TÃOTÃO
(TÃO
BOM!
TÃO
CRIATIVO!
TÃO
INTELIGENTE!
TÃO
MARIA CLARA MACHADO!
TÃO PEDRO KOSOVSKI!
TÃO PEDRO KOSOVSKI!
TÃO
CACÁ MOURTHÉ!
TÃOTÃO!
TÃO...!)
TÃO = advérbio indicador de grau de
intensidade.
Apesar
de ser empregado em comparações (tão...como, quanto), todo adjetivo precedido por ele se reveste de
um valor superlativo. Não poderia
ser outro o título deste excelente espetáculo infantil, que, de início, já
recomendo, com muito empenho.
Uma
peça infantil deve, em primeiro lugar, agradar ao seu público-alvo, as
crianças, obviamente, para que elas se interessem, cada vez mais, por essa
atividade cultural e venham a ser as futuras plateias nos “teatros para adultos”. Mas
é importante, também, que cative os pais e outros acompanhantes, a “gente
grande”, para que estes também se divirtam e que lhes possa servir de estímulo,
para levar suas crianças, mais e mais vezes, ao TEATRO.
“TÃOTÃO” presta-se a isso. Não há quem
assista ao espetáculo e não goste dele, sejam os pequenos, sejam os adultos.
Para
mim, apesar de não ser cria de O TABLADO,
cruzar aquele portão me causa uma grande emoção, todas as vezes que posso
assistir a algum espetáculo lá. Não consigo explicar o motivo, mas algo me toca
bem dentro da alma, como se, em vidas passadas eu lá vivesse, o que não é o
caso, pois O TABLADO é um ano mais
novo que eu.
Neste
ano de 2016, aquele “templo do TEATRO”,
de onde saíram alguns dos maiores talentos do Teatro Brasileiro, comemora 65 anos e, pela primeira vez,
desde sua fundação, recebe, em seu palco, um espetáculo infantil de outro autor
que não da sua fundadora MARIA CLARA
MACHADO, um nome que ocupa todas as galerias dos gênios do TEATRO, um nome para ser reverenciado “ad aeternum”, por sua incomensurável
contribuição para o nosso TEATRO, em
especial, o infantil.
“TÃOTÃO” deve ter sido concebido muito
pela ação do DNA: o O TABLADO foi
fundado por MARIA CLARA MACHADO e,
após sua morte, passou a ser dirigido e administrado por CACÁ MOURTHÉ (e seus colaboradores), sua sobrinha e diretora do espetáculo, escrito por PEDRO KOSOVSKI, filho de CACÁ e, por consequência, sobrinho-neto
de CLARA. Tudo em família. E que família!!!
SINOPSE:
O espetáculo, baseado no mito de Narciso, conta a história do menino TÃOTÃO, interpretado por RODRIGO TRINDADE, que passa grande parte do dia brincando, sozinho, no seu quarto, em
frente ao espelho.
O que TÃOTÃO vê refletido é um verdadeiro mundo mágico, um teatro da
imaginação.
Diante do espelho, ele brinca e se
diverte com seus amigos imaginários, que compõem a LIGA DOS SUPER-EUS: HIPER-EU
(JOÃO SANT'ANNA), um menino um tanto hiperativo; EU IDEAL (VICTOR MELLO), o menino que gosta de fazer tudo certinho;
EU BEBÊ (JOANA CASTRO), uma
criancinha doce e indefesa; ELA EU
(MANUELA LLERENA), a menina do grupo; e NÃO EU (VINICIUS MAIA), aquele que é sempre do contra.
Um dia, TÃOTÃO recebe a visita surpresa de sua amiga TINA (JÚLIA STOCKLER), que aparece sem avisar e acaba descobrindo
por que TÃOTÃO nunca sai de casa:
ele fala e brinca com o espelho.
TINA
começa a provocar o amigo, quando, por acidente, eles caem sobre o espelho, que
se quebra e os puxa para dentro.
Lá, num mundo estranho e cheio de
mistérios, TÃOTÃO reencontra seus
amigos imaginários, mas, para sua surpresa, descobre que todos estão presos no
espelho. Eles são vítimas do vaidoso NARCISO
(SAULO ARCOVERDE), que os transformou em meros reflexos do mundo real,
criados para servi-lo.
