terça-feira, 27 de junho de 2017


YANK!


(NUM BELO MUSICAL,

SOBRE UM AMOR PURO,

RESPEITO AO SER HUMANO

E TOLERÂNCIA,  

UM TAPA DE PELICA

NA CARA DOS

HOMOFÓBICOS

DE PLANTÃO.)
 

 


     Lutando contra tudo e contra todos, tendo de matar dez leões por dia, sem qualquer tipo de patrocínio, apelando para um financiamento coletivo, o que, infelizmente, já se tornou uma rotina, no Rio de Janeiro (quiçá, no Brasil inteiro), atingindo os limites de sua resistência física e emocional, um grupo de abnegados grandes artistas, uns “loucos”, na concepção de alguns, aqueles que não conseguem entender o que é o amor pelo TEATRO, conseguiu estrear um espetáculo musical lindo, emocionante, que merece ser visto pelo maior número possível de espectadores. E merece mesmo!!!

            O musical em questão chama-se “YANK!” e está em cartaz, no Teatro Serrador, até o próximo sábado, dia 1º de julho (2017), infelizmente, numa temporada muito curta e cheia de obstáculos, todos transpostos, com muito garbo e coragem, pelo “exército” de “YANK!” (VER SERVIÇO.)

             “YANK!” foi escrito pelos irmãos JOSEPH e DAVID ZELLNIK, norte-americanos (DAVID, inclusive, veio ao Rio de Janeiro, para a estreia do espetáculo, e fez uma brilhante palestra no Teatro Serrador.), e, no Brasil, é produzido pela Silhueta Produções.
 
 
 

O espetáculo tem, em seu elenco, LEANDRO TERRA, idealizador e produtor, e FERNANDA GABRIELA, atriz convidada, além de HUGO BONEMER e BETTO MARQUE, que fazem, respectivamente, os protagonistas, STU e MITCH, além de CONRADO HELT, LEANDRO MELO, CHRIS PENNA, DENNIS PINHEIRO, BRUNO GANEM, ROBSON LIMA e ALAIN CATEIN, além de AURORA DIAS (substituta).

De acordo com o “release” recebido, A montagem de estreia, no circuito Off-Broadway, aconteceu em 2010 e rendeu a ‘YANK!’ 7 indicações ao Drama Desk Awards (incluindo Melhor Musical), assim como indicações de Melhor Musical no Outer Critics Circle Award e The Lucille Lortel Awards”.

Esta é a primeira montagem mundial que não é feita na língua inglesa.







Pelo sucesso alcançado no circuito Off-Broadway, era, para mim, um grande mistério que o espetáculo não tivesse conseguido furar as paredes de concreto e aço, da Broadway, onde, creio, teria condições de fazer uma bela carreira. Um dos autores, DAVID, me disse o porquê, que revelarei mais adiante.

Vale a pena reproduzir uma declaração de um dos brilhantes protagonistas, HUGO BONEMER, sobre a peça: Interpretar um personagem que vive uma relação homoafetiva é natural, como deve ser em qualquer história de amor. A dificuldade real está em viver as nuances de um relacionamento que brota em meio a uma guerra, um ambiente de morte e medo constante. A homofobia, como todo preconceito, é uma doença, mas essa o amor cura”.

Da mesma forma, vale um realce a opinião do outro grande protagonista, BETTO MARQUE: “O que me motiva, neste espetáculo, é descobrir, através desses personagens, a possibilidade de amor em tempos de ódio. Sinto que a intolerância, o ódio e a agressão continuam sendo as energias motrizes de nossos corpos. A Segunda Guerra ainda continua, através da intolerância diária em nossas grandes cidades. Parece que não aprendemos nada. Sinto que aceitamos a guerra e sabemos pouco sobre amor e empatia”.

Não poderia ficar de fora o depoimento de LEANDRO TERRA, idealizador e produtor do espetáculo: “Este projeto é uma chance de estabelecer um diálogo com toda a sociedade carente de representação e que sempre desejou ver os seus sonhos e sua voz trazidos à tona. Estamos em uma época única da história mundial, em que essa questão pode ser abordada de maneira direta, pois transcende as barreiras de nacionalidade ou de gêneros artísticos, sendo do interesse do grande público”.

 
 




 
SINOPSE:
 
O musical é uma carta de amor, um tributo, aos filmes e musicais dos anos 1940 e é baseada numa história verdadeira.
 
