terça-feira, 19 de julho de 2016


LADY CHRISTINY

 

(“VAMOS FALAR SOBRE CELSO”

ou

“TUDO BONITINHO, TUDO NOS CONFORMES”

ou

“A GAROTA DO COLÉGIO”

ou

“É ASSIM QUE TEM QUE SER”.)

 


 
            A pessoa recebe um convite para assistir a um espetáculo de TEATRO, um monólogo, sobre um “travesti conservador”. Nada mais esdrúxulo, paradoxal e instigante!!! Como se pode aplicar o adjetivo “conservador” a um “travesti”, por essência, um “transgressor”, pelo menos para a imensa maioria das pessoas, se não o for para quase todas, quando considerado, apenas e simplesmente, o fato de querer mostrar-se na forma oposta à de seu sexo de nascimento, contrariando as ditas “leis da natureza”?

            Convido-os, a todos, a experimentar o tsunâmi de emoções – E FORAM MUITAS... E MUITAS... E MUITAS... - que senti, ao assistir ao fantástico espetáculo que o trio DANIEL PORTO, MARIA MAYA e ALEXANDRE LINO, alicerçados por outros companheiros de equipe e, acima de tudo, iluminados pela “luz” de LADY CHRISTINY nos oferecem, no Teatro II, do SESC Tijuca (VER SERVIÇO).

            Quem, como eu, nunca havia ouvido falar do(a) protagonista deste espetáculo não pode imaginar o que o espera. O espetáculo é imperdível!!! Conhecerão uma pessoa que, dificilmente, teria um par no jogo da memória. Saí do teatro com a certeza de que só existiu uma LADY CHRISTINY; não há nem haverá outra criatura igual no mundo.
 
 
 
 


 
            Como sinopse da peça, a assessoria de imprensa (MINAS DAS IDÉIAS – CARLOS GILBERTO e FÁBIO AMARAL) extraiu trechos do excelente texto de DANIEL PORTO:

 
 

 
SINOPSE:
 
“Quando eu ia imaginar que eu, CELSO MARQUES, pai de dois filhos, iria me transformar em LADY CHRISTINY?
 
Durante minha transformação, perguntaram-me que tipo de mulher eu gostaria de ser? Eu respondi: eu sempre quis ser tipo mãe de família. Da minha família.
 
Hoje, eu entendo uma mulher mais do que qualquer pessoa. Eu sei o que ela sente, quando perde o homem que ela ama; eu sei o que uma mulher sente, quando é desprezada pelo homem que ela ama; eu sei o que uma mulher sente, quando sente solidão.
 
Se, hoje, eu, de repente, mudasse e voltasse a ser o CELSO, a mulher que vivesse comigo seria plenamente feliz.”
 

 
 
 


            Agora, imaginem o que é revelado no decorrer do espetáculo!!!

            CELSO MARQUES, nascido em São Caetano, cidade do ABC paulista, veio ao mundo como do sexo masculino e viveu com a alma e o comportamento masculino, de “macho”, até a página cinco.

            Era cantor, e isso foi descoberto por volta dos doze anos de idade, quando a mãe, ao perceber a bela voz do menino, começou a levá-lo a se apresentar em programas de calouros, onde fazia grande sucesso, como uma espécie de menino-prodígio. Tantas vezes se saiu vencedor no programa de calouros do Chacrinha (ganhou 11, das 12 de que participou), que o Velho Guerreiro sugeriu à mãe que o levasse a fazer testes em gravadoras, chegando a gravar um compacto simples e, mais tarde, um CD, produção independente, contendo treze faixas, doze das quais com letras de duplo sentido, compostas por ele mesmo, sem, no entanto, ficar famoso. Mas se apresentou em vários outros programas de calouro, sempre bem sucedido, e fazia vários “shows”, contribuindo para o sustento da família.

            Aos 14 anos, conheceu LÚCIA (nome fictício), de 16, por quem se apaixonou e os dois começaram a namorar. As famílias eram contra o namoro, principalmente a da moça, por ser de situação econômica superior à do jovem. Contou-me KATHYA ALESSANDRA, a filha deles, que a mãe de CELSO mandava-o comprar Q-Suco (para os mais novos, um pozinho, para se fazer refresco), e ele demorava horas, para cumprir a tarefa, por estar se dedicando a “outra”, que lhe dava grande prazer, ou seja,  porque se encontrava, clandestinamente, com LÚCIA. Ao voltar para casa e ser questionado, pela mãe, em função da demora, dizia que aquilo havia acontecido porque ele estava à procura do sabor pêssego, que era “difícil de ser encontrado”. Da mesma forma como deveria ser difícil fazer a mãe acreditar sempre na mesma desculpa.

