A
LENDA DO SABIÁ
– UM
ESPETÁCULO BEM BRASILEIRO
(E “BEM” MUITAS
OUTRAS COISAS
BOAS...”)
A
tristeza, às vezes, ampliada para “raiva”, quando deixo um teatro, após ter
assistido a uma “superprodução”, com orçamento milionário e um elenco estelar,
com muitos patrocínios, e que é de ruim ou, até mesmo, péssima qualidade só é
proporcional à alegria, à imensa alegria, que toma conta de mim, quando vejo um
espetáculo modesto, montado com parcos recursos, mas com muito sacrifício,
dedicação, bom gosto e criatividade, como a peça que vi no último domingo, 11
de junho/2017: “A LENDA DO SABIÁ – UM
ESPETÁCULO BEM BRASILEIRO”, que está em cartaz no SESC Tijuca, Teatro 1 (VER
SERVIÇO.).
O
espetáculo é uma idealização do ator ANDRÉ ARTECHE, que também dirige
o espetáculo e compôs a trilha sonora
original. É uma produção do SESC e da CIA OS ABORÍGENES DE
TEATRO.
O “gênero”
da peça, que consta na ficha técnica, não poderia ser outro: teatro
de cordel; daí a sua grande brasilidade.
Chamo a atenção dos leitores para um detalhe muito importante, a respeito
da peça, que, certamente, despertará a curiosidade de todos e levará muita gente
ao simpático teatro da zona norte carioca, para conferir a sua boa qualidade: a
montagem deste musical contou com a benção de, nada
mais, nada menos, que Ariano Suassuna,
com quem ANDRÉ esteve, em Recife,
pouco antes do lamentável falecimento daquele gênio.
Suassuna leu o texto, os dois conversaram sobre os planos para a sua montagem e Mestre Ariano gostou do que leu e
incentivou a concretização do sonho de ANDRÉ,
em seu primeiro texto e primeira direção. Para esta, contou o diretor com a co-participação de PRISCILA
VIDCA.
No palco, dez atores/músicos contam, em versos, como folhetos de cordel, a
lenda de SABIÁ, “um sanfoneiro que é acusado,
injustamente, por um crime e, em um vivaz realismo fantástico, volta à vida,
transfigurado em um homem pássaro”, segundo o “release” da peça, enviado por SILVANA
CARDOSO (PASSARIM COM & MKT).
Extraído do
referido “release”: “O espetáculo, que tem suas raízes na literatura de cordel, é uma
comédia, que fala sobre o Brasil e faz um tributo a romancistas que são
referência, ao retratarem o folclore e o regionalismo do país, como Mário de
Andrade (1893/1945) e Ariano Suassuna (1927-2014), e seus personagens, como Macunaíma
e João Grilo, bem como o compositor Luiz Gonzaga (1912/1989), dentre muitos
outros autores brasileiros.”
SINOPSE:
SABIÁ (ANDRÉ ARTECHE), sanfoneiro, morador do sertão baiano, é
acusado por um crime que não cometeu e dois matadores vão ao vilarejo, para
jurar vingança.
Encontros e desencontros
envolvem os moradores da região e, ao final, SABIÁ, apaixonado por NEUZINHA
(ROSE LIMA), sendo correspondido por esta, é capturado e morto, mas volta à
vida, com a magia de MÃE PAINHA
(FRANCISCO SALGADO), rezadeira da região.
Teatro de cordel, recheado
de realismo fantástico, inspirado nas grandes obras do folclore e da comédia
popular.
O advérbio “bem”, utilizado no subtítulo da peça (“bem brasileiro”), com sentido de intensidade, pode ser aplicado a outras
qualidades do espetáculo: bem
simples, bem bonito, bem singelo, bem lírico, bem leve, bem montado...
É tão bom deixar um teatro com a sensação de que valeu a pena ter saído
de casa, de tão longe, para ver um trabalho de tamanha qualidade, principalmente
por sua simplicidade!
É
difícil acreditar que este seja o primeiro texto de ANDRÉ ARTECHE,
por ser tão bem escrito e, como se não bastasse isso, todo em versos, o que é
uma prova cabal de que uma nova carreira surge para o bom ator, que já é. Gaúcho
que escreve com a linguagem do nordestino. Pode parecer estranho, porém as
características regionais da fala do nordeste lá estão, na boca de cada
personagem, fruto, evidentemente, de uma boa pesquisa.
A
direção, que ANDRÉ também assina, com a co-direção de PRISCILA
VIDCA, é muito interessante: dinâmica, extremamente criativa e apresentando
ótimas soluções, como a utilização de arcos, enfeitados de fitas, que se transmutam
em vários objetos e são utilizados das mais diferentes maneiras, todas muito imaginativas,
inventivas, engenhosas...