O espetáculo conta a história de STU (HUGO BONEMER), um soldado, correspondente de guerra, e MITCH (BETTO MARQUE), um também soldado do exército norte-americano, que se apaixonam e lutam pelas suas sobrevivências, como seres humanos e amantes, num tempo e lugar em que as circunstâncias estão, mais ainda, contra eles, a 2ª Grande Guerra Mundial.
 


 
 


            Meu entusiasmo por este espetáculo é tão grande, que preciso de muita concentração e organização, além de poder de síntese (Não sei se o terei; provavelmente, não. Eu me conheço.), para saber como e por onde começar a minha crítica.

            Antes de mais nada, devo prestar uma homenagem a todos os envolvidos no projeto, pela dupla coragem de não esmorecer, diante de tantos obstáculos, e chegar a concretizá-lo, e, também, por não temer levar à cena, para discussão e reflexão, um tema tão árido; aliás, duplamente árido: a homossexualidade, e dentro do Exército.

Se a temática já incomoda, infelizmente, em pleno século XXI, a tanta gente, de mente limitada, incapaz de entender que “qualquer maneira de amor vale a pena”, que é possível haver amor entre pessoas do mesmo sexo e que este é consequência daquele, podemos todos imaginar o quanto isso mexe com as estruturas arcaicas dos militares, de uma forma geral, embora saibamos, também, que a homoafetividade existe nos quartéis e em qualquer outro lugar; sempre existiu, ao longo do tempo, e não é difícil de ser encontrada num meio predominantemente de homens, como o das Forças Armadas, ou de homens ou mulheres, dos mosteiros e dos conventos, por exemplo.

Os autores deste musical foram felicíssimos, quer na escolha da temática, quer na maneira como a desenvolveram, sem a menor apelação, e com diálogos e canções que enobrecem o TEATRO MUSICAL.

O texto é lírico, poético, não agride, não ofende; muito ao contrário, mostra, da forma mais natural possível, uma realidade da qual não se pode fugir. Souberam JOSEPH e DAVID ZELLNIK atingir o grau necessário, para que sua mensagem pudesse chegar ao público. Mostram quão hipócrita é a sociedade e o próprio grupo fechado dos militares, quando é de seu interesse. Isso aparece, várias vezes, no texto.




A beleza e a dignidade do amor entre STU e MITCH, e o direito a ele, são comoventes e, em determinadas cenas, chegam a materializar a emoção em lágrimas. Aconteceu comigo, da primeira vez em que assisti à peça. Sim, assisti a “YANK!” duas vezes e, se me fosse possível, veria muitas outras. Ocorreu com outras pessoas também. Isso se deve ao texto, à arquitetura da trama e, principalmente ao tom de verdade imprimido pelos dois atores protagonistas, sobre os quais falarei oportunamente.

A rejeição ao “diferente”, a aversão inicial ao “Pezinho de Moça”, o medo de “sair do armário” nada mais são do que algo ligado à constatação daquilo com que entramos em contato todos os dias: agressões, físicas e morais, e assassinatos bárbaros a pessoas que fazem parte do universo LGBT.

Para ilustrar o que digo, tomo a liberdade de transcrever um trecho de uma reportagem, retirada da edição “on line” do jornal “Correio”, da Bahia, data não apurada, mas creio que em torno do dia 23 de janeiro deste ano (2017), lembrando que o Brasil é o país em que mais se assassinam LGBTs, mais do que nos países em que a prática homoafetiva é considerada crime:
 

 


 
Itaberly Lozano era alegre, vaidoso e amava a família. Mas ele foi morto, a facadas, pelas mãos da própria mãe.
 
Edivaldo Silva de Oliveira, o Nino, e Jeovan Bandeira, eram amigos e queridos pela população da cidade de Santa Luz, no interior da Bahia, mas foram mortos e tiveram os corpos carbonizados por assaltantes.
 
A travesti Sheila Santos adorava sambar e era a felicidade na Gamboa, em Salvador, mas foi assassinada, com um tiro na cabeça, no meio da rua.
 
Itaberly, Nino, Jeovan e Sheila compõem uma triste estatística, que mancha de sangue as cores do arco-íris, que são símbolo da população LGBT.
 
Dados divulgados nesta segunda-feira (23), pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), mostram que o ano de 2016 foi o mais violento, desde 1970, contra pessoas LGBTs.
 
