“AOS 50, QUEM
ME AGUENTA?”
ou
(EU
PRECISAVA CONHECER AQUELA MULHER.)
ou
(EU
PRECISAVA ABRAÇAR AQUELA ATRIZ.)
ou
EU PRECISAVA
DIZER
ÀQUELA MULHER / ATRIZ
QUEM ELA É,
PARA MIM,
E NÃO SABIA.)
Como
crítico de TEATRO e, por ter
sido, durante alguns anos - não mais no momento- jurado de três prêmios
de TEATRO, recebo,
diariamente, muitos convites para espetáculos, tanto no Rio de Janeiro, onde moro, quanto para São Paulo e, até mesmo, outras cidades e estados – Só ontem, foram 8. -, não conseguindo,
por óbvio, atender a todos, principalmente porque não me são dados três dons que
me fariam muito feliz; o da ubiquidade,
com ligeira vantagem sobre dois outros, o de me tornar invisível, quando fosse de meu interesse, e o de voar, sempre atento aos predadores e
às balas “achadas” da
demoníaca “gente” (?) dos
clubes de tiros, da bandidagem oficial e da milícia não menos bandida. Mas,
dentro do possível, atendo à maciça maioria desses acenos invitativos, indo ao TEATRO quase diariamente.
É claro que, na maioria das vezes, organizo a ordem
de prioridade da minha agenda em função dos términos mais próximos das curtas
temporadas (Parece
até que virou moda isso, algo como “to be in fashion”: Ensaiar mais de 10 horas
por dia, durante 3 meses, para se apresentar em apenas 1 mês, em cerca de 10
apresentações, quando não em menos tempo.).
Mas também me organizo, obedecendo a outros
critérios, sendo um deles a FICHA TÉCNICA.
E, quando meus olhos batem num nome ou outro, faço de tudo para conferir
logo aquele espetáculo. Quando recebi, muito recentemente, o convite de BRUNO MORAIS (Marrom Glacê – Assessoria e
Agenciamento.) para assistir a um espetáculo que ficaria em cartaz por apenas três semanas,
dois das por semana, isso já era um fator para “furar a fila do pão”, e, quando vi se tratar de um monólogo
interpretado por EDVANA CARVALHO, “surtei”.
Tão logo meus olhos leram o nome de EDVANA CARVALHO, queria que o espetáculo acontecesse dali a alguns minutos, tempo suficiente para encontrar uma roupa compatível com tamanha efeméride, de tanto que admiro seu trabalho; não de hoje, que fique bem claro, por conta de seu imenso sucesso numa recém-terminada novela global, à qual nem assisti – apenas a algumas cenas-, por falta de tempo, mas o suficiente para me encanar com sua “Inácia”, que parecia um espécie de “ET”, caído no quintal lá de casa. De que planeta veio aquela personagem, Bruno Luperi? Vovô Benenito permitiu, deu a sua bênção?
SINOPSE:
Mais do que nunca, para a atriz EDVANA CARVALHO, este é o momento de
falar sobre a mulher negra e sua maturidade, os aspectos sentimentais e
sociais de seu empoderamento, abordando temas importantes, como sexo,
envelhecimento, filhos, relacionamentos e sororidade, ao ultrapassar as
barreiras trazidas pelos 50 anos.
E é isso que a atriz, e também coautora
do espetáculo “AOS 50, QUEM ME
AGUENTA?”, apresenta.
Escritos por EDVANA,
os textos do espetáculo são inspirados no formato do “Ted Talk”, em que
conversas curtas são apresentadas de forma bem-humorada sobre as diversas
situações vividas no âmbito pessoal da intérprete.
O solo traz uma abordagem crítica e consciente de
uma mulher frente às demandas de uma sociedade que ainda se guia pela
valorização da juventude.
Assim, temas atuais e universais, como machismo,
misoginia, racismo e preconceitos diversos, servem como fonte para quebrar
paradigmas e mostrar as novas possibilidades do feminino, no contexto
contemporâneo.
Segundo EDVANA,
“a peça toca em muitos tópicos, dentre eles relacionamentos,
filhos, a síndrome do ninho vazio, questões sociais, cotidianas e, claro,
situações engraçadas. Outra perspectiva, que permeia toda sua carreira, é
a de ser um instrumento de representatividade. ‘Acredito que devemos
estimular sempre a ideia de que meninos e meninas negros, oriundos da
periferia, como eu, podem ser atores e atrizes. Podemos estar em todos os
lugares que quisermos e, a cor da minha pele, origem e etnia, não podem
ser entraves para isso’”, reforça.