TÃOTÃO
e TINA, porém, ainda não foram
transformados, definitivamente, em reflexos e têm uma chance de reverter a
situação: eles contam com algumas poucas horas, até o amanhecer, para elaborar
um plano e libertar o grupo do domínio de NARCISO
e, finalmente, voltar para o mundo real.
É a primeira vez que CACÁ dirige uma peça escrita por PEDRO, seu filho, um texto inédito e o
primeiro que ele escreve para crianças. PEDRO,
nos últimos anos, vem colecionando prêmios, por peças por ele escritas, tendo
sido o ano de 2015 marcante, em sua carreira de dramaturgo, graças,
principalmente, ao estrondoso sucesso de seu “Caranguejo Overdrive”, que jamais deveria sair de cartaz, por ser
uma obra-prima. No momento em que escrevo esta crítica, PEDRO e seus (nossos) amigos de elenco, estão levando o "Caranguejo" para fora do Brasil, apresentando-se na Colômbia.
Como diretora
artística de O TABLADO, CACÁ vem promovendo importantes realizações
durante os últimos quinze anos, em que se vê no leme do barco, destacando-se a
retomada dos Cadernos de Teatro (Novos Cadernos de Teatro),
uma revista de teatro, lançada em 1956, que completa 60 anos este ano.
Particularmente, sou muito grato por essa iniciativa, já que colecionava esses
“cadernos”, quando impressos, e me senti meio órfão, quando deixaram de
circular. Comemorando a retomada da revista, em fase de pesquisa, a publicação
ganhará novas edições, em plataforma digital, e teve todo o seu acervo
digitalizado e disponibilizado, gratuitamente, para “download” no “site” de O TABLADO.
De acordo com o “release”, enviado por
JSPontes Comunicação (João e Stella) e pelo diretor de produção, Fernando do Val, “O
texto (...) tem como elemento chave o ‘espelho’, esse
multiplicador de imagens, que tanto pode remeter ao ato de se enxergar, como ao
de se contemplar. A peça fala, ainda, sobre uma questão na ordem do dia: o
quanto podemos ser hipnotizados pelas múltiplas imagens que nos chegam a todo
momento e acabar vivendo isolados, em nossas pequenas ilhas, os celulares, ‘tablets’
e afins, ausentando-nos do mundo ao redor”.
"Uma das coisas que me mobilizou neste
trabalho foi a relação com a imaginação da criança, nesse mundo já com tanta
imagem. O espelho é meio Iphone, meio Ipad, esse espelho que não reflete a
gente, mas abre essas mil janelas. Estou com um filho pequeno e fico pensando
como é esse mundo da imaginação, da ilusão, que é tão importante para a
infância, como esse lugar ainda fica vivo dentro dessa avalanche de
imagens.", diz PEDRO.
O texto da peça é lindo, escrito numa
linguagem acessível às crianças, mesmo as mais novinhas, sem idiotizá-las, que
é algo que muito me irrita, em algumas peças infantis. O autor coloca, na boca
dos personagens, diálogos entre crianças perfeitamente normais, utilizando o
humor, com ponderação, já que este é ingrediente necessário à receita de uma boa
peça infantil (para adultos talbém), porém divertir, fazer rir, apenas, não é o
objeto-fim de uma peça infantil. Há, nesse texto, dicas e muito ensinamento,
que podem ser trabalhados e ampliados, depois, pelos pais, em sua lida
cotridiana com as crianças.