            Decididos a viver juntos e a construir uma família (a noção de “família” era algo quase obsessivo para CELSO), os dois fugiram, para o Rio de Janeiro, onde passaram a viver em espeluncas, pensões de quinta categoria, batalhando pelo pão de cada dia, agora já com uma filha, a citada KHATYA, até que, um dia, foram descobertos pelas mães dos dois, as quais se juntaram para procurá-los, havia muito tempo, mas que nada puderam fazer para separá-los.

            CELSO fazia “shows”, até que, por volta dos 17 ou 18 anos, conheceu um ardoroso fã, de 15 anos, CARLOS, nome também fictício, usado pelo autor da peça, para preservar a verdadeira identidade do personagem, ainda vivo, e por ele se apaixonou. Melhor dizendo, ambos passaram a viver uma paixão desmedida, que evoluiu para um amor recíproco. CARLOS passou a viver na casa do casal CELSO e LÚCIA, e aquele não fez segredo a esta do que estava acontecendo entre ele e o adolescente. E o mais incrível foi o fato de a mulher ter compreendido e aceitado a situação, passando a viver, todos, sob o mesmo teto, agora, com mais um filho, mas não num triângulo amoroso. Foi LÚCIA, quem, notando a profunda ligação entre os dois, fez a proposta de o rapaz passar a “fazer parte da família”, da mesma forma como, posteriormente, incentivou CELSO a virar LADY CHRISTINY.

CELSO e CARLOS foram casados por 14 anos, mas outros companheiros fizeram, depois, parte da vida amorosa de CELSO.
 
 
 


 

            Na (ex)Cidade Maravilhosa, o sonho dele era poder desfilar de braços dados com o marido, na rua, como mulher de um homem, diante dos olhos de uma sociedade incapaz de compreender aquilo (como se fosse muito diferente hoje). Se ainda não compreende hoje, embora as coisas tenham evoluído um pouco, quanto à tolerância em relação ao amor entre pessoas de mesmo sexo, imaginem há mais de trinta anos!!!

            A “solução” encontrada, por CELSO, para frequentar qualquer lugar, como “a mulher de um marido”, foi partir para a transformação física, num ser feminino, na aparência: virar travesti. E partiu para a ação, começando, porém, pelo que havia, talvez, de mais errado. Sabedor do desejo de CELSO e pronto a contribuir para a sua realização, CARLOS, um dia, passando por um posto de gasolina, viu que, ali, vendiam “silicone”. Sim, aquele produto que é utilizado para se passar nos pneus dos automóveis, por exemplo. Num misto de ingenuidade e ignorância, e por amor ao companheiro, CARLOS comprou uma enorme quantidade de frascos do produto, assim como agulhas de exagerado calibre e os dois passaram a fazer aplicações do tal “silicone”, não indicado para aquele fim, em CELSO, com o objetivo de moldar-lhe o corpo, dando-lhe formas femininas.

            Não precisa dizer que aquele procedimento quase levou o “siliconado” à morte. Ele esteve internado, com poucas esperanças de continuar vivo, no Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro, onde, por previsão médica, deveria ficar por seis meses, em tratamento. Ao final do terceiro, fugiu do hospital e voltou para casa, continuando o “tratamento” a ser feito por CARLOS. Isso lhe rendeu muito sofrimento: pelas dores físicas, provocadas pelas feridas, e pelo fracasso, na tentativa tão sonhada de parecer uma mulher.

            No dia da estreia da peça, quando tive o grande prazer de assistir a ela, KATHYA ALESSANDRA estava presente e nos conhecemos, conversamos bastante e ela me passou seu contato, para que pudéssemos conversar melhor e ela me falar mais sobre a vida do pai, sua maior adoração. Tão fascinado e interessado fiquei pelo personagem, que não faz parte da ficção - É REAL -, que, a despeito de não gostar de falar ao telefone, contabilizei, ao final de uma ligação, feita a KATHYA, no dia seguinte, 101 minutos (1 hora e 41 minutos) de conversação com ela, que não parava de falar, sempre com muito orgulho e emoção do pai, enquanto eu me esforçava para quase ter de taquigrafar tudo o que ela ia dizendo, sem querer perder um detalhe sequer das informações, sem as quais esta crítica não teria sido escrita com tantos detalhes complementares, que não estão no excelente texto de DANIEL PORTO, por questões óbvias: a peça duraria horas.


