JOÃO
E MARIA
– UM
MUSICAL
(O LADO BOM DO
POLITICAMENTE “INCORRETO”.)
Se
olharmos pela ótica daquilo que, hoje, chamam de “politicamente incorreto”, iremos constatar que tal conceito está
presente em muitas das consagradas canções infantis, inclusive as de ninar, e
nas histórias mais populares da literatura infantil universal, muitas delas
transformadas, de uns tempos para cá, em peças infantis, boa parte em forma de musicais, como o primeiro dos dois
espetáculos aqui analisados, “JOÃO E
MARIA – UM MUSICAL”, distintos, ambos, em suas temáticas, mas com alguns
detalhes em comum.
“JOÃO E MARIA – UM MUSICAL”, por
exemplo, recém-estreado e já um grande sucesso de público (também o será de
crítica), não poderia ser mais “cruel”.
Sim, você não está lendo erradamente. Um pai, que divide sua miséria com uma
segunda esposa, uma megera, e um casal de filhos, “fofinhos”, resolve, “para se livrar de duas bocas”,
abandonar, à própria sorte, as duas indefesas criancinhas, JOÃO e MARIA, numa densa
e tenebrosa floresta. Merece ou não merece o maior de todos os castigos, embora
se arrependa, no final, e tudo acabe em flores, como em todos os contos mágicos
infantis?
O texto original é dos IRMÃOS GRIMM, mestres no “politicamente incorreto”, e foi muito
bem adaptado, para um musical, por
um talentoso rapaz, de 23 anos, DANIEL
PORTO, que, bem antes deste seu sexto texto, já disse a que veio ao mundo:
escrever, e bem, para o TEATRO, quer
no gênero infantil, quer no chamado “teatro para adultos”, com o retumbante
sucesso de “O Pastor”, seu texto de
estreia, sucesso de público e de crítica, em todo o Brasil.
João (Eduardo Cardoso) e Maria (Alice Maria Paiva).
SINOPSE:
Os irmãos JOÃO (EDUARDO CARDOSO) e MARIA (ALICE MARIA PAIVA) fazem parte
de uma família de camponeses, que luta para fugir da miséria, durante a Idade
Média.
A terra infértil não
produz mais alimentos e a peste negra tomou conta de tudo na cidade, o que faz
com que o pai, SIMON (ANTÔNIO CARLOS
FEIO), tenha que tomar uma difícil decisão, imposta pela cruel madrasta, HEIKE (LUCIANA VICTOR): abandonar os filhos no meio da floresta.
A
família passa fome. Há muita gente e pouca comida. A solução apontada pela
madrasta assusta o pai, que reluta em abandonar os filhos, mas acaba cedendo à
proposta.
Os irmãos escutam a conversa dos dois e
bolam um plano, para, caso sejam deixados na mata: fazer uma trilha de pedras, que brilham no escuro, durante o caminho.
Depois que são abandonados, JOÃO
e MARIA passam por percalços,
para sobreviver aos perigos do bosque, incluindo um encontro com uma mulher
sedutora e malévola, MARIELE, na
verdade, uma BRUXA (LUCIANA VICTOR),
que lhes oferece muitos doces. Sua casa era feita inteiramente de doces, para
atrair suas vítimas. Ela as prendia, engordava-as e, depois, simplesmente,
comia-as.
O tiro sai pela culatra, e JOÃO, mais esperto que sua inimiga,
acaba por jogá-la no forno, no qual ela os assaria, aproveitando-se de um
descuido da malvada.
E voltam para a sua casa, encontrando
apenas o pai, já que HEIKE...
Assistam à peça e descubram o que aconteceu
com ela.
João e Maria.
O famoso conto alemão, dos IRMÃOS GRIMM, continua encantando
crianças e adultos, mesmo dois séculos após a sua primeira publicação (1812), na Alemanha.
Fascinado pelos
clássicos da literatura infantojuvenil, DANIEL
PORTO repetiu o que já havia feito em “Pinóquio”
e “O duende Rumpelstiltskin”, este um
conto, também dos IRMÃOS GRIMM. “Os
personagens estão mais humanos. Tudo é permeado pela fome. São personagens que
você pensa: ‘poderia encontrar essa pessoa na rua’. A bruxa, por exemplo, tem
um histerismo, uma loucura, mas é crível", explica o diretor.
O projeto
é uma idealização do autor em parceria
com o ator Alexandre Lino, que assina a direção de produção.
DANIEL se sai muito bem, na dramaturgia, com um texto fiel à trama original, acessível
à cognição infantil, com diálogos bem construídos, e faz um ótimo trabalho na
sua estreia como diretor, imprimindo
um bom ritmo ao espetáculo, que ganha peso com as belíssimas canções, compostas pelo próprio DANIEL (letras) e por TIBOR FITTEL (melodias), responsável,
também, pelos arranjos e direção musical, ambos corretos e de
muito bom gosto.
Eduardo Cardoso e Luciana Victor.