Não me perdoo pelos tantos anos durante os quais eu a
chamei de “Edivânia” e, ainda
que já conhecesse seu excelente trabalho, anteriormente ao estupendo sucesso de
“Ó Paí, Ó”, que vi no cinema e
no TEATRO (E tenho o DVD.),
foi por causa dele que senti uma imensa vontade de sentar, “mais ela”, embaixo de um “abajur cor de carne” (É “CARNE mesmo.), proseando sobre a
arte de representar, de ser muitas pessoas numa só, coisa que ela faz tão bem, durante
uma madrugada, ao fim da qual ouvíamos, ao fundo, “a vitrola rolando um ‘blues’, trocando de
biquíni sem parar”, já com o sol
nascendo e trazendo um “amarelo deserto e seus temores”.
Mas nada daquilo aconteceu, porém fiz uma jura a mim mesmo; não como tiete, que
não levo jeito para isso, mas como um estudioso e amante do TEATRO, promessa a qual cumpri
na última 4ª feira (18/09/2024):
Eu precisava
conhecer aquela mulher, ser apresentado a ela, e a conheci, dessa forma. Eu precisava abraçar
aquela magnífica atriz, por seu incomensurável talento, e não só
abracei como beijei – e não foi uma vez só. Eu precisava dizer àquela mulher / atriz,
com uma visão técnica, quem ela é, representando, e, talvez, não o soubesse
ainda. Mas ela já o sabe, a plateia sempre lhe diz, com todas as
letras e os aplausos que ela merece. Então, só me resta agradecer aos “DEUSES DO TEATRO”,
por tanta graça num momento só. Que noite inesquecível! Tive que dobrar a dose
dos remédios para dormir.
Apesar do título do texto, EDVANA
já caminha para os 60 –
Tem, atualmente, 56 anos e muito vigor
em cena. Antes de chegar ao Rio,
a peça já fez muitas temporadas por aí. Quem foi ao Teatro Glauce Rocha, para ver a “septuagenária Inácia”, fruto
de um irretocável trabalho da equipe de maquiagem e visagismo da TV Globo,
arrastando um pouco os pés e a fala, “caiu
do cavalo”, encontrando uma
bela mulher de meia idade, de
rosto e de corpo, com uma energia assombrosa no palco, capaz de
realizar posturas corporais incríveis e, principalmente, uma atriz / personagem totalmente oposta
à sua recém “falecida personagem da TV.
EDVANA já impressiona, ao entrar, subitamente, pela plateia, “metendo o pé na porta” e gritando: “Boa noite!” Eu cheguei!”. E chega de verdade. Chega para nos fazer companhia, durante 80 minutos, que passam como se fossem 8.
É admirável, e próprio de quem conhece muito bem seu ofício, transitar de um gênero tão difícil, como a COMÉDIA, para o drama, com com tanta facilidade e naturalidade, dizendo textos hilários e/ou belíssimos, que provocam reações diversas e reflexões. Não resisti e, da primeira fileira, a aplaudi em cena aberta, quando ela concluiu um grande “bife” em que nos ensina, aos homens, o que é ser um HOMEM e como devemos agir, na condição de “machos-cidadãos”, no tratro e no respeito com as mulheres. Foi um aplauso misto de empatia e de vergonha; esta por ter nascido com um apêndice sexual entre as pernas. Vergonha do alheio! Vergonha de ser homem e estar proibido de entrar nos vagões destinados apenas às mulheres, durante um determinado horário, algo humilhante e vil, porém necessário. Que maravilha de texto!
Em outro momento, a atriz também toca no fundinho dos nossos corações, de homens e mulheres, para mostrar o quanto é cruel ser negro numa sociedade “não-preconceituosa”, “de fachada” (CONTÉM IRONIA.), lembrando muito bem que “não basta não ser racista; é preciso agir como um não racista”, dar a cara a tapa” e defender um negro, quando este estiver passando por mais uma de suas tenebrosas situações de humilhação. E o mais lindo nisso tudo é que um possível, e até esperado, tom de vitimização não existe e cede a vez a uma abrangência, praticamente, jornalística e de denúncia, até vestida de ironia e humor.
Eu divido o solo, QUE RECOMENDO COM O MAIOR EMPENHO, em duas partes. Na primeira, a proposta é fazer
ir, rir muito, com um humor, às vezes, mais “picantezinho”, mexendo bastante com a libido humana, os tabus
do sexo, sem excessos ou piadas de gosto duvidoso ou ofensivas. A dramaturgia também é da atriz.
Na segunda etapa, EDVANA nos provoca e nos tira de nossa zona de conforto, conclamando o público a refletir, com ela, sobre o porquê de se se tratar um semelhante como um animal irracional – que também nem este merece tal cruel tratamento -, apenas porque Deus achou melhor descarregar mais melanina neste que naquele. E eu, aqui, um “branquinho azedinho!”, querendo tanto um pouquinho a mais daquela proteína natural, que dá cor à pele, olhos e cabelos... Aliás, já que estamos no momento reivindicação, um punhados de “cabelos mais negros que as asas da graúna”, também seriam muito bem-vindos. Para quem já passou 25, além dos 50, seria como ganhar sozinho numa “Mega Sena da Virada”.
