VAIDADES
&
TOLICES
(O PRIMOR DE UM TCHÉKHOV
EM DOSE DUPLA.)
A ótima CIA LIMITE 151 está em festa,
comemorando 25 anos de bons serviços
prestados ao TEATRO BRASILEIRO. E
quem ganha o presente, mais uma vez, é o espectador, sob a forma de uma nova
montagem: “VERDADES & TOLICES”, uma
comédia leve, divertida, resultado da fusão de dois pequenos textos escritos
pelo consagrado autor russo ANTON
TCHÉKHOV: “O URSO” e “O PEDIDO DE CASAMENTO”, tantas vezes
montados, em escolas de TEATRO, a
título de prova de capacidade e proficiência para os alunos, embora pouco
encenados, profissionalmente, no Brasil.
Se o que você
procura é uma comédia leve, para puro entretenimento, mas que seja feita com
inteligência e transbordante em criatividade, bem interpretada e que ajuda a esquecer
os problemas diários, para que, depois de um pesado dia de trabalho, volte à
sua casa mais confiante na alegria de viver e no valer a pena ser feliz e
esperar pelo dia seguinte, mesmo vivendo num meio caótico, na cidade do Rio de
Janeiro, a pedida é dar um pulinho ao Teatro
Eva Herz, na Livraria Cultura,
em plena Cinelândia e se entregar ao
humor de dois bons textos, interpretados por cinco ótimos atores, MARCELLO ESCOREL, FLÁVIA FAFIÃES, EDMUNDO
LIPPI, RAFAEL CANEDO e ISABELLA DIONÍSIO.
O elenco.
SINOPSE:
A comédia “O URSO” conta a história de uma viúva,
ELIENA POPOVA (FLÁVIA FAFIÃES) e um
credor, GRIGÓRI SMIRNOV (MARCELLO
ESCOREL), envolvidos por uma trama, que revela a exaltação humana e a
sensibilidade nervosa, numa hilariante crítica ao comportamento de homens e
mulheres, brincando com a sempre controversa e atual "guerra dos
sexos", ao mesmo tempo em que expõe as mazelas de uma sociedade rígida e
repressiva. Paricipa da trama, ta,bem, o criado, LUKÁ (EDMUNDO LIPPI).
No fundo, É uma viagem ao
inconsciente da personagem POPOVA,
que contrapõe o moralmente correto com os seus verdadeiros desejos mais
íntimos, ou seja, amar outro homem que não o seu falecido marido.
“O
PEDIDO DE CASAMENTO” relata a tentativa de um pedido de
casamento tomado a cargo por IVAN LOMOV (RAFAEL CANEDO), um homem hipocondríaco, de
35 anos, que se vê numa idade crítica para desposar NATÁLIA
STEPANOVNA (ISABELLA DIONÍSIO), sua vizinha e filha do
septuagenário STEPAN TCHUBÚKOV (EDMUNDO LIPPI).
IVAN tenta, então, pedir a mão da filha de STEPAN em casamento, para grande felicidade
deste. É com grande efusividade que NATÁLIA é
chamada à presença do pretendente, sem que, no entanto, saiba a razão da visita
do vizinho. Mas nem tudo é simples. Quando IVAN tenta
justificar o motivo da sua presença, surge um mal-entendido: ao fazer o seu
discurso introdutório, ele afirma pertencerem-lhe os Prados de Valloviy, ao que a moça contrapõe, defendendo que estes
são propriedade sua e de seu pai, STEPAN.
Este desentendimento é o mote para a
descolagem de toda a peça. Por meio de gritos e irônicas acusações, vai sendo
discutida a pertença dos prados. As personagens põem em jogo a sua própria
integridade moral, agredindo-se, mutuamente, através de acusações
insignificantes.
Rafael Canedo e Edmundo Lippi.
As duas peças têm, como traço comum, o impagável humor com que são
construídas. Duas comédias de costumes, cheias de ação e de jogos de linguagem,
que giram em torno da sedução amorosa por parte de viúvas e senhoritas, que
visam fisgar um marido.
Durante 70 minutos, o público se diverte com os
quiprocós desfilados em cena. Segundo o diretor
do espetáculo, SIDNEI CRUZ (extraído
do programa da peça) “a montagem acentua a comicidade das peças,
provocando o jogo interpretativo, por meio da dinamização da relação com os
objetos de cena, sem descuidar da folia verbal do autor. A partir de situações
corriqueiras, as personagens são, inesperadamente, envolvidas em contendas, que
revelam seus temperamentos contraditórios e pontos de vistas inusitados, a
ponto de se ofenderem, mutuamente, chegando ao esgotamento físico e à ameaça
mortal. Instantaneamente, a sala de visitas transforma-se num palco de luta,
num ringue verbal e, paradoxalmente, como acontece no mais inofensivo ‘vaudeville’,
ao final da disputa, a atmosfera se acomoda numa trégua de felicidade
provisória”.
As peças curtas, de um ato, escritas pelo grande escritor russo – vamos assim chamá-lo, já que se destacou como dramaturgo, contista, novelista e ensaísta - não são tão populares, para
o público brasileiro, pelas poucas oportunidades de montagens, porém “todas
constituem pequenas obras-primas, de alto valor literário, com as marcas
típicas da poética tchékhoviana: a brevidade, a economia dos procedimentos, a
linguagem despojada, a ironia, o humor e o aprofundamento psicológico das
personagens, de acordo com a visão de CRUZ.
Marcello Escorel e Rafael Canedo.