 



            Dentre tantas revelações sobre LADY CHRISTINY, além do que eu já escrevi acima, há o fato de que foi proprietário (em termos de língua portuguesa, usarei sempre o gênero masculino) de alguns restaurantes e casas de “shows” e que sempre trabalhou muito, e honestamente, para sustentar a família e ajudar os parentes mais próximos. Jamais se prostituiu, que é a primeira coisa que, em geral, se pensa sobre os travestis.

            Abriu seu primeiro estabelecimento na Serra de Petrópolis, em 1984, já como travesti, sob o pseudônimo de Adriana Schelmy. Devo acrescentar – tudo o que estou dizendo me foi revelado por KATHYA – que, por ser alto e bastante magro, passou a tomar muita sopa de fubá, “para ganhar peso”, e a tomar hormônios femininos, o que começou a fazer ainda em São Paulo, antes da transferência para o Rio.

            Suas casas comerciais funcionavam como restaurantes, durante o dia, e locais para apresentações artísticas, à noite, uma espécie de boates, nas quais ele e a filha, também com o dom para a música, se apresentavam cantando, em solos ou em duplas.

            A segunda casa chamava-se “Tigresa” e ficava situada na esquina das ruas do Riachuelo e do Rezende, no Centro do Rio de Janeiro, na Lapa. Foi lá que passou a conhecer, mais profundamente, o universo dos travestis, travando contato com os mais famosos, da época, cujos nomes me reservo o direito de omitir, e, também, foi quando conheceu o silicone “de verdade”, o cirúrgico, ou que outro nome tenha tal produto. Esse lugar fez um enorme sucesso, era frequentado por vários artistas e intelectuais e, por seu pequeno palco, passaram, “dando canja”, nomes famosos da música popular brasileira. Tal fama e, mais ainda, ou principalmente, a “excentricidade” daquela família fizeram com que fossem convidados a participar de vários programas de TV da época, sendo que KATHYA, o irmão e LÚCIA, durante as entrevistas, eram sempre mostrados de costas; os filhos, por serem menores de idade, e a mãe, para ter sua identidade preservada. Nessa casa, a, já então, LADY CHRISTINY, empregava a família toda. Todos sempre juntos, trabalhando, como LADY gostava.

Chegou a ter, também, uma boate em Cabo Frio, sempre repleta de frequentadores. Embora fosse uma “boate”, e isso reportasse, via de regra, à ideia de um lugar onde o “sexo era livre”, LADY não permitia que ali houvesse “baixarias”, “pegações”, sempre deixando bem claro que, ali, era uma casa de lazer, de diversão, referindo-se à parte artístico-musical, e não um prostíbulo.

Uma de suas incursões nesse mundo dos negócios foi uma casa, a House Lady Christiny, na Galeria Alaska, em Copacabana, conhecido reduto do mundo “gay” carioca, onde existiam várias outras casas do gênero, concorrentes, além de uma igreja evangélica. Durou pouco tempo o negócio; não deu certo.

Seu último empreendimento nessa área foi em Maria da Graça, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, nos mesmos moldes dos outros.

Pai e filha chegaram a ter dois programas de rádio: um na Rádio Imprensa e outro na Bandeirantes. Também os dois chegaram a encenar pequenas peças de teatro, nos próprios restaurantes/boates, escritas por LADY, como “Quando Elas Chegam Ao Céu” e “Ele Não É A Mamãe”.

Segundo KHATYA, o repertório de LADY era do tipo classificado como “brega”, embora uma de suas canções prediletas fosse “Catedral”. Sempre encerrava suas apresentações com a canção “Lonas Azuis”, de Graziela Corrêa e Marcelo Duran, da qual extraí alguns versos, que parecem “justificar” a escolha de tal canção:

 
 
 
“No caminho da sorte, a alma perdi. / Dei um beijo na morte e sobrevivi. / Mas perdi o meu medo, / A viver aprendi. / Fiz do mundo o meu palco, do sol, minha luz. / Pra fazer meu circo, usei minha cruz. / De um pedaço de céu, fiz as lonas azuis. / Do céu, eu fiz as lonas azuis / (...) Aprendi que nem sempre é feliz quem procura, / Que a vida mais fácil também é a mais dura, / Que a estrada mais curta é também mais escura. / Aprendi, na descida, mais forças ganhar, / Pra chegar, na subida, e não desanimar. / Sou, da vida, um artista, ganhei meu lugar”.
 