Um dos
detalhes mais
interessante deste texto, na minha visão, se volta para os nomes dos personagens, para lá de adequados e significativos,
principalmente os que representam os “alter egos” de TÃOTÃO. HIPER EU é o
retrato da “superioridade”, do poder, que o menino pensa ter sobre os demais, o
que não é característica só dele; ELA EU
pareceu-me uma ideia, muito interessante, de fazer menção ao não-preconceito,
referente à questão de “gênero”, que tantos problemas e discussões desperta, sendo a "porção mulher" do menino (“Um dia, vivi a ilusão de que ser homem
bastaria” – Gilberto Gil, em “Super-Homem, a Canção”); EU BEBÊ pode servir para “justificar” as “bobagens” cometidas
pelo protagonista, servindo de “desculpa” para elas, uma vez que bebês não têm
discernimento sobre as coisas do seu mundo; EU IDEAL resume a “perfeição” procurada e que deveria haver em cada
um de nós, sob todos os aspectos, principalmente aos olhos dos outros; NÃO EU é a rejeição aos defeitos, às
imperfeições, aos erros pessoais, a todo o “mal feito”.
É excelente a
direção de CACÁ MOURTHÉ, e nem se poderia esperar algo diferente, a julgar por
seus brilhantes trabalhos em montagens anteriores.
Quanto ao elenco, de atores jovens e não ainda
conhecidos do público de TEATRO,
mesmo por mim, eu que sou considerado “rato-de-teatro”,
só tenho a dizer que, de cara, se percebe que são formados naquela casa, pela
disciplina e pelo talento em cena. Todos se apresentam homogeneamente, na
criação de seus personagens, com um pequeno destaque para o protagonista, RODRIGO TRINDADE (TÃOTÃO) e JÚLIA STOCKLER (TINA), e para o
antagonista, SAULO ARCOVERDE (NARCISO).
Além dos três nomes já citados, fazem, ainda, parte
do elenco JOÃO SANT'ANNA, MANUELA LLERENA, JOANA CASTRO, VINICIUS MAIA e VICTOR MELLO, todos crias
da casa, "como rege a tradição".
Há, ainda, em
cena, já que trata de um musical, uma ótima banda, formada por quatro jovens e talentosos músicos: LEONARDO
VALOR (teclado), VICENTE
BARROSO (bateria), ENZO
MASTRANGELO (guitarra)
e VINÍCIUS NESI (baixo).
Apesar de não
ser uma superprodução, em termos de orçamento, o talento, a criatividade e o
empenho de todos os envolvidos no projeto são responsáveis por um espetáculo
corretíssimo, em todos os aspectos.
O cenário e os figurinos são assinados por LÍDIA
KOSOVSKI e são dois elementos que causam impacto na peça.
Quanto ao cenário, a sua peça-chave, o espelho, “é
apresentada em duas escalas: em tamanho natural, ao fundo do palco, e
uma réplica gigante, que circunda a toda a boca de cena, transformando
a caixa cênica neste mundo mágico, dentro do espelho. Em ambos, o jogo de luzes
esconde ou revela cenas e personagens por trás do misterioso espelho. A sua
moldura, como num objeto de estilo rococó, é
coberta por múltiplas aplicações e entalhes – que, neste caso, são
super-heróis, soldadinhos, carrinhos, aviõezinhos, formando um minucioso painel
de ícones dos 'brinquedos de meninos'. Por sua riqueza de detalhes, a moldura
foi carinhosamente batizada pela equipe de "moldura rocopop" (extraído do “release”). Fiquei muito bem impressionado com a ideia
do cenário, assim como seu
acabamento.
Os figurinos também chamam a atenção do
espectador, de qualquer idade, pelo que apresentam de coloridos e lúdicos. E
aqui, também, cabe um comentário à questão do acabamento das peças. Percebe-se
que, além da genialidade da artista, na concepção dos trajes, há um rigor no
acabamento das roupas, todas bastante adequadas à personalidade de cada um que
as veste.
Quanto às músicas,
especialmente
compostas para a peça, por FELIPE
STORINO (melodia) e PEDRO KOSOVSKI (letras),
executadas, ao vivo, não se pode dizer nada menos do que lindas,
de fácil apelo popular, levando as pessoas a saírem com partes delas na cabeça,
terminado o espetáculo.
Interessantes
e bem afins com a montagem são as coreografias,
de BRUNO CEZÁRIO; a preparação
vocal, de ISADORA MEDELLA; e a iluminação, de FELIPE LOURENÇO.
"TÃOTÃO" é um daqueles espetáculos infantis, voltados para toda a família e assistir a ele é um excelente programa para um final de semana.