Fui ao teatro, ontem,
levado por um interesse próprio, motivado por algumas justificativas, a
principal das quais seria o fato de ir assistir a mais um trabalho da CIA LIMITE 151, sempre de excelente
qualidade, além de alguns nomes do elenco, cujos trabalhos já me agradam de
outras experiências, mas, principalmente pela curiosidade daquilo de que tanto
me falaram: a excelência da direção.
Fui e comprovei os comentários. A direção
de SIDNEI CRUZ é o grande destaque
desta montagem. Todos vão assistir ao espetáculo, esperando ver duas encenações
independentes, separadas, talvez, por um pequeno intervalo, para uma possível troca
de cenários. Isso seria o óbvio, mas SIDNEI
apostou em outra proposta, que deu muito certo, que é - não me canso de dizer -
o grande diferencial do espetáculo. Eles, simplesmente, mesclou os dois textos, utilizando um único e ótimo cenário, de COLMAR DINIZ, que reproduz, com correção, o ambiente da época em
que as histórias se dão, entrecortando as duas, como se ambas constituíssem um
todo, já que, enquanto em cena, contracenando entre si, os atores que
representam um dos textos sofrem
pequenas intervenções, “invasões” e “auxílios”, dos que atuam na outra história
e que, ainda, “falsamente” “dialogam” fora de cena. O resultado dessa magnífica
ideia é surpreendente.
Marcello Escorel e Flávia Fafiães.
O diretor, por mais
criativo que tivesse sido, não teria obtido o bom resultado a que chegou, se
não contasse com um time de bons atores,
todos muito bem em seus papéis, com um destaque para MARCELLO ESCOREL, um dos mais experientes na profissão, com longos
anos de carreira, ao lado de EDMUNDO
LIPPI, o que não quer dizer que a ala mais jovem deixe a desejar. Muito
pelo contrário!!!
FLÁVIA FAFIÃES compõe uma mulher que vive em conflito, num combate interessante
do seu verdadeiro desejo interior com o que, externamente, demonstra, a muito
custo, desejar. Impressionaram-me a postura e elegância da atriz em cena.
ISABELLA DIONÍSIO também soube criar o tipo da mulher enamorada,
apaixonada, que tenta resistir aos arroubos de um galanteador (“vai até a
página cinco”), mas não consegue dominar a luta interna, entre o desejo, a paixão
e os interesses materiais.
Já RAFAFEL CANEDO, que, a
cada trabalho, se revela um profissional melhor, mais maduro, a despeito de
ser, ainda, muito jovem, é o responsável por provocar gargalhadas, na plateia,
com seus trejeitos, de corpo e voz, quando simula seus “ataques” hipocondríacos.
EDMUNDO LIPPI é o único que atua nas duas tramas, com sucessivas
trocas de figurino, como o pai da
jovem cortejada e o criado da viúva-não-muito-convicta. Em ambos os papéis, o
ator demonstra sua tarimba profissional, sabendo separar bem um personagem do outro.
Mas foi MARCELLO ESCOREL
quem me fez rir mais e confirmar o que penso dele como ator: excelente. Tanto
em papéis dramáticos quanto na comédia, como na pele desse implacável e
ameaçador GRIGÓRI SMIRNOV, cobrador
de uma suposta dívida, que, apesar de já ter abandonado doze mulheres e ter
sido preterido por nove, ainda se deixa encantar por uma vigésima segunda. MARCELLO está hilário, no personagem.
Edmundo Lippi, Isabella Dionísio e Rafael
Canedo.
Além da, já comentada, boa cenografia
de COLMAR DINIZ, que também assina
os corretos figurinos, merecem uma
citação a boa luz, de ROGÉRIO WILTGEN, sem muitas variações,
porém correta, e as músicas e a direção musical, de WAGNER CAMPOS.
Recomendo o espetáculo, na certeza de que os que me leem haverão de concordar
com estas minhas humildes considerações, que são as de um amante-mais-que-crítico de TEATRO,
que sabe reconhecer e valorizar um bom trabalho cênico.
Marcello Escorel e Flávia Fafiães.
FICHA TÉCNICA:
Direção Geral: Sidnei Cruz
Cenário e Figurinos: Colmar Diniz
Músicas e Direção Musical: Wagner
Campos
Iluminação: Rogério Wiltgen
Programação Visual: João Guedes
Fotos: Guga Melgar
Produção Executiva: Valéria Meirelles
Divulgação: Ana Gaio
Direção de Produção: Edmundo Lippi
Elenco:
“O URSO”: Marcello Escorel (Grigóri Smirnov), Flávia Fafiães, (Eliena Popova) e Edmundo Lippi (Luká)
“O PEDIDO DE CASAMENTO”: Rafael Canedo (Ivan Lomov), Isabella Dionísio
(Natália Stepanovna) e Edmundo Lippi (Sptepan Tchubúkov)
Edmundo Lippi e Rafael
Canedo.
SERVIÇO:
Temporada:
De 09 de junho a 06 de agosto (2016)
Local: TEATRO EVA HERZ (dentro da Livraria CULTURA) - Rua
Senador Dantas, 45 – Centro (Cinelândia) - Rio de Janeiro / RJ
Bilheteria: Tel.: (21) 3916-2600
Dias e Horários - De 3ª feira a sábado, às 19h30min
Valor dos Ingressos – Às 3ªs e 4ªs feiras, R$40,00; de 5ª
feira a sábado, R$50,00 (Com direito a meia-entrada a quem fizer jus.)
Classificação Etária – 10 anos
Duração – 70 minutos
Lotação: 172 lugares
Isabella Dionísio e Rafael Canedo.
(FOTOS: GUGA MELGAR.)
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