 
 
 


LADY escreveu uma versão para a letra de “My Way”, uma canção francesa, cuja letra, em inglês, adaptada por Paul Anka, foi grande sucesso, nas vozes de cantores americanos, como Frank Sinatra e Elvis Presley, por exemplo, na qual ele “explicava”, ou tentava “justificar”, a sua transformação, o porquê de ter “matado” o CELSO para “dar vida” à LADY CHRISTINY.

Um dos pontos mais marcantes, algo que, sem o menor esforço, leva o público às lágrimas é a relação entre pai e filha, o amor incondicional e pleno entre CELSO e KATHYA, a qual eu considero, além de uma personagem real, muito próxima, também, ao protagonismo, na peça, tal foi a sua participação e cumplicidade na vida de LADY.

Com a voz embargada, KATHYA me confidenciou que o pai, com muita frequência e extremamente emocionado, cantava, para ela, uma canção, gravada pelo cantor Márcio Greyck, “O Mais Importante É O Verdadeiro Amor”, uma versão da canção italiana “Tanto Voglio Di Lei”, como, segundo ela, para pedir perdão pela vida que escolheu levar. Aqui, transcrevo trechos da canção:

 

 
“Quanto sinto em dizer-te / Que me podes desprezar. / Logo, logo, sei que devo deixar-te, / Já não posso mais sonhar... /  Você fica tão calada, / Não sei mais o que fazer. / Se te sentes, / Por minha culpa, desprezada, / Sei que não terei perdão... / Você deve compreender-me, / Se eu quis sonhar. / Foi você que teve a ideia de querer-me / E isso eu quero esquecer... / Para que pedir carinho, / Que não vale mais?/ Porque o meu destino / Está tão marcado, / Ah! Minha vida, outra vida. / Um amor de verdade... / Te asseguro que, esta noite, / Voltarei para quem amo. / Sei, também, que não é hora, / E nem é fácil, / Mas perdão te pedirei...



      
     
 
 

Continua KATHYA falando sobre LADY:

            Não gostava do comportamento exagerado e caricato dos travestis, nunca bebia, não gostava de participar de farras e orgias, estava sempre de bom humor, era muito otimista, prestativo e generoso, respeitava todo mundo e exigia respeito para si, além de muito inteligente.

            Sua barba era tirada, a pinça, por KATHYA. Trabalhou, durante cinco anos, como diretor do SATED (SINDICATO DOS ARTISTAS E TÉCNICOS EM ESPETÁCULOS DE DIVERSÕES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO), que criticava, como “um órgão que nunca fez nada pelos artistas”. Em 1996, candidatou-se a vereador, pelo município do Rio de Janeiro, tendo como plataforma principal defender os direitos dos travestis. Infelizmente, não foi eleito, tendo conseguido, apenas, pouco mais de 700 votos. Seus pares não votaram nele, como deveriam.

            Sua devoção e respeito à instituição “família” levava-o a, sempre que aparecia um pretendente à filha, fazer, ao rapaz, a tradicional pergunta: “Quais são as suas intenções para com a minha filha?”. E KATHYA é categórica, ao dizer que, quando um rapaz tentava namorá-la, ela logo dizia quem era o pai e acrescentava que, se o futuro namorado não o aceitasse como ele era, seria descartado no ato. Não precisava gostar de mim, mas, do meu pai, sim”. Ainda sobre ele, a quem chamava de “pai”, “paizinho” ou “CHRIS”, complementa que “Ele foi meu pai, meu amigo, meu confidente e eu não o trocaria por outro pai nenhum. Sempre tive muito orgulho dele”. Para ela, não se tem de amar uma pessoa, mas a sua alma”. Todos o abandonaram, no final da vida, e só ela ficou ao seu lado.

Ainda na rubrica “família”, LADY não admitia falta de respeito em casa e seus netos o chamavam, carinhosamente, de “Vovô CHRIS”.

            LADY sofria “bullying”, quando o nome ainda era outro, na própria família. Em 2005, em São Paulo, quando foi visitar a mãe, para uma festa “em família”, sofreu destratos e deboches e jurou que nunca mais lá voltaria, o que aconteceu de verdade. Ainda assim, sua generosidade e desejo de reunir a família, levava-o a, no Natal, convidar os que moravam em São Paulo a vir para o Rio, para a sua casa, em Copacabana. Financiava tudo, das passagens à ceia e aos presentes – queria a família toda reunida. Adorava morar em Copacabana e a queima de fogos, na festa de “réveillon”. O adulto virava criança, diante daquela visão.