Foram registradas 343 mortes, entre janeiro de dezembro do ano passado. Ou seja, a cada 25 horas, um LGBT foi assassinado, o que faz do Brasil o campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais.
 
A Bahia ocupa a segunda posição, dentre os estados, com 32 mortes, ficando atrás, apenas, de São Paulo (49 casos).
 

 
 

Isso não acontece só nas pequenas cidades; nas grandes metrópoles brasileiras, não é diferente. E é com base nessas informações que temos tudo para dizer que o espetáculo em tela é mais do que necessário, mais do que atual, vai com o dedo direto à ferida, uma chaga que não cansa de sangrar e que é preciso que seja cicatrizada com urgência. Não se pode mais tolerar esse tipo de barbárie!!!

A mensagem de tolerância aos LGBTs é muito bem conduzida, pelos autores do musical, sem desfraldar bandeiras nem fazer apologia à homossexualidade. É apenas um grito de alerta para o respeito aos direitos alheios, para aqueles que querem ter os seus também respeitados.

 
 
 
 
 


Tomei a iniciativa de solicitar a um dos autores do musical, DAVID ZELLNIK, que me falasse onde mais, além do circuito Off-Bradway e da montagem brasileira, a peça já foi ou será apresentada. Disse-lhe que havia sabido que o espetáculo estrearia, no próximo dia 3 de julho, em Londres, e pedi-lhe detalhes acerca dessa montagem. Perguntei-lhe, ainda, por que o espetáculo não havia sido encenado na Broadway e, para terminar, solicitei-lhe que me dissesse como surgiu a ideia do musical, por que escrever sobre um tema tão árido e qualquer outra informação que desejasse acrescentar, para enriquecer esta crítica.

DAVID me respondeu, prontamente, com a maior simpatia e precisão, num Português de fazer inveja a muitos falantes estrangeiros, quiçá, também, a alguns “brazilian native speakers”.

Vou tentar fazer um resumo do que ele me disse, em muitas linhas:

 
 



 
O espetáculo foi apresentado em quatro cidades americanas: Richmond, Virgínia; Columbus, Ohio; Louisville, Kentucky; e Sarasota, Flórida. Também será montado em Chicago, em janeiro de 2018.
 
            A temporada, em Londres, no Charing Cross Theatre, irá de 3 de julho próximo até 19 de agosto deste ano, depois de já ter feito sua passagem por Manchester.”
 
            Embora ele e o irmão tenham crescido na década de 80, passaram sua infância imersos em musicais da Era de Ouro e música de “swing”, e parte da razão pela qual queriam escrever “YANK!” foi homenagear esses estilos musicais, que tanto amam.
 
DAVID disse que, depois da temporada Off-Broadwy, tentaram levar o espetáculo para a meca do TEATRO MUSICAL, e quase o conseguiram, por duas vezes.
 
Acrescentou que, erradamente, as pessoas têm uma ideia de que, para chegar à Broadway, a comunidade teatral deve, simplesmente, achar que sua peça é boa; seria o suficiente. Mas é sempre o dinheiro que fala mais alto.
 
O produtor pode ganhar dinheiro? Então, ele aceita produzir o espetáculo. Caso contrário, não. Revelou que muitos produtores adoraram “YANK!”.
 
E DAVID sabia que eles não estavam mentindo, porque assistiram ao espetáculo várias vezes. O que alegavam, como argumento para a negativa de produzir o musical, é que “era ‘gay’ demais, para ficar em cartaz por mais de seis meses, e não havia ‘estrelas’ de Hollywood, no elenco”, além de que “não estava baseado em nada (não entendi) e a música não era ‘pop rock’”.
 
Isso foi em 2012 / 2013, e DAVID lembrou-me que, naquela época, uma nova era, mais ousada, estava apenas começando.
 
Desabafou, dizendo que se sente orgulhoso de que tenha chegado tão perto da Broadway, mas que não está esperando por ela. Disse estar empolgado que “YANK!” esteja em Londres, em julho, e em Chicago, em janeiro, e que um teatro, em Sydney, na Austrália, está interessado no musical. Acrescentou que já concluiu novas peças e que, se, um dia, “YANK!” chegar à Broadway, ficará muito emocionado, mas que, no momento, sua emoção e vibração estão ancoradas no Rio de Janeiro.
 
