa
Figurino – Sylvie Leblanc
Desenho de Luz – Binho Schaefer
Projeto de Áudio – Marcio
Pilot
Diretor Assistente: Bruno
Siniscalchi
Assistente de Direção:
Amália Lima
Fotos: Roberto Pontes
Direção Executiva: Maria
Duarte
Produtor Executivo: Arlindo
Hartz
Colaboração – Flora Sussekind, Marília Rothier, Silviano Santiago, Ana Luiza Martins Costa e Roberto Machado
Idealização
e Realização: 2+3 Produções Artísticas Ltda.
Patrocínio : Banco do Brasil e
Globosat
Apoio: Instituto-E | Om Art
Gênero: Drama
Gênero: Drama
Agradecimento especial à viúva do autor, a quem a obra foi dedicada, Aracy
Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, à Nonada Cultural e a Tess Advogados.
SERVIÇO:
PEÇA:
Temporada: De 28 de janeiro a 31 de março de 2018
Local: CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil – RJ)
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 - Centro - Rio de Janeiro
Informações: (21) 3808-2020
Dias e Horários: De 4ª feira a domingo, às 21h
Duração: 140 minutos
Capacidade: 172 espectadores
Classificação Etária: 18 anos
Valor dos Ingressos: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia).
Regras: Os ingressos são vendidos sempre na segunda-feira da semana
anterior à da sessão pretendida, na bilheteria do CCBB ou no “site”.
Cota do dia: 10% dos lugares são vendidos a partir das 9h do dia da
apresentação, na bilheteria do CCBB.
Clientes do Banco do Brasil têm 50% de desconto, usando o cartão Ourocard.
O cupom de desconto corresponde aos 6 primeiros dígitos do cartão.
Regras de meia-entrada: estudantes, idosos, menores de 21 anos, pessoas
com deficiência, professores e profissionais da rede pública municipal de
ensino.
INSTALAÇÃO:
Visitação livre: a partir de 29 de janeiro.
Horários: De 4ª feira a 2ª feira, das 9h às 21h.
Capacidade: 100 pessoas
Classificação: Livre
Mais
uma vez, BIA LESSA abusa de suas licenças poéticas, na direção de um espetáculo teatral, e nos surpreende
sempre. Depois de expor a nudez de alguns atores, em cenas nas quais ela é
totalmente necessária e não-gratuita, era de se esperar que a revelação do sexo
de DIADORIM, após a sua morte, se desse
pela exposição de seu corpo nu. BIA,
porém, nos reserva uma bela surpresa, que não revelarei (#spoillernao), mas que é linda e comovente, além de extremamente
criativa.
O
velho ROSA dizia que “Viver é muito perigoso.”. Talvez tão perigoso
quanto fazer TEATRO, no Brasil. Talvez tão perigoso quanto se
atrever à adaptação de um clássico da literatura para os palcos. Talvez tão
perigoso quanto se expor, aos olhos do público e da crítica.
Nada,
porém, pode ser dito de forma a não consagrar este “GRANDE SERTÃO: VEREDAS” como uma OBRA-PRIMA, que haverá de disputar, ainda, muitos prêmios e fazer
muito sucesso por onde passar, graças a um esforço conjunto de um “bando de
loucos”, gente que entende de TEATRO,
gente que vive para o TEATRO, gente
que ama o TEATRO.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO
DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM E DIVULGUEM BASTANTE O
TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: ROBERTO PONTES
e
DIVULGAÇÃO.)
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