Aguardem muito
mais DANIEL PORTO, em 2016: assina a dramatugia de “Volúpia da Cegueira”, com direção de Alexandre Lino, e “Sputink’s Bar”, que será dirigido por Renato Livera, além de dirigir a
comédia “Tia Glorinha”, que ainda está escrevendo. Fez a pesquisa
histórica de “Chica da Silva - O musical”, do diretor André Paes Leme,
e ainda faz participação no Festival de
Curitiba, com uma adaptação da obra
“O
pequeno Príncipe”, dirigida por Edson
Bueno.
O elenco se comporta de forma correta,
com um ligeiro destaque para o ator EDUARDO
CARDOSO, que interpreta o pequeno JOÃO.
Completam o time ANTONIO CARLOS FEIO
(PAI), LUCIANA VICTOR (MADRASTA e BRUXA) e ALICE MARIA PAIVA (MARIA), além de RAFAEL BALLEST (substituto do personagem JOÃO), os quais, além de
atores, cantam, ao vivo, as seis músicas originais, criadas, especialmente,
para a peça, inspiradas no fado e em cantigas medievais. Todos esbanjam o que
não pode faltar em TEATRO e, mais
ainda, em TEATRO INFANTIL: domínio
de plateia e comunicação com os espectadores.
Antônio Carlos Feio (Simon).
Luciana Victor, como Mariele.
O cenário, criado por KARLLA DE LUCA, é simples, gracioso e
de bom acabamento, respeitando o púbico infantil. “De forma lúdica, a cenografia
vai se revelando como num livro com ilustrações em ‘pop up’. Os elementos de cena são manualmente articulados pelo
elenco, durante a apresentação”, criando sempre um elemento de
surpresa.
KARLLA também assina os figurinos e os adereços, aos quais se aplicam os mesmos comentários feitos com
relação ao cenário. “Seguem a estética do teatro mambembe,
confeccionados artesanalmente, com detalhes feitos à mão”. O resultado final é muito bonito.
“Olha, Maria! Uma casa feita só de doces!”.
O espetáculo
recebe um belo acabamento de luz, a
cargo da dupla GUEGO LIMA e ROMIRO VASQUEZ.
Sempre que
há uma canção, não pode faltar, num musical, uma coreografia, aqui, a cargo de RAFAEL
BALLEST,
que não complica os desenhos coreográficos e consegue um bom resultado cênico.
Tem
sido muito comum, nos últimos anos a utilização de um recurso técnico que só
faz agregar valores a um espetáculo teatral. Estou falando de projeções de imagens e videografismo, aqui sob a
responsabilidade de MÁRCIO THEES.
Curioso é
que, em 204 anos, ninguém se chocou com o “politicamente
incorreto” que há nesta história e tantas outras, direcionadas às crianças.
Não será agora, quando vivemos cercados de tantas barbaridades de toda sorte,
cometidas, principalmente, por quem deveria dar o exemplo, que alguém vai
querer quaestionar o “churrasquinho de
bruxa”, por exemplo, ou o “crime”
de uma criança, que, em última análise, seria em “legítima defesa”.
Morro de rir, hoje, por uma outra leitutra,
dessas historinhas “ingênuas”!
Adorei a peça e a recomendo a crianças e adultos!
Eduardo, Luciana e
Alice.
FICHA TÉCNICA:
Texto e
Direção: Daniel Porto
Direção
Musical: Tibor Fittel
Elenco
(por ordem alfabética): Alice Maria Paiva, Antônio Carlos Feio, Eduardo Cardoso,
Luciana Victor e Rafael Ballest
Preparação
Vocal: Tibor Fittel
Cenário
e Figurino: Karlla de Luca
Videomaker
e Projeções: Márcio Thees
Iluminação:
Guego Lima e Romiro Vasquez
Adereços:
Karlla de Luca
Coreografia:
Rafael Ballest
Cenotécnico:
Ronaldo
Costureira:
Bebel Rosa
Preparação
Corporal e Direção de Movimento: Paula Feitosa
Design
Gráfico: Guilherme Lopes Moura
Letras
e Melodia: Daniel Porto e Tibor Fittel
Produção
Executiva: Daniel Porto
Direção
de Produção: Alexandre Lino
Idealização:
Alexandre Lino e Daniel Porto
Unidos pelo “dedinho mindinho”.
SERVIÇO:
Temporada: De 19 de março a 03 de abril de 2016.
Local: Imperator – Centro
Cultural João Nogueira.
Endereço: Rua Dias da Cruz, 170 – Méier – Rio de Janeiro.
Informações: (21) 2596-1090
ou 2597-3897.
Capacidade: 607 lugares.
Dias e Horários: Sábados e
domingos, às 16h.
Duração: 50 minutos.
Classificação Etária: Livre
(indicado para crianças a partir de 2 anos).
Gênero: Musical Infantil.
Valor dos Ingressos: R$30,00
(inteira); R$15,00 (meia-entrada).
Horário de Funcionamento da
Bilheteria: 3ªs e 4ªs feiras,
das 13h às 20h;
5ªs e 6ªs feiras, das 13h às 21h30min; sábados e domingos, a partir
das 10h.
Mais informações:
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Quase viram o almoço da Bruxa.
O retorno.
(FOTOS:
JANDERSON PIRES.)
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