Sobre a ideia de criar o espetáculo, DAVID confessou: “A gente (ele e JOSEPH) era duas crianças, que cresceram nos anos 80 e acabaram escrevendo um musical sobre a Segunda Guerra Mundial. Em primeiro lugar, para nós, parece inevitável. Crescemos, ambos, amando musicais. Nosso pai era vienense e veio de uma cultura em que a música foi uma parte importante da sua vida. Todos, na nossa família, tinham que aprender a tocar piano.
 
Quando eu virei adolescente, achei que podia cantar. Então, JOE e eu passamos a maior parte das tardes, durante os nossos anos de adolescência, apenas cantando, e cantando, antigas partituras que nossa mãe colecionava. Cantávamos de três a quatro horas por dia. Nós cantávamos a coleção inteira de Rodgers e Hart, o Frank Loesser, Irving Berlim, Cole Porter... E, à medida que crescemos, começamos a escrever nossas próprias músicas. E, depois, os nossos próprios musicais. E, mais para frente, fizemos disso nossa profissão.
 
Um dia, quando nos percebemos adultos, vimos que não mudamos muito – a gente estava cantando músicas de um musical que se chama ‘Brigadoon’, de 1947. A música se chama “The Heather on the Hill”. E, aparentemente, tivemos a mesma ideia, ao mesmo tempo: podia um novo musical ter a sinceridade, simplicidade e charme daquele musical do anos 40?
 
Olhando ao nosso redor, naquele momento, parecia que os novos musicais da Broadway eram todos irônicos, como “The Producers” e “Spamalot”. Eles faziam uma pose de zombar do fato de que eram musicais. Então, a gente acreditou que seria quase um experimento. Podia o público aceitar sinceridade e doçura? Foi a primeira coisa que inspirou “YANK”. Mas, imediatamente, percebemos que, se nós estávamos indo escrever um novo musical, no estilo antigo, ele precisava ser um que ninguém poderia ter escrito naquela época.
 
Felizmente, meu irmão tinha acabado de ler um livro, chamado 'Coming Out Under Fire'. É um ótimo livro, de Allan Berube, sobre homens e mulheres ‘gays’ nas Forças Armadas, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele me deu e achei-o fascinante. Não só muitos homens e mulheres ‘gays’ serviam, com discrição, durante a guerra; alguns deles fizeram isso, de certa forma, aberta, com a compreensão silenciosa de seus comandantes, porque as necessidades da guerra tinham precedência sobre a convenção social. (Observação minha: Para morrer pela Pátria, não importava a orientação sexual das pessoas. HIPOCRISIA PURA!!!)
 
Parecia, simplesmente, incrível, para mim, que essa história tinha acabado de ser esquecida; ou pior, varrida para debaixo do tapete. E, fazendo a pesquisa - eu amo a pesquisa -, deparei-me com a revista “YANK”.
 
Embora seja bem esquecida, agora, “YANK” era uma revista de verdade. Foi escrita pelos próprios soldados. Foi por isso que pensamos que seria o veículo perfeito para explorar a visão de um soldado da WW2.
 
O momento de inspiração foi no início dos anos 2000. Então, nós escrevemos um rascunho, que foi feito no Festival de Teatro Musical de Nova York – NYMF - em 2005. Era a mesma história de amor, com o mesmo final para STU e MITCH, mas, em vez de um diário, era toda a lembrança de um velho, que estava preso em uma casa de repouso.
 
Quando essa apresentação terminou, e foi bem recebida, não houve nenhum produtor que quisesse assumir uma produção da peça. Diziam que era ‘gay’ demais, que não poderia dar certo. O mundo era, de fato, mais homofóbico, mas vimos que todos os tipos de público respondem. Ainda assim, a gente não estava feliz.
 
O ‘show’ ainda parecia pequeno. Eu gosto de um musical para ser íntimo e icônico. Um dia, acordei com a ideia de alguém encontrando um jornal, em um lixo eletrônico. Então, reescrevemos o ‘show’ com essa nova ideia e, ainda, ninguém a queria.
 
Finalmente, dois anos depois, um crítico, que gostara do musical, em 2005 disse que, se ninguém mais estava querendo produzi-lo, ele o faria, no seu Teatro, que era um porão, no Brooklyn, que não montava um novo musical havia 40 anos.”
 
Os irmãos ZELLNICK aceitaram e a montagem foi um sucesso e conseguiu excelentes comentários.
 