            Em 1992, Jô Soares entrevistou LADY CHRISTINY. ALEXANDRE LINO assistiu a essa entrevista, que rendeu tanto assunto, a ponto de ocupar dois blocos e, ao final, convidou LADY a fazer um número musical, no encerramento do programa.
            LADY CHRISTINY sofria de hepatite e de asma; fumava muito. Tinha problemas para dormir. Dizia, no final de sua vida, que, se pudesse, tiraria o silicone que injetou no corpo e que lhe causou tanto sofrimento e tantos danos.
Morreu no dia 13 de agosto de 2006, aos 50 anos de idade, de septicemia, no Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, Rio de Janeiro, sem muitos cuidados, sofrendo preconceito e um tanto quanto abandonado, com necroses pelo corpo. Eram 15 horas de um domingo, Dia dos Pais. Está sepultado no Cemitério São João Batista. Ou teria virado purpurina?
Sem estudos acadêmicos, era um ser humano extremamente educado. Quis ser uma “LADY” e o foi.

 
Lady Christiny.




            Agora, falemos do espetáculo:

ALEXANDRE LINO, nascido em Gravatá, interior de Pernambuco, curioso sobre aquela história, em 2002, já morando no Rio de Janeiro, desde 1993, e cursando cinema, reconheceu LADY, pelas ruas da cidade e iniciaram uma aproximação amigável, que acabou rendendo um documentário, produzido por ele, em 2005, em que LADY, ela mesma, conta toda a sua história e ainda inclui a participação de sua filha, além, claro, de dois números musicais. O documentário se chama “LADY CHRISTINY” e ganhou vários prêmios em conceituados festivais de cinema.
            O texto da peça, escrito pelo brilhante e jovem dramaturgo DANIEL PORTO, que já vem acumulando grandes sucessos, desde “O Pastor”, sua primeira obra para o TEATRO, foi baseado nesse documentário. Gostaria de ver o texto da peça editado. Ele o merece.
            De acordo com o “release” sobre o espetáculo, “A peça mistura realidade, ficção e cinema. No que o autor e diretora partem do princípio do Teatro do Pertencimento. Local onde realidade e ficção se misturam e se confrontam em cena, rompendo a dramaturgia convencional e propondo, ao espectador, a provocação pelo discurso. Onde o público será convidado e estimulado a fazer perguntas ao personagem (ator). Um encontro com o Teatro do Pertencimento”. DANIEL PORTO ainda acrescentou, ao texto, histórias do próprio LINO, em diálogos com o personagem, desde o primeiro contato entre eles.

“Estive muito próximo a LADY CHRISTINY, em 1992 (pela TV); depois, em 1995 (primeiro encontro) e, em 2005, quando dirigi nosso documentário. E todos os momentos em que estivemos juntos, percebi um lugar de pertencimento naquela realidade, que não era a minha, mas me transportava para lugares muito mais profundos. Evocá-la, no palco, é a conclusão desse encontro infinito e que só a arte documental poderia proporcionar, por seu pacto com a verdade” -  diz ALEXANDRE LINO.
 
 
 
Alexandre Lino.

 

Depois de já tanto ter elogiado o texto, de DANIEL PORTO, chegou a hora de falar do trabalho de ator, de ALEXANDRE LINO. IMPECÁVEL!!!

Acho que só esse adjetivo bastaria, para qualificar sua atuação, o que deve ter sido, para o ator um grande desafio, não só pela responsabilidade de não transformar o espetáculo em algo piegas (aí também entra o papel da diretora) nem levantar bandeiras, a favor da diversidade sexual, mas também por seu envolvimento emocional com o personagem retratado. LINO não desfralda aquela bandeira, mas chama a atenção para a necessidade de que sejam respeitadas todas as diversidades.

Apresenta-se sobriamente, sentado, diante de um microfone, do qual ele se afasta, vez por outra, num palco nu, apenas com um banquinho, um microfone, num pedestal, e um aparelho, no chão, onde é projetado um trecho do documentário “LADY CRISTINY”. Usa trajes masculinos, discretos, calça e camisa na cor cáqui (neutra).