Aplaudo, vigorosamente, a originalidade e a beleza do texto, da primeira à última cena, assim como a ótima direção de Marcelo Prado, que deixou EDVANA ser EDVANA, bem à vontade, uma EDVANA que não conhecíamos; eu, pelo menos.
Para um solo como aquele, os elementos de criação não perdem sua importância, no todo, mas não precisam ser tão apurados. EURO PIRES assume a cenografia e o figurino do solo. Inteligentemente, no cenário, partiu para a teoria do “menos é mais” e pôs em cena apenas uma confortável poltrona retrô, ladeda por duas mesinhas redondas, não só por decoração, sobre as quais repousa um “furdúncio/ço” proposital, acomodando, tudo junto e misturado, objetos do sagrado, ligados a religiões diversas, e exemplares de “estimulantes sexuais”, mais conhecidos, no universo mundano, como “os brinquedinhos do sexo e da sacanagem”.
(Foto: Gilberto Bartholo.)
Já no figurino, a atriz inicia o monólogo com um traje, propositalmente, “cafona e confuso”, de difícil descrição e pouco de discrição, na minha modesta opinião, entretanto, aos poucos, de acordo com o desenrolar das cenas, a atriz vai de desfazendo de partes dele até exibir, vestida, a exuberância de um corpo escultural e sensual, de uma jovem senhora, sem a intenção de estimular alguns homens mais "em atraso".
FERNANDA MASCARENHAS se sai muito bem na tarefa de iluminar as cenas, nas cores e intensidades que cada uma delas pede. EDVANA faz o que bem quer, com seu corpinho muito bem cuidado, obedecendo ao bom trabalho de direção de movimento, conduzido por BÁRBARA BARBARÁ e de preparação vocal, pensado e posto em prática por ANTÔNIO CARLOS OLIVEIRA.
FICHA TÉCNICA:
Roteirista: Edvana Carvalho
Direção: Marcelo Prado
Atuação: Edvana Carvalho
Cenografia: Euro Pires
Figurinos: Euro Pires
Iluminação: Fernanda Mascarenhas (Segilight)
Preparação Vocal: Antônio Carlos Oliveira Neto
Direção de Movimento: Bárbara Barbará
Arranjos Musicais: Luciano Salvador Bahia
Programações Visuais (Projeto Gráfico: Belmiro Neto
e Pat Simplicio)
Fotografia (Divulgação): Diney Araújo
Operação de Redes Sociais: Júlia Meneses
Assessoria de Imprensa: Maurício Ferreira e Tatiane
Carcanhollo (Relógio do Sol Comunicação e Artes)
Realização e Produção: Coletiva Comunicação
SERVIÇO:
Temporada: De 11 a 26 de setembro de
2024.
Local: Teatro Glauce Rocha.
Endereço: Avenida Rio Branco, nº 179 –
Centro – Rio de Janeiro (Em frente à estação Carioca, do Metrô e do VLT.)
Dias e Horários: 4ªs e 5ªs feiras, às
19h.
Valor dos Ingressos: R$ 60 (inteira) e
R$ 30 (meia-entrada).
Pontos de Venda de ingressos:
Plataforma SYMPLA (com taxa de conveniência) e na Bilheteria Física do Teatro
(sem taxa de conveniência.).
Duração: 80 minutos.
Recomendação Etária: 16 anos.
Gênero: Monólogo.
Com o devido respeito que devo a quem abriu os caminhos para que as grandes atrizes negras brasileiras, vivas ou falecidas, dissessem a que vieram, e ainda estão vindo, lembrando apenas os nomes de algumas, que a memória já me compromete, com sua permissão, para fazer ingressar, no seu seleto “clubinho”, apresento-lhes a mais nova associada: EDVANA CARVALHO! Com sua devidíssima licença e pedindo suas bênçãos, DONA Ruth de Souza, DONA Léa Garcia, Zezé Motta, Tatiana Tibúrcio, DONA Chica Xavier, Iléa Ferraz, Jacyra Sampaio, Letícia Soares, Neuza Borges, Vilma Melo...!!!
Só há mais duas oportunidades para assistir a este excelente espetáculo:
nas próximas 4ª e 5ª feiras, 25 e 26 de setembro (2024), às 19h, no Teatro
Glauce Rocha.
(Eu conheci essa mulher ao vivo; eu consegui abraçar essa atriz, de corpo presente, e eu vivi a felicidade de ter dito, e explicado, a ela, que, embora de meia idade, para mim, ela é, desde já, a DONA EDVANA CARVAHO, usando a forma de tratamento que dedico às grandes damas do TEATRO BRASILEIRO.)
FOTOS:DINEY
ARAÚJO
GALERIA PARTICULAR
(Fotos: Hélder Petra.)
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E
SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA
QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
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