Eles passaram os próximos três anos, tentando encontrar produtores reais e arrecadar dinheiro, o que conseguiram em 2010, quando foi levado à cena em Off Broadway e obteve excelentes comentários. Tais ótimas críticas fizeram com que surgissem produtores decididos a levar “YANK!” para a Broadway, mas queriam um diretor de lá e que houvesse alterações no texto e a composição de novas canções. Eles escreveram algumas músicas, que amam, como “My Soldier”, “Get It, Got It”, “Good”, “Light On Your Feet”, e “You, You”, mas não ficaram satisfeitos, porque o diretor da Broadway tirou muito humor e alegria. Mais uma vez, “bateu na trave”.
 
"Então, quando o sonho da Broadway acabou - ficamos muito próximos, duas vezes - nós restauramos o roteiro, que amamos, com as novas músicas e levantamos fundos, para gravá-lo, o que fizemos em 2013.
 
A partir de lá, vieram produções em todo o país e, agora, Londres e, claro, no Rio de Janeiro; é a primeira produção em outro idioma, aqui!"
 
 



 



Gostei bastante da direção, a quatro mãos, dos dois muitíssimo jovens e promissores diretores, MENELICK DE CARVALHO (direção geral) e VÍTOR LOUZADA (assistente de direção), cujos trabalhos anteriores, se é que os houve, eu não conhecia, por ignorância ou falta de oportunidade.

Tinham um limão, dos bem azedos, nas mãos e conseguiram fazer uma deliciosa e doce limonada. Para os parcos recursos de que a produção dispunha, fizeram milagre, utilizando muito trabalho e criatividade. Acho que, seguindo o ótimo texto, souberam traduzir, nas cenas, o ambiente hostil da caserna e da guerra, principalmente quando tudo gira em torno do amor entre dois homens.

Os dois encontraram ótimas soluções, que se encaixassem nos ínfimos recursos de que dispunham, já que o “financiamento coletivo” só atingiu 33% do previsto para a montagem.

A solução foi economizar em tudo, menos em trabalho, talento, dedicação e criatividade.

 


Qual o problema, por exemplo, de se mostrar as paredes do teatro, os canos e fios, de forma crua e real, apenas com a fixação de um grande cartaz, onde se lê “YANK!”? Por que não fazer um espetáculo com um cenário simples, de VICTOR ARAGÃO, também responsável pelos adereços, sobre/sob a concepção de MENELICK DE CARVALHO, utilizando apenas uma cama beliche, uma mesa e uns bancos, todos confeccionados em ferro, além de uma cadeira de rodas?

Por que não utilizar figurinos simples, de SAMUEL ABRANTES, como uniformes de soldados e poucas outras variações, à exceção dos belos vestidos usados por FERNANDA GABRIELA?

Por que não aplaudir o talento de JULES VANDYSTADT, na direção musical e nos arranjos musicais, em cima de uma dificílima partitura, o que resultou num belíssimo trabalho, jogando com as lindas melodias de JOSEPH ZELLNICK, contando com o auxílio luxuoso de CLÁUDIA ELIZEU, na assistência de direção musical?

Musical sem coreografia não é musical. Se esta for de baixa qualidade, isso vai gerar prejuízo à montagem. Não é, absolutamente, o que acontece em “YANK!”; muito ao contrário, já que uma talentosa coreógrafa, CLARA COSTA, assumiu tão grande responsabilidade, criando ótimas coreografias, muito bem executadas pelo elenco, incluindo o delicioso número de sapateado, que contou com a orientação de GABRIEL DEMARTINE.

Continuo achando que deveria haver prêmio de melhor coreografia, nos prêmios de TEATRO, assim como o de melhor programação visual, para valorizar, por exemplo, o trabalho de THIAGO FONTIN e RAPHAEL JESUS, para “YANK!”.
 
 
 
 
 
 
 
 



DANIELA SANCHEZ, uma de nossas melhores profissionais de iluminação, contribuiu, com seu trabalho valoroso, na construção de um belo desenho de luz, abusando da iluminação neutra, apelando, muito pouco, para o colorido, exatamente de acordo com o tom do espetáculo.

Chegou a hora de falar sobre o elenco; um excelente elenco, para sermos justos.