Imperdível!
"TÃOTÃO" é um daqueles espetáculos infantis, voltados para toda a família e assistir a ele é um excelente programa para um final de semana.
Imperdível!
FICHA
TÉCNICA:
TEXTO: Pedro Kosovski
DIREÇÃO: Cacá Mourthé
ELENCO
/ PERSONAGENS: Rodrigo
Trindade: Tãotão, Júlia Stockler: Tina, Saulo
Arcoverde: Narciso, João Sant'Anna: Hiper Eu, Manuela
Llerena: Ela Eu, Joana Castro: Eu Bebê; Victor
Mello: Eu Ideal, Vinícius Maia: Não Eu, Letícia
Spiller: voz em ‘off’,
mãe de Tãotão
MÚSICOS:
Leonardo Valor – teclado, Vicente
Barroso – bateria, Enzo Mastrangelo – guitarra, Vinícius Nesi – baixo, Vítor
Niskier – bateria (sub), Pablo Paleólogo – teclado (sub)
CENÁRIO, FIGURINO E CONCEPÇÃO DE ADEREÇOS:
Lídia Kosovski
MÚSICAS ORIGINAIS: Felipe Storino
LETRAS: Pedro Kosovski
DIREÇÃO MUSICAL: Pedro Nêgo
EFEITOS SONOROS: André Chalhoub
COREOGRAFIAS E LIMPEZA DE MOVIMENTO: Bruno
Cezário
ILUMINAÇÃO: Felipe Lourenço
PREPARAÇÃO VOCAL: Isadora Medella
ADEREÇOS DE CENOGRAFIA, ‘LAYOUT’ E
CONFECÇÃO DE MOLDURAS BARROCAS: Derô Martin e Alexandre Guimarães
VISAGISMO: Mona Magalhães
FOTOS: Jackeline Nigri
DESIGN: Maurício Grecco e Lygia
Santiago
ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO: Laura Araújo
ASSISTÊNCIA DE CENOGRAFIA E FIGURINO: Júlia
Marina
SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE FIGURINO: Kika de
Medina
ASSISTÊNCIA DE VISAGISMO: Júlia Bravo
CENOTÉCNICO E EQUIPE: Zé Maranhão, José
Djavan, Paulo Fernandes e equipe
EQUIPE DE MONTAGEM DE LUZ: Gabriel Prieto,
Leandro Alves, Maurício Cardoso
COSTUREIRAS: Maria de Jesus e Zezé Gomes
ALFAIATE: Macedo Leal
ADEREÇOS DE FIGURINO: Cláudia Taylor
CHAPÉUS: Denis Linhares
CONTRARREGRAS: Danilo Lobo, Felipe Zava,
Luiz Madalena e Natan Rockenbach
OPERADOR DE LUZ: Gabriel Prieto
OPERADOR DE SOM: Luana Valentim
CAMAREIRA: Luiza Pignaton
BILHETERIA: Luisa Marques
ADMINISTRAÇÃO: Mônica Nunes
CONTROLLER FINANCEIRO: Heloísa Lima
ASSISTÊNCIA ADMINISTRATIVA: Cristina Rocha
ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO: Kelson Succi
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Luana Manuel
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Fernando do Val
REALIZAÇÃO: M.C.M. MARIA CLARA MACHADO
PRODUÇÕES ARTÍSTICAS LTDA. e O T A B L A D O 65 anos
SERVIÇO:
TEMPORADA: De 11 de junho a 27 de novembro
LOCAL: Teatro O Tablado - Avenida Lineu de Paula Machado, 795 – Lagoa – Rio de Janeiro
DIAS
e HORÁRIOS: sábados e domingos,
às 17h
VALOR DOS INGRESSOS: R$40,00 e R$20,00 (meia entrada)
DURAÇÃO:
55 minutos
CAPACIDADE: 147
espectadores
HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DA BILHETERIA: sábados e
domingos, das 15h às 17h30min
CLASSIFICAÇÃO
INDICATIVA: Livre e recomendada
para a partir de 03 anos
(FOTOS: JACKELINE NIGRI)
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