Não
pensem que vão encontrar um cenário luxuoso, com escadarias, elevadores
e elementos que sobem e descem, que entram em cena, causando grandes impactos
aos olhos, como ocorre nos musicais milionários. Nada disso. Verão, apenas (e o
“apenas”, aqui, não quer dizer “pouco”) um trabalho lindo, pleno
se singeleza, colorido e alegre, feito com elementos simples, confeccionado com
materiais de baixo custo, como bambu, madeira e fitas em profusão, produzindo,
o conjunto, um deleite para os olhos, além de servir bem à proposta cênica.
Belo trabalho de PAULO DENIZOT, que valoriza sua própria obra, fazendo
dobradinha com uma bonita iluminação.
Por
ser um musical, o espetáculo precisa de alguém que se responsabilize por
essa parte, harmonizando os sons dos instrumentos (sanfona, violão,
rabeca e instrumentos de percussão, como zabumba, caixa e chocalhos), todos executados, ao vivo, pelos atores, com
suas vozes, nas muitas canções que permeiam o espetáculo. Essa
responsabilidade, que culmina com um bom trabalho, é de DIOGO BRANDÃO.
Os
lindos figurinos são da vitoriosa CAROL LOBATO e trazem a sua marca
de bom gosto, leveza e funcionalidade.
Quanto
ao elenco, em ordem alfabética, formado por ALINE CARROCINO MARINEIDE),
ANDRÉ ARTECHE (SABIÁ) ARI GUIMAS (CANTADOR, MENESTREL), EDER MARTINS DE SOUZA (JOÃO BAPTISTA), FRANCISCO SALGADO (MÃE PAINHA), GUSTAVO OTTONI (MATADOR),
PEDRO MAIA (JOSINALDO), RICARDO
LOPES (FARO RASTEIRO), ROSE LIMA
(NEUSINHA) e VALÉRIA ALENCAR (DONA
ENTRONA), confere-se uma grande homogeneidade
entre todos, com cenas de destaque para alguns deles. Destacam-se pelas
características individuais dos personagens que defendem, além de se revezarem
na execução de instrumentos musicais, que apoiam as lindas canções da trilha sonora. Um belo trabalho de grupo! Nota-se a paixão e o prazer de todos
postos naquilo que estão fazendo, gerando uma energia que contagia a plateia.
FICHA TÉCNICA:
Um espetáculo da Cia Os Aborígenes de Teatro
Texto, direção e trilha original : André Arteche
Co-Direção:Priscila Vidca
Direção Musical: Diogo Brandão
Elenco (em ordem alfabética): Aline Carrocino (Marineide), André
Arteche (Sabiá), Ari Guimas (O Cantador, um Menestrel), Éder Martins de Souza
(João Baptista), Francisco Salgado (Mãe Painha), Gustavo Ottoni (Matador), Pedro
Maia (Josinaldo), Ricardo Lopes (Faro Rasteiro), Rose Lima (Neusinha) e Valéria
Alencar (Dona Entrona)
Iluminação e Cenografia: Paulo Denizot
Figurino: Carol Lobato
Caracterização: Graciane Vazquez
Vídeos: Hélder Agostini
Fotos: Dalton Valério
Assessoria de Imprensa: Silvana Cardoso e Juliana Feltz (Passarim
Com & Mkt)
Direção de Produção: Héder Braga
Administração: Alan Isídio
Realização: Arteche Produção e Arte e Isídio Produções
SERVIÇO
Temporada: de 2 a
25 de junho.
Local: Sesc Tijuca.
Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539, Tijuca, Rio de Janeiro, RJ.
Telefones: (21) 3238-2139.
Gênero: Teatro de Cordel.
Dias
e Horários: De 6ª feira a domingo, sempre às 20h.
Valor
dos Ingressos: R$25,00 (inteira), R$12,00
(idosos, estudantes e convênios) e R$ 6,00 (associado SESC).
Classificação Etária: 12 anos.
Capacidade do Teatro: 228 lugares.
Duração do Espetáculo: 80 minutos.
Funcionamento da Bilheteria: De 3ª a 6ª feira, das 7h às 20h; sábados,
domingos e feriados, das 9h às 20h.
Venda antecipada: Apenas na bilheteria do Sesc Tijuca.
O
voo e o canto da ave, que é símbolo do Brasil, estão lá, no palco do SESC Tijuca, para nos receber, encantar
e fazer com que nos lembremos de um Brasil ingênuo, puro, tão esquecido, mas
que merece ser resgatado – e tem de ser –
para a nossa alegria e orgulho, via TEATRO.
Recomendo, com bastante empenho, este espetáculo!!!
(FOTOS:
DALTON VALÉRIO.)
GALERIA PARTICULAR:
(FOTOS: ALEXANDRE POMAZALI.)
Aplausos!!!
Com André Arteche e Rose Lima.
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