O protagonismo, que surgiu de testes, em várias audições, cabe a dois ótimos atores, que demonstram uma grande cumplicidade em cena, indispensável à trama. HUGO BONEMER e BETTO MARQUE ganharam os papéis por mérito e agem de forma tão natural, que é possível enxergar um romance entre os dois. E não falo, apenas, no que diz respeito às marcações e indicações que partiram da direção. A maneira como um olha nos olhos do outro, as carícias leves que trocam, os sensuais toques de pele, tudo leva a crer que existe um grande amor, de verdade, entre aqueles dois personagens/soldados.

HUGO, cuja carreira acompanho, desde seu primeiro trabalho em musicais, vem amadurecendo, a cada dia, e cantando cada vez melhor, fruto de muito aprendizado, dedicação e seriedade no que faz. Seu STU é um personagem tão lindo, tão carente, tão inseguro, tão humano, que provoca, na plateia, um desejo de cuidar dele e dizer-lhe: “Fica calmo! Tudo está bem! Nós te compreendemos e te aceitamos! Estamos aqui, para te ajudar!”.

Nas cenas que requerem maior dramaticidade, ele extravasa a emoção e faz um lindo trabalho de convencimento, no que diz e como age. Seu medo, consciente, dos problemas que sua condição homossexual pudesse lhe causar, no Exército, faz dele um ser frágil e fraco, que chega a acreditar que, segundo os ditames de seus superiores hierárquicos, na Companhia a que estava ligado, teria de matar inimigos, para ser considerado “homem”. É triste e patética a sua conclusão de que “agora eu sou um homem, porque matei três japoneses”. Isso é de uma crueldade profunda, para com um ser humano indefeso, psicologicamente falando.

Para mim, é o melhor trabalho de HUGO, em cena, considerando vários fatores, dentre os quais destaco o “physique de rôle” do personagem e a complexidade da partitura que tem de cantar. Aliás, quanto a esta, isso se aplica a todo o elenco.
 
 


BETTO MARQUE já é outro velho conhecido, porém nunca o havia visto, atuando num musical, como protagonista, a menos que a memória esteja me traindo (é bem possível). BETTO, na pele de MITCH ADAMS, faz um excelente trabalho, como ator e cantor, atingindo notas bem altas, inclusive.  

Seu personagem é o típico sujeito que se enclausurou num “armário”, mas não tem coragem de, ele mesmo, abrir a porta; fica na expectativa de que alguém o faça por ele. Esse alguém foi STU.

BETTO me surpreendeu, positivamente, nos seus solos, com uma voz potente e harmoniosa. Seu personagem também assume um tom carismático e agrada ao público, pela qualidade de seu trabalho.

 
 

A atuação de todos os demais do elenco é de uma equivalência a toda prova. Todos atuam bem, em conjunto, e sabem explorar seus solos ou cenas de maior destaque. Tenho medo de fazer comentários individuais e acabar, sem a menor intenção, privilegiando a atuação deste ou daquele, mas, sem me alongar muito, falarei, sucintamente, de todos. Os personagens são bem diferentes, um do outro, e cada ator desempenha o seu de forma correta e bastante agradável.

Todos cantam e dançam maravilhosamente, estando, portanto, credenciados a seus papéis, com o acréscimo da condição de bons atores.

LEANDRO TERRA, como ARTIE GOLDBERG, quase não aparece no primeiro ato, entretanto cresce muito, em rendimento, no segundo.

 


FERNANDA GABRIELA, LOUISE/CANTORAS, é o único toque feminino na trama, com seu enorme talento e graciosidade, como cantora, principalmente. Sua LOUISE, lésbica, foi construída com muito cuidado, na medida certa, fugindo a um estereótipo.

 


            DENNIS PINHEIRO, CHARLES CZECHOWSKI, a meu juízo, e sem desmerecer os demais, é o dono da voz mais bonita do elenco.

            CHRIS PENNA, VITTORIO ROTELLI, um jovem veterano em musicais, mais uma vez ratifica seu potencial artístico e compõe um ótimo imigrante italiano, que vai parar nas fileiras do Exército Americano, sonhando com um “green card”.

            CONRADO HELT, TENNESSEE, assume, muito bem, o papel de machão, intolerante, grosseirão, aquele que encarna o típico homofóbico. Sabe-se lá não esconde um desejo reprimido de ser como STU e MITCH!!!

            LEANDRO MELO, PROFESSOR, também um “habitué” dos musicais, compõe um personagem agregador, o que veio do interior e, por opção dele ou da direção, já que estamos no Brasil, age e fala como um típico habitante do interior brasileiro, um caipira.