A plateia percebe, nitidamente, quando está ouvindo o narrador – o ator ALEXANDRE LINO - e o/a personagem, graças às sutis mudanças de voz, marcadas por entonações, porém sem afetação, e volumes distintos, tudo sem caracterização física, externa, a não ser no final da peça, quando o ator aplica uma camada de batom nos lábios.

            Como se faz para avaliar a direção de uma peça? É, para mim, a parte mais difícil, numa crítica teatral. No caso em tela, digo que MARIA MAYA fez um excelente trabalho. Baseado em que faço tal julgamento? Todos sabemos que muitos diretores, infelizmente, querem aparecer mais que o elenco. Inventam, criam soluções que só eles entendem. Complicam o que é simples. E o que fez, nesta peça, MARIA, cujo talento para a direção é mais do que conhecido, ainda que, se não me equivoco, só tenha assinado dois trabalhos, antes de “LADY”, “Adorável Garoto” e “Talk Radio”, ambos grandes sucessos de público e de crítica, com indicações a prêmio?

            Ela apenas se apaixonou pelo texto, mergulhou, fundo, com DANIEL e LINO, numa pesquisa, para resgatar uma história que merecia, e merece, ser contada, dando, ao que parece, liberdade ao ator, para alçar um voo ousado e criativo.

            O maior mérito de MARIA MAYA, nesta direção, é o de ser comedida na sua função, o que gerou um resultado brilhante.

            Companheiros de equipe, em produções anteriores, o que facilita bastante o trabalho, merecem destaques a bela luz, de RENATO MACHADO, sem muitas variações – mais para diferençar trechos narrativos de falas do/a personagem - dentro da linha de proposta do espetáculo; a acertada direção de arte, de TATIANA BRESCIA; o videografismo, de RENATO KRUEGER e a preparação vocal, de GINA MARTINS.

            “LADY CHRISTINY” dá início a, certamente, indicações para prêmios de TEATRO, correspondentes ao segundo semestre de 2016.

            Creio não haver momento mais propício para que seja contada, e muito divulgada, a história de LADY CHRISTINY, haja vista o quanto se vem discutindo, ultimamente, acerca das questões de gênero e as novas configurações de família. É preciso que se dê um basta a qualquer tipo de intolerância. E, aqui, se enquadra, totalmente, a questão da homofobia, tão absurda, a ponto de gerar barbáries, como o recente ataque a uma boate “gay”, em Orlando, assim como gerar posicionamentos estúpidos e inconsequentes de políticos e líderes religiosos brasileiros.

Merece todo respeito o ser humano, uma LADY CHRISTINY, um travesti que nunca se prostituiu, com uma visão conservadora da vida e que, mesmo mantendo uma conduta séria e respeitável e sendo bem sucedido, profissionalmente, não deixou de enfrentar as discriminações e as dores de uma opção de vida da qual, segundo CHRIS, não há volta.
 
 

Não perca nem um minuto!

Vá, correndo, assistir a este espetáculo!

 
Lady Christiny e Kathya Alessandra,
no Cristo Redentor.
 
 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Daniel Porto
Direção: Maria Maya
 
Elenco: Alexandre Lino
 
Iluminação: Renato Machado
Direção de Arte: Tatiana Brescia
Programação Visual: Guilherme Lopes Moura
Fotografia: Janderson Pires
Webdesign: Mariana Martins
Videografismo e Assessoria geral: Renato Krueger
Assessoria de Imprensa: Minas de Ideias
Produção Executiva: Equipe Cineteatro Produções
Preparação Vocal: Gina Martins
Realização: SESC
Idealização e Direção de Produção: Alexandre Lino
Um projeto da Documental Cia.
 

 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 8 a 31 de julho de 2016
Local: Teatro Sesc  Tijuca- Teatro II
Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539 – Tijuca – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 3238-2167
Capacidade: 50 Lugares
Dias e Horários: De 6ª feira a domingo, às 19h
Valor do Ingresso: R$ 8,00 (Inteira) –R$ 4,00 (Meia) – R$ 2,00 (Associados Sesc)
Classificação Etária: 16 anos
Duração: 60 minutos
 

 

 
Equipe e Kathya, em noite de estreia.


 


(FOTOS: JANDERSON PIRES.)

 


GALERIA PARTICULAR:

(FOTOS DE MARISA SÁ.)
 
 
 
 
Com Alexandre Lino.
 
 
Com Daniel Porto.
 
 
Com Maria Maya.
 
 
 
 

 

 

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