            ROBSON LIMA, COHEN, um judeu, ainda está se iniciando em musicais, mas já o faz como se um veterano fosse nesse metiê.

BRUNO GANEM dobra a sua atuação, como um SARGENTO linha dura, e um SECRETÁRIO da Companhia, “linha mole”, também “gay”. Excelente nos dois papéis.

 
 

Merecem, ainda, uma menção ALAIN CATEIN, SWING e que substituiu ROBSON LIMA, na segunda vez em que assisti ao musical, e AURORA DIAS, que é “sub” de FERNANDA GABRIELA e a substituiu, na primeira vez em que vi a peça.

 
 


 
FICHA TÉCNICA: 
 
Libretto e Letras: David Zellnik
Música: Joseph Zellnik
Tradução e Versões: Menelick de Carvalho e Vítor Louzada
Direção Geral: Menelick de Carvalho
Assistência de Direção: Vítor Louzada
Direção Musical e Arranjos Originais: Jules Vandystadt
Assistência de Direão Musical: Cláudia Elizeu
Elenco: Hugo Bonemer, Betto Marque, Leandro Terra, Fernanda Gabriela, Dennis Pinheiro, Chris Penna, Conrado Helt, Leandro Melo, Robson Lima, Bruno Ganem, Alain Catein e Aurora Dias

Banda: Ciro Magnani (regência e piano), Thaís Ferreira (violoncelo), Léo Bandeira, (bateria), Matias Correia (baixo) e Marcos Passos (sopros).  
 
Coreografias: Clara da Costa
Assistência de Coreografias: Leonam Moraes
Coreógrafo Colaborador (sapateado): Gabriel Demartine
Desenho de Luz: Daniela Sanchez
Concepção Cenográfica: Menelick de Carvalho
Cenografia e Adereços: Victor Aragão
Figurinos: Samuel Abrantes
Desenho de Som: André Breda
Programação Visual: Thiago Fontin e Raphael Jesus
Ilustrações: Raphael Jesus
Fotos: Bernardo Santos
Direção de Produção: Leandro Terra
Produção Executiva: George Luis
Assistência de Produção: Luiz Buarque, Igor Miranda e Otávio Hudson
Produção: Silhueta Produções
Assessoria de Imprensa: MercadoCom
 

 
 
 
 
 
 



           Gostaria de fazer um registro mais que especial, que diz respeito à ótima banda que acompanha os atores/cantores. É com relação a uma substituição, feita na segunda vez em que assisti ao espetáculo. Quero prestar uma grande homenagem à pianista ARIANNA PIJOAN, de uma competência ímpar, que teve de aprender toda a partitura, em 24 horas, para substituir o titular do piano, que ficou incapacitado de trabalhar naquela sessão. Além de extremamente dedicada e competente, é muito corajosa a ARIANNA, considerando-se a complexidade da partitura.


 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 8 de junho até 1º de julho de 2017. 
Local: Teatro Serrador.
Endereço: Rua Senador Dantas, 13, Centro (Cinelândia) – Rio de Janeiro.
Lotação: 276 lugares.
Telefone; (21) 2220-5033.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 19h30min.
Valor do Ingresso: R$40,00 (inteira); R$20,00 (meia entrada, para aqueles que fizerem jus ao benefício).
Duração: 120 minutos, com intervalo de 10 minutos.
Classificação Etária: 16 anos.
Gênero: Musical.
 

 

 
 


            O primeiro semestre de 2017 foi carente de bons musicais e “YANK!” veio lavar a nossa alma, fechar o referido semestre com chave de ouro, prometendo, com a ajuda dos DEUSES DO TEATRO, se manter em cartaz, numa segunda temporada, no segundo semestre.

            O espetáculo é excelente e, por isso, merece a minha recomendação e a torcida para que consigam se manter em cartaz, a fim de que muitas pessoas possam ter o prazer que vivenciei, nas duas vezes em que tive a oportunidade de aplaudir a todos os envolvidos nesse audacioso projeto.

 
 
 



(FOTOS: BERNARDO SANTOS.)
 
 
 
 
 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

 
 

Um comentário:

  1. Gente só fiquei sabendo sobre a peça agora e não conseguirei ir até o dia 1,poderiam dizer se a peça vai para outro teatro depois desta temporada no serrador ??????????????

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